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A Luta Contra a Violência

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4 SOBRE A VIOLÊNCIA

4.4 A Luta Contra a Violência

A violência, afirmamos anteriormente, possui uma vertente histórica, sendo construída socialmente (MARRA, 2004). Desta forma, vista como produto das sociedades ao longo da história, compete-nos a busca por estratégias de prevenção. Prevenção, ressalte-se, não é sinônimo de repressão. Lamentavelmente, no escopo escolar, a situação assume contornos distintos: não se previne, reprime-se. E a obediência, a disciplina, na maioria das vezes, confunde-se com repressão.

Encontramos no Brasil uma série de documentos legais que buscam legitimar os direitos das crianças e dos adolescentes. Em particular, destaca-se a este respeito o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em seu artigo 5º, o ECA normatiza que nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punindo na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais (BRASIL, 2011).

Abstraindo deste artigo, temos que todas as instituições que possuem a guarda de crianças e adolescentes sob os seus cuidados, sem excetuar a escola, são responsáveis pelas mesmas, podendo interferir quando há abuso ou violação de direitos inclusive entre elas. No caso específico do bullying, objeto desta investigação, a escola é corresponsável, bem como os pais ou responsáveis pela omissão diante de abusos entre os jovens, devendo prevenir e tomar as providências cabíveis (FALEIROS; FALEIROS, 2008).

Tendo isto em vista, muitos projetos e programas podem ser elencados com o propósito deflagrado de prevenção no combate à violência. Entre os quais, destacam-se os programas de instrução cívica, aulas de cidadania, educação sanitária, desenvolvimento de competências sociais e emocionais, relacionamento de professor e aluno, inclusão das famílias

nas relações escolares, colaboração através de parcerias com a comunidade escolar, dentre outros, todos modelos de ações preventivas feitas pela escola no combate à violência e suas consequências.

Alguns dos aspectos supracitados não apenas possuem relação direta com a prevenção da violência no contexto escolar, como também deixam à vista algumas carências presentes na escola contemporânea. Uma delas, pontua Perrenoud (1997), está relacionada ao fato de que a escola cresce, mas a formação escolar não evolui na mesma intensidade. Dito de outra maneira, a escola abraça cada vez mais indivíduos, mas não consegue acompanhar e reproduzir em seus domínios os avanços experimentados por esses indivíduos. Isto acaba fazendo com que a realidade escolar se afaste da realidade dos indivíduos que a ela acorrem. Significa dizer, argumenta Morin (2002), que a concepção de uma educação fragmentada e distanciada dos fatores comportamentais e emocionais já não mais se sustenta diante da complexidade do mundo atual, o que vem demonstrar a necessidade de uma evolução escolar. Logo, a prevenção da violência no escopo escolar exige desta transformação no sentido de se aproximar da realidade social vivenciada por sua clientela.

Outro aspecto igualmente importante está relacionado às relações entre os discentes e entre esses e os docentes. Segundo Moreira (2010), à escola cabe repassar a bagagem cultural produzida pela espécie humana, mas também as regras que regem o convívio humano. Logo, conclui-se com Berkowitz (1961), as relações desenvolvidas entre professor e aluno e entre alunos são mais importantes que a própria aquisição dos conhecimentos acadêmicos. Para o autor, “[...] uma atmosfera amistosa, não competitiva e de situação agradável que permite a individualidade e a auto expressão promove uma situação escolar terapêutica” (BERKOWITZ, 1961, p.113). Dito de outra maneira, a competitividade nas escolas aumenta a agressividade, enquanto que a relação de intercâmbio entre professor e aluno ajuda a quebrar as situações de tensão escolar.

A escola hoje é responsável por tudo o que adentra seus muros, e os profissionais que nela atuam devem estar atentos aos comportamentos que envolvem agressividade, ou podem funcionar como ela. Apelidos maldosos, brincadeiras embaraçosas, exclusão, são intimidações a que a escola deve estar atenta, já conhecedora do que pode levar um aluno a agressão, afirma Moreira (2010). Igualmente, alerta Sposito (1998), os profissionais da educação devem estar atentos às incivilidades e discriminações por parte dos alunos, não banalizando tais atitudes. Devem aproveitar o momento pedagógico para educar os alunos contra as culturas de violência, de modo a orientá-los e protegê-los como forma de respeito aos seus direitos.

Porém, estudos realizados na Europa demonstram a falta de iniciativas e resistência dos professionais (já sobrecarregados de tantas atribuições) em tentar mudar esta realidade e em modificar as escolas de maneira que se tornem centros de segurança e apoio invioláveis. No Brasil, a realidade não destoa muito, de modo que a violência na escola assume as nuances apresentadas pela realidade social e cultural do país. A falta de intervenção dos professores para evitar o fenômeno da violência realça a atmosfera de medo que existe em algumas escolas (GUIMARÃES, 2005).

Para tanto, há que se reconhecer que os cursos de graduação que preparam os profissionais da Educação devem estar voltados à formação de professores capazes de promover o diálogo, a aceitação às diferenças, a tolerância nas interrelações pessoais e socioeducacionais. Mudou o contexto social e histórico nos quais estão inseridos os jovens, mudando seu perfil (MARRA, 2004). Por outro lado, a escola, conforme argumentou-se anteriormente, parece ter mudado pouco. Guarda consigo as mazelas da segregação racial, da submissão dos alunos, e ainda deixa vedada a participação dos mesmos e da sociedade, que são os mais interessados. Também Guimarães (2005) mostra que os próprios professores sentem a defasagem da instituição escolar em comparação com o que consideram “estar lá fora”, além de entenderem que os professores recém-formados saem mal preparados das

24 faculdades.

Quanto a outro pilar da educação, a família, Moreira (2010) afirma que existe um distanciamento da mesma com a escola. Há uma fragmentação entre a família, a escola e a sociedade, e as três estruturas que deveriam caminhar juntas por uma educação de qualidade, por valores éticos e morais passados às crianças e adolescentes, caminham separadas. E neste momento violências como o bullying tem um vasto espaço para se estabelecer bem como outras modalidades de violência. O caminho de superação da violência no contexto escolar passa necessariamente por uma reaproximação entre família, escola e sociedade. Dito de outra maneira, em todos esses ambientes deve-se erradicar as práticas violentas.

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