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INTRODUÇÃO

2.2 Sintetizando as obras /fontes

2.2.4 A mentalidade nacional para Oliveira Vianna

Vianna (2002) demonstrou a força do elemento histórico na formação psicológica. A investigação do passado seria capaz de dar o vislumbre da originalidade das ideias atuais. Segundo o autor, a história do Brasil, diferente dos países Europeus, ainda foi formada por um curto período de tempo, o que deixaria muito mais vivo na psique nacional e na mentalidade coletiva as primeiras formas de organização social. Os reflexos da colonização estariam bastante frescos e vivos.

Essa complexidade de tipos antropológicos é acrescida pela complexidade dos tipos psicológicos. Cada uma das três raças formadoras tem a sua mentalidade própria; de modo que a psique nacional resulta do conjunto de três mentalidades inconfundíveis, extremamente diferentes na sua estrutura íntima. Os tipos cruzados, diversíssimos no ponto de vista antropológico, são por isso, também diversíssimos no ponto de vista psicológico – e a sua mentalidade é a mistura incoerente e heterogênea das três mentalidades

irredutíveis: a de um selvagem, a de um bárbaro e a de um civilizado. De maneira que o problema da fixação do nosso tipo psicológico é ainda mais árduo do que a fixação do nosso tipo antropológico. (VIANNA, 1991, p. 17, grifos nossos)

Essa multiplicidade dos tipos antropológicos influencia diretamente a complexidade dos tipos psicológicos brasileiros, impossibilitando o estabelecimento de uma psique nacional única.

De fato, os problemas enfrentados pelos estudos de psicologia étnica no Brasil decorrem da superabundância de características antropológicas do povo. Segundo Vianna (1991), no processo de caldeamento, as raças não trazem consigo somente seus elementos morfológicos e anatômicos, mas uma somatologia específica, uma vez que cada raça contém em seu cerne sua própria psicologia, “sua mentalidade, a sua inteligência, a sua sensibilidade, as suas tendências especiais.” (VIANNA, 1991, p.41). Dessa forma, as duas raças exóticas (branca e negra) ainda sofrem as reações ao novo meio ambiental e social em que estão inseridas.

Ademais, outro elemento de descenso para o estabelecimento da mentalidade e da psique nacional é a variedade étnica dentro das raças exóticas. Para além dos múltiplos resultados dos caldeamentos entre as três raças fundadoras (indígena, branca e negra), há uma infinita variedade de tipos morfológicos e psicológicos na composição de cada uma. Assim, não há como estabelecer uma unidade étnica nacional, nem um tipo psicológico específico, dada a variação dos subtipos antropológicos e psicológicos. Nesse sentido, Oliveira Vianna buscou estabelecer e demonstrar as características dos diversos grupos na constituição étnica e na mentalidade nacional:

Toda a evolução histórica da nossa mentalidade coletiva outra coisa não tem sido, com efeito, senão um contínuo afeiçoamento, por meio de processos conhecidos de lógica social, dos elementos etnicamente bárbaros da massa popular à moral ariana, à mentalidade ariana, isto é, ao espírito e ao caráter da

raça branca. Os mestiços superiores, os mulatos ou mamelucos, que vencem

ou ascendem em nosso meio, durante o largo período da nossa formação nacional, não vencem, nem ascendem como tais, isto é, como mestiços, por uma afirmação de sua mentalidade mestiça. Ao invés de se manterem, quando ascendem, dentro dos característicos híbridos do seu tipo, ao contrário, só ascendem quando se transformam e perdem esses característicos, quando deixam de ser psicologicamente mestiços – porque se arianizam. (VIANNA, 2002, p. 1014, grifos nossos)

As diversidades mentais não possibilitaram a caracterização objetiva, pois cada raça e subtipo étnico contribuíram com suas especificidades morais e com seus tipos mentais, influenciados pela inteligência, sensibilidade, energia do caráter e maior adaptabilidade à civilização. As mudanças psicológicas só são possíveis a uma classe de mestiços superiores (aqueles que podem ser confundidos com os brancos), a partir do

momento que demonstram ser psicologicamente mais distantes de seus desvios atávicos (oriundos da raça negra) e mais próximos ao espírito de organização e civilização.

Para Vianna (1991), negros e índios, embora compartilhem a sentença da inferioridade, possuem mentalidades muito distintas. O índio possui uma altivez pessoal e não se deixa encantar pela ideia de progresso e civilização. Contudo, o negro busca assimilar-se à civilização branca, imitando o comportamento superior. Ambos, índios e negros, falham na inserção civilizacional: o primeiro por desdenhar a civilização e o segundo porque não tem capacidade mental para assimilá-la. Dessa forma:

Essa desambição natural do índio e essa mediocridade ingênita do negro se transmitem aos seus mestiços: daí a extrema sobriedade das nossas populações mestiças. Curibocas, cafuzos, mulatos, todas com exceção de uma pequena minoria de eugênicos, vivem a mesma vida dos seus ancestrais, satisfeitos na sua miséria, contentes na sua parcimônia e incapazes de realizar, espontaneamente, o mais leve esforço para melhorar o teor da sua existência miserável. (VIANNA, 1991, p. 50, grifo nosso)

Os estímulos para melhorias na psique, inertes e adormecidos são elementos essenciais para a condução da massa social ao enriquecimento e à civilização.

De forma geral, o autor compreende que elementos mestiços foram a base da população geral. Distribuídos de forma irregular e produzindo infinitos resultados étnicos, brancos, negros e índios compõem o povo brasileiro. O tipo antropológico característico do brasileiro do futuro jamais terá a alva tez ariana por influência dos trópicos.

Realmente, nos cruzamentos humanos acontece o que acontece nos cruzamentos animais: o sangue preponderante tende a impor cada vez mais ao tipo mestiço os seus caracteres raciais. Quanto maior, portanto, for a dose de sangue ariano nos nossos mestiços, tanto mais eles tenderão a revestir-se dos atributos somatológicos do homem branco. Nos meio-sangues indo- ariano, por exemplo, vemos os dois tipos antropológicos se equilibrarem, clareando-se a pele bronzeada do caboclo sob a ação do sangue branco, ao passo que os cabelos finos e castanhos ou loiros do ariano se engrossam e se retingem da mais absoluta coloração negra. (VIANNA, 1993, p. 38, grifo nosso)

Os elementos formadores da nacionalidade são mormente portugueses, uma vez que dotado de fusibilidade, o português pouco se mostrou refratário ao contato (e à mistura) com índios e negros. A sensibilidade, o temperamento e sua originalidade estão incutidos na massa social do país, logo, o desejo da melhoria, a ambição e a capacidade de ascensão fazem parte da constituição de seus mestiços, principalmente seus mestiços superiores.

Neste domínio das atividades práticas, veremos então esses neobrasileiros, filhos e netos de lusos, de italianos, de alemães, que nos parecem hoje

deprimido pelo clima, revelarem a soberba estrutura moral de que são dotados, as suas esplêndidas reservas de energia e tenacidade, acumuladas pela hereditariedade. Eles serão, na nossa economia social, o que são seus ancestrais atualmente: elementos dinamogênicos, foras de salubrização e vitalidade, fatores de renovação e progresso (...) (VIANNA, 1991, p. 61-62, grifo nosso)

Enfim, a personalidade constitucional biológica possibilita o aprimoramento social no sentido da civilização e do progresso.