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1.4 A HORA EVARISTA …

1.4.6 A ordem dos poemas e os títulos excluídos pelo autor …

A numeração definitiva das folhas, a caneta, faz com que a ordem dos poemas

corresponda à da edição impressa. Como já dito, em alguns casos, a numeração primitiva, à

máquina, é percebida sob a rasura, a caneta. No que foi possível identificar, cotejando-se os

testemunhos A. e B., pôde-se conjecturar uma lista alternativa. Exposta comparativamente, a

lista com as numerações definitiva, a caneta (A.), e primitiva, refutada pelas rasuras (A1),

seria assim:

f. A1 A.

1 “uns vivem crono-metrados” “uns vivem crono-metrados”

2 dia dos mortos A hora evarista

4 mário ferreira... (v. 29-48) Noiturno (v. 1-29)

5 noiturno (v. 1-29) Noiturno (v. 30-36)

6 noiturno (v. 30-36) Mário Ferreira desceu um horizonte

quebrado (v. 1-28)

7 às moças de microssaia Mário Ferreira desceu um horizonte

quebrado (v. 29-48)

8 marartilheiroestrábico Suicídio frustrado

9 suicídio frustrado Sacro-ilégio

10 fogo (v. 1-29) Tempo-ira-tura

11 fogo (v. 30-31) Integração

12 ah,s janelas Caminhos

13 “depois de transpor o tempo” Os limites

14 tribinália “depois de transpor o tempo”

15 sacro-ilégio Ó brev-idade

16 tempo-ira-tura Morimundo

17 amanhece no leme Dos jogos secretos

18 Fuma uma vibrátil manso

19 As noites

20 Tribinália

21 as árvores Dimensas

22 André

23 Qorpo-santo

24 donda-re-donda Coração

25 Uni-verso da água

26 estrito Sól-astrão

27 os limites Intempérie

28 imagem da rosa No fundo do que é re-moto sempre há

um riso de ironia

29 agendário Da cor ao som da palavra (v. 1-30)

30 ó brev-idade Da cor ao som da palavra (v. 31-53)

31 ga-go Poema da rosa

32 caminhos Gago

33 da cor ao som da palavra (v. 1-30) Agendário

34 da cor ao som da palavra (v. 31-53) Estrito

35 |?ó brev-idade|?morimundo| As árvores

36 abril Fogo (v. 1-29)

37 planário Fogo (v. 30-31)

38 no fundo do que é re-moto sempre há

um riso de ironia A imagem da rosa

39 |?ó brev-idade|?morimundo| Donda-re-donda

40 poema da rosa Vingança tardia

41 as noites Planário

42 vingança tardia Abril

43 fuma um vibrátil manso Oração do mortal

44 Amanhece no leme

45 Ah,s janelas

46 uni-verso da água Às moças de microssaia

47 sól-astrão Marartilheiro estrábico

48 coração Itinerário pesado (v. 1-30)

49 Elegia (v. 1-30) Itinerário pesado (v. 31-43)

50 Elegia (v. 31-42) “Quatro elegias” (f. capitular)

51 qorpo-santo Elegia (v. 1-39)

52 dos jogos secretos Elegia (v. 40-41)

53 II

54 III

55 IV

Tabela 5: Numeração primitiva (A1) e definitiva (A.) do original de “A hora evarista”

Algumas observações pertinentes sobre essas duas instâncias A1 e A. devem ser feitas.

Como já se disse, a numeração definitiva que configurou a sequência de poemas de A.,

sequência esta que foi acolhida na edição impressa, foi produzida após uma campanha de

revisão em que o autor rasura a numeração original, datiloscrita, atribuindo, com caneta azul,

uma nova ordem para as folhas, logo, para os poemas que compõem a série, além de

modificar as iniciais dos títulos que, em sua primeira escritura A1 encontravam-se com inicial

minúscula. Um único título foi inteiramente rasurado e sua forma modificada, na relação

<ga-go>[↓Gago] (escrita primitiva riscada, com emenda na entrelinha inferior), sendo realocado

da folha 31 em A1 para a 32 em A.

Das 55 folhas de A., 42 têm numeração primitiva datiloscrita, sendo que uma única, a

primeira, em que surge a epígrafe “uns vivem crono-metrados”, não está rasurada. Pela

decifração, foi possível identificar 40 dos 42 números rasurados; a exceção ocorreu nas folhas

15 e 16, onde estão respectivamente os poemas “Ó brev-idade” e “Morimundo”, em que, da

numeração primitiva, compreende-se apenas a dezena, indicando sua localização anterior

entre 30 e 39. Os únicos números não decifrados desse intervalo são 35 e 39.

Além disso, como já referido acima, a questão do lugar crítico entre os testemunhos A.

folhas 51 e 52 têm a numeração primitiva 49 e 50 anulada pelo autor, fato que não ocorre em

A., em que essas mesmas folhas surgem diretamente com a numeração a caneta.

Na montagem definitiva A. não existe a numeração primitiva A1 em 11 das 55 folhas,

que são aquelas em que surgem os poemas “A hora evarista” (f. 2), “Integração” (f. 11),

“Dimensas” (f. 21), “André” (f. 22), “Intempérie” (f. 27), “Itinerário pesado” (f. 48-49), a

folha capitular “Quatro elegias” (f. 50) e as próprias elegias “II” (f. 53), “III” (f. 54) e “IV” (f.

55).

Enquanto A. possui 55 folhas numeradas, o número mais elevado em A1 é o 52, em

que surge o poema “dos jogos secretos”, o qual é transferido para a folha 17 na renumeração.

Até a folha 52, essa sequência A1 apresenta quatro lacunas na numeração, equivalentes a 8

folhas: 18-20; 22-23; 25; 44-45. Caso não sejam consideradas as elegias “II”, “III” e “IV” (f.

53-55 de A.) e a folha capitular (f. 50 de A.), a quantidade de folhas que não apresenta

numeração primitiva nas 55 folhas de A. e a quantidade de lacunas na sequência das 52 de A1

é a mesma: oito folhas.

Desse modo, valendo-se tanto da decifração das rasuras do autor quanto do cotejo

entre dois datiloscritos quase idênticos A. e B., depreende-se que, das 55 folhas do datiloscrito

A.,em 44 há numeração primitiva, sendo que em apenas uma, a primeira, tal numeração foi

conservada; 11 folhas possuem somente a numeração definitiva, a caneta; sendo que dez

dessas folhas contém poemas e uma corresponde à folha capitular das “Quatro elegias”. Com

isso, é válido esboçar algumas conclusões.

É possível que apenas a primeira “Elegia” fosse cogitada pelo autor; as subsequentes

“II”, “III” e “IV” talvez não estivessem previstas, e sua reunião como uma sub-série dentro de

“A hora evarista” tenha-se dado em algum ponto entre a organização primeira, A1, e sua

reordenação, A. Sem considerar as “Elegias” e a folha capitular, o número de lacunas em A1 e

o de folhas não pré-numeradas de A. é idêntico; entretanto, como não é possível, a uma

observação preliminar, determinar qual a localização dos poemas inseridos na ordem

definitiva A. na sequência primitiva A1, é preferível manterem-se essas lacunas, uma vez que

essa conjectura, embora relevante para compreender a parte final do processo em que o poeta

configurou a sequência, seria feita com base unicamente em critérios meus. Logo, cumpre

encontrar no Acervo subsídios documentais para realizar qualquer esboço interpretativo.

Finalmente, a conclusão mais óbvia: o próprio original, testemunho escolhido para constituir

o texto-base da edição crítica, traz os indícios de que até muito pouco antes de sua forma

final, a configuração de “A hora evarista” era diversa daquela tornada pública na edição de

1974.