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5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

5.3. A NÁLISE DOS R ESULTADOS

5.3.3. A NÁLISE S UBJETIVA

Através da comparação dos resultados é possível analisar que se obteve uma maior aproximação entre o sinal da gravação recetora e a auralizada utilizando os valores de entrada do isolamento sonoro padronizado (DnT), incluindo para isso a média das medições (M), obtendo-se uma diferença de 0,2 dB. Pelo contrário, obteve-se uma maior diferença utilizando os valores de entrada do isolamento sonoro bruto (D), tendo em conta a transmissão entre dois pontos individualizados (I), obtendo-se assim uma maior diferença de 1,4 dB.

Para esta situação em concreto, os resultados mostraram que as diferentes abordagens utilizadas reproduzem corretamente os sinais sonoros com diferenças relativamente pequenas. Contudo, verifica-se que a reprodução de um sinal sonoro auralizado é mais eficiente considerando uma vertente mais detalhada, tendo em conta a média (M) da transmissão do ruído pela estrutura de separação, bem com a utilização do tempo de reverberação no compartimento recetor (DnT), na determinação dos valores de isolamento sonoro. Ou seja, segundo os resultados obtidos durante a análise objetiva, considera-se que a utilização do filtro de equalização FPM63-10k seja mais “natural” e eficiente para auralizar um sinal sonoro, e consequentemente ser utilizado num processo simplificado de auralização de isolamento sonoro a ruídos de condução aérea em edifícios.

O que se pretende compreender é até que ponto os resultados desta avaliação objetiva vão de encontro ao conjunto de informação reunida no inquérito elaborado através de uma avaliação subjetiva baseada em 24 inquiridos.

5.3.3. ANÁLISE SUBJETIVA

A análise subjetiva é realizada a partir dos resultados obtidos pelo inquérito desenvolvido com o objetivo de obter os resultados referentes às diferentes perceções auditivas e estudar a eficácia dos filtros em estudo.

Os resultados obtidos das respostas dos participantes no teste auditivo, são expostos seguidamente, segundo as quatro secções de questões presentes no inquérito.

Parte 01: Resultados para o Áudio de Música Cantada em Português

Na primeira parte do inquérito, os participantes foram questionados relativamente à avaliação subjetiva do nível de semelhanças entre o áudio original (gravação da música cantada em português gravada no compartimento recetor) e os quatro áudios auralizados:

 Áudio 01 (FPM63-10k);  Áudio 02 (FBM63-10k);  Áudio 03 (FPI63-10k);  Áudio 04 (FBI63-10k).

Essa avaliação foi realizada numa escala de avaliação de cinco pontos (“Nada Semelhante”, “Pouco Semelhante”, “Semelhante”, “Muito Semelhante” e “Extremamente Semelhante”) (Figura 5.6).

Os resultados obtidos mostram que as semelhanças entre e a gravação original e a gravação auralizada, Áudio 01, se encontram entre “Muito Semelhante” e “Extremamente Semelhante”. As semelhanças entre a gravação original e a gravação auralizada, Áudio 02, encontram-se entre “Semelhante” e “Extremamente Semelhante”. Já as semelhanças entre e a gravação original e as gravações auralizadas, Áudio 03 e Áudio 04, encontram-se entre “Pouco Semelhante” e “Muito Semelhante”.

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De facto, verifica-se que mais de metade dos inquiridos (54%) consideram que o Áudio 01 (gravação auralizada com aplicação do filtro de equalização FPM63-10k) é o áudio mais semelhante comparativamente ao áudio-base. Porém, 33% dos participantes também avaliaram o Áudio 02 (gravação auralizada com aplicação do filtro de equalização FBM63-10k) como o mais semelhante comparativamente ao áudio-base.

No que respeita à gravação auralizada menos semelhante, 38% dos entrevistados, indicou o Áudio 04 (gravação auralizada com aplicação do filtro de equalização FBI63-10k) e apenas 17% o Áudio 03 (gravação auralizada com aplicação do filtro de equalização FPI63-10k). Como comentários os inquiridos referiram que estes dois últimos áudios (Áudio 03 e Áudio 04) apresentavam um som ligeiramente mais “baixo” (menos intenso), comparativamente ao original.

Figura 5.6 – Respostas dadas pelos inquiridos, referentes à avaliação subjetiva das semelhanças entre o áudio original (gravação da música cantada em português gravada no compartimento recetor) e os quatro áudios

auralizados (Áudio 01, Áudio 02, Áudio 03 e Áudio 04), numa escala de avaliação de cinco pontos (“Nada

61 Pela análise global das respostas referentes à primeira secção do inquérito, é possível afirmar que o Áudio 01 (FPM63-10k) foi considerado, maioritariamente pelos participantes, aquele com a reprodução mais semelhante e natural do campo sonoro sentido no compartimento recetor. Conclui-se portanto que, para o presente caso de estudo, utilizando a gravação áudio da música cantada em português, o filtro de equalização que utiliza os valores de entrada de isolamento sonoro padronizado, considerando para isso a média das posições, em ambos os compartimentos, para as bandas de frequência do 63 aos 10000 Hz (FPM63-10k), foi avaliado subjetivamente como o filtro mais adequado e eficiente, a ser utilizado num processo de auralização, no âmbito do isolamento sonoro a ruídos de condução aérea em edifícios.

Parte 02: Resultados para o Áudio com o Som Instrumental

Na segunda parte do inquérito, os participantes foram questionados novamente relativamente à avaliação subjetiva da existência de semelhanças entre o áudio original (gravação da música com apenas o som instrumental gravada no compartimento recetor) e os quatro áudios auralizados:

 Áudio 05 (FPM63-10k);  Áudio 06 (FBM63-10k);  Áudio 07 (FPI63-10k);  Áudio 08 (FBI63-10k).

Essa avaliação foi realizada numa escala de avaliação de cinco pontos (“Nada Semelhante”, “Pouco Semelhante”, “Semelhante”, “Muito Semelhante” e “Extremamente Semelhante”) (Figura 5.7).

Os resultados obtidos nesta secção mostram que as semelhanças entre a gravação original e as quatro gravações auralizadas em estudo (Áudio 05, Áudio 06, Áudio 07 e Áudio 08), variam entre “Pouco Semelhante” a “Extremamente Semelhante”. O Áudio 05 (gravação auralizada com aplicação do filtro de equalização FPM63-10k) e o Áudio 06 (gravação auralizada com aplicação do filtro de equalização FBM63-10k) foram classificados, como os dois áudios mais semelhantes, com uma cotação de “Extremamente Semelhante” e “Muito Semelhante”, por mais de metade dos ouvintes. Em contrapartida, o Áudio 07 (gravação auralizada com aplicação do filtro de equalização FPI63-10k) e Áudio 08 (gravação auralizada com aplicação do filtro de equalização FBI63-10k) foram classificados como os dois áudios menos semelhantes, com uma cotação de apenas “Semelhante” e “Pouco Semelhante”, também por mais de metade dos ouvintes.

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Figura 5.7 – Respostas dadas pelos inquiridos, referentes à avaliação subjetiva das semelhanças entre o áudio original (gravação da música com apenas o som instrumental gravada no compartimento recetor) e os quatro áudios auralizados (Áudio 05, Áudio 06, Áudio 07 e Áudio 08), numa escala de avaliação de cinco pontos (“Nada

Semelhante”, “Pouco Semelhante”, “Semelhante”, “Muito Semelhante” e “Extremamente Semelhante”).

Observou-se que, nesta secção do teste de subjetividade, os inquiridos apresentaram um maior grau de dificuldade no que diz respeito às suas perceções auditivas na avaliação de semelhanças entre o áudio original e os quatro áudios auralizados. A maioria dos participantes, durante a realização do inquérito, sentiu algumas dificuldades na análise de semelhanças, pedindo várias vezes à autora para repetir a passagem dos áudios.

Por esse motivo, pela análise global das respostas referentes à segunda secção do inquérito, não é possível afirmar que um único áudio auralizado em estudo foi melhor ou pior que os restantes. Apenas, é possível verificar que realmente o Áudio 05 (FPM63-10k) e o Áudio 06 (FBM63-10k), que utilizam os valores de entrada de isolamento sonoro, considerando para isso a média das posições, em ambos os compartimentos, mostraram melhores resultados, apesar de ligeiros, relativamente ao Áudio 07 (FPI 63-10k) e ao Áudio 08 (FBI63-10k), que utilizam os valores de entrada de isolamento sonoro, considerando apenas uma posição em cada compartimento. Os dados obtidos complementam as respostas obtidas na primeira secção do inquérito, onde o áudio que apresentou os melhores resultados foi também o áudio que considera os valores de entrada de isolamento sonoro tendo em conta a médias das posições em ambos os compartimentos. Assim, a segunda secção do inquérito reforça a ideia de que, para além de se

63 poder utilizar a média, que é realizada durante uma medição, para auralizar uma gravação áudio num único ponto, esta pode ser considerada a abordagem mais correta e eficiente, segundo as respostas subjetivas obtidas.

Parte 03: Resultados da Influência da Escolha do Áudio

A terceira parte do inquérito diz respeito a um conjunto de questões, com o objetivo de perceber e estudar a possível influência da escolha do áudio a utilizar durante a avaliação subjetiva de um processo de auralização. Para isso, os participantes tiveram de responder às seguintes perguntas (Figura 5.8):

 “Considera que houve alterações na avaliação das semelhanças, alterando o áudio base?”  “Se sim, qual dos dois áudios se mostrou mais fácil para avaliar a presença de

semelhanças/diferenças?”

No que diz respeito à primeira questão formulada, 75% dos inquiridos afirmaram que realmente houve alterações na avaliação das semelhanças, alterando o áudio-base. E 94% dos inquiridos afirmou que a escolha do áudio com música cantada em português permitiu uma melhor comparação das diferenças existentes entre os áudios, facilitando a atenção dos mesmos durante o teste de escuta. No que concerne à escolha do áudio apenas com o som instrumental, os participantes consideraram que se tornava mais difícil, mais complicado e indecifrável na perceção da existência ou não de diferenças entre as várias gravações.

Figura 5.8 – Respostas dadas pelos inquiridos, referentes à avaliação subjetiva da influência da escolha do áudio, a utilizar durante a avaliação subjetiva de um processo de auralização.

Os resultados mostram que, de facto, a escolha do tipo de áudio a utilizar na avaliação subjetiva de num processo de auralização, tem influência nas respostas dadas pelos participantes. Para o presente caso de estudo, conclui-se que será mais aconselhável utilizar uma gravação áudio que tenha presente a existência da palavra (como por exemplo um discurso ou uma música cantada), com o objetivo de funcionar como um ponto de referência na procura de diferenças. Esta opção a implementar permitirá facilitar a concentração por parte dos ouvintes para uma correta e mais precisa avaliação.

Contudo, caberá referir que esta escolha tem como único objetivo facilitar a avaliação subjetiva da viabilidade do processo de auralização desenvolvido e não ser considerada como a escolha mais correta ou mais certa a ser utilizada num teste de escuta como produto final, uma vez que todos os áudios

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auralizados neste estudo (o áudio com a música em português e o áudio com apenas o som instrumental) reproduzem de forma eficaz o sinal sonoro do compartimento recetor.

Parte 04: Resultados da Influência da Escolha das Gamas de Frequência

Relativamente à quarta e última secção do inquérito, os participantes foram interrogados quanto à sua avaliação subjetiva da existência de semelhanças entre o áudio original (gravação da música cantada em português gravada no compartimento recetor para as bandas de frequência dos 20 aos 20000 Hz) e os três áudios auralizados (Áudio 09 (FPM63-10k), Áudio 10 (FPM63-5k) e Áudio 11 (FPM63-3,15k)), numa escala de avaliação de cinco pontos (“Nada Semelhante”, “Pouco Semelhante”, “Semelhante”, “Muito Semelhante” e “Extremamente Semelhante”) (Figura 5.9).

Os resultados obtidos pelo inquérito mostram que as semelhanças entre a gravação original e a gravação auralizada, Áudio 09, se encontram entre “Semelhante” e “Muito Semelhante”. As semelhanças entre a gravação original e a gravação auralizada, Áudio 10, encontram-se entre “Pouco Semelhante” e “Muito Semelhante”. Já as semelhanças entre e a gravação original e a gravação auralizada, Áudio 11, encontram-se entre “Nada Semelhante” e “Muito Semelhante”.

Observa-se então que mais de metade dos inquiridos (56%) consideram que o Áudio 09 (gravação auralizada com aplicação do filtro de equalização FPM63-10k) é apenas “Semelhante” comparativamente ao áudio original, e os restantes 44% avaliaram como sendo “Muito Semelhante”. No que diz respeito ao Áudio 10 (gravação auralizada com aplicação do filtro de equalização FPM100-5k), este foi avaliado maioritariamente pelos participantes (46%), como “Pouco Semelhante”, e apenas de “Muito Semelhante” por 25% dos inquiridos. Por último o Áudio 11 (gravação auralizada com aplicação do filtro de equalização FPM100-3,15k) foi classificado por 42% dos participantes como o áudio menos semelhante, com uma avaliação comum de “Nada Semelhante”.

Foi possível constatar ainda que durante a realização da quarta secção do teste de subjetividade, os ouvintes com uma idade mais avançada (superior a 60 anos), não conseguiram detetar diferenças significativas entre os três áudios auralizados, classificando-os sempre com avaliação igual de “Muito Semelhante”. Já os restantes ouvintes foram capazes de identificar diferenças consideráveis entre os três áudios auralizados, afirmando que o Áudio 11 (FPM100-3,15k) era o menos semelhante dos três.

65 Figura 5.9 – Respostas dadas pelos inquiridos, referentes à avaliação subjetiva das semelhanças entre o áudio

original (gravação da música cantada em português gravada no compartimento recetor para as bandas de frequência dos 20 aos 20000 Hz) e os quatro áudios auralizados (Áudio 09, Áudio 10, Áudio 011), numa escala

de avaliação de cinco pontos (“Nada Semelhante”, “Pouco Semelhante”, “Semelhante”, “Muito Semelhante” e “Extremamente Semelhante”).

Na globalidade dos resultados incidentes à quarta questão do inquérito, é possível analisar que o Áudio 09 (FPM63-10k) foi avaliado, pelos inquiridos, como o áudio auralizado mais semelhante com a reprodução do sinal sonoro no compartimento recetor. Isto deve-se ao facto de que o filtro utilizado (FPM63-10k: considerando as bandas de frequência em estudo dos 63 aos 10000 Hz) utilizar o limite de frequências mais alargado, e consequentemente mais semelhante com os limites de frequência que, normalmente, os humanos, com uma boa audição ouvem (dos 20 aos 20000 Hz). Deste modo, deduz-se que, normalmente, um ser humano de audição normal, não tem capacidades de distinguir pequenas diferenças de variações dos níveis de pressão sonora, abaixo dos 63 Hz e acima dos 10000 Hz.

Em contrapartida, o Áudio 11 (FPM63-3,15k) foi avaliado pelos inquiridos, como o áudio auralizado menos semelhante e menos natural, comparativamente com o áudio original gravado efetivamente no compartimento recetor. A maioria dos participantes comentou, ainda, que o áudio apresentava um som bastante mais “abafado”, assim como uma voz ligeiramente mais “baixa”, comparativamente às restantes gravações. Tal deve-se ao facto de que o filtro aplicado no Áudio 11 (FPM100-3,15k: considerando as bandas de frequência dos 100 aos 3150 Hz) anula determinadas bandas de frequência, consideradas importantes e influentes na perceção da audição humana.

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Num estudo realizado por José Naranjo (“Inteligência computacional aplicada na geração de respostas impulsivas biauriculares e em auralização de salas”) [91] é apresentada uma nova abordagem para obter as respostas impulsivas biauriculares (BIRs) para um sistema de auralização, utilizando para isso, um conjunto de redes neurais artificiais (RNAs). Em correlacionamento com a presente investigação, o autor verificou a existência de uma limitação na capacidade auditiva dos humanos, para as muito baixas e muito altas frequências, onde as diferenças existentes entre dois sinais sonoros são difíceis de identificar e ser percebidas auditivamente. O autor observou, ainda, uma maior concordância na deteção de diferenças para as bandas de frequência dos 2000 aos 4000 Hz.

Num outro trabalho apresentado por Tapio Lokki [92] (“Physically-based Auralization – Design, Implementation, and Evaluation”) é descrita uma abordagem com o objetivo de implementar um sistema de auralização, por modelagem de filtros digitas, num modelo 3D de um determinado ambiente sonoro. Os resultados obtidos tiveram por base uma avaliação objetiva apoiada em critérios acústicos, bem como uma avaliação subjetiva baseada na realização de um teste de escuta. Perante a análise dos dados, o autor refere, igualmente, que podem ocorrer diferenças em termos da perceção auditiva para as altas frequências.

Deste modo, segundo a interpretação dos dois autores, considera-se essencial não eliminar as respetivas gamas de frequências mencionadas anteriormente (nomeadamente no que diz respeito às altas frequências dos 2000 aos 4000 Hz), para um processo de auralização em operação, uma vez que se trata de frequências consideradas com grande influência na perceção da audição humana.

Salienta-se ainda que a escolha das bandas de frequência dos 100 Hz (limite mínimo na determinação dos índices de isolamento sonoro entre espaços segundo a norma NP EN ISO 6283-1 [53]) aos 3150 Hz (limite máximo na determinação dos índices de isolamento sonoro entre espaços segundo essa norma [53]) são comumente usadas como diretrizes na construção de edifícios, no que diz respeito à previsão de isolamento sonoro. Contudo, estes limites não devem ser aplicados em casos de auralização pelas razões mencionadas anteriormente e também pelo facto de esta não se reger por nenhuma série de padrões internacionais, dependendo única e exclusivamente da perceção global subjetiva dos ouvintes. Segundo Thaden [66] os valores a considerar num processo de auralização podem variar, normalmente, nas bandas de frequência dos 50 ou 100 Hz até aos 3150 ou 5000 Hz. No entanto, os resultados obtidos no presente estudo refutam a sua teoria. Ao contrário do autor, aconselha-se, portanto, que quanto maior forem os limites máximos e mínimos das bandas de frequência a utilizar na construção dos filtros (dentro da gama em estudo), mais natural e eficiente será o resultado final do processo de auralização implementado.

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