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q A OFERTA MUNDIAL DE ENERGIA E O MERCADO DOS EUA

Guy F. Caruso, administrador, e Linda E. Doman, analista de Energia, Administração de Informações sobre Energia, Departamento de Energia dos Estados Unidos

O mercado de energia dos EUA continuará a ser altamente dependente de combustíveis fósseis no futuro previsível e suas importações líquidas de petróleo e gás continuarão a crescer, com uma participação cada vez maior da Opep no fornecimento, afirmam Caruso e Doman. No geral, os recursos energéticos mundiais são suficientes para atender à demanda global

projetada para as próximas duas décadas, mas a oferta de energia continuará desigual entre as regiões e países. Este artigo oferece uma visão geral dos recursos mundiais de petróleo e gás; examina o potencial da demanda, oferta e produção de energia dos EUA; e analisa possíveis mudanças no futuro mix energético dos EUA.

Segundo projeções, os Estados Unidos se tornarão cada vez mais dependentes de fontes externas de petróleo e gás natural para atender à crescente demanda interna, com a maior parte das importações provenientes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Em 2002, os Estados Unidos importaram 53% do petróleo e 16% do gás natural consumido. Em 2025, segundo as projeções, as importações líquidas de petróleo alcançarão 70% da demanda total por petróleo e as importações de gás natural, 23% da demanda total por gás natural. No documento Perspectivas Energéticas Anuais 2004 da Administração de Informações sobre Energia (Energy Information Administration – EIA), a Opep responde por cerca de 60% do crescimento projetado das importações de petróleo dos EUA entre 2002 e 2025. Embora a expectativa seja a de que os Estados Unidos produzam cerca de três quartos do gás previsto para ser consumido em 2025, as importações líquidas de fato apresentam crescimento durante o período da projeção, principalmente na forma de gás natural liquefeito (GNL).

Os produtos de petróleo representaram 40% da energia total consumida nos Estados Unidos em 2002 e o gás natural, 24%, sendo que o carvão, a geração de energia nuclear, fontes de energia renovável e outras (inclusive metanol, hidrogênio líquido e importações líquidas de eletricidade) responderam pelo restante. Embora os Estados Unidos precisem importar petróleo e gás natural

para atender o abastecimento interno, eles são auto- suficientes em carvão, energia nuclear e fontes renováveis de energia.

RECURSOS PETROLÍFEROS GLOBAIS

A base mundial de recursos petrolíferos é definida por três categorias: reservas comprovadas (isto é, as quantidades que já foram descobertas e que podem ser recuperadas com os atuais preços e tecnologias); crescimento das reservas (aumentos nas reservas resultantes principalmente de fatores tecnológicos que aumentam o índice de recuperação dos

campos); e reservas ainda não descobertas (petróleo a ser descoberto pela exploração). Os dados sobre reservas comprovadas são atualizados e divulgados anualmente pelo Oil & Gas Journal, publicação semanal que cobre os acontecimentos que afetam a indústria petrolífera mundial. As estimativas referentes às reservas de petróleo ainda não descobertas fazem parte do documento Avaliação do Petróleo Mundial 2000 do Serviço de Pesquisa Geológica dos EUA (U.S. Geological Survey – USGS) e o crescimento das reservas regionais foi estimado pela EI A. Segundo essas fontes, as reservas totais de petróleo do mundo estão estimadas em 2.935 bilhões de barris entre 1995 e 2025, o que inclui as estimativas para líquidos de gás natural e reflete a eliminação da produção cumulativa (petróleo que já foi produzido no início dos tempos).

Segundo o documento Perspectivas Energéticas Internacionais 2004 da EIA, o consumo mundial de petróleo deverá crescer de 28 bilhões de barris/ano em 2001 para 44 bilhões de barris/ano em 2025. De acordo com essas suposições de crescimento, menos da metade dos recursos totais de petróleo do mundo estariam exauridos até 2025. A estimativa dos recursos petrolíferos totais do mundo envolve somente fontes convencionais de petróleo. Recursos petrolíferos não convencionais são definidos como recursos que não podem ser produzidos

economicamente com a tecnologia atual e incluem areias betuminosas, óleos ultrapesados, tecnologias GTL (gas-to-liquids), tecnologias CTL (coal-to- liquids), tecnologias de biocombustível e óleo de xisto. No caso do óleo pesado e das areias

30 bilhões de barris no mundo, com Canadá e

Venezuela tendo os depósitos mais significativos. Se os preços mundiais do petróleo subirem para US$ 35 por barril (em dólares constantes de 2002) em 2025, pode se esperar que o petróleo não convencional forneça até 8 milhões de barris/dia. Existem recursos suficientes para atender à crescente demanda mundial por petróleo até 2025. No entanto, a distribuição desses recursos

petrolíferos não é uniforme no mundo. Os países membros da Opep, cartel de onze países produtores de petróleo (Argélia, Indonésia, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Catar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Venezuela), detêm a maior parte das reservas petrolíferas comprovadas mundiais. Segundo o Oil & Gas Journal, em janeiro de 2004, a Opep respondeu por 69% das reservas petrolíferas comprovadas do mundo, 870 bilhões de barris do total de 1.265 bilhão de barris. Seis dos sete países com as maiores reservas comprovadas são membros da Opep e juntos detêm 61% das reservas mundiais de petróleo. Além disso, as reservas de petróleo das nações da Opep são dominadas pelos Estados do Golfo — Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait e Emirados Árabes Unidos —, que detêm cerca de 80% das reservas comprovadas de petróleo da organização.

Embora os países membros da Opep detenham grande parte das reservas comprovadas do mundo, há reservas substanciais fora desse cartel. As regiões produtoras da América Central e América do Sul, da África, do Leste Europeu e da ex-União Soviética detêm, cada uma, entre 6% e 8% das reservas petrolíferas comprovadas do mundo. Há oportunidades substanciais em todas essas regiões para aumentar as reservas nas próximas duas décadas. Estima-se que as reservas não descobertas e o aumento das reservas possam atingir um nível duas vezes maior que as reservas comprovadas atuais e, no caso da ex-União Soviética, um nível quatro vezes maior.

A América do Norte (Estados Unidos, Canadá e México) respondem por 17% das reservas comprovadas mundiais. Uma das mudanças mais expressivas nas reservas comprovadas divulgadas pelo Oil & Gas Journal foi o acréscimo das areias betuminosas de Alberta às reservas totais do Canadá em 2003. Até então, as areias betuminosas eram em grande parte consideradas uma forma não

convencional de petróleo, que não podia ser produzida economicamente em comparação às formas convencionais de petróleo. Grandes

reduções nos custos de desenvolvimento e produção

estão tornando as areias betuminosas

economicamente viáveis. A revisão de 2003 das estimativas das reservas comprovadas do Canadá acrescentou 174 bilhões de barris de reservas (betume contido nas areias betuminosas) às reservas convencionais de petróleo bruto e condensado do Canadá, como informado pela Associação Canadense de Produtores de Petróleo. Segundo estimativas, o petróleo bruto e o condensado convencionais do Canadá representam 4,5 bilhões de barris.

RECURSOS DE GÁS NATURAL

Assim como as reservas de petróleo, as reservas de gás natural em geral aumentaram todos os anos desde a década de 1970. Em 1o de janeiro de 2004 as reservas comprovadas de gás natural foram estimadas pelo Oil & Gas Journal em 172 trilhões de metros cúbicos. Nos últimos anos, a maioria dos aumentos nas reservas de gás natural se deu no mundo em desenvolvimento e cerca de três quatros das reservas de gás natural do mundo foram descobertas no Oriente Médio e na ex-União Soviética — com Rússia, Irã e Catar juntos respondendo por cerca de 58% dessas reservas. As reservas restantes estão distribuídas de modo bastante equilibrado entre as outras regiões do mundo.

As relações reservas-produção (r/p) fornecem uma medida aproximada do número de anos que se pode esperar que o fornecimento de gás natural de uma região possa durar, com base nos níveis atuais de produção. As relações r/p são computadas dividindo-se as reservas comprovadas de uma determinada região pela produção anual atual da região. Apesar das altas taxas de aumento do uso do gás natural no mundo todo, a maioria das relações r/p regionais manteve-se alta. No mundo todo, a relação reservas-produção está estimada em 61 anos, mas a ex-União Soviética tem uma relação r/p estimada de 76 anos, a África de quase 90 anos, e o Oriente Médio de mais de 100 anos.

Segundo a avaliação mais recente do USGS sobre os recursos mundiais de gás natural, há uma quantidade significativa de gás natural ainda a ser descoberta. O USGS publica três versões das avaliações dos recursos de gás natural durante o período de 1995 a 2025. A estimativa mais otimista prevê 95% ou mais de chances de se descobrir novos recursos e a estimativa mais pessimista é a de que há uma possibilidade de 5% ou mais de

descoberta desses recursos. Se considerarmos o valor esperado ou valor médio, a estimativa para o

gás natural mundial ainda não descoberto é de 120,586 trilhões de metros cúbicos. Dos recursos de gás natural que, espera-se, devam ser acrescentados nos próximos 25 anos, o crescimento das reservas representa 66,467 trilhões de metros cúbicos. Como ocorre com o petróleo, os recursos de gás natural podem e de fato aumentam com o passar do tempo, devido aos avanços tecnológicos e às circunstâncias econômicas.

Estima-se que um quarto do gás natural não descoberto esteja localizado em reservas de petróleo. Assim, mais da metade da quantidade média de gás natural não descoberto deverá vir do Oriente Médio, da ex-União Soviética e do Norte da África. Embora os Estados Unidos tenham

produzido mais de 40% do seu total de recursos estimados de gás natural e detenham apenas 10% das reservas comprovadas restantes, no resto do mundo grande parte das reservas não tem sido explorada. Sem considerar os Estados Unidos, o mundo produziu até o momento menos de 10% do total estimado de gás natural e tem mais de 30% como reservas restantes.

FORNECEDORES DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL PARA OS EUA

A dependência dos Estados Unidos de importações tanto de petróleo quanto de gás natural vem aumentando progressivamente desde o início da década de 1960. Enquanto em 1960 o país importou cerca de 17% de seu petróleo, em 2002 as

importações representaram cerca de 53% do total de petróleo consumido. Os maiores fornecedores de petróleo aos EUA mudaram um pouco durante esse período, como também sua importância relativa. Em 1960, os maiores fornecedores eram Venezuela, Canadá, Arábia Saudita, Colômbia e Iraque. Em 2002, o Canadá forneceu a maior parcela das importações dos EUA, seguido de Arábia Saudita, México, Venezuela e Nigéria. Além disso, o número de países que exportam petróleo para os Estados Unidos aumentou, com a participação de Angola, Argentina, Equador, Noruega e Reino Unido, entre outros.

No futuro, a dependência norte-americana da Opep para fornecimento de petróleo deverá crescer, de cerca de 40% em 2002 para cerca de 50% em 2025, segundo projeções divulgadas no documento “Perspectivas Energéticas Anuais 2004 ” da EIA. Segundo essas projeções, as importações brutas aumentarão de cerca de 12 milhões de barris/dia em 2002 para 21 milhões de barris/dia em 2025 (com a expectativa de que os Estados Unidos consumam

um total de 28 milhões de barris/dia em 2025). A produção de petróleo dos EUA está projetada para declinar um pouco nas próximas duas décadas, passando de 9,16 milhões de barris/dia em 2002 para 8,60 milhões de barris/dia em 2025. As importações de petróleo bruto do Mar do Norte deverão declinar gradualmente, à medida que a produção do Mar do Norte decline. Espera-se uma redução das importações de petróleo do Canadá e do México durante o período do prognóstico, com grande parte da contribuição do Canadá vindo do desenvolvimento de sua enorme base de recursos de areias betuminosas.

Ao contrário do que acontece com o petróleo, os Estados Unidos ainda produzem a maior parte do gás natural que o país necessita. Em 2002, as importações líquidas de gás natural representaram 16% do consumo total de gás nos Estados Unidos. O Canadá continua sendo o fornecedor de gás natural mais importante do país, desde a década de 1960. Há, no entanto, uma modesta diversificação nas importações de gás natural dos EUA, uma vez que o número de fornecedores de GNL aumentou nos últimos anos. Trinidad e Tobago, Catar, Argélia, Nigéria, Omã, Brunei e Malásia

exportaram GNL para os Estados Unidos em 2002. Embora a produção de gás natural dos EUA deva crescer no futuro, espera-se que a demanda cresça mais rápido do que a oferta interna. Os Estados Unidos consumiram 0,646 trilhão de metros cúbicos de gás natural em 2002 e esse número deverá aumentar para 0,883 trilhão de metros cúbicos em 2025. Em 2025, a dependência das importações de gás está projetada para aumentar para 23%. A previsão é que a produção de gás dos EUA aumente para 0,682 trilhão de metros cúbicos, grande parte dos quais virão de fontes não convencionais — areias impermeáveis, xisto e metano de minas de carvão — como resultado de aperfeiçoamentos tecnológicos e do aumento dos preços do gás natural. A importância do Canadá como fornecedor de gás para os Estados Unidos deverá declinar no futuro. As exportações canadenses de gás começarão a declinar depois de 2010, como resultado do esgotamento dos recursos convencionais na Bacia Sedimentar Ocidental. Segundo as projeções, as importações de GNL se tornarão cada vez mais importantes para o abastecimento de gás dos EUA, aumentando de 0,006 trilhão de metros cúbic os em 2002 para 0,135 trilhão de metros cúbicos em 2025.

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FONTES ALTERNATIVAS DE ENERGIA

Há oportunidades de diversificar o uso dos combustíveis para que combustíveis alternativos substituam o petróleo e o gás natural, do mesmo modo que outros combustíveis foram substituídos no passado. A madeira utilizada como combustível foi a forma dominante de energia da época da fundação das primeiras colônias norte-americanas no século 17 até o final do século 19. No século 20, novas fontes de energia entraram no mercado dos EUA e, com sua rápida expansão, substituíram a madeira quase que inteiramente. O carvão ultrapassou a madeira como combustível nos Estados Unidos em 1895 e foi superado em 1951 pelo petróleo e depois pelo gás natural poucos anos depois. Além disso, a energia hidroelétrica surgiu em 1890 e a geração de energia nuclear em 1957, diversificando o setor de energia elétrica. Outras fontes alternativas de energia, como energia solar fotovoltaica, energia solar térmica avançada e tecnologias geotérmicas, são os avanços mais recentes na produção de energia. Há também a possibilidade de que novas tecnologias, como células combustíveis de hidrogênio, possam afetar o leque de ofertas de combustíveis no futuro.

No momento, e apesar dos novos avanços

tecnológicos, o petróleo e o gás natural não deverão ser substituídos de maneira substancial no mix de combustíveis dos EUA nas próximas duas décadas. O petróleo, em particular, deverá continuar

dominante no setor de transportes, onde atualmente não existem combustíveis alternativos competitivos economicamente. Apesar disso, o petróleo tem sido substituído em grande medida no setor de energia elétrica dos EUA. O uso do petróleo para a geração de eletricidade caiu desde o final da década de 1970. Em 2002, a eletricidade gerada por derivados do petróleo representou cerca de 2% do total da geração de eletricidade dos EUA, e a expectativa é que tenha um papel relativamente pequeno no futuro.

Tem havido um forte crescimento do uso de gás natural para a geração de energia elétrica, em especial nos últimos dez anos. O consumo anual de gás natural para geração de eletricidade aumentou em 4,8% entre 1992 e 2002, em comparação com aumentos anuais de cerca de 2% para carvão e energia nuclear e de 0,4% para a hidroeletricidade e outras fontes renováveis de energia. A economia desempenha um grande papel na diversificação do uso dos combustíveis, dado que a manutenção dos

altos preços da energia pode resultar no enfraquecimento da demanda quando há uma oportunidade para o uso de combustíveis

alternativos. No caso do gás natural, a demanda no setor de energia elétrica provavelmente declinará no futuro, em particular depois de 2020 quando os preços do gás natural deverão aumentar e a introdução de nova capacidade de geração de energia elétrica a carvão poderá ser

economicamente competitiva.

Além das forças econômicas que influenciam o mix de energia dos EUA, as políticas governamentais podem ampliar a diversificação do leque de combustíveis, incluindo outros produtos além do petróleo e do gás natural. Por exemplo, muitos governos estaduais criaram padrões para o portfólio de energias renováveis que aumentam a geração de energia elétrica a partir de fontes renováveis de energia. Atualizações e eficiências aperfeiçoadas em usinas existentes também podem influenciar o mix energético. A capacidade média das usinas nucleares dos Estados Unidos aumentou de 71% em 1992 para 91% em 2002, permitindo que a geração de energia nuclear aumentasse em 26%, apesar de uma contração de 300 megawatts na capacidade instalada durante esse período.

CONCLUSÃO

Os Estados Unidos provavelmente continuarão a depender de combustíveis fósseis para atender grande parte das suas necessidades de energia durante o futuro previsível. Com a expectativa de que a demanda por petróleo e gás natural aumente progressivamente nas próximas duas décadas e com limitados novos recursos internos para explorar, a dependência dos fornecedores estrangeiros também aumentará. A dependência norte-americana da Opep deverá aumentar, mas a oferta de produtores que não fazem parte da Opep também crescerá, garantindo alguma diversidade no fornecimento. Os Estados Unidos continuarão a produzir grande parte de seu gás natural internamente no futuro, mas o GNL proveniente de um conjunto diversificado de fornecedores deverá se tornar cada vez mais

importante para atender à demanda. Os recursos não representam uma restrição importante para a

demanda mundial até 2025. Em vez disso, circunstâncias políticas, econômicas e ambientais provavelmente influenciarão os mercados mundiais de energia do futuro. q

q FORNECIMENTO DE GÁS NATURAL AOS MERCADOS QUE

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