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A Operação Urbana Faria Lima e o plano do imediato

No documento ESPAÇO-TEMPO DA VIDA COTIDIANA NA METRÓPOLE (páginas 177-183)

POSSIBILIDADES E LIMITES DO USO

3.1 A Operação Urbana Faria Lima e o plano do imediato

Vivemos num momento onde o ritmo do tempo se acelera e a metrópole gigantesca, explodida em periferias, num processo autofágico, tem seu destino traçado por uma racionalidade onde os as demolições dos lugares familiares, os tapumes das novas obras e os outdoors, apontando novas opções de compra, marcam de modo inexorável e definitivo a paisagem metropolitana. As transformações urbanas não transformam uniformemente a metrópole, mas partes dela, daí trabalharmos com um fragmento que julgamos significativo das cirurgias urbanas ocorridas na metrópole paulista. É bem verdade que o que acontece nessa área de pesquisa não está acontecendo na cidade, como um todo hoje, mas o que podemos afirmar é que o que acontece nesse fragmento da metrópole só acontece aí, como produto de um processo que se explicita no contexto de uma metrópole em processo de transformação no seio do mundial que se anuncia. Significa dizer que há aqui uma tendência que marca o espaço hoje que é a esmagadora possibilidade de sua homogeneização e, com isso, da manipulação da vida cotidiana através das mudanças nas formas da morfologia.

As entrevistas322 realizadas com moradores dos bairros, envolvidos pela Operação urbana

Faria Lima, deixam claro uma contradição no processo de produção do espaço: que se realiza pela passagem de um lugar conhecido/reconhecido (pelos atos e ações simples suporte da vida cotidiana – posto que lugar da reprodução da vida) para a constituição de “um novo lugar”, provocando ausências inexoráveis. Aqui o desconhecido, o não - reconhecido, aparece como sinal inexorável dos “novos tempos”, onde a forma efêmera impõe-se como a única possibilidade da realização do novo”. Como contrapartida, a passagem do ato de habitar para o ato de morar; aqui o habitante se transforma no morador, e com isso, de “usador” vira “usuário”. Esse momento revela em toda sua extensão o fenômeno da implosão dos bairros no processo de reprodução do espaço da metrópole; esta é a hipótese a ser desenvolvida neste capítulo.

Formas efêmeras, homens – objetos, espaço – mercadoria; a realização do valor de troca segue seu caminho aprisionando e impondo-se sobre o uso, invadindo e transformando a vida. Processo inexorável? Nem tanto. É o que emana das vozes desses sujeitos que resolveram elevar sua voz à altura daquela dos planejadores; empreendedores imobiliários; políticos; para questionar o “sentido da cidade” onde vivem, propondo um projeto para a São Paulo do futuro. Um projeto futuro para a metrópole? Talvez nem tanto, mas a advertência de que a cidade também é um lugar de desejo, de sonhos, que se impõe e deixa suas sementes.

Na pesquisa, o bairro aparece como unidade espacial marcada pela vivência direta, do cidadão, o lugar do habitar e o que ele implica, numa metrópole como São Paulo. É no bairro que se pode ler, porque é aí que se tecem os caminhos, os itinerários a partir dos quais se localiza e se

322 Este capítulo se baseia no conjunto de entrevistas realizados; 40 na Vila Olímpia, 17 em Pinheiros, 17 no Itaim e 2

desapropriados que se mudaram da área. O conjunto das entrevistas é bastante variado não só no que se refere aos pontos de vista de cada um em relação aos problemas levantados nas nos questionários, mas também em função das vertentes das entrevistas. A pesquisa de campo não tem nenhum cunho quantitativo – antes ela pretende pensar as transformações na metrópole hoje, a partir de um fragmento da metrópole – uma área que sofreu uma grande intervenção urbana OUFL. Traz a voz das pessoas envolvidas no processo de transformação da metrópole paulista – transformações estas que ocorrem de forma significativa, neste final se século, em função de sua velocidade e conteúdo .

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realiza a vida urbana. A análise parte do bairro, de como as relações se tecem e como, a partir daí, é possível pensar a metrópole como um todo em seu processo atual de reprodução espacial. A chamada Operação urbana Faria Lima, pode iluminar como estas transformações ocorrem no seio da metrópole e o que acontece aos usos e ao sentido do espaço para a reprodução da vida, já que a mudança da morfologia trás uma mudança da função da área e, com isso, redefinem-se os papéis dos bairros, dentro da metrópole. O projeto nasce no bojo de uma necessidade, para os administradores, da abolição das distâncias pelo controle da velocidade com a construção de vias de trânsito rápido, onde a “forma urbana torna-se a programação de um horário?”323

Rasgando o tecido construído, a Avenida Brigadeiro Faria Lima impõe-se como um produto da planificação mudando os bairros atingidos que passam a ter seus limites fluídos, entrecortados e interpenetrados pelo tempo da metrópole. A operação urbana Faria Lima - como é chamada a obra de extensão da antiga Avenida Brigadeiro Faria Lima - significou uma brusca mudança na morfologia de três bairros da metrópole paulista (Vila Olímpia, Itaim e Pinheiros) uma “operação cirúrgica” que derrubou 380 casas, uma igreja inteira, outra pela metade, um colégio inteiro (Colégio Estadual Ceciliano Enes) e parte de outro (Colégio Nossa Senhora do Carmo), mudou radicalmente o uso do espaço, bem como a função deste “lugar da metrópole”. Na contrapartida, esta “inovação”, que mudou comportamentos, transformou a vida, inundou de carros antigas ruas calmas, mudou o passo das pessoas, trancou crianças em casa diante da televisão, redimensionou a articulação espaço público / espaço privado, impôs uma normatização da vida e uma nova inserção dos habitantes no bairro.

Na paisagem os sinais visíveis da mudança: a avenida parece nova com suas pistas semi- expressas e poucos faróis que organizam o novo uso do espaço. Os outdoors escondem parcialmente os terrenos vazios apontando a existência de novas construções. Há terrenos que estampam os painéis dos novos lançamentos ou ainda das construtoras que estão com empreendimentos nas margens da avenida. Em outros lugares já despontam as novíssimas construções de edifícios, são bares e restaurantes recém-abertos, ao longo da avenida, com luminosos e néon trazendo, na sua esteira, um “novo agito” à noite; as antigas e calmas ruas dos bairros são invadidas por um mar de carros e uma turba entre alegre e barulhenta, de jovens. Resta, ainda, há um ar inacabado dado pelos restos de terrenos desapropriados, pedaços de casas aparentemente abandonadas, estampando placas de vende-se ou, em menor número, de aluga-se. Essa paisagem parece indicar que as mudanças espaciais, na metrópole, sempre ocorrem de forma violenta, num ritmo acelerado como decorrência da mudança constante das direções de fluxo, do traçado ou do alagamento de ruas e avenidas, como uma necessidade imposta pelo escoamento do trânsito e constante renovação do sistema viário; das tendências do mercado imobiliário em busca de novas áreas e das mudanças da lei de zoneamento - parecem deixar atrás de si uma imagem de ruína.

O bairro de Pinheiros se transforma com a avenida, principalmente, com a ampliação do terminal de ônibus (agora espalhado numa ampla área ao longo da nova avenida) trazendo como decorrência um maior afluxo de população para o bairro. Com esse fluxo aumenta, na área da

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avenida, o comércio ambulante, que se dirige a uma classe de poder aquisitivo mais baixo. De resto pode-se também observar uma popularização do comércio na área imediata à avenida. O bairro do Itaim se transforma num outro ritmo, mantendo a tendência de um bairro que associa a verticalização residencial, voltado a população de alta renda (que pode ser constatado pelos lançamentos de edifícios de luxo com 4 dormitórios), associada ao reforço da função de “point” de lazer (também voltado em sua maioria a uma população de alta renda com a abertura de bares e restaurantes sofisticados em grande número) e ao comercio e serviços, com isso acentua-se sua “centralidade” dentro da metrópole.

A Vila Olímpia é, entre os três bairros, o lugar cujas transformações são as mais violentas; pois sendo um bairro estritamente residencial as pequenas casas deram lugar aos prédios de escritório, a prédios residenciais e na área Z-9 as casas tem sua função modificada, de residência para escritórios, bares ou mesmo restaurantes. Já na Vila Funchal, encontraremos uma paisagem radicalmente diferente, os galpões industriais cedem lugar aos altos prédios de escritórios; muitos galpões ainda mantém a velha silhueta, mas transformados em casas de espetáculos. Cada novo empreendimento imobiliário de grande porte traz consigo uma gama de outras atividades para o bairro, enquanto as boites, os bares e casas de espetáculos trazem trânsito, barulho, brigas de rua, carros estacionados nos portões das casas, muitos estacionamentos, pedintes, etc.

Nos três bairros, a transformação morfológica associada à operação urbana, modificou os usos com as transformações provocadas pela mudança da propriedade privada do solo urbano, que redireciona o valor do solo urbano, provocando a valorização da área, ao mesmo tempo em que, a deteriora o uso residencial. Ao transformar a morfologia explodem as relações sociais tradicionais pela mudança nos modos de uso do espaço e nas funções do lugar dentro da metrópole.

Particularmente no caso da Vila Olímpia, (localizada entre as Avenidas Juscelino Kubitschek e Bandeirantes; entre a Atílio Inocenti e a Ramos Batista) o bairro de pequenas casas, de ruas cheias de vilas e muito arborizadas, tornou-se uma área altamente cobiçada pelo mercado imobiliário em função das possibilidades de adensamento. Às margens da Avenida Nova Faria Lima as casas derrubadas já ostentam em vários pontos as bandeiras dos novos prédios que estão sendo construídos, ao lado pequenas casas, completamente despidas das ruelas que foram derrubadas para dar passagem a avenida, ostentam cartazes de “vende-se” ou se escondem atrás de uma muralha de

outdoors.

Mas essas modificações não pertencem, exclusivamente ao domínio das formas, a morfologia está carregada de um valor social; isto é, também faz parte do quadro de referências da vida compondo a prática socioespacial e por isso, entra no plano da construção da identidade do habitante com o lugar, que sustenta a memória. Significa pensar que os ritmos da vida cotidiana se ligam à duração das formas e de suas funções e estes a construção da identidade, portanto esse processo de transformação vai acarretar a constituição de uma outra identidade do habitante com o lugar; com estes novos “monumentos” da vida cotidiana moderna. As sequências de passagens de uma forma à outra não excluem a existência da forma assumido funções diferenciadas. Como a formas se associam ao uso, dois tempos podem ser percebidos na paisagem urbana; aquele da história e aquele do contexto de sua transformação (o contexto do tempo e do seu uso). O primeiro tempo se refere àquele do tempo da morfologia urbana ou da história da cidade e o segundo se

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refere ao tempo e ritmo da vida na metrópole que permite a construção das referências da vida urbana a partir do tempo da vida.

A Vila Olímpia/Vila Funchal se articula, hoje na metrópole, como nova centralidade marcada pelo uso comercial - empresarial além de área de lazer que produziu clusters de diversão, no contexto metropolitano, se produz enquanto centralidade móvel, posto que movidas pela moda que como a das roupas define um movimento de usos dos lugares. Aqui o espaço, consumido como lazer - como concentração de bares, restaurantes, danceterias - abrem e fecham periodicamente no lugar e de um lugar para outro, dentro da metrópole, mudando os polos de atração de lazer. De residencial, muitas casas se transformam em locais de serviço, numa velocidade espantosa. Muitas vilas desabaram com os tratores...”e cada uma é exilado em uma vida privada”.324

O bairro apresenta, agora, um movimento constante de frequentadores.

Alguns entrevistados relacionam a OUFL ao poder do capital na cidade; “quem manda não são as pessoas que moram na cidade - ficou muito claro - a cidade, tem dono, a cidade não é um patrimônio público, não é um bem coletivo, ela tem áreas de domínio, é um grande feudo; tem senhores feudais que se ocupam de pedaços; e um não entra no lugar do outro o Júlio Neves, não vai construir na Berrini. Pinheiros é o pedaço Rui Otake. Não é uma avenida para desafogar simplesmente o trânsito da marginal”. O espaço tornado mercadoria, submetido às estratégias imobiliárias, voltado às novas necessidades da reprodução se recria em função de objetivos específicos que fogem e se sobrepõe aos desejos dos habitantes, de modo coercitivo. Nesse processo, as pessoas se sentem desenraizadas e sem referenciais. É sintomático que o arquiteto Júlio Neves (autor do projeto, que negociava com os habitantes em nome da prefeitura do município de São Paulo) ao referir-se ao projeto Faria Lima destinava-lhe o termo “empreendimento” o que aumentava a indignação das pessoas diante dessa linguagem; na realidade, enquanto estes defendiam a casa, o bairro, o arquiteto defendia o “empreendimento”, a OUFL, “em nome da prefeitura”.

O traçado da Nova Faria Lima corta os bairros em dois, separa-os, e muda cada um dos lados, autonomizando-os, de modo que, cada um, ganha novas características, perdendo-se com isso, a antiga unidade. Muitos moradores se mudaram, pois, suas casas vieram abaixo, outros se mudam mesmo sem terem sido desapropriados, “expulsos pelas mudanças”, o que altera profundamente as relações no bairro: perde-se os referenciais de reconhecimento, as relações de vizinhança com as pessoas. As casas de moradia viram outra coisa, fotógrafos, chaveiros, floricultura, loja de congelados, móveis antigos, pizzarias, casa de comida à quilo. Por outro lado, há obras e novos personagens que invadem o cenário do bairro, são por exemplo, os pedreiros, que trazem com eles os ambulantes e suas barracas, “não é mais aquele bairro onde se conhecia o vizinho; onde hoje os assaltos são frequentes. Pessoas estranhas, caras novas andando pelo bairro não é mais as mesmas pessoas, o açougueiro não é mais o mesmo, mudou o tintureiro, além do que, não vem mais buscar a roupa como se fazia antigamente...[antes da avenida há um ano]; o sacolão325

ficou mais longe, não dá mais para parar na porta da padaria na volta do serviço, porque agora esta difícil de estacionar”. O sapateiro, para susto dos habitués não é mais o mesmo, na realidade o

324 Virilio, Paul, O Espaço Crítico, op.cit., p.11.

325 Tipo de mercado que vende diretamente do produtor ao consumidor, com auto serviço, vários produtos como frutas,

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pessoal de serviços muda mais, não há permanência, e “vamos andando é muito mais difícil atravessar a rua, é muito difícil entrar e sair com o carro da garagem, à noite está tudo escuro do que era antes”. As casas deram lugares aos escritórios e estes fecham à noite: onde, antes tinha uma luz acesa iluminado o quintal de uma casa de família, agora há uma loja, um escritório ou mesmo consultório, onde as luzes se apagam após o expediente, escurecendo a rua.

Essa situação é recorrente nos depoimentos dos habitantes da Vila Olímpia; a mudança da vizinhança deteriorou a vida do bairro, esvaziou as relações de vizinhança; muitos ficaram “sem vizinho” com as demolições ou mesmo com as mudanças de uso, as pessoas ficaram mais trancadas em casa. Antes as pessoas se encontravam nas compras, nas calçadas. “Não é mais aquele bairro”, suspiram os habitantes mais antigos. As pessoas não mais se conhecem na rua; há vários “novos personagens em cena”; os ambulantes, os trabalhadores dos escritórios, os frequentadores dos bares e das casas noturnas, os seguranças agora também aparecem a rondar pelo bairro com a possibilidade de aumento do número de crimes, e com o aumento do número de roubo de carros.

Portanto, a Avenida Faria Lima aparece como uma barreira, os idosos se sentem receosos com ela e não circulam mais com a mesma frequência, muitos precisam tomar táxi para ir ao supermercado que fica ao lado só por temor de atravessa-la, que com 4 pistas de cada lado, não dá tempo para os idosos chegarem até a ilha que separa as duas mãos de direção da nova avenida (o tempo do semáforo que disciplina o transito, não é o tempo dos passos, mas da sincronia dos semáforos que regem o transito na metrópole). As crianças antes vinham á pé com os pais da escola, agora, chegam, em sua maioria, de carro, acabando o movimento nas calçadas e os encontros que davam um movimento, ruído e colorido ao bairro. “Portão nunca mais, não há mais tranquilidade, agora não se tem noção das pessoas que passam”, lamenta uma das entrevistadas, apontando para o choque das transformações do espaço público que se esvazia e perde o antigo sentido que cadenciava a vida no bairro. As pessoas não se encontram mais. Com a abertura da avenida; transformando radicalmente, os bairros, muitos moradores acabam abandonando-o, este fato se revela na profusão de placas de “vende-se e aluga-se” que marcam a paisagem. Já placas de “cuidado com o cão” sinalizam as pequenas mudanças que passam a marcar a vida cotidiana, bem como os novos portões com grades. Mas, substancialmente, o que chama atenção são as guaritas e portões que agora impedem as entradas nas vilas do bairro.

A vida cotidiana perde força no espaço fragmentado, o que implica em relações amenizadas ou mesmo perdidas pelo cerceamento dos passos, pelo distanciamento dos relacionamentos impostos pelas transformações dos lugares da vida, porque o indivíduo se isola, se fecha dentro de casa, “longe da violência” e das incertezas de uma metrópole cada vez mais “estranha”. É por isso que os entrevistados, ao falarem sobre seus bairros periodizam sua vida, inequivocamente, em dois períodos de tempo: o “antes” e o “depois” da avenida. O que isto significa? O esvaziamento da vida pelo empobrecimento da vida cotidiana, o que significa o esvaziamento do conteúdo social determinado e definido pela diversidade de relações com o outro e com o lugar, criando uma rede de solidariedade, de ação, de encontros; atividades produtoras da identidade onde o indivíduo se sente participando da sociedade, pela mediação do outro e do lugar.

A avenida Nova Faria Lima se impõe como nova realidade na vida do bairro no sentido em que ela se impõe dividindo os bairros que corta, esvaziando a vida de relações; implodindo-os.

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As entrevistas apontam, na realidade, para o processo de transformação que passa a metrópole de São Paulo, assinalando novos caminhos para a reprodução das relações sociais; a tendência da transformação do espaço da metrópole de valor de uso para valor de troca. Neste raciocínio o espaço assume, cada vez mais, um papel importante no processo de acumulação, na condição de mercadoria, revolucionando o uso do espaço, nesse plano, a imposição do efêmero impede a criação da identidade, agora presa a um novo uso e um novo tempo. Aqui é a duração que transforma a ação, que deve durar no tempo, e se ater a um espaço determinado para permitir o seu desenvolvimento, liga-se a uma realidade social vivida num espaço determinado e com uma duração fixada. O efêmero mexe com a espessura do tempo, isto é, com o emprego do tempo, consequentemente com a duração da ação no lugar. No “antes”, o bairro está associado a uma “qualidade de vida” desejável e real e é isto que os habitantes querem preservar; no “depois” os entrevistados se referem a perda desta qualidade, o bairro aparece como estranhamento não só pela morfologia que se transforma, mas no esvaziamento das relações de vizinhança, no fechamento dos pontos de comércio do bairro, na implantação dos bares e com isso o barulho, o trânsito de madrugada, a sujeira, etc.

A avenida Faria Lima assume o ponto de orientação da análise, porque assume o ponto referencial das mudanças que os habitantes sofreram no bairro, nas suas vidas. A nova avenida abalou as vidas, este ponto marca, profundamente, as entrevistas; uma ruptura que, em primeiro

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