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2.2 Internacionalização da educação superior como estratégia de

2.2.1 A mobilidade estudantil como estratégia de internacionalização

Podemos dizer que a internacionalização da educação superior se interpreta e é utilizada de forma diferente em distintos países. No Brasil, a modalidade de internacionalização que está mais presente nas instituições de educação superior é a mobilidade de estudantes, professores e pesquisadores. Como analisamos, a internacionalização não é um fenômeno novo nas universidades, está presente desde a sua criação até os dias atuais. Autores como Lima e Maranhão (2009) e Marrara (2007), como analisamos anteriormente, apontam que a internacionalização da educação superior se dá das formas passiva e ativa. Desse modo, a concentração de pessoas em mobilidade encontra-se, em maior parte, nos países de capitalismo avançado, como os Estados Unidos da América e alguns países europeus.

Acerca das contribuições que a mobilidade acadêmica oferece aos sujeitos participantes, de modo geral, Nascimento (2016) aponta que a mobilidade é uma possibilidade de os estudantes poderem contar com uma melhor infraestrutura de laboratórios e bibliotecas. Além do enriquecimento cultural, ao qual os estudantes não teriam acesso se não fosse o financiamento destinado às bolsas.

Condizente com essa afirmação, Pontes (2018) também salienta que a vivência proporcionada pela mobilidade acadêmica para os sujeitos participantes é de extremo valor para o desenvolvimento pessoal e profissional dos envolvidos: em sua maioria os participantes aproveitaram a oportunidade que é estudar no exterior e se destacaram ainda mais no âmbito acadêmico. Verifica- se que a mobilidade é uma tendência crescente no meio acadêmico e um importante passo para os sujeitos que estão amadurecendo na formação acadêmica, principalmente no atual contexto de globalização, no qual a troca de experiências e o conhecimento de última geração fazem diferença nos perfis profissionais. Não obstante, é notório que

53 A mobilidade estudantil internacional desempenha, nesse contexto um papel central na internacionalização do ensino superior, pois promove a interação e compreensão das diferenças culturais entre os países, além de impulsionar a formação e inovação nas diferentes áreas do conhecimento. É um reflexo da educação no atual estágio que se encontra a sociedade, embora se saiba que não é um fenômeno recente na história visto que já havia contato intercultural entre os povos antigos (SILVA, 2016, p. 169).

Diante disso, percebe-se também que a mobilidade estudantil é fruto das relações internacionais, pois, segundo Castro e Neto (2012, p. 77), a mobilidade “não envolve, apenas, o movimento de deslocamento; ela é muito mais ampla, pois é social e envolve estruturas, meios, culturas e significados”. Não se trata apenas da realização de estudos em outro país por parte do estudante, mas compreende-se a relação internacional em outros aspectos interligados, como o social e o cultural, assim como a possibilidade de o indivíduo obter oportunidades de trabalho globais em empresas multinacionais e transnacionais. Oliveira e Castro (2013, p. 5) também destacam que

são notáveis os aspectos positivos no processo de internacionalização, como: a melhoria da qualidade do ensino e da pesquisa local/nacional nos países em desenvolvimento e a possibilidade de troca de experiências e de conhecimentos entre os pesquisadores e as nações. Nesse contexto, a mobilidade estudantil torna-se uma forma de intercambiar os conhecimentos, contribuindo, assim, para que os países em desenvolvimento se insiram no mercado globalizado. Também estimula a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e tecnológico e do pensamento reflexivo dos sujeitos, visando a desenvolver o entendimento do homem e do contexto em que ele está inserido.

No âmbito da internacionalização no Brasil, muitas instituições a promovem como uma ferramenta de marketing “a favor da promoção do nome da IES e da busca de novos consumidores para seus serviços, motivada geralmente por interesses financeiros, do que pelo ânimo de colaborar como o desenvolvimento científico e educacional” (MARRARA, 2007 p. 248). O Brasil segue a mesma tendência global de internacionalização da educação superior. Lima (2010, p.2) afirma que “internacionalizar-se se tornou imprescindível para a universidade brasileira porque permite a possibilidade de igualar-se qualitativamente às melhores instituições de ensino superior nacionais e estrangeiras”. Entende-se que a internacionalização não é exclusiva da

54 educação superior, ocorre em todos os campos. Porém, no campo da educação superior, no atual contexto da sociedade, apresenta-se de forma mais imperante. Como apresentamos anteriormente, os processos de internacionalização da educação superior são articulados ao processo de globalização e surgem porque requerem das instituições de ensino novas competências. Diante do atual contexto de cunho internacional, criam-se, portanto, uma série de demandas para essas instituições de educação superior. Desse modo, nota-se que a globalização facilita o deslocamento e comunicação das pessoas pelo mundo. Possibilitada pelo desenvolvimento dos transportes e das novas tecnologias da comunicação, impulsiona a expansão da internacionalização da educação superior em todos os países do mundo.

Nesse cenário, observa-se que, embora o Brasil venha desenvolvendo iniciativas de internacionalização mediante um conjunto de medidas, a sua inserção nesse processo, quando comparada com os países desenvolvidos, pode ser considerada, ainda, embrionária. Chaves e Castro (2016, p. 12) afirmam que

O Brasil, se insere no processo de internacionalização de forma retardatária por muitas razões, entre elas, a jovialidade do seu sistema de ensino superior quando comparado com os sistemas dos países desenvolvidos; a sua inserção de forma periférica na chamada “geopolítica de conhecimento”, não possuindo muitas universidades atrativas para os estudantes estrangeiros; a falta de infraestrutura de acolhimento para os estudantes em mobilidade estudantil; e a dificuldade com a língua.

Diante disso, pode-se considerar que o contexto da internacionalização da educação superior no Brasil vem ocorrendo predominantemente de forma passiva: o país envia mais estudantes em mobilidade do que recebe. Vários motivos podem ser elencados como esclarecedores dessa tendência, entre eles: o país por não possuir muitas universidades que despontem nos rankings internacionais; pouca capacidade para instalação e para o acolhimento dos alunos; a oferta de serviços educacionais serem pouco atrativas; e a dificuldade com a língua portuguesa, pouco falada mundialmente. Com isso, é notório que o Brasil, para consolidar a internacionalização da educação superior, precisa investir em uma política de incentivo à mobilidade acadêmica, com prioridade à mobilidade estudantil. É certo que no período de 2003 a 2016 várias iniciativas

55 foram tomadas pelo governo, no entanto, foram insuficientes para a consolidação da internacionalização no país.

Stallivieri (2004) aponta que, no campo educacional, a internacionalização ainda é um processo complexo, inserido em um amplo contexto de políticas públicas, e, portanto, sem uma clara definição de seus objetivos. No atual contexto de globalização, a internacionalização da educação emerge a partir do entendimento de que a educação é um serviço e deve ser vista como uma mercadoria, regulada pelo mercado. Isto leva a educação a perder a sua dimensão de direito humano universal e de responsabilidade do Estado.

As autoras Chaves e Castro (2016) também apontam que é perceptível que, no Brasil, esse processo não ocorre de forma homogênea, considerando que a grande quantidade de estudantes estrangeiros no mundo está concentrada nas poucas regiões mais desenvolvidas, onde estão as universidades mais consolidadas e tecnologias de ponta. Reitera-se que, em âmbito mundial, as regiões no qual o Brasil está incluso se inserem nesse processo de forma periférica, muito mais enviando estudantes do que recebendo, e, assim, patrocinando divisas para as regiões mais desenvolvidas, demonstrando que a captação de estudantes decorre, também, da pujança acadêmica e do poderio econômico dos países. Esta noção reforça a lógica da educação como serviço.

Nota-se que a educação superior voltada para a internacionalização no Brasil é uma tendência impulsionada por esses fatores, uma vez que está inserida e faz parte da sociedade como um todo. É interessante compreender que o fenômeno da internacionalização da educação superior e o processo de globalização estão intimamente ligados.

A internacionalização, diante desse contexto, se dá de forma mercadorizada, para atender as demandas de produção capitalista. O tema da internacionalização da educação tem sido debatido de forma imperante no Brasil e em outros países no mundo. As discussões acerca da temática constatam que as mudanças decorrentes desse contexto globalizado, nas diversas áreas, como por exemplo, na área tecnológica, resultaram no fim das fronteiras para a educação e em uma integração desses países inseridos na economia global. De modo geral, a internacionalização da educação superior no Brasil emerge a partir

56 de estratégias das instituições de ensino superior para responderem às demandas competitivas e econômicas do mundo globalizado, como apontam Castro e Cabral Neto (2012, p. 71):

No atual contexto marcado pelo aumento do acesso à informação, pela necessidade de inserção dos países na sociedade do conhecimento, pela redução de custos de formação e por um melhor aproveitamento da infraestrutura de comunicação, a internacionalização no campo da educação é reconfigurada para atender a esses novos requerimentos decorrentes das mudanças impressas pela dinâmica social que se delineiam nos anos finais do século XX e se aprofundam neste início de século. No contexto globalizado, a educação em nível superior, à medida que cumpre a função de produtora e propagadora de conhecimentos, é vital para o crescimento tanto de países desenvolvidos quanto para aqueles em desenvolvimento.

Diante disso, considera-se que a internacionalização da educação superior, de modo geral, deveria se configurar como um processo de integração internacional, voltado necessariamente para a formação profissional, intercultural ou global. O objetivo e as funções deveriam ser de oferecimento da educação superior de qualidade e de produção do conhecimento, incentivando o trabalho de pesquisa e investigação científica. O fim deveria ser o de estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico, tecnológico e do pensamento reflexivo, visando desenvolver o entendimento do homem e do contexto em que vive e não de forma mercadorizada, com vista somente para formação para atender as demandas do mercado.

2.3 Políticas de expansão e internacionalização para educação superior