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A Opção Metodológica pelo Inquérito por Questionário

Perdidos na Rua: Os Sem-Abrigo em Ponta Delgada

2.3. A Opção Metodológica pelo Inquérito por Questionário

As técnicas de pesquisa, recolha e tratamento de infonnação empírica compreendem como, já se fez saber, variadíssimas formas. Ora, na investigação empírica, costuma-se enunciar

três

procedimentos lógicos - o método extensivo ou de análise quantitativa, o método intensivo ou de análise qualitativa, ou ainda o método da investigação - acção. E mais, considerou-se, sobre a possibilidade de que estes três procedimentos poderiam complementar-se uns aos outros, isto é, poderiam ser utilizados numa mesma investigação social.

Assim sendo, não excluindo a adequação das técnicas qualitativas e experimentais no presente estudo, verificou-se que, a técnica mais adequada à realidade social visada, nomeadamente, o estudo

"Perdidos na rua:

Os sem-abrigo

em Ponta Delgada", consistia no inquérito por questionário.

Aliás, o inquérito

por

questionário constitui um dos instrumentos mais utilizados pela sociologia e outras disciplinas do campo das ciências sociais pois, são inúmeras as possibilidades encerradas por esta técnica na análise extensiva e de generalização das infonnações recolhidas. Para Marinus Pires

de Lima, os questionários

supõem qu

e

a infonnação é rel

a

t

i

v

a

men

te limitado do

que nos casos anteriormente estudados. "75

Complementarmente, usou-se a análise documental para estudar a Associação

·o

Novo Dia", nomeadamente, análise dos estatutos e actas da Associação, bem como, outros documentos internos e artigos de jornal referentes a esta organização.

7S LJMA,

Marinus Pires de.: O Inquérito sociológico problemas de metodologia,

Usboa,

Edição Presença, 1981, p.28.

Perdidos na Rua: Os Sem-Abrigo em Ponta Delgada

Entende-se, então, que a aplicação do inquérito por questionário feito a um universo, pennite uma inferência estatística através da qual, se verificam as hipóteses elaboradas no decurso da primeira fase da investigação, e com as quais se completam por recurso às informações recolhidas e codifteadas. Para o efeito, é necessário saber, com exactidão o que se procura averiguar ou saber.

Deste modo, na interpretação de Quivy e Campenhoudy, a técnica do inquérito por questionário,

"consiste em colocar a um conjunto de inquiridos, geralmente representativo de uma população, uma série de perguntas relativas à sua situação social, profissional ou familiar, às suas opiniões, à sua atitude em relação a opções ou a questões humanas e sociais, às suas expectativas, ao seu nivel de conhecimentos

ou

de

consciência de

um acontecimento ou

de

um

problema,

ou ainda

sobre outro

ponto que interesse os investigadores." 76

Assim, segundo estes autores, os questionãrios77 podem ser de administração indirecta, quando o próprio inquiridor o completa a partir das respostas dadas pelo inquirido e, de administração directa, no caso de ser o próprio inquirido a preencher o inquérito. Nesta lógica, acrescente-se então que, a aplicação do questionário

ás

pessoas em condição de sem-abrigo foi de administração indirecta. 78

1& QUIVY, Raymond, CAMPENHOUDT, Luc Van.: ob. cit., p.188

n Como refere LIMA. Marinus Pires de.:ob. oil p.28

(

... ) uma formulação e ordenaçl!o r

lg

ida de perguntas, respostas de conteUdo relativamente li.mítado, pouca liberdade dos inteNeOientes na entrevista, geralmente

única,

e uma polarização na resposta (e não na personalidade do entrevistado), em ordem a obter

Informação útil

para o controlo do quadro de hipóteses do investigador, verifica-se que é uma técnica adequada ao estudo extensivo de grandes conjuntos de indivkluos, por sondagem de uma amostra representativa, mas o nlvel de profunc:fidade da informação é relativamente limitado do que nos casos anteriormente estudados" .

.,. A aplicação dos questionário foram feitos por vârias vezes,

pois

os sem-abrigo nao se encontram sempre no mesmo local. Esta fase de aplicação de inquéritos por questionário, foram feitos na companhia das equipas técnicas que fazem a ronda nas ruas de Ponta Delgada. O processo de inqui

rição

ofereceu

algumas dificuldades

na sua aplicação, pois que houve o receio de as perguntas serem mal interpretadas ou de o número de respostas ser demasiado fraco. COntudo, utilizou-se frequentemente os contactos telefónicos com o Novo Dia Instituição de apoio aos sem-abrigo. de modo a atenuar estes possiveis enviesamentos.

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Após, a fase da exploração o entrevistador teve sérias dificuldades em aproximar-se do público­

alvo. Principalmente, porque estes demonstraram várias reticências, reserva mental, algum incómodo e falta de educação para além de, manifestarem alguma dificuldade em referir factos da sua vida

pessoal.

O

que é naturalmente compreenslvel, uma vez que, provêm de vidas complexas, desestruturadas e problemáticas. Para além disso, manifestaram ainda, uma certa dificuldade em manter o diálogo, alguns

por

simplesmente não quiseram conversar, outros não quiseram conversar porque não percebiam bem a língua portuguesa.79

Por conseguinte, como já reiteramos em virtude disso fomos forçados a solicitar o apoio dos técnicos da Associação

·o

Novo Dia", que efectuam a ronda diária de apoio aos sem-abrigo e são os seus rostos familiares destes.

Deste modo, procedemos à realização do pré-teste com intuito averiguar a clareza e/ou a percepção das perguntas, bem como, a receptividade que cada questão tinha per si e, consequentemente, a receptividade do questionário em geral.

Nesta fase, apercebemo-nos como eram compreendidas as questões o que nos possibilitou evitar erros e deficiências na formulação do nosso questionário. Responderam ao pré-teste

3

pessoas de ambos os sexos (2 homens e uma mulher), não tendo sido verificado problemas de maior, nem ao nível da compreensão das questões em particular, nem ao nível da aceitação do questionário. Apenas,

tivemos dificuldade que estes respondessem o pré-teste todos no mesmo dia, tiyemos que insistir diversas vezes com as mesmas pessoas afim de concluírem as respostas vertidas no pré-teste.

79 Sabem apenas o português que aprendem nas ruas, são de origem portuguesa mas viveram parte da sua vida nos EUA ou Canadá.

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