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4 A NÁLISE DOS DADOS

4.1 A LUNOS DOS ANOS INICIAIS

Os alunos participantes da pesquisa foram escolhidos aleatoriamente pelos próprios professores participantes, como já foi apresentado na descrição da metodologia.

A entrevista9 foi um ótimo recurso para fazer as seguintes análises:

 as disciplinas que eles gostam ou não e o porquê;

 se eles gostam ou não das disciplinas de História e Geografia, analisando os argumentos apresentados;

 conhecer as práticas desenvolvidas nessas aulas, além é claro de identificar os conteúdos e recursos usados durante as mesmas.

Dentre os seis alunos participantes da entrevista apenas uma diz de imediato gostar de História, aluno esse estudante do 5º ano, que já assistiu às diversas aulas da disciplina com os mais diversos professores. A justificativa apresentada foi a seguinte:

Pesquisadora: Qual é sua matéria favorita? Aluno 2: Minha matéria favorita é História. Pesquisadora: E por quê?

Aluno 2: Porque eu gosto de ver o que aconteceu no passado.

Pesquisadora: Que mais que você gosta de ver na aula de História que você gosta e acha diferente das outras?

Aluno 2: Ah, porque eu gosto, e por causa que tem os portugueses né, e tem algumas coisas diferente de hoje, e é isso.

Ou seja, a aluna gosta dessa disciplina, pois a História apresenta situações que aconteceram num tempo distante ao dela, permitindo que ela entre em contato com outra realidade espacial e temporal sem sair da sala de aula. Por outro lado, é usado como referência a questão dos portugueses que normalmente é abordado nas escolas de forma tradicional

As outras disciplinas apresentadas como favoritas foram a de artes e de matemática. Ambos os alunos que elegeram a disciplina de artes como a favorita, são do primeiro ano. Acredito que isso tenha relação direta com a familiaridade com as artes, considerando que os alunos saíram há pouco tempo da educação infantil e agora precisam dar conta de muitas coisas que outrora não conheciam. Geralmente nessas aulas eles trabalham com lápis de cor,

9 As entrevistas com as crianças respeitaram a faixa etária em que eles se encontram e por isso foi necessário

canetas coloridas, cola, tesoura, permitindo-lhes criar sem a preocupação de estar certo ou errado, como nas aulas de Língua Portuguesa e Matemática, por exemplo.

Os alunos do 2º ao 4º ano indicaram a matemática como a matéria favorita, por diversos motivos, veja:

Pesquisadora: Qual é a sua matéria favorita? Aluno 1: Matemática.

Pesquisadora: Por que você gosta de matemática?

Aluno 1: Você faz muitas contas, brinca com os números.

Pesquisadora: Brinca com os números. Tem outra atividade que você faz na aula de matemática?

Aluno 1: Não.

Pesquisadora: O que tem na aula de matemática que você gosta? Aluno 1: As contas. Você arma as contas.

Pesquisadora: Huum, tem joguinho que você pode fazer na aula de matemática?

Aluno 1: Não. Pesquisadora: Não?

Aluno 1: Não, nós já ‘fez’ lá que nós brincamos com as barrinhas lá, e aí jogava o dado

Pesquisadora: Ah, então você brinca na aula de matemática por isso você gosta?

Aluno 1:Ahram.

O A1 apresenta dois motivos para gostar da matemática, primeiro por ser algo lógico, e neste caso até mecânico, quando diz ‘armar as continhas’ e ‘faz contas’, e outro motivo é o fato de poder brincar com os números, citando inclusive uma das atividades realizadas nesta aula que foi realizada com as barrinhas que compõe o material dourado.

O A6 não apresenta uma justificativa concreta para nós, mas para ele é. O fato de gostar dessa disciplina está intrinsicamente relacionado ao fato de fazer contas.

Pesquisadora: Qual é a sua matéria favorita? Aluno 6: Minha matéria favorita? Matemática! Pesquisadora: E por quê?

Aluno 6:Ah, porque é mais da hora.

Pesquisadora: Ah, mais da hora? Mas o que a torna mais da hora? Aluno 6: Com ela a gente aprende as contas

Pesquisadora: Aprende a contar? Aluno 6: Ahram.

O A5 dá como justificativa para gostar da matemática o fato dela ser muito trabalhada (ocupa boa parte da carga horária e do tempo nos anos iniciais) e incentivada em sala de aula.

Pesquisadora: Qual a sua matéria favorita? Aluno 5: Matemática

Pesquisadora: Por quê?

Aluno 5: Porque tem mais e dá mais incentivo de estudar matemática. A gente aprende mais a matemática do que as outras matérias.

Podemos afirmar também que isso se deriva do caráter mais instrumental da disciplina nos anos iniciais. Afinal eles “armam” as contas e veem os resultados, além de conseguir perceber a matemática no cotidiano.

Em relação às disciplinas que não gostam três indicaram Português, um único indicou a Filosofia e os dois restantes indicaram o Inglês como a disciplina que menos gostam.

Os três alunos que indicaram o Português são do 1º e 2º ano, já que nestes anos o incentivo à alfabetização é muito forte, sendo considerada pelos alunos de aula ‘comprida, eu chego a quase dormir’ (A6) e ‘difícil de lê’ (A4).

Quando indagados sobre gostar ou não das disciplinas de História e Geografia, quatro deles disseram que sim, gostam, e os dois outros disseram que gostam “um pouco”. O A2 disse gostar de História e a considera a mais ‘legal’, porém diz não gostar de Geografia caracterizando-a como ‘enjoativa’; apesar de ter sido questionada, ela não conseguiu justificar o motivo. Já o A5 associa o gostar ‘um pouco’ pelo fato de ter tarefas para essas aulas.

Pesquisadora: Você gosta de História e Geografia? Aluno 5: Ah, um pouquinho.

Pesquisadora: por quê?

Aluno 5: Ah, porque as vezes a professora pede pra gente trazer alguns materiais de casa pra gente fazer umas experiências.

Pesquisadora: Na aula de História? Aluno 5: É.

Pesquisadora: Na aula de Geografia, também?

Aluno 5: É, as vezes ela pede pra nós recorta mapas, estudar um pouco. O depoimento do A5 nos deixa ainda mais preocupados, pois ao que parece, para essas disciplinas serem cumpridas, os professores optam por trabalha-las como pesquisas ou tarefas feitas em casa.

Ambos os alunos do 1º ano não apresentaram justificativa do porque gostam e não conseguiram apresentar os conteúdos que tiveram contato nessas disciplinas, talvez pela entrada recente nos anos iniciais. Fui apresentando algumas ideias possíveis de já terem sido trabalhado com eles, tais como a história da cidade e da escola, e obtive respostas afirmativas, porém não apresentaram exemplos bem definidos sobre os mesmos.

Em relação às aulas, os alunos do 1º ano apresentaram dificuldades em apresentar o que viam nessas aulas. Com um pouco de questionamento chegamos ao seguinte:

Aluno 3: Eu gosto mais quando a gente aprende coisas do passado, né Pesquisadora: E o que você viu sobre o passado?

Aluno 3: Que as coisas de hoje, as coisas de antes não existia que não tem, que existem hoje.

Pesquisadora: O que, por exemplo? Aluno 4: Micro-ondas.10

Nesse trecho percebemos que o A3 associa o ensino de História ao passado e as permanências ou alterações de objetos na vida cotidiana do ser humano. Os A3 e A4 citaram as mudanças na aquisição do fogo: “hoje é fósforo, no passado era o esfregar de duas pedras”; e no suporte da escrita: “hoje temos papel e caneta, antes era escrito nas paredes com pedras”.

Como já era de se imaginar, ambos os alunos do 1º ano apresentam maior dificuldade para se localizar no tempo e no espaço. Ao mesmo tempo em que falam da criação do carro, falou-se em dinossauro apresentando-o como meio de transporte da massa.

Pesquisadora: E será que quando eles inventaram, por exemplo, o carro, será que todo mundo conseguia andar de carro?

Aluno 4 : Agora a gente não sabe. Pesquisadora: O que vocês imaginam?

Aluno 3: Ah, eu imagino que nem lá nos Flintstones, invés deles andaram de carro eles andavam em dinossauros.

Pesquisadora: E depois desta época dos dinossauros, será que todo mundo tinha dinheiro para comprar um carro?

Aluno 3: Eu acho que sim.

A concepção de o passado ter uma ou duas cores também ficou evidente na seguinte fala: “era tudo amarelo e preto” (A4), o que pode ter relação com o uso de imagens nestas tonalidades que aparecerem nos materiais apostilas e livros didáticos. Além também de enfatizarem o índio morando nas ocas e recebendo os portugueses sem qualquer resistência ou conflito, justificando ainda que “não pode brigar” (A3), indicando a necessidade de relações pacíficas e, talvez, de submissão. Apesar de falarem que já ouviram sobre a história local, elas não conseguiram exemplificar quais conteúdos conheciam sobre a mesma.

O aluno do 2ºano do ensino fundamental I entrevistado apresenta que aprende na aula de História como a vida vai passando, “as fases da vida” (A6). Em relação ao ensino de

10 A entrevista foi realizada na sala de descanso da escola onde tem uma micro-ondas, mesas, cadeiras, sofás e

Geografia ele relata que já estudou sobre famílias que viveram no passado e sobre brincadeiras, citando ainda uma atividade mecânica que realizou sobre este assunto:

Aluno 6: Olha, a gente recortou bonequinhas do passado, roupas do passado. Em relação às roupas do passado sua concepção é mais avançada em relação aos alunos do primeiro ano, verifica-se isso com sua fala:

Pesquisadora: E como eram as roupas do passado?

Aluno 6: Ah, as roupas do passado os homens usam uma calça assim, a blusa e aí depois um negócio em cima, depois um colete, depois a gravata, depois o terno lá, né...

Pesquisadora: Eles usavam terno e gravata? Aluno 6: É, e um negócio de branco, colete..

Pesquisadora: Será que todos os homens usavam essa roupa? Aluno 6: Nem todos

Pesquisadora: Por que não?

Aluno 6: Porque os pobres não usavam essas roupas. [...]

Pesquisadora: E as mulheres, você lembra como elas se vestiam?

Aluno 6: Sim, elas se vestiam com vestidos, também algumas coisas do homem, usavam cartolas e também, sabe o que? Uma cartola e uma bengala. Pesquisadora: Cartola e bengala eles usavam?

Aluno 6: Só...a bengala eles usavam só para ser chique mesmo. Pesquisadora: Só para ser chique, não precisavam?

Aluno 6: Bom, tem gente que nem precisava. Acho que só usavam para ficar chique.

Quando questionado sobre as cores existentes na época estudada ele afirma que “tem várias cores que eles usavam” (A6). Quando indagado sobre as aulas de História e Geografia ele as caracteriza como sendo “boa”, dizendo ainda que a sala participa bastante das atividades propostas pela professora.

O aluno do terceiro ano, A1, diz gostar das aulas, pois ouve histórias sobre o passado, sobre os índios e como eles caçavam. Em Geografia ele disse ter trabalhado a partir dos mapas com as regiões, os países, os oceanos. Afirmou ainda que não trabalhou com mapa específico da nossa cidade.

Muitas vezes os alunos realizam atividades em sala que ao final não sabem porque a realizam, demonstrando ser práticas pouco intencionais. Exemplo disso é a atividade citada por ele e que foi transcrita a seguir:

Pesquisadora: Você já viu alguma fotografia da paisagem antiga e da paisagem atual.

Pesquisadora: Já?! E por que será que estudou isso? Ver uma coisa do passado e uma coisa do presente?

Aluno 1: Não sei.

Uma prática bem válida no ensino de História e Geografia que deve ocorrer com maior intensidade durante as aulas é o trabalho em grupo. Segundo o A5, quando eles são orientados a se reunir em grupo para discutir um assunto ou trabalharem juntos os conceitos são mais facilmente assimilados.

Quando indagada sobre as aulas de História e Geografia o A2 diz o seguinte: Pesquisadora: Mas o que tem nessas aulas?

Aluno 2: Muitas coisas, não dá nem para falar.

Pesquisadora: É mais lousa ou a professora traz uma atividade diferente? Aluno 2: Não, ela traz atividade diferente também!

Pesquisadora: Como? Por exemplo, o quê?

Aluno 2: Ah, tem vez que tem jogos, tem vez que ela passa na lousa uns textos para gente estudar quando vai cair na prova.

Ele não conseguiu apresentar muito bem a metodologia adotada nessas aulas, porém trouxe a tona um assunto bastante pertinente: a avaliação. Foi o primeiro aluno que associou a aquisição do conhecimento à avaliação.

Não há como deixar de apresentar as informações adquiridas no que tange aos recursos para as aulas das disciplinas. Uma boa aula pode ser ministrada sem o uso de recursos, porém quando perguntados sobre o uso dos mesmos as crianças mostram lembrar-se de conteúdos que foram trabalhados em momentos em que os recursos foram mobilizados.

Pesquisadora: Já usaram o Globo Terrestre?

Aluno 5: Ás vezes ela leva globo porque nos mapas é difícil aí ela tem que mostra alguns países que a gente não tem no mapa, porque a gente ainda não aprendeu, aí ela pega o globo.

A partir do exposto conclui-se que apesar das disciplinas de História e Geografia estarem presentes no currículo do ensino fundamental, os alunos entram em contato com elas sob uma perspectiva simplificadora. Isso nos dá indícios de que estão sendo mal trabalhadas ou relegadas a um segundo plano.

A seguir são analisando o que os professores dizem sobre as aulas no que tange ao ensino de História e Geografia, além, é claro, de apresentar seus recursos e dificuldades.

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