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3.3 O Fenômeno Situado

3.3.1 A obtenção das descrições

A fenomenologia estrutural de Martins e Bicudo considera a entrevista um recurso metodológico capaz de desocultar a visão que uma pessoa possui sobre uma determinada situação. Por intermédio dela é possível obter dados relevantes sobre o mundo-vida do respondente. Ao entrevistar uma pessoa o objetivo é conseguir descrições tão detalhadas quanto possível das preocupações do entrevistado(15).

No enfoque fenomenológico, as entrevistas são vistas como um encontro social, permeado por características como a empatia, a intuição e a imaginação(15). A empatia é uma forma de apreender a essência do fenômeno, de forma que o investigador penetre no sujeito(15,

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. A intuição é uma forma de contemplação, é a expressão das percepções. A contemplação é um ato cognitivo que permite um ver concreto para dizer como o mundo é. E a imaginação é a representação do real. É a imaginação que gera a possibilidade de significados e que vai além da presença sensorial do objeto, permitindo a apreensão da sua essência(15).

A entrevista é considerada a única forma de obter dados relevantes sobre o mundo-vida do sujeito(15).

A entrevista nada mais é que a descrição do fenômeno vivenciado pelo sujeito que o vivencia. Isto se justifica porque há uma relação essencial entre linguagem e pensamento, pois ambos expressam a vivência ou a vida, conforme é vivida(22).

A linguagem oriunda da imaginação auxilia o desenvolvimento do pensar, na medida em que a palavra expressa o significado do experienciado. É na imaginação que se encontra a ligação fundamental entre pensamento, sentimento e linguagem. A partir dessa compreensão é possível entender o significado do mundo-vida para a experiência e o seu desenvolvimento(15).

Portanto, os presidentes dos conselhos foram considerados pessoas aptas a dar uma descrição compreensiva do fenômeno em estudo. Compreensão entendida como a expressão imediata do que o ser humano sente na presença do objeto(15).

A descrição se dá, então, na experiência do sujeito que está experienciando aquela situação. É desta maneira que o fenômeno situado se ilumina e se desvela(21).

O estudo da realidade social, enquanto vivida pelo ser na sua vida cotidiana, me fez crer na possibilidade de desvelar o fenômeno controle social em saúde por intermédio dos sujeitos que vivenciam essa prática, como por exemplo, os presidentes dos conselhos regionais de saúde do Distrito Federal. Nesta linha de pensamento esses sujeitos são capazes de doar sentidos ao mundo que os rodeia, de atribuir significados, que enriquecem o mundo com as suas intersubjetividades e suas vivências(20).

Nesta perspectiva, o pesquisador interroga os sujeitos situados na região de inquérito. Neste caso particular “a região de inquérito” são os conselhos regionais de saúde do Distrito Federal.

Segundo esse referencial filosófico o mundo existe, porém relacionado à consciência do sujeito que o conhece e lhe atribui significados(20).

A existência humana deve ser compreendida levando em conta os três aspectos simultâneos do mundo: o circundante, que requer adaptação e ajustamento; o humano, que se concretiza na relação ou nas influências recíprocas entre as pessoas; o próprio, que se caracteriza pelo pensamento e transcendência da situação imediata(22).

Com base nesse enfoque teórico-metodológico, foi necessário, antes de iniciar as entrevistas, estabelecer vínculos com os presidentes dos conselhos regionais de saúde. Para tanto visitei, primeiramente, o conselho de saúde do Distrito Federal, onde tive acesso à relação dos conselhos regionais de saúde do Distrito Federal instituídos e à sua composição. Por meio de contato telefônico foi possível identificar os conselhos que estavam em funcionamento e dessa forma participar das reuniões ordinárias. A participação nas reuniões possibilitou a construção de vínculos entre a pesquisadora e os membros dos conselhos. Os conselhos de saúde através dos seus conselheiros foram muito acolhedores, disponíveis e interessados em estabelecer parcerias.

Nas reuniões dos conselhos foi possívelobservar a baixa participação da comunidade, estando presente nas plenárias em sua maioria apenas os membros do conselho. Houve a possibilidade deidentificar também que cada um dos conselhos apresenta um nível de atuação e amadurecimento diferente, onde há membros e comunidade melhores preparados e outros que ainda não captaram a essência do funcionamento dos conselhos.

Participei de eventos para conhecer melhor a dinâmica dos conselhos, como na Conferência de Saúde da Regional de São Sebastião e na Conferência de Saúde do Distrito Federal. Depois dos vários contatos estabelecidos entre a pesquisadora e os conselhos, é que se procederam as entrevistas.

É importante ressaltar que o entrevistador foi o mesmo para todos os presidentes, e que as entrevistas foram gravadas e transcritas integralmente. A entrevista foi composta por perguntas abertas que orientaram o pensamento e a descrição pelos presidentes. Não foi estabelecido tempo de duração. As entrevistas se sucederam nos meses de Julho, Agosto e Outubro de 2007.

Inicialmente foi realizada uma conversa informal com os presidentes, na qual foi explicada a pesquisa e as questões éticas envolvidas. Em seguida cada sujeito da pesquisa previamente preencheu o termo de consentimento livre e esclarecido para depois ser submetido ao estudo propriamente dito.

O local para a realização das entrevistas foi uma sala privativa localizada na sede de cada conselho ou Regional de Saúde, ou ainda na sala de reuniões da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília, sendo apenas uma entrevista efetuada na residência do presidente.

Os presidentes entrevistados discorreram sobre as perguntas: Como você percebe a prática do controle social na sua Regional? Fale sobre a sua vivência em relação à prática do controle social.

Os presidentes entrevistados puderam falar livremente sem a interferência da pesquisadora em seu discurso, cujo papel se limitou a manter a narrativa voltada para a questão central através de um roteiro (anexo2).

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