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4 ASPECTOS METODOLÓGICOS

4.2 O Percurso Metodológico

4.2.3 A operacionalização do Grupo Focal

Tendo em vista a organização da investigação com Grupos Focais, de acordo com Tanaka e Melo (2001) e Teixeira (2002), os passos metodológicos compreendem a sua operacionalização com a determinação da duração e do local para os encontros. Estes autores consideram o tempo máximo de três horas por sessão. O ambiente deve ser adequado para interação e comodidade dos participantes, levando-se em consideração o acesso fácil ao local pelos sujeitos.

Leopardi, Beck e Gonzales (2001) destacam que, após a definição do conteúdo (objeto da investigação), e da definição das qualificações dos participantes, deve-se ater à seleção do material de apoio, do local e do dia, hora e duração de cada grupo.

Assim, a mobilização dos sujeitos, espaços e estratégias para as sessões foram pensados dentro de condições que possibilitassem o desvelamento da realidade que permeia o ECS no contexto do referido curso, respeitando os critérios da pesquisa com Grupo Focal.

Considerando-se o tempo disponível e necessário para o aprofundamento das idéias e informações, optamos a priori por um número de cinco encontros. Com a formalização da proposta junto aos representantes legais da UNIPLAC, partiu-se para o estabelecimento de um contrato com as enfermeiras convidadas. Após apresentarmos o projeto enfatizando sua justificativa, seus objetivos e os aspectos éticos, as participantes consolidaram uma proposta de organização das sessões, incluindo cronograma, duração e local. Esta estratégia revelou-se fundamental, tanto para a

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exeqüibilidade da pesquisa quanto para o engajamento das enfermeiras como sujeitos ativos na construção desse espaço de convivência, de partilha de significados e de tomada de decisões coletivas. Desse modo, foram então realizadas seis sessões, uma por semana, no período de outubro a novembro de 2005.

As seis sessões foram inicialmente programadas para duração de uma hora e meia. Por iniciativa e decisão coletiva do grupo este tempo foi ampliado em até uma hora, aumentando a duração para uma média de duas horas e meia, revelando o nível de participação e engajamento no decorrer das discussões.

Os encontros ocorreram em uma sala de aula disponível na UNIPLAC, escolhida devido à facilidade de acesso, à possibilidade de privacidade do grupo e pela característica física de favorecer um ambiente tranqüilo e com poucos ruídos que interferissem nas gravações. Além disto, a sala propiciou o posicionamento das participantes em semicírculo. A cada encontro foram organizados previamente, o ambiente e os materiais, incluindo a arrumação das carteiras sem determinação de local fixo para as participantes e a disponibilização de canetas, papéis coloridos, fita, lanche, aparelho de som, gravador e outros.

• O Desenvolvimento das Sessões de Grupo Focal

Na organização do grupo focal, é necessário também serem estabelecidos aspectos diretamente relacionados ao desenvolvimento dos encontros. Leopardi, Beck e Gonzales (2001) apontam três momentos de um Grupo focal envolvendo a preparação, o conteúdo do debate e o fechamento do grupo. O momento de preparação compreende a introdução às atividades no qual os membros se apresentam e estabelecem uma relação inicial. Nesta etapa, as discussões assumem uma característica mais geral e superficial. A passagem gradativa dos comentários gerais para a discussão mais específica da temática, configura o momento de conteúdo do debate, cuja finalidade é a compreensão verdadeira das questões relacionadas ao tema. O momento de fechamento do grupo consiste em resumir os temas trabalhados, avaliar o contexto do grupo e evidenciar aproximações e divergências de idéias e pensamentos dos participantes.

importantes: o preparo do guia de temas e a moderação do grupo .

Em nosso estudo, tendo em vista a intenção de promover o acolhimento e estimular a integração e a participação das enfermeiras, foram desenvolvidas dinâmicas voltadas sempre à especificidade do trabalho e/ou construção coletiva e conseqüente reflexão desta no grupo. Neste sentido, na organização das sessões de Grupo Focal, adaptamos os momentos sugeridos por Leopardi, Beck e Gonzales (2001) utilizando o referencial metodológico que envolve o trabalho integrado e participativo, proposto por Queiroz (1999). Foram selecionados cinco dos oito passos sugeridos pelo autor, e adaptados aos objetivos e circunstâncias desse estudo, denominados quebrando o gelo; entrando no assunto; propondo a questão; lembrando as lições e avaliando o estudo.

Destaca-se que o primeiro e segundo passos durante as sessões, oportunizaram o momento de acolhimento e o preparo do grupo para a reflexão inicial do que seria trabalhado no encontro. Utilizamos estratégias e materiais de estímulo a partir do tema proposto e da síntese do grupo anterior. O terceiro e o quarto passos configuraram-se na produção do grupo no sentido da reflexão e discussão acerca dos temas problematizadores elencados, finalizando com uma síntese. O momento de despedida, quinto passo, vivenciado ao final de cada encontro e denominado no grupo de “roda de avaliação”, oportunizou a cada participante expressar-se livremente quanto a sentimentos, avanços e necessidades do grupo. Durante esta etapa da síntese final e avaliação do encontro, e em algumas ocasiões ao longo da sessão, era servido um lanche. Após, o grupo encaminhava-se para o encerramento no qual eram reafirmados acordos, recomendações e agradecimentos. Ao analisarmos o movimento impresso nesse percurso metodológico, salientamos que os passos serviram apenas de orientação, não impondo uma linearidade ao processo dialógico. Neste, as enfermeiras puderam participar de acordo com suas concepções e singularidades num movimento constante de ir e vir a partir da (re)significação do ECS.

A seguir apresentamos a representação gráfica dos passos metodológicos utilizados no desenvolvimento das sessões:

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• Elaboração do Guia de Temas: os temas problematizadores.

A construção de um “Guia de Temas” ou "Roteiro de Debate" deve levar em consideração a elaboração de questões-chave que favoreçam o levantamento de informações para a elucidação dos objetivos propostos na pesquisa. Carey (2005), afirma que o pesquisador deve explorar o tema de investigação com base em conceitos amplos, a partir dos quais são formuladas três ou quatro perguntas-guia a serem utilizadas na condução das sessões. No entanto Meier (2004) alerta que o “guia de temas” pode sofrer modificações e ajustes à medida que vão ocorrendo as análises dos encontros.

Contemplando esta etapa no Grupo Focal, as sessões foram guiadas por dois grandes temas norteadores, denominados por nós de temas problematizadores, a saber: O que é o ECS? Quais os propósitos do ECS? No desenvolvimento do grupo, ao longo das seis sessões estes temas guiaram toda lógica das discussões servindo de ponto de partida e de chegada para as sínteses, chamando para o foco quando o grupo dispersava.

Porém, surgiram outras questões que desencadearam o processo de discussão coletiva envolvendo dificuldades e potencialidades para o alcance dos objetivos do

ECS, tendo em vista o papel do enfermeiro orientador e do enfermeiro supervisor do campo de estágio.

A partir da segunda sessão, além dos temas problematizadores, os debates foram orientados no sentido de esclarecer e aprofundar aspectos das sínteses produzidas pelo grupo nos encontros anteriores. Foram utilizados ainda, como guia de temas, questões como: qual o significado da autonomia no ECS? Como o ECS é compreendido enquanto lugar de integração teoria-prática? Como a integração ensino- serviço é viabilizada com o ECS? Todos esses questionamentos apresentaram-se adequados aos objetivos do estudo por terem como determinantes a significação e a práxis dos enfermeiros docentes e dos serviços no ECS.