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CAPÍTULO 3 – REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE

3.2. A memória em jogo: o Goiânia Esporte Clube

O Goiânia Esporte Clube, rival do Atlético Clube Goianiense, surgiu por

iniciativa de Joaquim da Veiga Jardim, conforme declara Eliézer Cardoso de

Oliveira:

A existência de dois times rivais revelava também diferenças políticas e sociais. O Goiânia, como era chamado pela população, era um time de elite, ligado ao grupo aglutinado em torno de Pedro Ludovico, que lhe fornecia total apoio financeiro, por intermédio da figura de Joaquim Veiga Jardim. Interessava, portanto, ao governo estadual, ter um time forte que representasse dignamente a nova Capital. (OLIVEIRA, 1999, p.43).

A fundação do Goiânia Esporte Clube

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aconteceu em 28 de julho de

1938, mas já havia a idéia de criação do time desde 1936. Sua fundação ocorreu

em uma casa, próximo à Avenida Araguaia. Nesse mesmo dia, deu-se a escolha

das cores do time, como conta João Batista Alves Filho:

Ainda na mesma reunião foram escolhidas as cores preta e branca e o uniforme do quadro de futebol ganhou logo uma definição: camisas pretas, com golas brancas, trazendo ao peito o mapa do Estado de Goiás. Os calções seriam branco, com meias pretas. O distintivo foi carinhosamente bordado por dona Maria Luzia Leite (Baby) e dona Lucy Gomes da Veiga Jardim. (FILHO, 1982, p.119).

A diretoria oficial do clube foi assim composta: presidentes de honra:

Pedro Ludovico Teixeira, Jerônimo Coimbra Bueno, João Teixeira Álvares Júnior;

presidente: Ademar Martins Vieira; vice-presidente: Walfrido de Campos Maia;

1.°secretário: José Joaquim de Souza; 2.° secretário: Acari de Passos Brandão;

1.°tesoureiro: João da Veiga Jardim; 2.°Tesoureiro: Reinaldo Baiocchi; diretor de

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Também conhecido, nos primeiros anos de sua fundação, como Esporte Clube Corinthians Goiano, como evidencia João Batista Alves Filho (Arquivos do Futebol Goiano, 1982, p.122).

esportes: Carlos Barsi; orador: Paulo Figueiredo. Os nomes dos presidentes de

honra do clube indicam que o time era ligado ao governo do Estado. Devido a

essa aproximação, os atleticanos apelidaram o time de chapa-branca, devido aos

benefícios concedidos ao clube por sua proximidade ao poder público

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. Odair

Tito foi um dos entrevistados que falou sobre o significado de chapa-branca:

Os carros do Estado tinham chapa branca, daí... Naquela época, anos 40, 50... até a profissionalização do futebol, não existia salário fixo. Existia os bichos, que era uma bolada que o time recebia por alguma vitória e que era dividida entre os jogadores. Então, como não tinham salários, era difícil manter um jogador no mesmo clube e aí veio a esperteza do Goiânia: eles ofereciam emprego no Estado aos seus jogadores. Aí minha filha, podia esquecer, né? E daí vem o nome de chapa-branca, eles além de jogadores, tornavam-se funcionários do Estado, os chapas-brancas. (Odair Tito, entrevista, mar.2007, anexo 5, p.76).

Antes do estádio-sede do clube ficar pronto, os treinos do Goiânia eram

realizados em um campo improvisado na Avenida Tocantins (centro da cidade),

onde hoje se encontra o prédio do IBGE. Para decidir qual o melhor lugar para a

construção do estádio, foi criada uma comissão. João Batista Alves Filho mostra

como se deu essa escolha.

A comissão criada para escolher um terreno para o campo de futebol estava indecisa. Dois locais entraram nas cogitações dos homens de Goiânia: um deles localizava-se às margens do Botafogo (...), o outro ficava nas proximidades do Lago das Rosas. Quem decidiu foi o presidente Jose Neddermeyer, que acabou optando por um magnífico terreno que foi imediatamente ocupado. O campo do Goiânia foi construído na área onde está agora o Estádio Olímpico. Fatores imprevisíveis e previsões pessimistas impediram que o local pertencesse em definitivo ao clube alvi-negro. (FILHO, 1982 p.121).

O primeiro jogo do Goiânia Esporte Clube foi em Bela Vista de Goiás.

Sua estréia foi frustrante, pois o Goiânia perdeu para o time da casa por 3x1. O

time só conseguiu sua primeira vitória na terceira partida jogada, contra o

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Esta afirmação pode ser encontrada nas entrevistas de Hélio de Oliveira e João Batista Alves Filho (anexo 5).

Anápolis Futebol Clube. Para a partida entre Goiânia e Anápolis houve muita

preparação. O campo sofreu reparações e até novas marcações. Contudo, o fato

mais curioso, como conta João Batista Alves Filho, é que “a limpeza [do campo]

foi feita por soldados da Força Pública, sob a direção do sargento Lázaro” (p.122).

Essa informação evidencia que o Goiânia era tratado com regalias pelo poder

público.

A questão da identidade reaparece em outras partidas na trajetória do

Goiânia Esporte Clube, como uma que ocorreu no mesmo ano de fundação do

time, em 1938. O jogo foi entre o Goiânia e União Americana Esporte Clube —

time criado por rapazes da Cidade de Goiás (antiga capital do Estado) — e

terminou empatado em 1x1. Sobre o assunto, Eliézer Cardoso de Oliveira ressalta

o caráter ideológico exercido pela política “mudancista” de Pedro Ludovico, por

meio dessa partida de futebol, composta por jogadores da antiga (União

Americana Esporte Clube) e a atual capital (Goiânia Esporte Clube) do Estado de

Goiás:

Essa partida de futebol foi preservada na memória coletiva goianiense, graças aos mudancistas, por que possibilitava uma interpretação alegórica da construção da cidade. A partida de futebol representava a saga da construção de Goiânia, que apesar das dificuldades econômicas e políticas, estava se igualando às grandes cidades do Estado. (OLIVEIRA, 1999, p.41).

A profissionalização do Goiânia aconteceu em 1964. Todavia,

independentemente de seu caráter amador ou profissional, desde sua fundação,

nos anos 30 do século XX, até meados de 60, o time foi o maior rival do Atlético

Clube Goianiense. Por essa razão as partidas disputadas entre as duas equipes

eram esperadas com muitas expectativas. Foi encontrada no acervo JMT, uma

Imagem 28: Preleção do árbitro aos jogadores do Goiânia e Atlético. Déc. 1950. Hélio de Oliveira. Acervo JMT.

Segundo Eliézer de Oliveira, “estas rivalidades ultrapassam as

barreiras dos estádios de futebol. O que poderia servir apenas para indicar uma

preferência esportiva, revela aspectos fundamentais daquele meio cultural”.

(1999, p.44.)

Uma das melhores equipes do Goiânia foi montada na década de

1950, e, por vezes, disputou jogos contra o Atlético. Encontrei no acervo de Hélio

de Oliveira uma foto do time desse período. Recorri às lembranças do fotógrafo

para que me ajudasse a construir a legenda da foto, e ele aceitou o desafio.

Imagem 29: Time oficial do Goiânia Esporte Clube. Déc. 1950. Hélio de Oliveira. Acervo H.O. Identificação dos jogadores (da dir. para esq.): Uberaba, Élson (Salsicha), Cisquinho, Bagainha, Vavá, João Preto, Rosa, Foca, Bessa, Mané Padaria e Bela Vista.

Desses jogadores, segundo o fotógrafo, os três grandes craques foram

Cisquinho, Foca e Salsicha: “Eles eram muito bons. O único defeito era serem

jogadores do Goiânia (risos). Mas, sem brincadeira, esses três aí, ó, jogavam um

bolão!”. (Hélio de Oliveira, entrevista, nov.2007, anexo 5, p.58).

Hélio de Oliveira pertenceu à diretoria do clube atleticano por 16 anos,

possui centenas de fotos e muitas lembranças sobre o referido time. Além, é

claro, de fazer parte da memória coletiva do bairro. Todas as pessoas

entrevistadas declararam conhecer ou ter ouvido falar do fotógrafo. A literatura

pesquisada (como a de José Mendonça Teles e Lisita Jr.) referenda o nome do

fotógrafo, e também é possível encontrar diversas matérias de jornal sobre sua

pessoa ou obra, inclusive evidenciando uma relação muito próxima entre Hélio de

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