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3.3 Metodologia Ativa

3.3.2 A metodologia ativa e o desenvolvimento de competências

Dolan e Collins (2015) defendem que quando o professor fala menos e orienta mais, a aprendizagem é mais significativa, pois o aluno participa de forma mais ativa no processo de aprendizagem. Em 1969, o educador Edgar Dale, já demonstrava em seus estudos, que quanto mais ativo e autônomo, melhor a apropriação dos conhecimentos pelo aluno, colocando em xeque a eficiência dos métodos exclusivamente expositivos.

Por meio de suas pesquisas, o educador concluiu que depois de duas semanas, o cérebro humano lembra de apenas 10% do que leu; 20% do que ouviu; 30% do que viu; 50% do que viu e ouviu; 70% do que disse em uma conversa/debate; e 90% do que vivenciou a partir de sua prática. Estas porcentagens de retenção do conhecimento foram apresentadas graficamente, através da Pirâmide de Aprendizagem de Dale (Figura 3.3).

FIGURA 3.3: Representação da Pirâmide de Aprendizagem de Dale (LEITE, 2018)

Segundo Leite (2018), a pirâmide sugere a ideia de como os alunos aprendem e deixa claro que a capacidade cognitiva humana de aprendizagem, está diretamente relacionada ao modo e aos meios de interação com as informações. Ou seja, a aprendizagem melhora à medida que o aluno se envolve ativamente no seu processo, exercendo atividades que demandam alto grau cognitivo.

Pode-se considerar que a aprendizagem é ativa e significativa quando ela avança em espiral, de níveis mais simples de conhecimentos e competências, para níveis mais complexos. Portanto, Cecy, Oliveira e Costa (2015), consideram que ao aplicar atividades baseadas nos métodos ativos, é essencial pensar nos domínios cognitivos da aprendizagem definidos pela Taxonomia de Bloom.

A ideia central da taxonomia é a de que os objetivos educacionais possam ser arranjados numa hierarquia do mais simples (conhecimento) para o mais complexo (avaliação). Isso significa que, para adquirir uma nova habilidade pertencente ao próximo nível, o aluno deve ter dominado e adquirido a habilidade do nível anterior.

A taxonomia foi inicialmente proposta por Bloom, em 1956, e dividida em três campos: cognitivo, afetivo e psicomotor. O domínio cognitivo, foi o único que foi desenvolvido mais a fundo, e foi estruturado em seis categorias, que mais tarde, sofreram uma revisão (KRATHWOL, 2002). Os seis níveis cognitivos da Taxonomia de Bloom revisada, são apresentados na Figura 3.4.

FIGURA 3.4: Taxonomia de Bloom revisada (Baseado em FERRAZ, BELHOT (2010))

As categorias da Taxonomia de Bloom, além de representarem resultados de aprendizagem esperados, são cumulativos, o que caracteriza uma relação de dependência entre os níveis e são organizados em termos de complexidades dos processos mentais. À cada uma das categorias na taxonomia original, associa-se um

verbo de ação a ser utilizado ou aplicado, a fim de se atingir o objetivo pretendido. (FERRAZ E BELHOT, 2010).

Na Tabela 3.3, são apresentadas as descrições de cada uma das categorias e seus respectivos verbos.

TABELA 3.3: Categorias do domínio cognitivo da Taxonomia de Bloom (Adapatado de Ferraz e Belhot, 2010)

Definição Verbo representativo

Lembrar Relacionado a reconhecer e reproduzir ideias e conteúdo. Reconhecer requer distinguir e selecionar uma determinada informação e reproduzir ou recordar está mais relacionado à busca por uma informação relevante memorizada

Reconhecer, reproduzir, listar, descrever, explicar

Entender Relacionado a estabelecer uma conexão entre o novo e o conhecimento

previamente adquirido. A informação é entendida quando o aprendiz consegue reproduzi-la com suas “próprias palavras”

Interpretar, exemplificar, classificar, resumir, inferir, comparar, explicar

Aplicar Relacionado a executar ou usar um procedimento numa situação específica e também abordar a aplicação de um conhecimento numa situação nova

Executar, implementar

Analisar Relacionado a dividir a informação em partes relevantes e irrelevantes, importantes e menos importantes e entender a inter-relação existente entre as partes

Diferenciar, organizar, atribuir, concluir

Avaliar Relacionado a realizar julgamentos baseados em critérios e padrões qualitativos e quantitativos ou de eficiência e eficácia

Checar, criticar

Criar Significa colocar elementos junto com o objetivo de criar uma nova visão, uma nova solução, estrutura ou modelo utilizando conhecimentos e habilidades previamente adquiridos. Envolve o desenvolvimento de ideias novas e originais, produtos e métodos por meio da percepção da interdisciplinaridade e da interdependência de conceitos

Generalizar, planejar, produzir

Cada uma das categorias, juntamente com suas ações, contribui, segundo Ferraz e Belhot (2010), para que o aluno atinja o nível de desenvolvimento cognitivo, de habilidade e competência desejados. Os autores ressaltam que o mesmo ocorre em diversos níveis de aprendizagem, desde o nível de conhecimento, em que o aluno

aprende lembrar os conceitos, o nível da compreensão em que ele aprende classificar, estruturar e organizar o conhecimento, até o nível da aplicação, em que o aluno se torna capaz de aplicar o conhecimento em situações concretas.

Ao observar a Pirâmide da Aprendizagem de Dale (Figura 3.3) e a Taxonomia de Bloom (Figura 3.4), é impossível não estabelecer uma relação entre as duas. Ambas relacionam os métodos ativos com níveis maiores de cognição, que por sua vez, trazem uma aprendizagem mais efetiva à medida que o indivíduo realiza atividades mais complexas.

Sendo assim, é fundamental que o aluno aprenda não só conhecimento, mas também habilidades como trabalhar em equipe e desenvolver atitudes profissionais. Então, conforme proposto por Dale e Bloom, para levar o aluno a aprender de forma mais profunda, são necessárias estratégias que o levem a exercitar a aplicação de conhecimento de alguma maneira, por exemplo, fazendo uma apresentação ou simulando a aplicação do conhecimento.

A forma tradicional de ensino excessivamente centrada no professor, faz com que falte aos estudantes oportunidade para aplicação prática dos conceitos. Sem tirar a importância do papel desempenhado pelo professor, é preciso lembrar que o que o aluno faz é realmente mais importante na determinação do que é aprendido do que o que o professor faz (FERRAZ; BELHOT, 2010).

Para Savegnago (2015, p.16), os métodos educativos ativos devem conter elementos que “recrutam uma variedade de funções cerebrais e capacitam os

estudantes a criar estruturas mentais mais significativas, transferíveis e duráveis”.

Bacich e Moran (2018), consideram que a aprendizagem ativa aumenta a flexibilidade cognitiva, ou seja, a capacidade de alternar e realizar diferentes tarefas, operações mentais ou objetivos e de adaptar a situações novas e inesperadas.

Ao vivenciar métodos mais ativos, é observado uma série de benefícios aos alunos. Dentre os benefícios observados por Ribeiro (2005), são destacados a maior confiança nas decisões e na aplicação do conhecimento em situações práticas; melhora no relacionamento com os colegas; melhora na expressão oral e escrita; além de adquirirem gosto para resolver problemas e vivenciar situações que requerem tomar decisões por conta própria, reforçando a autonomia no pensar e no atuar.

Desta forma, quando metodologias ativas são aplicadas, um dos resultados esperados é o desenvolvimento de competências transversais nos alunos (MATTAR, 2017). Estas competências são essenciais para adaptação à mudança, além de

promover uma aprendizagem personalizada ao longo da vida. Além das habilidades técnicas e profissionais, as habilidades pessoais e sociais são essenciais na transição da universidade para o mercado de trabalho.