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Aspectos Metodológicos

Estudo 2: A Moradia e o Direito à Moradia

O Estudo 1 teve como objetivo conhecer as representações sociais sobre a moradia para Técnicos Sociais e Beneficiários de projetos habitacionais no bairro Santa Maria. Nele verificamos que a moradia foi retratada como um tema que abrangia a casa, o bairro, o cotidiano e as relações daquele local com o restante da Cidade. Permeando o tema moradia, surgiram ainda outros temas como violência, drogas, preconceito, relações interpessoais e trabalho. Sobre os projetos habitacionais, observamos que havia, por parte dos Beneficiários, expectativa sobre o recebimento das casas, mas pouca informação sobre os projetos. Os Beneficiários afirmaram que teriam melhores condições de moradia, mas isso não afetaria as condições gerais do bairro. Técnicos Sociais, por outro lado, acreditavam que os projetos promoveriam uma melhoria considerável nas condições sociais daquela população, mas apontaram o atraso nas obras como um fator de desestímulo à participação social daquela população.

Considerando que, de acordo com o Ministério das Cidades (2005) os projetos de habitação de interesse social visam promover o direito à moradia digna, e diante das incertezas apontadas no Estudo 1 sobre a intervenção estatal que ocorre no bairro, optamos pela realização de um segundo estudo que tem como objetivo investigar as representações sociais sobre o direito à moradia para os Técnicos Sociais e os Beneficiários.

Este segundo estudo ocorreu um ano após o segundo estudo com o intuito de que fosse realizado o mais próximo possível da entrega das novas moradias. Ampliamos ainda a estratégia metodológica utilizando Grupos Focais, a fim de perceber o modo como as conversações entre pares podem interferir nas lógicas de produção das representações sociais.

Gondim (2002) conceitua grupo focal como “um recurso para compreender o processo de construção das percepções, atitudes e representações sociais de grupos humanos” (p.153). Segundo esta autora, a utilização do grupo focal com outras técnicas, como entrevistas individuais ou observação, “permite comparar o conteúdo produzido no grupo com o cotidiano dos participantes em seu ambiente natural”.

No mesmo sentido, Kamberelis & Dimitriadis (2005) apontam que grupos focais também permitem investigar a natureza e os efeitos do discurso social vigente de uma forma que não é possível em entrevistas individuais ou observações. A investigação em grupos focais, pelo próprio caráter de interação entre os participantes, facilitaria a construção de elaborações que em um contexto individual pareceriam sem importância ou relevância.

6.1 – Método

6.1.1 - Participantes

No mês de agosto de 2009, foram realizados dois grupos focais: um com dez Técnicos Sociais, um homem, assistente social, e nove mulheres, sendo oito assistentes sociais e uma pedagoga. O critério de escolha desses participantes foi trabalhar como Técnico Social nos projetos habitacionais desenvolvidos no bairro Santa Maria. Por isso, dos dez Técnicos que compuseram este grupo, oito também participaram do Estudo 1 por já exercerem essa função.

Quadro 5: Dados dos Técnicos Sociais que participaram do Estudo 2.

Nome Idade (em

anos) Formação Profissional Tempo de experiência com trabalho comunitário

Tempo de trabalho no bairro Santa Maria

Ana 34 Pedagogia 4 anos e 4 meses 4 anos e 4 meses Elisa 37 Serviço Social 5 anos 4 anos

Carla 46 Serviço Social 22 anos 1 ano e 3 meses Elen 37 Serviço Social 16 anos 4 anos

Maria 31 Serviço Social 11 anos 4 anos

Mariana 32 Serviço Social 7 anos e 6 meses 1 ano e 6 meses Juliana 28 Serviço Social 7 anos 2 anos

Sofia 48 Serviço Social 1 ano e 5 meses 1 ano e 5 meses Marcelo 31 Serviço Social 3 anos e 2 meses 1 ano e 2 meses

O outro grupo focal foi formado por sete Beneficiários, quatro mulheres e três homens, com idade média de 44 anos. Para compor o grupo de Beneficiários convidamos participantes de uma Comissão de Acompanhamento da Obra. O motivo dessa escolha foi aproveitar pessoas que já estivessem debatendo em seu cotidiano temas como intervenção estatal e moradia e assim observar “as conversações espontâneas pelas quais as representações são veiculadas na vida cotidiana” (Sá, 1998, p.93). Os participantes do grupo focal não foram os mesmos participantes do Estudo 1; exceto a participante Márcia que também havia sido entrevistada no Estudo 1.

Quadro 6: Dados sócio-demográficos dos Beneficiários que participaram do Estudo 2. Nome (fictício) Idade (em anos)

Ocupação Local onde

mora no bairro Santa Maria Estado Civil Com que mora Tempo de residência no bairro Santa Maria

Márcia 38 Trabalha em uma fábrica de pré- moldados Invasão do Arrozal Casada Marido e uma filha 6 anos João 47 Vigilante Loteamento

Paraíso do Sul

Solteiro Mora só 15 anos Roberto 28 Trabalha em um

supermercado

Loteamento Maria do Carmo

Casado Pai, Mãe, Avô, Esposa e dois filhos

28 anos Lourdes 55 Aposentada Invasão da

Prainha

Viúva Quatro filhos e uma neta

30 anos Carlos 52 Aposentado Conjunto

Valadares

Viúvo Mora só. 30 anos Paula 40 Dona de casa Loteamento

Ponta da Asa

Casada Marido 15 anos Socorro 53 anos Aposentada Invasão da

Prainha

Separada Uma filha e uma neta.

20 anos

6.1.2 - Procedimentos e Instrumentos

O estudo foi realizado no prédio de atendimento social dos projetos habitacionais, localizado no bairro Santa Maria.

Utilizamos dois roteiros com questões abertas para discussão, sendo um para o grupo de Técnicos Sociais e outro para o grupo de Beneficiários. As variações nos roteiros foram somente no intuito de adequação ao tipo de envolvimento do participante com o fenômeno abordado (ver roteiros nos Anexos IV e V).

Nos grupos focais, a abordagem sobre o tema direito à moradia se deu de forma mais explícita. Em ambos os grupos, utilizamos a “técnica do funil”, relatada por Gondim (2002) e que consiste em iniciar os grupos focais com questões mais abrangentes para, em seguida, colocar questões mais específicas. Iniciamos, então, com questões de caracterização dos participantes, seguido pelos temas moradia e, por último, o direito à moradia.

Cada grupo teve a duração de aproximadamente uma hora e foi gravado em áudio após o consentimento dos participantes. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido depois de informados sobre o objetivo e instituição de vinculação da pesquisa e o sobre o sigilo das informações (Anexo III).

6.1.3 – Análise de dados

Na análise dos resultados procuramos preservar a lógica e as especificidades das discussões que demonstraram a dinâmica das representações sociais sobre os temas em questão. A apresentação dos resultados foi estruturada nos eixos temáticos Moradia e Direito à Moradia, respeitando a seqüência de discussão no grupo focal. Para a análise dos dados, utilizamos os pressupostos de análise categorial de Bardin (1977) e da Teoria do Núcleo Central das Representações Sociais (Sá, 1996; Abric, 1996).

A moradia foi investigada nas seguintes dimensões: caracterização da moradia no bairro Santa Maria quanto aos aspectos físicos e sócio-econômicos e conceito de moradia digna. As dimensões que consideramos na investigação sobre o tema direito a moradia foram: 1) o sujeito do direito à moradia, 2) a efetividade do direito à moradia e 3) o que poderia ser feito para assegurar a efetividade do direito à moradia. Estes aspectos foram situados no contexto do bairro Santa Maria. O Quadro 7 relaciona os temas e as questões que nortearam a discussão dos Grupos Focais.

Quadro 7: Temas e questões correspondentes.

Temas Questões

Tema I – Moradia • Como você descreve a casa no bairro

Santa Maria?

• O que é para você uma Moradia Digna?

Tema II – O Direito à Moradia Digna • Você considera que os moradores do Bairro Santa Maria tem direito à moradia digna?

• Você acha que esse direito é respeitado? Por quê?

• O que poderia ser feito para que esse direito fosse respeitado?

6.2 – Resultados e discussão

6.2.1 – As representações dos Técnicos Sociais sobre a moradia e o direito à moradia

O grupo de Técnicos Sociais se caracterizou por serem profissionais com uma média de quatro anos de trabalho em todo o bairro. Dos nove profissionais, somente um informou não ter experiência anterior em trabalhos comunitários.

A moradia: aspectos físicos e sociais

Perguntamos ao Grupo como eles descreveriam os moradores do bairro Santa Maria a fim de investigar as características sociais das moradias no bairro Santa Maria.

Para o Grupo, as famílias no bairro Santa Maria se caracterizavam por pais com grande número de filhos, sem instrução e sem emprego, sobrevivendo principalmente de atividades informais e da catação de materiais recicláveis.

Carla: A maioria são desempregados. Baixo nível de escolaridade. Elisa: Não possuem renda fixa, né? E vendem reciclagem.

Mariana: A maioria é catadores.

Elisa: Sobrevivem da atividade informal. Carla: São participativos ou não?

Elisa: Não.

Elen: A maioria não.

Marcelo: Grande número de filhos. Sofia: Família grande.

Ana: A grande maioria... Fichado.

Observamos que os termos que mais aparecem são “não” (quatro vezes) e “maioria” (quatro vezes). Em seguida, o termo “grande” que aparece três vezes. Este tipo de construção revela que as Técnicas generalizavam as suas colocações, referindo-se ao grupo de moradores como homogeneizado.

A questão da criminalidade e do uso de álcool foi levantada; mas o grupo não elaborou falas num sentido que explicassem a origem desse problema. A criminalidade foi associada aos homens, que ao irem para a penitenciária, deixavam a família sob a responsabilidade das mulheres, como podemos constatar no trecho abaixo:

Ana: A grande maioria... Fichado. Mariana: Olha pra Ana... (risos) Ana: As mulheres aqui...

Carla: Têm problemas judiciais, não é Ana? Ana: Hã?

Carla: Algum problema judicial.

Ana: É. Porque os homens...

Elen: Principalmente na Invasão. Nas Invasões. Elisa: Mas é uma realidade mesmo.

Elen: É. Assim, a maioria das mulheres aqui, o que Ana quis dizer é que elas são chefe de família. Porque o marido, muitas vezes, estão mesmo na Penitenciária. Tem um bocadinho, não é Marcelo?

Marcelo: Tem. Elen: Na Água Fina. Maria: No Arrozal.

Elisa: No Arrozal também.

Sofia: No Arrozal tem muita mulher chefe de família. E muito problema também com alcoolismo. A gente faz reunião aqui. Aquela moça que passou mal, naquela reunião. Tava alcoolizada ela.

Conforme podemos observar, depois da colocação da Técnica Social Ana “A grande maioria... Fichado”, as demais Técnicas intervieram de forma a amenizar o seu enunciado “traduzindo” o que ela tinha dito. O termo que mais aparece, então, neste trecho foi “Ana” (quatro vezes) juntamente com o termo “mulheres/mulher” (quatro vezes).

Perguntamos, em seguida, aos Técnicos Sociais: “Como você descreve a moradia no bairro Santa Maria?” Inicialmente, o grupo de Técnicos Sociais direcionou a discussão para caracterizar as invasões que existem no bairro porque são as áreas onde prioritariamente trabalham. Nestes locais, segundo eles, as casas seriam barracos, com acentuada precariedade quanto aos materiais construtivos e salubridade. A presença de animais também foi mencionada para caracterizar esses locais.

Maria: Mas, casas ou barracos?

Sofia: A casa que a gente trabalha ou a casa em geral? Porque normalmente a gente não trabalha com casa. É barraco.

Carla: Como é que a gente descreve isso. É isso que ela quer saber. Elen: Bom, é uma situação precária, do local.

Sofia: Precaríssimo.

Elen: Não tem nem onde dormir. Não tem nem um colchão. Mariana: O lixo se acumula

Maria: É esgoto passando no meio da sala.

Mariana: Acumula o lixo, porque eles reciclam, no próprio barraco. Marcelo: Casa de taipa ainda, de palafita, de papelão.

Juliana: Papelão. Muitos de papelão. Carla: Rachadura.

Sofia: Quando chove tem barraco com risco de desabamento. Tem barraco torto já e, pelo menos na minha área, quando chove, o pessoal fica com a água na cintura. Aí, aparece caranguejeira. Teve um morador trouxe uma caranguejeira do tamanho da palma de uma mão. Caranguejeira, jacaré, cobra. No quintal deles.

Elisa: Péssima estrutura física.

Elen: (risos) Esgoto. Estrutura física nenhuma.

Percebe-se uma representação social da moradia bastante ligada ao termo “barraco” que aparece cinco vezes no trecho acima transcrito. Observamos que a expressão “não tem nem” apesar de aparecer três vezes iniciando frases, foi dita sempre pela mesma participante que, aliás, em todas as suas falas apresentou uma representação sobre a moradia através da falta: “não tem nem onde dormir. Não tem nem um colchão.(...) Não tem nem onde dormir. (...) estrutura física nenhuma”. O termo “papelão” apareceu quatro vezes, sendo que em três apareceu informando o material usado na construção dos barracos, enquanto que os termos “lixo” e “esgoto” apareceram duas vezes se referindo ao que haveria dentro das moradias. Os demais participantes, apesar de não utilizarem a expressão “não tem”, ao indicarem o que existe nos barracos e como eles são, revelam também uma realidade onde falta: infra- estrutura, conforto, segurança. A idéia de falta foi então o elemento central para se definir a moradia para aquele Grupo.

Os Técnicos retomaram a questão da dimensão dos barracos e de como eles eram inadequados às necessidades das famílias.

Sofia: É porque os barracos muitas vezes só têm um vão. Mariana: E moram no mínimo quantas pessoas?

Sofia: Na faixa de 4. No mínimo 4. Maria: 4, 6.

Carla: É. 4, 6. A maioria é 4, 6.

Elen: A gente teve no projeto da PETROBRAS até 13 crianças, não foi Jaqueline? Em uma casa.

Observamos que ocorria uma contradição quanto ao tamanho das famílias. No trecho anterior foi dito que as famílias eram numerosas, enquanto que neste momento, elas aparecem com um número de quatro membros (o termo “4” aparece cinco vezes contra o termo “6” que aparece depois e somente três vezes). Isso reforça nossa observação anterior de que quando os Técnicos caracterizaram as famílias do bairro relataram um perfil homogeneizado do morador.

O Técnico Social Marcelo observou que as novas unidades habitacionais, devido ao seu tamanho, não atenderiam às necessidades das famílias. O grupo não deu seguimento a esta discussão e duas Técnicas Sociais, Elisa e Sofia, alegaram que somente em um contrato a casa teria um quarto, enquanto que nos demais contratos, as casas e os apartamentos teriam dois quartos. Apesar de aparentemente contraditória com as falas anteriores que ressaltavam a quantidade elevada de membros das famílias, a não adesão ao tipo de enunciado relatado pelo Técnico Marcelo procura manter a representação de que os projetos são bons, ao mesmo tempo em que é mais um indício da contradição quanto ao número de membros das famílias. Neste momento, vemos que a Técnica Elen, de forma a não contradizer o Técnico Marcelo e ao mesmo tempo manter a qualidade dos projetos, restringiu o problema das famílias numerosas à Invasão do Morro do Avião. Neste trecho o termo “quarto” aparece como o mais citado (seis vezes) indicando que os Técnicos Sociais teriam como parâmetro a quantidade de quartos para qualificar uma moradia como adequada ao tamanho das famílias. O termo que foi mais citado em seguida foi “casa” (quatro vezes).

Marcelo: É até um problema pra casas, porque ela só tem um quarto. Se a família é grande, como é que tá fazendo uma casa só com um quarto? Muitas vezes quando os beneficiários vão fazer visita, eles já ficam pensando que vai morar todo mundo em um quarto só. Aí tem que ampliar a casa. Será que eles têm condições de ampliar essa casa?

Elisa: O do PAC não. O do PAC são 2 quartos. O do Morro do Avião é que é um quarto. Sofia: Os apartamentos são 2 quartos.

Elen: É que o Morro tem família numerosa, né? Marcelo: É.

Em seguida, questionamos ao Grupo “O que para vocês é moradia digna?”. Verificamos que os participantes se referiram principalmente à infra-estrutura (água, energia, rede de esgoto, escola).

Mariana: Tem que ter água, tem que ter energia. Elisa: Tem que ter rede de esgoto.

Elen: Escola.

Maria: Infra-estrutura.

Elen: Saneamento básico porque eu acho que não é só nos barracos, nos locais das invasões, mas é no bairro todo.

Mariana: Tem que ser arejada, né? Carla: Saneamento básico.

A expressão “Tem que” foi citada quatro vezes indicando as condições para que uma moradia fosse considerada digna. Como, em seguida, o grupo passou a debater sobre os projetos habitacionais, consideramos que a definição dada por eles sobre moradia digna era uma descrição daqueles projetos. Apesar de, na representação social sobre a moradia, os Técnicos apontarem aspectos sociais, que poderia ser sintetizada como falta de cidadania; neste momento, ao definirem moradia digna, eles não mencionam nada relacionado a este aspecto.

Observamos ainda que as aludidas condições para que uma moradia pudesse ser considerada digna, serviam aos Técnicos Sociais como justificativas dadas aos Beneficiários frente às queixas sobre o atraso na execução das obras. A existência dessas condicionantes foi colocada como indicador da qualidade do empreendimento, mas isso demandaria, segundo os Técnicos Sociais, mais tempo de execução.

Mariana: E a gente falou até em reunião, porque quando vão visitar a obra, já têm algumas casas levantadas “Por que já não entrega?” Mas como é que vai entregar se não tem energia, se não tem água, se não tem. Depois vocês vão ta falando que o Prefeito, que a Prefeitura entregou a casa e não tem, né? “Que tipo de moradia é essa que vocês estão entregando?” Elisa: Pra eles mesmo na área sem a infra-estrutura ainda completa ainda é melhor do que estar na condição que eles estão. Vivendo dentro da lama, vivendo dentro do lixo.

Elen: Quarta-feira, Mariana, eles disseram “Ai, meu Deus! Me dê logo a chave dessa casa. Essa casa é minha”.

Elisa: Aí, eles entendem que é melhor do mesmo do jeito que está, mas ainda é melhor do que estar na situação que eles estão. Por que não é brincadeira não. Precisa a questão da infra- estrutura.

Elisa: É. Porque a gente coloca que “Quando chover, vocês vão viver a mesma situação que vocês estão vivendo hoje. E isso a gente não quer, o Município não quer”.

Podemos observar, neste trecho, uma clara distinção entre o grupo de Beneficiários e o de Técnicos Sociais, que se posicionou como representante da Prefeitura. Vemos ainda que seria responsabilidade do Poder Público estabelecer a forma como o processo deve ocorrer e o que os projetos devem contemplar. Os termos que mais foram citados neste trecho foram “tem” (cinco vezes, sendo que em quatro fazia parte da expressão “não tem”). O termo casa apareceu quatro vezes. Os termos referentes aos Beneficiários foram citados num total de sete vezes, sendo “eles” (cinco vezes) e “vocês (duas vezes). Os termos referentes ao Poder público foram igualmente citados sete vezes, sendo “a gente” (três vezes), “vocês”, “Prefeito”, “Prefeitura” e “Município” (uma vez, cada).

Em seguida, os Técnicos apontaram que esse atraso interferiria na credibilidade das ações por parte da população. Observamos como os participantes concordam sobre este ponto e, complementando as respostas dos demais, constroem um discurso comum. As expressões que retratam aspectos de desesperança foram citadas num total de oito vezes. A Técnica Social Elen finaliza a discussão reforçando o poder de mudança gerado pela intervenção estatal.

Sofia: A maioria diz que não tem mais esperança (...) A gente tem que lidar com o desestímulo e a falta de esperança deles.

Elen: É mais de 10 anos. Tem pessoas que tem mais de 10 anos já. Maria: Tão cansados já.

Sofia: Desacreditados. Carla: Já estão cansados.

Elisa: E acaba comprometendo o trabalho social.

Marcelo: Com certeza, porque eles ficam desacreditados, desestimulados. Sofia: Aí compromete totalmente.

Elen: Agora é que nessa realidade é que eles estão acreditando, que estão vendo que as casas estão construindo, porque quando a gente veio logo pra cá era difícil trabalhar aqui, a participação era pouca.

O direito à moradia

Em seguida, introduzimos o tema direito à moradia colocando inicialmente a questão: “Você considera que o morador do Santa Maria tem direito à moradia digna?”.

Inicialmente, os participantes do grupo de Técnicos Sociais colocaram que todos teriam este direito e não somente o morador do Santa Maria.

Maria: Com certeza.

Ana: Todo mundo. Não é só do Santa Maria. Elen: Direito de todos.

Elisa: Não só moradia, como tudo, né?

Ana: Todo cidadão tem direito a moradia, saúde e lazer. Elisa: Viver dignamente é direito de todos.

Ana: Isso está na Constituição.

A fim de que os Técnicos debatessem a questão e não somente repetissem o que “está na Constituição”, colocamos ao grupo a seguinte hipótese: “E se alguém considerasse que nem todos teriam direito à moradia, vocês poderiam considerar que poderia haver essa possibilidade?”. Os Técnicos ainda assim procuraram manter uma postura neutra diante do tema respondendo que, em determinadas situações como venda da casa e retorno à Invasão, outros moradores poderiam considerar que este indivíduo não teria merecimento a este direito.

Elisa: Acho que assim, pela questão de que tem muitos que já tiveram direito, já tiveram oportunidade de ganhar e colocaram fora, no caso, como eles dizem. Venderam, trocaram. Perderam essa oportunidade e agora quer de novo.

Elen: E que essa realidade ainda continua. Quando a gente foi fazer a visita da obra, nessa