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PROCESSO AVALIAR DESEMPENHO

A palavra ―comportamento‖ é utilizada pelas pessoas cotidianamente seja em ambiente informal ou profissional. Mas será que todos conhecem o significado desse termo? Diversas definições são encontradas na literatura, no entanto nem sempre é possível localizar com facilidade o que é nuclear para o processo referido por essa expressão. A noção de comportamento parece ser fundamental para os profissionais como pedagogos, psicólogos, administradores, assistentes sociais, docentes em gerais e profissionais liberais já que todos trabalham diretamente com o comportamento humano. No entanto, nem todos que trabalham com indivíduos estão preocupados com o significado dessa expressão. As organizações são exemplos de sistemas constituídos pelas inter-relações de pessoas em que ―comportamento‖ é núcleo para a realização de uma diversidade de tarefas. Uma delas é o processo de avaliar desempenho de empregados. A falta de clareza da definição do que seja

―avaliar desempenho‖ pode comprometer a eficiência, eficácia e condução de processos que necessitam de comportamento humano para ocorrer. Para ser possível avaliar o desempenho de indivíduos é necessário, portanto, o entendimento e conhecimento do que seja comportamento humano.

Alguns dicionários de português (MICHAELIS,1998; AURÉLIO, 2008) definem comportamento como sinônimo de conduta moral, maneiras do ser humano agir diante de determinadas situações, qualificações positivas ou negativas de determinadas atitudes do indivíduo. Essas definições não especificam quais são os aspectos que constituem um comportamento, pois não deixam claro o que é ―conduta‖ ―moral‖, ―agir‖, ―atitude‖. A ausência de clareza das características que determinam o comportamento pode comprometer a atuação de profissionais que atuam com esse fenômeno, como é o caso do processo avaliar desempenho de indivíduos.

Definir o que é comportamento não é uma tarefa fácil devido à diversidade de aspectos que fazem parte dele. Catania (1999) examinou algumas propriedades do comportamento enfatizando que, para entender uma ação do indivíduo, primeiramente é necessário observar as propriedades do ambiente (estímulos) e as propriedades das respostas do indivíduo. Porém, nem os estímulos nem as respostas agem independentemente. Entre os estímulos e respostas sempre ocorre um determinado tipo de interação. Essas relações raramente são idênticas devido a contextos e situações específicas; ou seja elas variam de um momento para o outro. Assim, para entender um comportamento é preciso analisar essas interações, o que dificulta ainda mais a identificação das propriedades desse fenômeno. Essa noção de comportamento S-R (relação entre estímulo e resposta) primeiramente foi apresentado por Pavlov em 1920 após exaustivos estudos da época e denominou-se de relações reflexa, ou seja, um estímulo provocava uma resposta do indivíduo. A partir dessas descobertas Skinner completou os estudos e chamou atenção não só para a relação (S-R), mas também para a relação da resposta e aspectos do meio decorrentes da resposta.

Botomé (2001) examinou a noção de comportamento sistematizando as contribuições de Skinner (1931,1935,1938), Pavlov (1934), Staddon (1961), Schick (1971), Catania ( 1973), Keller e Schoenfeld (1970) e enfatiza que o comportamento pode ser entendido como ―uma relação entre o que indivíduo faz (a resposta ou ação) e os ambientes (meios físicos e sociais) antecedente e conseqüente a esse fazer‖ (p.705). Por meio dessa concepção, determinados aspectos do ambiente fazem parte do comportamento de um indivíduo. Para Botomé (2001), o ambiente não é algo estático, fixo, mas sim mutável. O sujeito pode estabelecer relações com o ambiente antes, durante ou depois de suas ações ou respostas acontecerem. Poderia ser dito, simplificadamente, que numa relação comportamental existe, um ambiente antes do indivíduo atuar e

um ambiente resultante da ação desse indivíduo. Esquematicamente os aspectos de um comportamento podem ser representados por três componentes: Sa (situação antecedente), R (ação) e Sc (situação consequente). A situação antecedente é o que acontece antes ou junto à ação de um organismo. A ação é aquilo que um indivíduo faz (as respostas) e a situação consequente representa o que acontece depois da ação de um organismo.

As relações entre os três componentes do comportamento foram objetos de estudo de Botomé (2001), que elaborou um esquema para visualizar as relações possíveis entre os componentes. Na Figura 1.1, Botomé (2001) apresenta sete tipos de relações que podem ser estabelecidas entre os componentes de um comportamento. A relação 1 indica que a situação ou classe de estímulos antecedentes influencia a ação de um organismo. Já a relação 2 indica que a ação ou classe de respostas do indivíduo produz ou é seguido de uma determinada consequência ou classe de estímulos consequentes. A relação 3 indica que a ação ou classe de respostas fica sob controle dos aspectos da situação antecedente e na relação 4 as propriedades das conseqüências da ação aumentam ou diminuem a probabilidade de ocorrência da classe de resposta que gerou as conseqüências iniciais. Na relação 5 os aspectos da situação antecedente podem sinalizar as conseqüências que serão obtidas, caso ocorra a classe de respostas. A relação 6 indica que a conseqüência da ação faz com que os aspectos do meio adquiram propriedades de sinalização de que, neles, mediante um determinado tipo de ação, será possível obter um determinado tipo de conseqüência. E a relação 7 mostra o conjunto de todas as relações.

Figura 1: Diferentes tipos de relação básica entre os três tipos de componentes de um comportamento Componentes Tipos de Relações Situação (o que acontece junto à ação de um organismo)

Ação (aquilo que um organismo faz) Conseqüência (o que acontece depois da ação de um organismo) 1 2 3 4 5 6 7

A análise das relações entre os componentes é o que possibilita identificar o comportamento que está ocorrendo e entender o processo denominado comportamento. Para analisar as relações é preciso considerar a diversidade de aspectos dos três componentes do comportamento, sendo que esses podem variar. Devido a essa variabilidade é possível afirmar que o comportamento não é estático, mas pode ser modificado sempre que as relações entre os componentes se alterarem ou ainda quando mudarem as características de algum dos componentes (BOTOMÉ, 2001). Relacionar os elementos constituintes do comportamento é que permite obter maior visibilidade do que está acontecendo com uma determinada pessoa, por exemplo, nos processos de avaliar desempenho nas organizações.

As possíveis relações entre os componentes que compõem um comportamento auxiliam na compreensão do processo de avaliar desempenho de empregados. Por meio da noção de comportamento apresentado por Botomé (2001) é possível verificar que ―desempenho‖ é igual a ―comportamento‖ de certo tipo que necessitam ocorrer em certas ocasiões. Desempenho assim definido envolve as relações entre classe de estímulos antecedentes, classe de respostas, e classe de estímulos consequentes apresentados pelo indivíduo. Botomé (2001, p.705) destaca que ―embora uma relação não seja diretamente observável, é composta por elementos observáveis, e a relação que eles constituem pode ser demonstrada (é verificada por vários meios)‖. Por meio da noção de que o comportamento humano é composto de relações e que essas podem ser demonstradas, o processo de avaliar desempenho de empregados obtém mais visibilidade devido à percepção e clareza dos tipos de variáveis envolvidas no processo de avaliar algo. Perceber, identificar e caracterizar as variáveis que compõem o comportamento é fundamental para entender qualquer tipo de comportamento e posteriormente intervir nele.