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Capítulo 2: O I Debate Nacional de 1985: tentativa de consenso e concretização do MCT

2.1 A organização do Debate Regional e Nacional

Fundamental neste esforço de mobilização das nossas energias criativas é a participação da comunidade científica, do empresariado e dos profissionais e técnicos da área na definição de prioridades, na formulação de programas setoriais, na avaliação e no acompanhamento da política científica e tecnológica como um todo. Considero essa participação de todos que, de um modo ou de outro, estão envolvidos no setor como essencial para garantir a natureza democrática que o Ministério há de ter. Por isso, pretendo logo convocar um amplo debate com a comunidade científica e tecnológica em todo o país. Tal discussão subsidiará a elaboração do novo plano de ciência e tecnologia.143

O trecho destacado diz respeito ao primeiro discurso realizado por Renato Archer no momento de sua posse como Ministro de Ciência e Tecnologia, em que o teor já demonstra a

143 ARCHER, Renato. Recuperar o tempo perdido. In: VIDEIRA, Antonio Augusto Passos. 25 anos de MCT: raízes históricas da criação de um ministério. Rio de Janeiro: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2010, p. 40.

intenção de envolver diferentes agentes na formulação e condução das políticas a serem planejadas pelo novo órgão em um período de curto e longo prazo. Fazendo parte do contexto de formalização e estabelecimento do novo ministério, o MCT organizou, em 1985, o primeiro debate regional e nacional sobre os rumos que C&T deveriam enveredar no Brasil. Diante disso, o Ministério criou uma Comissão Coordenadora com o objetivo de organizar a dinâmica dos encontros regionais144 e do debate nacional em Brasília, a partir do tema “Ciência e Tecnologia numa sociedade democrática”145.

Esta comissão, composta por representantes dos órgãos do MCT, Ministério da Educação, SBPC, CNPq, FINEP, Academia Brasileira de Ciência (ABC), Comissão de Representantes das Sociedades Científicas146 e observadores da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara e do Senado147 deveria ter como funções: a definição dos objetivos a serem alcançados com o encontro; a seleção dos redatores, bem como os apresentadores e debatedores, o cronograma e a seleção das despesas do evento; e por fim, as escolhas dos itens que seriam debatidos, incluindo temas de abrangência nacional junto a tópicos específicos de determinadas regiões. Dentre as sugestões de temas indicados pela diretoria do MCT à Comissão Coordenadora, estavam presentes propostas mais gerais que diziam respeito à possibilidade de ação do Ministério no processo de integração entre ciência e tecnologia e sistema produtivo, pesquisa básica e descentralização das ações:

1- A reestruturação do Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – SNDCT e a participação da comunidade científica no processo decisório no SNDCT;

2- Critérios e mecanismos para definição de prioridades em Ciência e Tecnologia;

3- Relações entre as atividades de pesquisa científica e tecnológica e o setor produtivo;

4- A contribuição da Ciência e Tecnologia para o desenvolvimento econômico e para o bem estar social;

5- A necessidade de descentralizar a competência nacional em Ciência e Tecnologia: mecanismos apropriados;

144 Os encontros regionais ocorreram em cada região do país: Região Norte- Belém; Região Nordeste – Recife, Fortaleza e Salvador; Região Centro-Oeste – Goiânia e Campo Grande; Região sudeste – Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte; Região sul – Curitiba e Porto Alegre. MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Sugestões para a realização de um grande debate nacional em torno do tema “ciência e tecnologia em uma sociedade democrática”. Brasília, 1985, p.2.

145 Brasil. Portaria nº 52 de 16 de julho de 1985.

146 A Comissão Coordenadora foi constituída pelos seguintes representantes: Alberto Carvalho da Silva (Representante das Sociedades Científicas e presidente da Comissão); Fábio Celso de Machado Soares Guimarães (Representante da FINEP); Juarez Rubens Brandão Lopes (Representante do CNPq); José Israel Vargas (Representante da ABC); Edson Machado de Souza (Representante do Ministério da Educação- MEC); Carolina Bori (Representante da SBPC); José Eduardo Cassiolato e José Duarte de Araújo (Represente do MCT). MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Portaria nº 70, de 13 de agosto de 1985.

147 MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Sugestões para a realização de um grande debate

6- Formação de recursos humanos para Ciência e Tecnologia: oportunidades no Brasil e no exterior;

7- O custeio da infraestrutura para a pesquisa;

8- O apoio à ciência básica e o apoio a programas dirigidos;

9- Diretrizes para o Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.148

O encontro possuía diferentes objetivos. Dentre eles, a tentativa de estabelecer uma aproximação entre distintos atores como a comunidade científica, empresários nacionais e membros do legislativo. Visava também dar maior destaque as funções da C&T na sociedade, aprofundar os debates, identificar os problemas estruturais, selecionar prioridades e adaptá-las às realidades regionais.149 Por fim, houve o intento por parte do MCT de incluir as demandas da comunidade científica no Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – SNDCT, tendo em vista o reajustamento do Sistema a partir das novas necessidades decorrente do processo de desenvolvimento nacional. Desta forma, a ideia geral era, a partir desse debate, chegar a um consenso em torno dos 6 temas escolhidos e “retirar conclusões e recomendações”150 tanto para a consolidação do MCT, para a elaboração do I Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PBDCT), quanto para a ANC.

Espera-se, sobretudo que as recomendações e sugestões oriundas dos debates, consolidadas em seu documento final, constituam um importante subsídio para a definição da política de Ciência e Tecnologia da Nova República e para a elaboração do próximo Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PBDCT151

A dinâmica dos debates ocorreu da seguinte maneira: a comissão escolheu seis relatores para redigir um documento básico, intitulado “Termos de Referência” em torno de nove temáticas escolhidas, a partir do que tinha sido proposto pelo MCT. O documento tinha a função de balizar as discussões e foi entregue com antecedência aos participantes das reuniões regionais. A partir disso, foram escolhidos para cada tema, quatro debatedores para mediar os debates e um relator que tinha a incumbência de sintetizar as discussões e redigir um documento contendo as conclusões e recomendações que seriam enviadas para a Comissão de Coordenação a fim de serem utilizadas na reunião nacional em Brasília, quinze dias depois dos encontros regionais. Nesta segunda etapa do evento, outros relatores

148 Ibidem, p, 2-3.

149 Ibidem, p.3. 150 Ibidem, p. 4. 151 Ibidem, p. 4.

formularam um documento síntese com as principais conclusões e sugestões para uma política nacional em C&T.152

No documento produzido pelo MCT relativo às funções da Comissão de Coordenação, foi destacada a relevância da atuação das secretarias regionais da SBPC na facilitação para que o debate ocorresse de maneira descentralizada em diversas capitais do país. Os encontros regionais ocorreram simultaneamente em 11 cidades entre os dias 25 e 26 de novembro de 1985, sendo finalizada com I Debate Nacional de Ciência e Tecnologia: Ciência e Tecnologia e o futuro da sociedade brasileira realizada nos dias 11 e 12 de dezembro em Brasília.

A etapa final do encontro congregou aproximadamente 1300 pessoas entre cientistas, empresários, políticos, trabalhadores e estudantes153 e discutiu as seguintes temáticas: Ciência e Tecnologia e o futuro da sociedade brasileira; Ciência e Tecnologia, necessidades sociais e o desenvolvimento econômico; Ciência e Tecnologia e o desenvolvimento regional; Requisitos humanos e materiais para o desenvolvimento científico; Pesquisa, tecnologia, setor público e empresa nacional; Organização institucional da Ciência e Tecnologia no Brasil e a participação da sociedade.154