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Capitulo VI. Das políticas ao processo de institucionalização

6.2 O Processo de institucionalização

6.2.1 A necessidade institucional na velhice

O problema social que decorre do envelhecimento populacional, e principalmente do aumento do número de idosos, tem também origem nas alterações que ocorreram ao nível social e ao nível da própria estrutura das

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relações familiares. Não nos podemos esquecer que, há algumas décadas atrás, a responsabilidade de cuidar das pessoas idosas era da própria família.

Com as alterações entretanto surgidas a nível social - famílias menos numerosas, entrada da mulher no mercado de trabalho, o próprio facto de vivermos numa sociedade que privilegia a competição e o consumismo levou a que algumas famílias transferissem a sua responsabilidade sobre os idosos para o Estado ou instituições privadas.

São vários os autores e os estudos que refletem acerca das possíveis razões para a Institucionalização do idoso.

Do ponto de vista de Luísa Pimentel (2001), a institucionalização do idoso surge como ultima alternativa, quando todas as outras já se esgotaram. Mesmo quando os filhos estão dispostos a fazer tudo o que lhes é possível, por vezes, o internamento é o mais adequado.

Um dos motivos de ingresso no lar é a perda de autonomia física do idoso; este não é, no entanto, motivo isolado, associando-se a este, outros fatores que mais fortemente condicionam a decisão. Contudo, vários estudos concluíram que os problemas de saúde e a perda de autonomia, não são apontados como principal causa de institucionalização do idoso, a falta de recursos, quer económicos quer habitacionais, também é frequentemente apontada como uma das causas de entrada numa instituição (Pimentel, 2001).

O motivo mais frequente é o isolamento, ou seja, a inexistência de uma rede de interações que facilitem a integração social e familiar dos idosos e que garantam um apoio efetivo em caso de maior necessidade.

Mas até que ponto é que esse isolamento deixa de existir com a entrada dos idosos na instituição? Outro aspeto, que propicia a institucionalização do idoso, ocorre nas famílias em que a relação com o idoso já era conflituosa. Nesta situação, logo que surge a primeira dificuldade, a opção é a institucionalização (Carvalho in Gemito s/d).

Por sua vez, Paúl (2005) aponta os problemas de saúde que limitam a vida do idoso, a falta de recursos económicos para a manutenção da casa, a viuvez e a

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situação de despejo, sobretudo nos centros das cidades, como fortes potenciadores da institucionalização da pessoa idosa. As causas para a institucionalização podem ser inúmeras, sendo muitas vezes a conjugação destas diversas causas, e não apenas uma ou outra, que origina a escolha deste tipo de apoio social.

Independentemente das razões que levam o idoso à institucionalização, analisar o seu ingresso é rapidamente perceber que no mínimo lhe é exigido o abandono do seu espaço conhecido e vivido, obrigando-o a reaprender a integrar- se num meio que lhe é limitativo e que, em muitos casos, assume o controlo de muitos aspetos da sua vida (Paúl, 1997 in Martins s/d).

O processo de institucionalização, simbolizado pela saída de casa, pode ser longo ou curto e comporta um conjunto de etapas: decidir a institucionalização, escolher um lar e a adaptação/integração na nova residência.

De acordo com Sousa; Figueiredo e Cerqueira (2004), o “internamento” em lar afeta profundamente a vida de qualquer pessoa, em especial de um idoso, de acordo com as seguintes funções: segurança objetiva contra a adversidade do meio ambiente e segurança subjetiva contra o medo; local de intimidade e privacidade individual e familiar; lugar de identidade, pois a decoração, os móveis e o ambiente refletem a individualidade; e, um depósito de lembranças, permitindo a continuidade entre o passado e o presente.

Segundo Born e Boechat (2006), por mais qualidade que uma instituição possua, vai haver sempre um corte com o que se passava anteriormente, existindo um certo afastamento do convívio social e familiar. Por outro lado, a pessoa vai ter que se “familiarizar” com um conjunto de situações completamente novas como sejam: novos espaços, novas rotinas, pessoas que não conhece e com quem vai ter que partilhar a sua vida. Esta nova realidade pode, por isso, originar reações de angústia, medo, revolta e insegurança.

“Os resultados da mudança para um lar têm a ver, por um lado, com características sociodemográficas dos idosos, a congruência entre a

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personalidade, o ambiente e os padrões comportamentais, bem como a avaliação que fazem do meio, os recursos pessoais, a avaliação dos processos de mudança e os respetivos recursos para lidar com a situação” (Golant cit in Paúl, 2005: 261). Se esta interação de fatores não tiver sucesso, o processo de institucionalização exercerá uma influência negativa no bem-estar do idoso.

Uma outra questão a ter em conta reside na participação do idoso na opção por um lar de idosos. De acordo com Reed et al. (2003) esta participação resume-se em quatro tipos: preferencial, estratégica, relutante e passiva (cit. in. Sousa; Figueiredo e Cerqueira, 2004).

A preferencial caracteriza-se pela própria escolha do idoso em ingressar no lar, ocorre perante alterações nas circunstâncias de vida, que levam o idoso a ponderar a ida para um lar como a melhor alternativa.

A estratégica exprime um planeamento do idoso ao longo da sua vida no sentido de adotar esta solução, este planeamento passa pela inscrição com antecedência num lar e visitar vários lares tentando descortinar aquele que mais gostaria de frequentar.

A relutante descreve a posição mais dolorosa, pois o idoso é forçado, pela família ou pelos técnicos, a adotar uma opção que não é sua. A imposição pelos familiares tem duas origens comuns, a falta de condições para cuidar do idoso e a ausência do desejo de assumir essa função. A deliberação por profissionais ocorre, em geral, porque o idoso vive em circunstância de enorme pobreza, tem alguma incapacidade ou doença grave, ou está completamente só.

A participação de tipo passiva acontece por norma, em casos em que os idosos se encontram dementes ou resignados. Aqui o encaminhamento para um lar de idosos decorre de decisões de outros sobre o nível e tipo de cuidado requerido pelo idoso e que este aceitou ou seguiu sem questionar.