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Capítulo III – A investigação

3.1. A literatura infantil e os contos tradicionais

Para o desenvolvimento das crianças devemos utilizar elementos que lhes despertem interesse e que lhes abram a mentalidade para diversas situações. A literatura para crianças e os contos tradicionais constituem um desses elementos, apresentando uma diversidade de textos importante para a formação pessoal e social da criança.

Consideramos que devemos abordar o conceito de literatura para a infância, já que o enfoque da nossa investigação, no que diz respeito à literatura, se centra em textos cuja origem é tradicional, mas que, a partir do séc. XIX, foram “absorvidos” pela literatura para a infância. Esta pode ser definida através de vários conceitos. Pela consulta do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa a palavra “Literatura” 1 apresenta como significado, entre outros, “escritos narrativos, históricos, críticos, de eloquência, de fantasia, de poesia, etc.” Por sua vez, a palavra “Infantil”2, neste mesmo dicionário significa “de criança; próprio de criança.”

Segundo Morgado e Pires (2010, p.40), “(...) a literatura infantil constitui a criação de um espaço cultural e educativo específico de textos (escritos ou multimédia) para crianças, rodeada de práticas culturais: de crítica literária, de interpretação dos textos, de comentário das implicações ideológicas e políticas de textos, de definição do que neles existe de moral, ética ou esteticamente próprio (ou impróprio) para crianças.”

Balça e Pires (2013, p.51) referenciam que:

A literatura, enquanto mecanismo de interpretação simbólica do mundo – o mais antigo de todos, suscetível de permitir-nos conhecer e rastrear toda a história da humanidade -, permite, aos seus leitores, observar esse mundo com segurança, interroga-lo e equacionar alternativas.

Tal como diz Henriette Bicehonnier (1991, cit. Por Bastos, 1999, p.23)

O termo genérico “literatura para as crianças” recobre duas realidades contraditórias: o mundo da literatura e o das crianças. Por literatura, entende-se geralmente escrita livre inspirada, uma estratégia pessoal de autor, não tendo a preocupação de agradar a ninguém em particular.

É nos livros de literatura infantil que os temas mais delicados são abordados de forma lúdica ou simbólica. Tal facto permite uma melhor compreensão por parte das crianças em relação aos problemas mais complexos, pois estes são apresentados através do mundo imaginário. Segundo Rodrigues (2012):

O conceito de Literatura Infantil é bastante discutido entre os estudiosos deste domínio. Há os que defendem que é o objeto escolhido pelo seu próprio leitor, outros dizem que é o objeto de formação de um agente transformador da sociedade e, por fim, há aqueles que questionam o facto de existir uma Literatura Infantil e/ou de esta ser entendida como menor. Este é, pois, um assunto delicado, pelo que compararemos diversos pareceres, a fim de melhor alcançarmos a problemática em causa, para, a partir daí, sermos capazes de formular o nosso próprio conceito de literatura (p.43).

Muitos dos textos de literatura infantil apresentam um mundo maravilhoso, mas um pouco ilusório. Contudo, existem também textos que refletem situações reais e um pouco mais dramáticas. Por estes motivos, as crianças, através dos contos e livros de literatura infantil podem viver no imaginário, pensado que tudo existe. Tal como relata Santos (2002, p.119) “Os contos tradicionais, ao colocarem os miúdos face às realidades mais angustiantes da vida, como a morte dos pais, a velhice, o abandono, etc., permite-lhes a gestão frontal de tais problemáticas, num contexto simples mas altamente pedagógico.” Este facto mostra-se importante, visto que as crianças se desenvolvem a nível emocional, cognitivo e também a nível de identificação pessoal, o que lhes proporciona diferentes perceções de resolução de problemas, bem como desperta a curiosidade e a criatividade. Por isso, muitos contos tradicionais têm sido incorporados em edições de livros para crianças e por vezes adaptados por autores contemporâneos para o público infantil.

Assim, podemos afirmar que, embora existam diferentes perspetivas no que respeita ao conceito de literatura infantil, todas elas nos falam a importância da qualidade do texto e da sua importância para o desenvolvimento da criança a diversos níveis.

Há muitos anos que existe o hábito de contar histórias, independentemente da cultura.Como cita Pires (2005, p. 48), é algo “intrínseco à transmissão de cultura, aliado simultaneamente ao trabalho e ao lazer”. Os contos tradicionais são manifestações literárias com grande adesão pelas crianças porque apelam ao sentido lúdico. Traça (1992, p.31) afirma que os contos tradicionais “São narrativas facilmente reconhecíveis; trata-se de histórias simples, curtas, que apresentam personagens “tipo”, vivendo situações “tipo”. Foram encontrados motivos e tipos semelhantes em culturas diferentes em diversas regiões do globo.”

Maria Luísa Castro Soares (2003) defende que “o conto tradicional pertence (…) a um conjunto de «géneros literários» que têm em comum o facto de, pelo menos na sua origem, terem sido transmitidos oralmente” (p.5)

Os contos tradicionais tiveram origem no povo e são contados de geração em geração através da tradição de transmissão oral, sendo que ao longo dos anos foram assumindo algumas versões diferentes, dependendo das adaptações do contador. Estes começaram a ser recolhidos através da escrita para fazer parte do património local, bem como tornarem-se um género literário dedicado às crianças. Têm como principal

função transmitir mensagens importantes à sociedade e por isso a sua estrutura é simples para que a sua compreensão seja facilitada.

Uma vez que os contos tradicionais passaram a ter importância nas aprendizagens das crianças, nos últimos anos têm sido sobretudo divulgados contos que abordam conceitos como por exemplo a diferença de culturas, aproximando-se assim de algumas situações que vivemos na nossa sociedade.

Devido ao desenvolvimento das políticas educativas e à evolução das mentalidades dos pais e educadores, os contos tradicionais tornaram-se ainda mais importantes, uma vez que foram descobertas as suas potencialidades. Segundo Diniz (1993, p.55) os contos infantis são necessários para o desenvolvimento das crianças.

Eles aparecem como uma das etapas e uma das formas que o pensamento humano encontrou no seu esforço de entender as coisas, desde as mais particularmente felizes para contactar com o mundo da criança, fornecendo-lhe elementos úteis para estimular e alimentar a elaboração imaginativa das experiências com que se vai defrontando no dia-a- dia.

Podemos, assim, afirmar que os contos tradicionais são fundamentais para um maior desenvolvimento, tanto cognitivo, como emocional e até mesmo social das crianças pois, tal como afirma Bettelheim (1998, p. 34), os contos “(…) orientam a criança no sentido de descobrir a sua identidade e vocação e sugerem também quais as necessárias experiências para melhor desenvolver o seu caráter”.