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A observação como estratégia da prática educativa

CAPÍTULO III A prática educativa supervisionada-Um percurso de aprendizagem

3.3. A observação como estratégia da prática educativa

Durante a prática educativa é essencial saber observar de modo a avaliar comportamentos, atitudes, situações de aprendizagem, entre outros, tendo em conta os diferentes intervenientes neste processo (educador/professor, alunos e escola). Esta observação, em contexto real, possibilita-nos uma melhor compreensão do processo pedagógico, pois como referem as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (OCEPE) “ a observação constitui […] a base do planeamento e da avaliação, servindo de suporte à intencionalidade do processo educativo” (1997, p. 25).

A prática pedagógica efetiva foi antecedida, em ambos os níveis educativos, por um período de observação, possibilitando-nos um conhecimento geral das crianças, assim como compreender e refletir sobre a ação pedagógica quer, da educadora cooperante, quer da professora cooperante.

Esta primeira fase de observação foi fundamental para o desenvolvimento da prática educativa na medida em que a “observação no contexto de sala de actividades é uma estratégia privilegiada que permite captar o processo de desenvolvimento/aprendizagem da criança” (Dias, 2009, p. 29). Durante este período observámos as crianças não só em contexto de sala de aula, mas também em contexto de refeitório e de recreio, o que nos permitiu obter um conhecimento geral das crianças com quem desenvolvemos a prática pedagógica, por forma a recolhermos dados que sustentassem a planificação das intervenções futuras. Neste sentido, corroboramos com Estrela quando este refere que a “observação constitui naturalmente a primeira e necessária etapa de uma formação científica mais geral, tal como deverá ser a primeira e necessária etapa de uma intervenção pedagógica fundamentada, exigida pela prática quotidiana” (Estrela, 1986, p. 29).

Entendida desta forma, a observação deverá ser estruturada de modo a que possamos recolher os dados relevantes para os objetivos definidos, pelo que, “importa munir o

53 observador (professor ou não) de um conjunto de ferramentas que lhe permitam operar. Entre elas, privilegiamos, numa fase inicial, técnicas e instrumentos de recolha sistematizada de dados” (Estrela, 1986, p.271). Assim sendo, segundo o mesmo autor, para que a observação resulte como uma estratégia da ação pedagógica, é necessário definir-se objetivos que permitam estruturar este processo, entre os quais, delimitar o campo de observação, definir as unidades de observação e estabelecer sequências comportamentais.

Contudo esta não foi uma tarefa fácil devido à inexperiência, pois sentíamos a necessidade de querer recolher o máximo de informação num curto espaço de tempo. Apesar de serem construídas grelhas como instrumentos de observação, onde à priori se codificavam dados relevantes para os objetivos definidos o que nos permitia estruturar a observação na medida em que a “utilização de grades de observação do comportamento, estruturando a observação segundo critérios definidos, permite atingir graus satisfatórios de objectividade” (Estrela, 1986, p. 61), verificávamos que a ânsia de registar sempre mais, dificultava este processo. Outra dificuldade sentida recaiu na elaboração de grelhas demasiado extensas e com alguns itens formulados de forma genérica (cf. anexo V), em que sentíamos dificuldade em observar determinado comportamento no grupo/turma de forma individualizada.

Os instrumentos de observação construídos (grelhas de observação), para registo de informações relevantes, foram indispensáveis como base de diagnóstico e de avaliação para a etapa seguinte, pois como refere Postic a grelha de observação é “um instrumento de diagnóstico podendo ser utilizada com o fim de fazer evoluir a situação registada” (Postic, 1979, p. 225).

A observação antecedente à prática pedagógica efetiva desenvolvida no pré-escolar foi uma observação participada, quer em contexto de sala de aula, quer em contexto de refeitório e de recreio. Assim, durante este período tivemos oportunidade de interagir com as crianças e de observar e registar dados sem que as mesmas se apercebessem. Para Estrela a “observação participada corresponde a uma observação em que o observador poderá participar, de algum modo, na actividade do observado, mas sem perder o respectivo estatuto” (1986, p. 36).

Aquando da prática educativa no 1.º ciclo do ensino básico, durante o período de observação em sala de aula, apenas observávamos e registávamos informações sobre os alunos e sobre a ação desenvolvida pela professora cooperante, não se verificando, neste contexto, uma interação com os alunos.

54 Durante este período tivemos ainda a oportunidade de consultar os documentos que norteavam a prática pedagógica das escolas cooperantes, tais como: projeto educativo de escola (PEE); projeto curricular de escola (PCE); projeto curricular de turma (PCT); plano anual de atividades (PAA) e processos individuais dos alunos, o que nos permitiu, com base na observação e na recolha de informação, interpretar, analisar e refletir sobre a ação pedagógica efetiva que viria a ser desenvolvida na etapa seguinte.

Assim, enquadrada no nosso processo de formação, a observação foi um procedimento fundamental, permitindo a interpretação e reformulação de estratégias de ensino/aprendizagem sempre que necessário, de acordo com as necessidades individuais de cada criança, do grupo/turma e da sua evolução, na medida em que é necessário “Observar cada criança e o grupo para conhecer as suas capacidades, interesses e dificuldades […] para compreender melhor as características das crianças e adequar o processo educativo às suas necessidades” (OCEPE, 1997, p.25). Esta linha de pensamento vai ao encontro da perspetiva de Estrela ao apontar que,

Só a observação permite caraterizar a situação educativa à qual o professor terá de fazer face em cada momento. A identificação das principais variáveis em jogo e a análise das interações permitirão a escolha das estratégias adequadas à prossecução dos objectivos visados. Só a observação dos processos desencadeados e dos produtos que eles originam poderá confirmar ou infirmar o bem fundado da estratégia escolhida (Estrela, 1986, p.135).

Este processo permitiu-nos planificar, refletir e avaliar, orientando a prática através da reflexão na ação e sobre a ação, pois como refere Estrela

Em todos os sistemas de formação de professores, mesmo nos mais tradicionais, a observação tem sido uma estratégia privilegiada na medida em que se lhe atribui um papel fundamental no processo de modificação do comportamento e da atitude do professor em formação (Estrela, 1986, p. 60).

No âmbito do exposto, consideramos a observação como um instrumento regulador da ação, na medida em que é fundamental observar para aprender a ensinar, para investigar e para refletir. Postic aponta que “A finalidade de toda a aprendizagem é tornar o indivíduo capaz de encontrar, por diferentes meios, a resposta adaptada à situação e responder por formas variadas de adaptação a situações variadas” (Postic, 1979, p. 127). Também Estrela (1986, p. 307-308) considera que a perceção que os educadores/professores possam ter de

55 como encarar eventuais comportamentos resultantes de determinadas situações e a decisão consciente de possíveis soluções permitirão que estes ajustem a sua ação, avaliando os resultados que estas possam implicar.

A reflexão crítica da ação pedagógica, baseada na observação, durante as intervenções permitiu-nos analisar e refletir sobre a mesma e, consequentemente, identificar estratégias para a melhorar. Estrela, citando Dickson, Kean e Andersen, refere que

Cada professor deve ser preparado para encontrar, por si mesmo, os comportamentos mais adaptados à sua personalidade e mais eficazes para o desempenho da sua função. Isto exige, por parte do professor, a aquisição de uma atitude experimental, de um conhecimento teórico sobre a investigação e experiência, de “skills” técnicos para controle dos meios de ensino e de conhecimentos de técnicas de avaliação para analisar o “feedback” com objectivos educacionais (Estrela, 1986, p. 27, 28).

Tendo em conta tudo o que foi referido e com base na experiência vivenciada concordamos com Estrela (1986, p. 62) e acreditamos que, através da observação, o educador/professor reconhece e identifica situações, apreende relações sequenciais e causais, é sensível às reações dos alunos, coloca questões e verifica soluções, recolhe objetivamente a informação, organiza-a e interpreta-a, revelando assim uma atitude crítica face aos modelos existentes e realizando a síntese entre a teoria e a prática. Atinge-se desta forma o fundamento da prática pedagógica, na medida em que se reconhece a importância da observação no nosso processo de formação como instrumento de diagnóstico e de avaliação e como um processo autorregulador da prática pedagógica.