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CAPÍTULO 1 O PROCESSO HISTÓRICO E A CONSTITUIÇÃO

1.2 Trajetória Histórica da Luta Pela Terra e do MST Região Centro

1.2.3 A luta pela terra e agricultura no neoliberalismo de 1980 até

Atualmente vive–se o chamado mundo unipolar dominado pelo império estadunidense e sua hegemonia centrada no capital financeiro que estabelece uma divisão mundial na qual os países centrais detêm a produção de tecnologias de indústrias e concentram a comercialização. Os países asiáticos têm produção manufatureira com superexploração da mão de obra e os países periféricos, chamados de países de terceiro mundo, são responsáveis pelos produtos primários, minérios, agropecuários e celulose, causando grandes impactos ao ambiente e superexploração do trabalho. Evidenciando isso, Gonçalves diz que:

Ao se tornar a principal nação capitalista da nova ordem internacional, aos EUA, interessou criar mecanismos para adequar o funcionamento do mercado mundial às suas pretensões geopolíticas, daí a importância em articular ativamente os

grandes acordos multilaterais de abertura de mercados, a (re) organização do comércio mundial, a criação das instituições internacionais para investimento em desenvolvimento, enfim, um conjunto de estratégias para casar as necessidades de desenvolvimento do País com os seus interesses geopolíticos na Europa, na Ásia, na África, na Oceania e, também, na América Latina. (2008 Pg. 57).

Portanto, esta globalização traz liberdade para o capital se estabelecer em toda a parte do mundo e sua ordenação se dá pela imposição econômica, ou pela força armada e pela organização interna, independente de políticas nacionais. Desta maneira, a agricultura é organizada sob o domínio das transnacionais e do capital financeiro. O movimento dessa transformação busca a ofensiva do capital financeiro que começa a controlar o setor produtivo como dominador e concentrador dos diversos setores produtivos que formam um conglomerado, no sentido de uma empresa ter investimentos em vários setores, mas centralizar o controle da produção e da distribuição. Segundo Gonçalves.

A industrialização da agricultura é uma das faces do período técnico científico e informacional que incorpora sociedades e territórios à sua lógica. Tais transformações impactaram as atividades agropecuárias pela revolução tecnológica, já que a agricultura incorporou os principais signos e transformações pelos quais passaram os demais setores econômico-produtivos. (2008 Pg 55). Com esse reordenamento, o neoliberalismo inicia uma formação das sociedades anônimas, ações de empresas, internacionalização das empresas que atuam na agricultura, desnacionalização das empresas brasileiras, internacionalização dos preços dos produtos agrícolas e insumos industriais, aumentando a concentração fundiária do capital internacional. Os fazendeiros passam a ser modernizados e subordinados às multinacionais com métodos capitalistas de produção e superexploração da mãodeobra e dos recursos naturais. Se estabelecendo como setor do agronegócio que tem suas alianças entre proprietários,

transnacionais e capital financeiro, visando o controle de territórios, das cadeias produtivas, distributiva e da tecnologia. Como nos diz Stedile:

Houve um processo acelerado de centralização do capital. Ou seja, uma mesma empresa passou a controlar a produção e o comercio de um conjunto de produtos e setores da economia, como a fabricação de insumos (fertilizantes químicos, venenos, agrotóxicos) e maquinas agrícolas, fármacos, sementes transgênicas e uma infinidade de produtos oriundos da agroindústria, seja ela alimentícia ou de produtos supérfluos.

Há uma simbiose cada vez maior, dentro de uma mesma empresa, entre o capital industrial, comercial e financeiro. (Stedile, 2013, pg. 24). Este pacto na agricultura, cada vez mais tem levado a um descontrole dos preços dos produtos agrícolas, dos insumos, e das técnicas, agravando, com isso, a inserção dos pequenos agricultores na produção e na circulação dos alimentos. Assim, há uma perda da cultura alimentícia e da soberania alimentar. Como nos afirma Stedile:

Está em curso uma perigosa padronização dos alimentos humanos e animais em todo o mundo. A humanidade está sendo induzida a alimentar-se cada vez mais com verdadeiras “rações” padronizadas pelas empresas. A comida se transformou numa mera mercadoria, que precisa ser comida de forma massiva e rapidamente. Isso traz consequências incalculáveis para a destruição dos hábitos alimentares locais, da cultura, e riscos para a saúde humana e animal. (Stedile, 2013 pg.25).

Com essa forma de dominação política e cultural, demonstra- se a mudança que está em marcha na agricultura brasileira, não só na produção, mas em toda a sociedade pela mudança de hábito alimentar da população. Assim, cada vez mais há uma aliança entre o agronegócio e o capital industrial e financeiro, seja ele nacional ou internacional.

Nota-se nesse processo do agronegócio uma parceria ideológica de classe com os meios de comunicação da burguesia, em especial televisão, revistas e jornais, que fazem sua defesa e propaganda permanente como único projeto

possível, moderno e insubstituível. Portanto, a reprodução ideológica agora é realizada pelos meios de comunicação de massa. E há uma simbiose entre os grandes proprietários dos meios de comunicação, as empresas do agronegócio, as verbas de publicidade e o poder econômico. (Stedile, 2013,pg. 30).

Nota-se que cada vez mais a agricultura tem se tornado um refúgio para o grande capital, seja ele pela forma de exploração ou como reserva econômica. Ou seja, tem se tornado um campo de produção para o agronegócio, e todo o projeto que o governo desenvolve massivamente é para consolidar esse modelo, que busca a produção de matéria prima para a exportação, seja ela como produção de soja, milho, para alimentação de animais ou humanos, ou como celulose, cana-de-açúcar para fabricação de etanol, ou minério para garantir a balança comercial. Assim a agricultura fica refém de um modelo que prima pela exportação e não se preocupa com o desenvolvimento da produção de alimentos.