6. CONSTRUÇÃO MODULAR SUSTENTÁVEL
6.4 A madeira e a sustentabilidade
Sem dúvida que a madeira é um dos materiais mais sustentáveis do mercado, na medida em que é o único que absorve dióxido de carbono e não o liberta, ajudando a cumprir o objectivo “carbono zero”[f]. No entanto, como já referido acima, é necessário ter em conta que a madeira só é sustentável se for um material local ou próximo ao local de construção, pois se a madeira que se pretende utilizar não se encontrar perto, o seu transporte e deslocamento para a fábrica tornam-no num material insustentável. Todavia, se este não for o caso, a madeira é um material com um elevado grau de sustentabilidade porque, não só é um material natural e biodegradável, como é um material que permite a sua renovação (florestas sustentáveis), é reciclável e reutilizável (quando não foram aplicados tratamentos tóxicos sobre o mesmo), tem baixa energia incorporada, a nível estrutural é um material com grande resistência, bom isolamento acústico, eléctrico e térmico e ainda apresenta uma elevada resistência ao fogo devido à sua combustão lenta. Ao nível estético, a nível de conforto e qualidade dos ambientes, a madeira é muito apelativa, apresentando diversas escolhas a nível de cores e texturas.
Fig. 85 e 85 (i): Emob Resort Nature Home T2- Revestimento em madeira.
(Fonte: www.jgds-epa.com/)
Fig. 86 e 86 (i): Emob Living Nature Home T2.
87 Apesar de a madeira ter todas estas características positivas é necessário ter em atenção que, sem a protecção adequada, degrada-se e deixa de ser uma material durável. No entanto, esta protecção dada à madeira é muitas vezes tóxica para o ser humano e para o ambiente. Para minimizar esse impacte, é necessário recorrer a escolhas e estratégias menos económicas ou comuns, com pinturas ou preservadores, como cera não tratada, tintas naturais à base de água, tinta fervida [g].
Na construção, existem dois tipos de madeira que podem ser utilizadas as madeiras folhosas e as madeiras resinosas. As resinosas são as mais utilizadas na construção, sendo que as folhosas são utilizadas na decoração.
6.4.1.P
ROBLEMAS DAC
ONSTRUÇÃO EMM
ADEIRAO principal problema da construção em madeira corresponde à degradação que as madeiras podem sofrer se não forem tratadas ou receberem a manutenção indicada. As patologias surgem por falta de manutenção ou carecimento de tratamento, preservação ou ainda por falta de ventilação. Essas patologias são causadas por ataques de agentes biológicos (insectos- térmitas e carunchos, fungos- cromogéneos e de podridão, xilófagos), agentes químicos, agentes atmosféricos (luz solar, água e humidade), podendo variar de grau de deterioração, dependendo do ataque sofrido. Seguem abaixo as anomalias possíveis de encontrar nas madeiras:
Alteração de cor ou descoloração e alteração de textura (Fig.87);
Podridões;
Variação de dimensão (retracção ou dilatação da madeira);
Fendas e fissuras;
Deformações;
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Outras patologias podem surgir na madeira devido a acções humanas ou a acções acidentais, que não estão relacionadas com a manutenção da mesma. As anomalias causadas por falha humana têm como causa problemas na fase de concepção/projecto, fase de construção ou a fase utilização; como mau dimensionamento dos materiais, má qualidade dos materiais, erros de interpretação de projecto, alteração dos usos atribuídos entre outros. As acções acidentais estão associadas a danos devido a fogos, acções sísmicas, inundações e outros acontecimentos acidentais impossíveis de prever.
6.4.2C
ONSTRUÇÃO EM MADEIRA EMP
ORTUGALEm Portugal a construção em madeira é muito menos comum do que no resto dos países da Europa. Este acontecimento é muitas vezes justificado pelo facto de em Portugal as temperaturas serem altas durante a estação Verão que, por sua vez, propiciam incêndios florestais, resultando na perda de madeiras, favorecendo o ataque biológico das mesmas e resultando num aumento do risco da destruição de casas construídas neste material. No entanto, esta é uma falsa questão, pois no que tocas à resistência das estruturas, as metálicas e em betão armado mais rapidamente colapsam com um incêndio ao contrário das estruturas em madeira, que por sua vez apesar de arderem e perderem resistência mantém-se intacta. Outra razão para a pouca construção em madeira, em Portugal, esta sim de natureza factual, está associada à ausência de abordagem a este tema, levando os clientes a optar por opções tradicionais e mais conhecidas. O facto de não serem conhecidas as vantagens e benefícios neste tipo de construção leva a uma não especialização de técnicos nesta área, o que reduz substancialmente a “palete” de
Fig. 88: Madeira descolorada-envelhecida. (Fonte: https://pt.dreamstime.com) Fig. 87: Madeira atacada por térmitas.
89 oferta. (Appleton; Conservação e reabilitação de estruturas de madeira- Metodologias de intervenção; 2).
Outra razão para a ausência deste tipo de construção é a disponibilidade do material. Apesar de algumas zonas do país terem a madeira como um material sustentável para a construção, outras zonas não têm abundância deste material; sendo que, fica mais sustentável a utilização de outros materiais naturais locais, como o adobe e a taipa na zona a Sul do país e a pedra na zona Norte.
É importante referir que o facto de a sociedade não utilizar esta forma de construção assenta ainda na mentalidade da sociedade. Se a sociedade não está disposta a mudar o seu comportamento, é impossível a inserção de novas formas de construção mais abrangentes e com maiores preocupações com o meio que as rodeia. É necessário que a população seja informada, de forma a entender a necessidade de mudança.
6.5C
ONSIDERAÇÕESF
INAISA capacidade que a construção modular sustentável tem de criar uma ligação com a Natureza e com o ser que a habita, torna-a numa arquitectura de eleição. O facto de possibilitar uma conjugação ínfima de módulos, de possibilidades de materialidades distintas, sempre com a preocupação de utilização de materiais amigos do ambiente e recicláveis, a possibilidade de obtenção de uma habitação num curto espaço de tempo e de redução dos impactes ambientais graças à procura pela eficiência, torna-a numa solução para os problemas actuais na luta para a minimização do aquecimento global e na redução da pegada ecológica do sector da construção.
A madeira, sendo o material de eleição, no que toca à sustentabilidade, pela sua ecologia e sustentabilidade intrínseca, apresenta, no entanto problemas aquando a construção em Portugal, sendo diminuta a sua utilização, comparando com vários países da Europa. É necessário ter em atenção que um material só é sustentável se existir nas proximidades da fábrica onde a construção será elaborada pois, se obrigar a deslocações demasiado grandes, torna-se ineficiente e, por consequência, insustentável.
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Fig. 89: Ecohouses, Pedras Salgadas Spa & Nature Park.
(Fonte: www.modular-system.com)
NOME: Ecohouses - Pedras Salgadas
Spa and Nature Park TIPOLOGIA: Várias
LOCALIZAÇÃO: Pedras Salgadas
ANO DE CONSTRUÇÃO: 2013
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