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2. ARGAMASSAS

2.4. A OPINIÃO DE QUEM TRABALHA COM SITUAÇÕES REAIS

Aferiu-se, junto de empreiteiros, pedreiros e outros operários ligados ao sector da construção, os conhecimentos sobre o metacaulino e as vantagens do uso de argamassas de cal aérea.

Uma grande parte deste sector não tem qualquer formação académica nesta área. Contudo é importante ouvir o que sabem a respeito da matéria, pois muitos deles colmatam a falta de conhecimentos teóricos com muitos anos de experiência. Além disso, são eles que aplicam as técnicas e os materiais que, geralmente, os engenheiros desenvolvem e aconselham.

Tal como esperado, o metacaulino é uma pozolana quase desconhecida para empreiteiros, pedreiros e outros operários ligados ao sector da construção. No entanto, o sector afirma que pozolanas são “uma espécie de cinzas”, que por si só não têm propriedades ligantes e que quando são adicionadas às argamassas ou aos betões alteram as características destes. Não são muito usadas, a menos que haja situações muito especificas que requeiram mesmo a sua utilização. O seu preço, geralmente mais elevado, torna estas argamassas com adjuvantes menos procuradas.

No interior das superfícies de venda de materiais de construção, há uma imensa linha de argamassas prontas, vendidas em saco, lata ou a granel, com características variadíssimas: impermeabilizantes; com bom comportamento térmico; com funções decorativas recorrendo à cor; indicadas para intervenções de restauro; etc. Praticamente todas estas soluções apresentam adjuvantes na sua composição e os seus preços, em alguns casos, são muito superiores aos de uma argamassa mais simples, isto é, que não contenha adjuvantes e que o seu ligante seja, por exemplo, o cimento Portland.

Empreiteiros, pedreiros e outros operários ligados ao sector da construção, vêem a utilização da cal como uma mais-valia. Confirmam que as argamassas de cal são as que apresentam melhor comportamento quando o assunto são as “humidades”. Tendo em conta que, neste caso, esta classe opera maioritariamente na zona Oeste do país, uma zona de influência marítima e muito húmida nos meses de Outono e Inverno, é natural que o aparecimento de bolores devido à humidade seja uma realidade, no entanto, contraria mente ao esperado, grande parte das argamassas de reboco para paredes usam o cimento Portland como ligante. Segundo os mesmos intervenientes, o cimento Portland é um bom condutor de água, logo a sua aplicabilidade sai prejudicada, todavia há uma forte razão para ser usado, a sua presa muito rápida.

Para além de relativamente baratas, as argamassas de cimento Portland “secam muito depressa e aderem rapidamente ao suporte”. O seu curto tempo de endurecimento permite a execução de mais que uma camada num curto espaço de tempo e as suas características no que à aderência ao suporte dizem respeito, facilitam muito os trabalhos de reboco. Presenciaram-se, situações em que

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zonas do suporte (neste caso era alvenaria de tijolo) eram ligeiramente molhadas sendo depois espalhado cimento nessas zonas, afim de a argamassa agarrar ainda melhor e mais depressa ao suporte, alterando assim o traço desta.

O uso e abuso do cimento Portland nas argamassas, não beneficia a construção a nível do aparecimento de humidades nem a nível térmico, mas a necessidade de construir em grande escala e com prazos de tempo cada vez mais apertados, conduziu a que os rebocos de argamassas com cal, que já chegaram a ser muito usados, caíssem em desuso no final do século passado, prejudicando por vezes a qualidade das construções.

Tomou-se conhecimento de dois apartamentos que comprovam as diferenças entre argamassas. Ambos os apartamentos ficavam a aproximadamente 150 metros do mar e eram apenas usados como casa de férias. Um deles tinha sido rebocado com uma argamassa de cal e cimento (foi impossível obter quaisquer informações sobre o traço) e o outro com uma argamassa em que o ligante era exclusivamente cimento Portland. As diferenças eram muito significativas. Nas paredes rebocadas com argamassa de cal e cimento não se encontrou bolores e foi garantido que estes não apareciam, no apartamento em que o reboco das paredes continha apenas cimento como ligante era bastante visível as machas de bolor nas superfícies, principalmente junto às pontes térmicas. Outra diferença notória depois de se rebocar uma parede com estas duas argamassas é a diferença de resistência mecânica que apresenta. Basta pregar um pequeno prego na parede para se verificar que a parede rebocada com uma argamassa de cal e cimento tem muito menos resistência que a parede de reboco de cimento.

Para colmatar as desvantagens trazidas pelos rebocos que só usam cimento como ligante, muitos espaços depois de rebocados são estucados. O estuque não é mais que uma massa de acabamento para interiores, composta por gesso, cal hidratada, pó de pedra e aditivos específicos para melhorar a trabalhabilidade e a aderência sobre os rebocos e, geralmente, é vendido em sacos e aplicado por uma máquina que o projecta.

A sensação é que esta classe da construção civil está cada vez mais preocupada com a qualidade dos edifícios que constrói, pois reconhecem os erros cometidos pela construção desenfreada dos anos 80 e 90 do século passado. Verifica-se que há mais preocupação na escolha dos materiais e técnicas a aplicar, não só a nível de argamassas, mas de tudo o resto. As preocupações com o conforto térmico são contantes, aliás, na zona Oeste, nos poucos edifícios que se estão a construir e até nalgumas obras de reabilitação, está a tornar-se usual utilizar EPS (poliestireno) para revestir o exterior do edifício. O excedente de espaços para habitação, comércio e serviços está a tornar a população da zona Oeste mais exigente e isso faz com que os profissionais da construção civil se apliquem para, cada vez mais, oferecerem ao mercado, que neste momento tem uma enorme possibilidade de escolha, espaços com mais qualidade, conforto e sustentáveis a nível ambiental e económico.

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