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4 ARQUIVOS COMO PATRIMÔNIO

4.2 ARRANJO E DESCRIÇÃO ARQUIVÍSTICA

4.2.1 A NOBRADE e os instrumentos de descrição

A normalização facilita a realização do processo de descrição, e também

torna possível o uso e a compreensão universais dos instrumentos de pesquisa.

Lopez (2002), diz que não somente a troca entre instituições diversas é facilitada

pela normalização, mas, além disso, esta facilita o acesso e a consulta de forma

geral. Outrossim, Bellotto (2006) ressalta o quão importante a normalização é na

implementação da informatização na descrição. A autora salienta que “só a

descrição assim normalizada atingirá a desejada normalização universal e terá todas

as condições para ser feita facilmente, de modo informatizado e uniforme”

(BELLOTTO, 2006, p. 183). A elaboração de tais regras tornou-se foco do ofício dos

arquivistas a partir do fim dos anos 1980.

A norma que deu início ao processo de padronização internacional de

arquivamento e descrição foi a General International Standard Archival Description –

ISAD(G). Dentre as normas de descrição arquivística internacionais, além da

ISAD(G), pode-se citar a Norma Internacional de Registro de Autoridade Arquivística

para Entidades Coletivas, Pessoas e Famílias

– ISAAR (CPF); a Norma

Internacional para Descrição de Instituições com Acervo Arquivístico – ISDIAH; e a

Norma Internacional para Descrição de Funções – ISDF, publicadas pelo Conselho

Internacional de Arquivos (ICA). No Brasil, a Câmara Técnica de Normalização da

Descrição Arquivística (CTNDA) publicou, em 2006, a Norma Brasileira de Descrição

Arquivística - NOBRADE.

O objetivo da criação da NOBRADE foi adaptar as normas internacionais à

realidade brasileira, ou seja, estabelecer critérios nacionais para descrição de

arquivos, mantendo-se a compatibilidade com as normas internacionais, com vistas

a difundir o conhecimento arquivado e facilitar o intercâmbio e o acesso de

informações em âmbito internacional e nacional (ARQUIVO NACIONAL, 2005).

A NOBRADE (2006) foi elaborada pela Câmara Técnica de Normalização da

Descrição Arquivística (CTNDA), do Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ), em

conformidade com a ISAD(G) e a ISAAR(CPF). Após discussão pela comunidade

profissional, foi aprovada pelo CONARQ pela Resolução nº 28, de 17 de fevereiro de

2009. Enquanto norma brasileira, traz a descrição arquivística mundial para o

contexto da realidade nacional. Apesar do seu uso ser mais adequado para a

descrição de documentos em fase permanente, ela é capaz de ser empregada para

a descrição em fases corrente e intermediária (CONARQ, 2006).

A NOBRADE (CONARQ, 2006, p. 18) possui oito áreas que compreendem

um total de 28 elementos de descrição. As oito áreas são: 1) Área de identificação,

onde se registra informação essencial para identificar a unidade de descrição; 2)

Área de contextualização, onde se registra informação sobre a proveniência e

custódia da unidade de descrição; 3) Área de conteúdo e estrutura, onde se registra

informação sobre o assunto e a organização da unidade de descrição; 4) Área de

condições de acesso e uso, onde se registra informação sobre o acesso à unidade

de descrição; 5) Área de fontes relacionadas, onde se registra informação sobre

outras fontes que têm importante relação com a unidade de descrição; 6) Área de

notas, onde se registra informação sobre o estado de conservação e/ou qualquer

outra informação sobre a unidade de descrição que não tenha lugar nas áreas

anteriores; 7) Área de controle da descrição, onde se registra informação sobre

como, quando e por quem a descrição foi elaborada; 8) Área de pontos de acesso e

descrição de assuntos, onde se registra os termos selecionados para localização e

recuperação da unidade de descrição. Dentre os 28 elementos de descrição

disponíveis, sete são obrigatórios: código de referência; título; data(s); nível de

descrição; dimensão e suporte; nome(s) do(s) produtor(es); condições de acesso

(somente para descrições em níveis 0 e 1).

Novamente sobre as normas de descrição, Hagen (1998) constatava que os

empenhos para a uniformização da descrição ocorreriam por conta da repercussão

de tecnologias que estavam sendo implementadas na época, as quais tornaram

possível o intercâmbio de informação através de redes nacionais e internacionais.

“Para se beneficiar destes recursos, a comunidade arquivística teve de desenvolver

o aspecto de comunicação do conhecimento, até então não especialmente

desenvolvido” (HAGEN, 1998, p. 4). Lopez (2002) divide o mesmo pensamento

porque, a fim de que o câmbio de informações entre os acervos se dê de forma

adequada, é preciso que, progressivamente, os arquivistas passem a dialogar e agir

com os mesmos objetivos. Portanto, a NOBRADE determina diretrizes para a

descrição de documentos arquivísticos no Brasil, e pretende facilitar o intercâmbio e

o acesso de informações em plano nacional e internacional, ou seja, a difusão do

conhecimento, de qualquer natureza, a nível global.

Bellotto (2004) explica que a descrição será a única maneira de possibilitar

que os dados contidos nas séries e/ou unidades documentais cheguem até os

pesquisadores, através da elaboração de instrumentos de pesquisa que possibilitem

a identificação, o rastreamento, a localização e a utilização dos dados. Estes

instrumentos, são “obras de referência que identificam, resumem e localizam, em

diferentes graus e amplitudes, os fundos, as séries documentais e/ou as unidades

documentais existentes em um arquivo permanente” (BELLOTTO, 2004, p. 180).

Por sua vez, Tessitore (2012, p. 16) explica que

os produtos do processo descritivo se constituem na porta de entrada para os conjuntos de documentos custodiados por um Arquivo. Sua elaboração, nas entidades arquivísticas que contam com acervo organizado, é a principal ocupação cotidiana do arquivista (TESSITORE, 2012, p. 16)

Quanto aos instrumentos de pesquisa, Bellotto (2004) explica que

há instrumentos de pesquisa genéricos e globalizantes, como os guias, há os parciais, que são detalhados e específicos, tratando de parcelas do acervo, como os inventários, catálogos, catálogos seletivos e índices, e há também a publicação de documentos na íntegra, a chamada “edição de fontes” (BELLOTTO, 2004, p. 180)

Neste sentido, Tessitore (2012, p. 18) acrescenta que os instrumentos “devem

ser precisos, rigorosos e tecnicamente perfeitos, pois sua má elaboração pode ser

tão ou mais prejudicial à pesquisa do que a ausência deles”. Onde, “aqueles

destinados ao público como meio de acesso informacional ao acervo, [...] devem

constituir uma espécie de família hierárquica, na qual o guia ocupa o vértice”

(BELLOTTO, 2004, p. 181).

Dentre os instrumentos de pesquisa, o guia é “o mais abrangente e o mais

“popular”, pois está vazado numa linguagem que podem atingir também o grande

público e não especificamente os consulentes típicos de um arquivo: historiadores e

administradores” (BELLOTTO, 2004, p. 191)

Para Heredia Herrera (1993, p. 321) o guia

tem a missão específica de orientar, realizando valorações globais e destacando o mais importante. Não desce a particularidades, mas, de uma maneira geral, assinala as características, estabelece relações, fornece bibliografia, pontua a história dos organismos produtores e seus fundos, assinala a gênesis documental e as inter-relaciones entre as seções e as séries. Pode-se fazer um guia de um arquivo com um fundo único [...], ou de um arquivo com vários fundos [...]. Também pode redigir-se um guia do conjunto de arquivos de uma nação ou de uma região ou de arquivos similares.

Bellotto (2004, p. 197) explica que o inventário é o instrumento que “descreve

conjuntos documentais ou partes do fundo. É um instrumento do tipo parcial,

trazendo descrição sumária e não analítica, esta própria do catálogo”. A autora

explica que no inventário a sequencia dos verbetes, em geral, segue a mesma

ordem que no arranjo. Podendo contemplar um fundo inteiro, um grupo ou alguns

deles, uma série, algumas delas ou uma parte destas (BELLOTTO, 2004). O Arquivo

Nacional (2005, p. 109) o define como “instrumento de pesquisa que descreve,

sumária ou analiticamente, as unidades de arquivamento de um fundo ou parte dele,

cuja apresentação obedece a uma ordenação lógica que poderá refletir ou não a

disposição física dos documentos”, podendo ser chamado também de repertório.

Este verbete é definido pelo Arquivo Nacional como “instrumento de pesquisa no

qual são descritos pormenorizadamente documentos, pertencentes a um ou mais

fundos e/ou coleções, selecionados segundo critérios previamente definidos”

(ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 147).

O catálogo, como um instrumento de descrição parcial, é o “que descreve

unitariamente as peças documentais de uma série ou mais séries, ou ainda de um

conjunto de documentos, respeitada ou não a ordem de classificação”

25

. Como a

representação descritiva é realizada documento por documento, as sequencias dos

dados necessários à identificação e ao resumo são as mesmas que as do inventário

(BELLOTTO, 2004). Existe também o catálogo seletivo que traz “uma relação

seletiva de documentos pertencentes a um ou mais fundos e no qual cada peça

integrante de uma unidade de arquivamento é descrita minuciosamente” (MIGUEZ,

1976)

26

Bellotto (2004) apresenta mais dois instrumentos: o índice e a edição de

fontes. O primeiro aponta nomes, lugares ou assuntos em ordem alfabética e

remetendo ao pesquisador à respectiva localização, sendo complementar de

inventários ou catálogos, ou ainda permitindo a indexação direta nos documentos. A

edição de fontes, de textos históricos ou fontes documentais não é um instrumento

com resumos indicativos e/ou informativos, figurando o texto integral com estudos

introdutórios e fontes paralelas.

25BELLOTTO, 2004, p. 202. 26 BELLOTTO, 2004, p. 212.

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