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2.2. Contextualização face à observação

2.2.3. A observação como estratégia de formação de professores

Estrela (1994), citando Honoré (1977), afirma que “o futuro da formação é o futuro de um domínio de ação e de investigação que diz respeito ao futuro do homem” (p. 53). Por esta ordem de pensamento, importa que sejamos capazes de reconhecer, que o sucesso ou o insucesso de um sistema educativo está dependente, em grande parte, da qualidade dos professores que o integram.

Para Damas e De Ketele (1985) a observação enquanto processo “supõe um objetivo organizador, uma mobilização da atenção, uma seleção entre os estímulos recebidos, uma recolha de informações selecionadas e a sua codificação”, além disso é descrita pelos autores como sendo, também, um “processo fundamental que não tem fim em si mesmo, mas se subordina e se põe ao serviço de processos mais complexos, tais como a avaliação, o diagnóstico, o julgamento, a investigação descritiva, a experimentação…” (p. 20).

Conforme Estrela (1994) refere a observação tem sido, desde os sistemas de formação mais tradicionais, uma estratégia bastante privilegiada, dado que desempenha um papel essencial na mudança do comportamento e das atitudes do professor em formação. A observação enquanto estratégia de formação de professores pode mostrar-se enriquecedora, como descrevemos em seguida.

2.2.3.1 A observação feita pelo professor em formação

No caso do futuro professor, a observação de situações educativas tem sido continuamente um dos pilares da sua formação. No entanto, quando o futuro professor observa um determinado modelo tende a imitá-lo, por isso a assistência às aulas de um ou mais docentes experientes constitui, de forma natural, uma estratégia privilegiada da formação inicial.

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Contudo, tendo por base várias investigações, Estrela (1994) refere que “não há um modelo de bom professor, mas uma infinidade de modelos possíveis, resultando de um estilo pessoal em interação com as variáveis da situação. Por outro lado, mesmo os “bons modelos” enfermam de naturais limitações e de uma certa rigidez” (p. 57). Assim, e partindo da mesma linha de pensamento, importa referir que se os modelos são uma referência indispensável, é pertinente que sejam estudados, assumidos ou recusados de forma sensata e crítica.

Na formação inicial devem, também, determinar-se estratégias inovadoras de observação, capazes de tornar o professor mais consciente das situações de ensino, bem como torná-lo mais conhecedor da sua própria postura face à posição que desempenha. Para que tal seja possível, a observação poderá auxiliar o professor a

reconhecer e identificar fenómenos; apreender relações sequenciais e causais; ser sensível às reações dos alunos; pôr problemas e verificar soluções; recolher objetivamente a informação, organizá-la e interpretá-la; situar-se criticamente face aos modelos existentes e, por fim, realizar a síntese entre a teoria e prática. (Estrela, 1994, p. 58).

Tendo em conta o que foi referido precedentemente, pode constatar-se que a observação assume um papel regulador no processo de tomada de decisões de um professor. Neste sentido, fala-se da observação enquanto estratégia de formação de professores, a qual se revela imprescindível, na medida em que devemos (I) aprender a observar para aprender a ensinar; (II) aprender a observar para aprender a investigar e (III) aprender a observar para aprender a ser um professor reflexivo (Serafini e Pacheco, 1990).

(I) Aprender a observar para aprender a ensinar

Serafini e Pacheco (1990) descrevem este parâmetro de uma forma singular, dizendo que

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o percurso do aluno, futuro professor, é relativamente curto na preparação pedagógica quando entra numa instituição de formação. Recorda-se dos professores que teve, recorda-se das suas experiências como aluno, preocupa-se com determinados aspectos didácticos e pedagógicos mas não possui qualquer experiência práctica sobre o que é e significa ser professor. Entre - o que foi aluno - e o que será professor - existe uma realidade - o aluno futuro professor - a quem é necessário consciencializar para as mudanças, entre estes dois mundos tão próximos, mas tão distantes, na representação de papéis (p. 2).

Neste caso a observação pode promover a rutura metodológica que é necessária num curso de formação de professores, “entre o passado de aluno e o futuro de professor”, alertando o aluno para a necessidade de saber observar para aprender a ensinar. Desta forma, para aprender a observar é necessário saber organizar um “conjunto de variáveis que se interligam no processo ensino/aprendizagem”, bem como diferenciar os “diversos tipos de intervenção didática e pedagógica” (Serafini e Pacheco, 1990, p. 2).

(II) Aprender a observar para aprender a investigar

Conforme o professor principiante aprende a observar aprende a investigar, visto que a observação é considerada uma etapa indispensável que faculta a inteligibilização do real. Assim, é importante que o futuro professor defina qual é o seu campo de observação e estabeleça objetivos, enquanto formula um quadro teórico, pois só assim, conseguirá estar apto conceptual e metodologicamente. Desta forma pode, então, assumir-se como um “investigador na recolha, codificação e interpretação de dados”. Ariza (1987) citado por Serafini e Pacheco (1990) afirma que existem quatro “caminhos” possíveis para que o professor possa seguir diferentes estratégias na sala de aula, a saber:

 “Obter uma informação geral da turma; algo mais racional do que uma mera intuição;

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 Obter, com uma atitude investigadora, um ou vários aspectos relacionados com a planificação;

 Investigar de modo pontual, problemas concretos;

 Conhecer em profundidade os processos sociais e comunicativos da turma” (Serafini e Pacheco, 1990, pp. 2-3 cit. Ariza, 1987).

(III) Aprender a observar para aprender a ser um professor reflexivo

De acordo com Serafini e Pacheco (1990), tudo o que é observável pelo professor, num processo de investigação, leva-o a uma reflexão, ou seja, a uma consciencialização das dificuldades, dos problemas e das possíveis alternativas.

Enquanto elemento regulador da tomada de decisões, a observação é um dos aspetos estruturantes na formação de professores. As decisões do professor dependem, de forma direta ou indireta, da observação que executa, “da leitura que faz de uma determinada situação e do modo como a interpreta” (p. 3). A observação está presente cada vez que o professor planifica, leciona e reflete sobre o decurso da aula, podendo definir alternativas possíveis e diferentes para utilizar nas próximas aulas. Por todos estes fatores, “o professor tende a manter os comportamentos que dão bons resultados, a modificar as situações mais problemáticas e a procurar soluções para as questões difíceis” (p. 3).

Tendo em conta o que foi referido anteriormente sobre a observação e reconhecendo que esta é um pilar essencial e indispensável na formação dos professores, tornou-se vital realizarmos um treino de observação, visto que para aprender a ensinar, a investigar e a ser um professor reflexivo temos que aprender, antes de mais, a observar.

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