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5. PERCURSO METODOLÓGICO

6.2 Análise qualitativa

6.2.1. A Maternidade e os programas de apoio no trabalho

A amamentação compõe uma das dimensões fundamentais do cuidado à saúde da mulher e criança que implicam a integração de duas instâncias, a família e o estado. Muito embora a amamentação seja melhor vista na órbita do cuidado familiar, questões que serão discutidas no tópico subsequente, as dimensões „comunidade‟ e „estado‟ juntam suas forças, seja por ordem solidária, legislativa e das políticas públicas. À exemplo do que acontece nos países europeus a configuração mulher, família e estado se faz necessária para fortalecer a rede social e fazer valer o direito da mulher e da criança (LIMA; LEÃO; ALCÂNTARA, 2014).

Mesmo havendo um disparate regional e de classes, o Brasil tem apresentado mudanças e neste sentido temos visto que o estado tem se preocupado em implantar no setor de saúde ações de caráter educacional que visam oferecer aconselhamento em amamentação, suporte e monitoramento refletindo em mudanças na compreensão e no comportamento parental através da informação. Para além dessas ações, na esfera legislativa, conforme já citado anteriormente neste estudo, temos os amparos legais que sustentam e apoiam a maternidade, tais como a licença maternidade e os períodos de pausa para a amamentação.

De forma extensiva, e seguindo recomendações dos órgãos de saúde e também legislativos, algumas empresas que empregam a mão de obra feminina, tem se tornado adeptas aos programas de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, estimulados pelos exaustivos incentivos fornecidos pelos órgãos de saúde e as leis federais, indo além das determinações e instaurando programas de apoio à maternidade no ambiente de trabalho, instalando salas de amamentação e sensibilizando os demais colaboradores e gestores sobre a importância do aleitamento materno para saúde materna e infantil, como é o caso do local de nosso estudo.

As “Mamães de Ouro”

O programa Mamães de Ouro foi criado em julho de 2014 com a finalidade de oferecer acompanhamento às gestantes da empresa estudada. O programa que era desenvolvido em parceria com uma instituição particular de saúde que ministrava palestras que abordavam temáticas sobre, gestação, parto e puerpério. Na primeira

etapa do programa (2014) as palestras foram realizadas dentro do ambiente de trabalho. Em 2015 iniciou-se uma nova etapa, onde as reuniões foram transferidas para a sede da empresa parceira que dispôs um ambiente para a realização das palestras com as funcionárias gestantes. Caminhando para seu terceiro ano de existência, em 2016 ocorreram mudanças no sistema organizacional, e após a abertura do capital, o programa está passando por algumas adequações a fim de atender as necessidades das funcionárias gestantes e também a nova visão da empresa.

Dentro dessa categoria temática, queremos destacar a importância da existência, no local de trabalho, de um programa de apoio à mulher que passa pela fase gravídico-puerperal, dentre elas as dificuldades/ facilidades da amamentação, mas antes, gostaríamos de nos ater a uma pequena analogia, para agregar valor à mulher que atravessa essa fase em seu ciclo vital.

A palavra ouro deriva do latim aurum, que significa “brilhante”‟ e também é conhecido pela sociedade como símbolo da riqueza, ou seja, quando atribuímos o ouro como adjetivo, somente o fazemos àqueles que possuem certo valor e que para tal mereçam esse destaque. E por que não atribuirmos esse adjetivo às mulheres que penosamente tem se dedicado aos seus vários papeis, dentre eles a maternidade e a responsabilidade profissional? Acreditamos que seja pertinente essa atribuição, considerando os vários desdobramentos realizados pela mulher para conciliar essas funções.

Durante nosso estudo identificamos que essa conciliação de papeis não tem sido tarefa fácil, entretanto, em muitos relatos percebemos que essa situação pode ser minimizada quando a empresa disponibiliza programas de apoio à maternidade:

[...] falava-se muito né, que era possível voltar a trabalhar e mesmo assim continuar com a amamentação exclusiva até os seis meses, e continuar depois também, então foi através realmente no programa da empresa que eu adquiri o conhecimento [...] (M7)

[...] são palestras que a empresa faz, com parceria... [...] sobre, parto, sobre a licença, sobre a amamentação, então além de eles darem aquele apoio pra gente do RH, com todas as regras e normas, com todos os direitos e deveres que você tem, eles ainda te auxiliam assim com (pausa)... em várias informações de outros assuntos [...] Então eu acho que nessa parte ela é uma empresa excelente, pra gente, eu acho que ela dá um feedback pro funcionário muito bom, ela apoia, ela auxilia, ela ajuda, e sempre com muita transparência (M1)

[...] eles aproveitaram o programa das mamães, e fizeram um dia de orientação... toda jurídica assim, toda legislativa mesmo, de todos os direitos que nós teríamos, quanto... até orientaram tudo quanto aos atestados, quanto as documentações que a gente teria que levar por conta do benefício do plano médico, tudo. (M2)

Os excertos acima extraídos dos relatos das experiências de mulheres que participaram das edições do programa Mamães de Ouro confirmam como a existência de um programa de apoio no local de trabalho, torna-se fundamental para orientar e também estimular a continuidade do aleitamento materno após o retorno da licença maternidade. Estudos realizados por Tsai (2014) e Bai e Wunderlich (2013) demonstram resultados similares, destacando além da importância da existência de programas de apoio para favorecer a prática da amamentação, a existência de ações de apoio, tais como a sala de amamentação, conteúdo que iremos abordar a seguir.

A sala de amamentação

É sabido que mulheres que possuem apoio dentro do local de trabalho, apresentam melhores resultados em relação à exclusividade e a duração do aleitamento materno (TSAI, 2014). Cabe citarmos que o apoio aqui referido destina- se às ações de apoio à amamentação, tais como, espaços dentro do ambiente de trabalho que ofereçam conforto e tranquilidade para a mulher, tais como a sala de amamentação.

A sala de apoio à amamentação é um local simples, reservado, confortável e em condições higiênico-sanitárias adequadas para a mulher retirar e armazenar o seu leite durante a jornada de trabalho para que possa ser oferecido ao seu filho posteriormente. Assim como a licença maternidade e as creches em local de trabalho ou auxílio concedido conforme acordo do sindicato, a sala de apoio à amamentação visa garantir a manutenção do aleitamento materno quando a mãe retorno ao trabalho e o direito da criança à amamentação. Entretanto, a sala de apoio à amamentação ainda não é uma lei tal como a licença maternidade e, portanto é facultativo às empresas adotar ou não a implantação dessas no ambiente de trabalho (BRASIL, 2015).

As salas de amamentação no local de trabalho beneficiam a continuidade no aleitamento materno favorecendo não somente o binômio mãe-bebê, mas também as empresas, com um menor absenteísmo da funcionária, haja vista, que as crianças que são amamentadas adoecem menos, e por outro lado, ao dar maior conforto e apoio à mulher que amamenta, valoriza as necessidades da funcionária, que poderá levar a um maior compromisso e envolvimento da mesma com as metas da empresa (WEBER et al. 2011), evitando seu desligamento, que acarretaria ainda mais custos para a empresa na homologação e contratação de novo funcionário.

[...] quando voltei também comecei a usar a bomba elétrica, então ai, lá tinha a sala né, e aí eu acho que é um belíssimo diferencial [...] (M8)

Pra você ter noção a gente tem uma salinha (pausa)... no ambulatório, que tem um quartinho do aleitamento que fala né, que quando as mães vão lá pra armazenar o leite pra levar de volta pra casa, tem a geladeira, tem poltrona confortável, pra elas ficarem sentadas, pra depois tirar o leite... pra ordenhar ... pra fazer tudo certinho. (M9)

Mesmo que a empresa cumpra as leis de períodos de pausa para a amamentação, percebe-se que ficaria inviável a expressão do leite materno para armazenagem e estoque se no local não houver um ambiente propicio para tal atividade, visto que mesmo que houvesse disponibilidade da mulher em se deslocar para amamentar em casa, as configurações das cidades de hoje não permitem um deslocamento rápido a tempo de ir, amamentar e voltar ao trabalho em um curto espaço de tempo, sendo necessário o envolvimento de familiares para trazer a criança até o local do trabalho para ser amamentada, o que não representa a realidade da maior parte das mulheres. Essa situação acaba por muitas vezes desestimulando e permitindo o desmame precoce.

Cabe ressaltarmos que a implantação da sala de amamentação é de baixo custo, bem como sua manutenção, trazendo resultados que imputam imagem positiva perante os próprios funcionários e também perante a sociedade.

6.2.2 Fragmentação de Pensamentos: entre as necessidades maternas,