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A METODOLOGIA E SUA EPISTEMOLOGIA: PONTO DE PARTIDA DA

No documento 988 à 1998 (páginas 50-55)

3 METODOLOGIA

3.1 A METODOLOGIA E SUA EPISTEMOLOGIA: PONTO DE PARTIDA DA

Como fundamentação teórica, esta pesquisa amparou-se na Sociologia Sentipensante, da obra de Orlando Fals Borda10 (2009), pois buscou entender e compreender os saberes gerados a partir dos conflitos no território do Vale do Ribeira, mais especificamente em defesa do Rio Ribeira de Iguape. A Sociologia Sentipensante permitiu que a metodologia proposta nesta pesquisa fosse além do apenas racionalizar, teorizar e escrever, já que o autor defende que nas terras do Sul11 é preciso também sentir, estar junto, estar com, estar pelos, estar para os sujeitos envolvidos na pesquisa de forma comprometida e responsável (BORDA, 2009).

Segundo (BORDA, 2009), ao pensar a pesquisa cientifica, aborda uma ciência comprometida, enfatizando que o método não tem resposta e que o pesquisador é apenas um mediador, sendo necessário então combinar a observação com a prática e com a participação autêntica. Ou seja, para ele, ao realizarmos a investigação de forma comprometida e rompendo com o olhar colonial, buscamos a construção de uma nova universidade, como também uma nova sociedade (BORDA, 2009). Dessa forma, o pesquisador assume uma posição ativa, comprometida e transformadora junto com a comunidade, e pratica uma ciência que confia nas suas gentes e nos seus povos, não somente uma coleção de técnicas (BORDA, 2009).

Para (BORDA, 2009), o ato de investigar de forma comprometida não se resume só em atuar ou em participar, mas também se configura como uma filosofia de vida, pois há uma redefinição do lugar do pesquisador, que caminha ao lado dos

10 A obra e vida de Borda ficou conhecida não somente por problematizar a forma de investigação científica, rompendo com a epistemologia clássica da ciência colonial positivista, mas principalmente por promover uma ruptura epistemológica ao romper com a relação dos sujeitos e objetos de pesquisa. Para ele é necessário pensar uma ciência popular, comprometida com a justiça social e que busca refletir sobre os sistemas de valores de grupos tradicionais que resistem frente aos poderes hegemônicos (BORDA, 2009).

11 Cabe retomar a ideia de Epistemologias do Sul enquanto diversidade epistemológica do mundo (SANTOS; MENESES, 2010, p. 19). Nesta perspectiva, o sul é utilizado como metáfora de um campo epistêmico desafiador que procura “[...] reparar os danos e impactos historicamente causados pelo capitalismo na sua relação colonial com o mundo” , ou seja, está para além do sul geográfico, uma vez que no interior do norte geográfico as classes e os grupos sociais também estão expostos à dominação capitalista e colonial. Porém, no sul geográfico há aqueles e aquelas que se beneficiam com tal dominação (p. 460).

movimentos e não à frente (BORDA, 2009). Segundo o autor, o ser “Sentipensante”

é aquele que escuta, e que sabe relacionar a razão (racionalidade científica) e a emoção (intuição/observação) (BORDA, 2009). No entanto, não se trata só de ter empatia com as classes e povos oprimidos, mas sim de respeitar a singularidade dos povos, sua diversidade e suas diferenças, e principalmente a voz, o pensar, o agir e o direito de existir dessas pessoas e comunidades, assim como suas racionalidades. Somente quando combinamos as duas racionalidades, a da razão e da emoção, poderemos alcançar o “sentir pensar” (BORDA, 2009).

O autor ainda destaca que não cabe pensar que a Sociologia produzida com essas preocupações intelectuais e técnicas pode ser maior ou menor que aquelas defendidas pelos cientistas puristas que se dizem neutros (BORBA, 2009, p. 237).

Para ele, trata-se de refletir que não podemos conceber uma Sociologia sem a política, isso é, sem que tomemos “partido” frente a ações que de alguma forma afetam os interesses da coletividade (BORBA, 2009, p. 238).

Neste sentido (MINAYO, 1992) afirma que o campo da pesquisa social não é transparente, ou seja, para a autora o aspecto distintivo das Ciências Sociais é o fato de ela ser intrínseca e extrinsecamente ideológica. Desta forma, para a autora, o pesquisador, assim como os seus interlocutores e observadores, interferem no conhecimento da realidade, e portanto, a pesquisa social nunca é neutra Minayo (1992). Na pesquisa de abordagem qualitativa e cunho social e histórico a metodologia vai muito além da utilização de técnicas, ela inclui as concepções teóricas da abordagem, articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com as formas de pensar a realidade (MINAYO, 1992).

Dessa forma, a pesquisa qualitativa não se baseia no critério numérico para garantir sua representatividade (MINAYO, 1992). No entanto, não se pautando por escalas somente numéricas, cabe uma pergunta importante neste momento, também colocada pela autora: "quais indivíduos sociais têm uma vinculação mais significativa para o problema a ser investigado?".

Neste sentido, (MINAYO, 1992) aponta que a amostragem boa é aquela que possibilita abranger a totalidade do problema investigado em suas múltiplas dimensões. Sendo assim, a abordagem qualitativa proposta para a investigação se complementa e segue os apontamentos de (MINAYO, 1992) em relação à natureza não quantificável desse tipo de processo de pesquisa:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilha com seus semelhantes. Desta forma, a diferença entre abordagem quantitativa e qualitativa da realidade social é de natureza e não de escala hierárquica (MINAYO, 1992, p. 43).

É necessário destacar que a dinâmica desta pesquisa também se deu em um contexto de constante transformação. Conforme (FERREIRA, 2010), “a dinâmica será estabelecida através de ciclos, como um processo espiral, que começa a partir de um problema ou uma pergunta e termina com um produto provisório, mas que seja capaz de dar origem a novas interrogações para o território pesquisado”

(FERREIRA, 2010, p. 19).

Ainda sobre a perspectiva teórico-metodológica da pesquisa, (MINAYO, 1992) destaca que “o método científico permite que a realidade social seja reconstruída enquanto um objeto do conhecimento, através de um processo de categorização (possuidor de características específicas), que une dialeticamente o teórico e o empírico” (MINAYO, 1992, p. 35). Portanto, segundo a autora, o lugar primordial é ocupado pelas pessoas e grupos convivendo em uma dinâmica de interação social, representando uma realidade empírica a ser estudada (MINAYO, 1992, p. 43); porém o processo de campo nos leva à reformulação dos caminhos da pesquisa.

Diante disto, esta pesquisa utilizou-se de técnicas que orientam a pesquisa social enquanto estratégia de compreensão da realidade, e sua principal função é retratar as experiências vivenciadas, bem como as pessoas, grupos ou organizações. Como pode ser verificado no (QUADRO 1), a partir da elaboração de questões da pesquisa, tornou-se necessário realizar uma revisão bibliográfica, delimitar os instrumentos de pesquisa, executar o trabalho de campo e analisar os resultados.

A partir de uma pesquisa de um estudo micro social, espera-se contribuir com o entendimento e a compreensão epistêmica dos povos e comunidades tradicionais do Vale do Ribeira, ao levantar a história de luta e resistência em defesa da água, para então saber quais foram os fatores e elementos simbólicos e não

simbólicos que tais grupos e comunidades utilizam para resistir às diferentes Definição de estratégias de trabalhos

Construção do arcabouço teórico (desenvolvimento na abordagem decolonial, território e o “sentir pensar” e água como bem comum)

Confronto com os pressupostos iniciais Análise de dados coletados

Resultados e discussões Considerações finais Elaboração da dissertação Resultados e discussão

FONTE: Autora (2018), baseada na tese de Ferreira (2010).

A metodologia se deu a partir da pesquisa social, participativa, com abordagem decolonial e utilizou-se da pesquisa ação, observação participante e história oral como técnicas de coleta de dados, sendo possível com a contribuição da memória dos participantes do Movimento dos Ameaçados por Barragens do Vale do Ribeira - O MOAB. Para o desenvolvimento das ferramentas, os métodos escolhidos para esta pesquisa foram: análise documental, pesquisa bibliográfica e revisão de literatura, técnica snowball, caderno de campo, roteiro de entrevistas semiestruturadas, história oral, análise e interpretação dos dados e resultados.

O (QUADRO 1) refere-se ao resumo das etapas da pesquisa que foi dividida em 03 momentos, o primeiro de caráter exploratório, com a identificação do problema, elaboração teórica acerca das questões a aprofundar e também a elaboração do projeto de pesquisa e definição de plano de trabalho. Num segundo momento fez-se necessário a participação em atividades organizadas pelo MOAB, EAACONE e outros segmentos dos Povos e Comunidades Tradicionais na região.

Ainda neste momento foram realizadas as entrevistas com os integrantes do

movimento e participação do Fórum de Povos e Comunidades Tradicionais do Vale do Ribeira como pesquisadora e educadora.

Na fase final as atividades foram direcionadas a análise de dados coletados, aprofundamento teórico sobre as questões levantadas e redação da dissertação final. Conforme (QUADRO 2) para melhor acompanhamento foram listadas as ferramentas e métodos utilizadas para cada objetivo da pesquisa.

QUADRO 2 - TÉCNICAS E OBJETIVOS DA METODOLOGIA PARTICIPATIVA

Ferramentas e Métodos Pesquisa Objetivos

No documento 988 à 1998 (páginas 50-55)