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A no¸c˜ao de categoria e os agrupamentos semˆanticos

semˆanticos

A necessidade de se organizar no mundo fez com que os seres humanos aprendessem a agrupar as entidades semelhantes de acordo com sua aparˆencia, utilidade, forma, cor. Eles percebem o mundo e organizam-no em categorias segundo seu desejo, interesse ou necessidade. As classes s˜ao definidas de acordo com tra¸cos comuns que os membros de mesmo grupo possuem.

Embora haja um padr˜ao para a categoriza¸c˜ao dos objetos (isto ´e, para que se julgue se pertencem ou n˜ao a determinado conjunto), esse padr˜ao n˜ao parece obedecer a nenhuma regra estabelecida por qualquer sistema funci- onal. As categorias s˜ao criadas conforme os interesses cient´ıficos, liter´arios ou qualquer outro. Apesar parecer que suas organiza¸c˜oes s˜ao resultantes da vontade pessoal, o fato de serem agrupadas por determinado tra¸co de semelhan¸ca mostra que o agrupamento n˜ao ´e arbitr´ario. Outro fator que determina a forma¸c˜ao de grupos ´e o cultural e da l´ıngua: cidad˜aos de mesma cultura s˜ao capazes de identificar determinados agrupamentos e apontar, nesses agrupamentos, o tra¸co que se desejou evidenciar (Garner, 2003).

3.4.1 Princ´ıpios para a forma¸c˜ao de categorias

As investiga¸c˜oes sobre a teoria dos conceitos pode ser dividida em trˆes partes:

concep¸c˜ao cl´assica que se inicia com Arist´oteles e segue at´e princ´ıpios dos

anos 1970 do s´eculo XX; concep¸c˜ao protot´ıpica que vai at´e 1985; concep¸c˜ao

te´orica que vem at´e os dias de hoje (Oliveira, 1999). Concep¸c˜ao cl´assica

A concep¸c˜ao cl´assica das categorias baseia-se na l´ogica aristot´elica, que determina se um conceito se aplica ou n˜ao se aplica a uma entidade, n˜ao havendo a possibilidade de quase aplicar-se, ou o conceito aplicar-se mais a uma entidade que a outra. Somente de posse de todos os atributos necess´arios para pertencer a determinada categoria ´e que a entidade pode ser exemplo de um conceito, e a ausˆencia de algum tra¸co exclui automaticamente a entidade do grupo. Assim, os objetos de uma mesma categoria se correlacionam perfeitamente entre si. Com essa defini¸c˜ao, Arist´oteles apresenta o mundo dividido em um n´umero finito categorias, restando ao homem organiz´a-lo

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com s´ımbolos que venham designar-se a representar o mundo real. Assim, as fronteiras das categorias s˜ao bem definidas, o sujeito aprende os contrastes entre os grupos e as regras que os definem e aproxima os elementos para um mesmo conjunto (Garner,2003).

Outro tra¸co marcante na concep¸c˜ao cl´assica ´e que a cultura determina como devem ser os agrupamentos. Os crit´erios eram propostos e, com base neles, determinavam-se quais objetos pertenciam `a categoria e quais n˜ao pertenciam. Isso fazia com as classes fossem claras e definidas, com limites fixos. Desse modo, as ambiguidades e d´uvidas sobre a classe dos objetos s˜ao afastadas.

A vis˜ao objetiva de ver o mundo criado por Arist´oteles durou at´e o in´ıcio dos anos 1970, quando Eleonor Rosch, partindo de experimentos psicol´ogicos, come¸ca a questionar a rigidez da concep¸c˜ao cl´assica e a verificar as varia¸c˜oes em grau dos membros dentro de uma categoria.

Concep¸c˜ao protot´ıpica das categorias

Partindo das ideias de Wittgenstein em Investiga¸c˜oes Filos´oficas sobre os jogos de linguagem, Eleonor Rosch repensa a quest˜ao da concep¸c˜ao cl´assica de haver apenas duas possibilidade para uma objeto, o de pertencer ou o de n˜ao pertencer `a uma categoria. Segundo Rosch, um conceito aplica-se a uma entidade em certo grau, havendo casos mais e menos t´ıpicos (Oliveira, 1999). As categorias s˜ao reflexos das estruturas percebidas, dos tipos de a¸c˜oes que se pode realizar. Assim, sua existˆencia ´e motivada pela vis˜ao que se tem do mundo. Por n˜ao possuir crit´erios, os membros de uma categoria podem pertencer a duas ou mais categorias.

Pelo fato de os objetos possu´ırem muitos tra¸cos e os diversos interesses em agrup´a-los permitirem que as entidades perten¸cam a mais de uma categoria, em todas elas h´a um membro central, aquele que compartilha maior n´umero de caracter´ısticas estipuladas para definir a forma¸c˜ao do grupo com os outros membros pertencentes do mesmo grupo e n˜ao compartilha essas caracter´ısticas com os n˜ao-membros (Rosch & Mervis,1975). Ele facilita o reconhecimento dos outros exemplares, uma vez que nem sempre ´e poss´ıvel reconhecer todos os membros do conjunto.

Partindo da hip´otese da existˆencia de graus entre as entidades, Rosch et al. (1976) redefine a existˆencia de limites entre as categorias. Para ela,

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umas com outras. ´E bem verdade que as propriedades que os objetos de uma categoria possuem criam os conceitos (o que est´a de acordo com a teoria cl´assica), mas deve-se, entretanto, considerar que essas propriedades constituem prot´otipos, fazendo com que a aplica¸c˜ao de um conceito a uma entidade dependa do grau de semelhan¸ca entre eles. ´E a varia¸c˜ao do grau de semelhan¸ca que determinar´a se uma entidade ´e ou n˜ao exemplo de um conceito, ou se ´e um caso lim´ıtrofe, ou se um exemplo menos ou mais t´ıpico.

Tanto na concep¸c˜ao cl´assica quanto na concep¸c˜ao protot´ıpica, os conceitos s˜ao estruturados nas taxonomias cient´ıficas e do senso comum. Na l´ogica aristot´elica, as taxonomias se distinguem em n´ıveis hier´arquicos, mais alta ou mais baixa, mais geral ou mais espec´ıfica. Na concep¸c˜ao protot´ıpica, os conceitos possuem uma natureza cont´ınua e gradual, os representantes podem estar mais ou menos pr´oximos dos estere´otipos. Assim, os objetos possuem n´ıveis dentro de uma categoria, atingindo os n´ıveis b´asico, superordenado e subordinados.

Os objetos de n´ıvel b´asico de uma categoria compartilham de simila- ridades e caracter´ısticas funcionais e contrastam com os objetos de n´ıvel superordenado e com o n´ıvel subordinado. Como exemplo, “cadeira” est´a em um n´ıvel b´asico, “mob´ılia” no superordenado e “cadeira de balan¸co” no subordinado (Garner,2003).

Os objetos de n´ıvel b´asico s˜ao os mais abrangentes, possuem maior n´umero de tra¸cos comuns, tem programas motores similares uns ao outros, formas semelhantes e s˜ao identificados a partir de formas m´edias de membros da classe . Eles s˜ao os primeiros aprendidos pelas crian¸cas, os mais prontamente lembrados e nomeados que os do n´ıvel superordenado e ´e o que a nossa imagem mental associa ao conceito como um todo (Rosch et al., 1976). Concep¸c˜ao te´orica

Ao contr´ario das concep¸c˜oes cl´assica e protot´ıpica, que veem os conceitos como algo que consiste em um conjunto de propriedades, na concep¸c˜ao te´orica, um conceito ´e constitu´ıdo pela sua rela¸c˜ao com outros conceitos. O conjunto de conceitos de uma categoria constituem uma rede com os conceitos de outras teorias e assim formam, n˜ao apenas, teorias cient´ıficas como as de senso comum. Assim, um conceito n˜ao ´e apenas o que compartilha o maior ou menor n´umero de tra¸cos com o prot´otipo, mas faz parte da teoria em que se encontra (Oliveira,1999).

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As teorias de senso comum se aplica a conhecimentos que as pessoas, mesmo n˜ao tendo nenhum grau de instru¸c˜ao, conhecem, como a ordem e origem dos seres vivos. Um animal nasce, cresce e morre, entre o per´ıodo do nascer e morrer, ele necessita de cuidados, alimenta¸c˜ao para se manter vivo. A esse conhecimento ingˆenuo ´e atribuido o conhecimento da zoologia ingˆenua, que juntamente com o conhecimento da qu´ımica ingˆenua, da f´ısica ingˆenua e da psicologia ingˆenua constituem o conhecimento popular ou de senso comum (Oliveira, 1999).

A concep¸c˜ao te´orica busca entender as teorias como entidades mentais, como s˜ao representadas, como funcionam no processo cognitivo.

Em experimentos feitos com crian¸cas, notou-se que o desenvolvimento de uma teoria por uma crian¸ca se torna mais rico e mais complexo conforme o per´ıodo da infˆancia em que ela se encontra. O seu desenvolvimento ´e refletido no seu processo de categoriza¸c˜ao. Para formular um conceito, as crian¸cas mais jovens consideram as quest˜oes superficiais e percept´ıveis pelos sentidos; as mais velhas consideram caracter´ısticas profundas e a articula¸c˜ao com outros elementos.

Observou-se que o processo n˜ao ´e o mesmo para todos os tipos de conceitos, em algumas ´areas, ele ´e mais marcante. As crian¸cas observadas, ao se depararem com situa¸c˜oes ligadas `as ´areas de ciˆencias naturais, animais, plantas, minerais, conseguiram desenvolver conceitos prontamente, enquanto que para outros campos semˆantico-lexicais, como fabrica¸c˜ao de artefatos, ve´ıculo, ferramenta, seus conceitos s˜ao praticamente inexistentes.

Esses experimentos mostraram que a categoriza¸c˜ao exclusivamente na correla¸c˜ao de similaridades e tra¸cos entre conceitos n˜ao explicam adequa- damente a estrutura interna de conceitos ou a sua rela¸c˜ao entre conceitos de um mesmo grupo, indicando assim que a teoria de prot´otipos de Rosch talvez esteja incompleta, sendo a forma¸c˜ao de conceitos dinˆamica e sens´ıvel a contextos (Oliveira,1999)

Em suma, aquilo que re´une todas as perspectivas te´oricas ´e que a catego- riza¸c˜ao parece ser, no fundo, uma ferramenta utilizada pelos indiv´ıduos para organizarem seu mundo, resolverem seus problemas, alcan¸car seus objetivos.

3.5. Agrupamentos e cálculos informacionais | 26 |

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