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07 Porcentagem de analfabetismo nos paizes protestantes e cat —licos

2.2 A organiza •‹o do ensino pœblico ± fundamentos legais

A vit—ria dos princ’pios federalistas que consagrou a autonomia dos poderes estaduais fez com que o Governo Federal, reservando-se uma parte da tarefa de proporcionar educa•‹o ˆ na•‹o, n‹o interferisse de modo algum nos direitos de

autonomia reservados aos Estados, na constru•‹o de seu sistema de ensino, sem

fixar as diretrizes de uma pol’tica de educa•‹o nacional. Assim, o estado de Pernambuco em 1891 divulga o seu programa de ensino, definindo a divis‹o do ensino em todos os n’veis:

O Ensino do Estado de Pernambuco Ž:

Primario, secundario, especial, technico ou normal. O ensino primario Ž dado nas escolas urbanas e ruraes. O ensino secundario Ž dado no gymnasio Pernambucano.

O ensino normal, especial ou technico, Ž dado na Escola Normal, nas de artes, officios, industrias e profiss›es. Cada um dos referidos estabelecimentos de instruc•‹o, com execp•‹o das escolas urbanas e ruraes, ter‡ regimento especial (APEJE, RIP, 1892, p.16).

Outra iniciativa independente efetivada pelo governo do Estado de Pernambuco foi a Reforma do Ensino Secund‡rio. Foi determinada pela lei n. 18 de 15 de Novembro de 1891 e decretada em 22 de Dezembro do corrente ano.

(VVDUHIRUPDQmRVyIXQGLXD(VFROD1RUPDOHR³*LQiVLR3HUQDPEXFDQRQXPVy

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Nos œltimos anos a promo•‹o dos Congressos de Pesquisadores Negros e as edi•›es do Concurso Negro e Educa•‹o justificam a expans‹o de pesquisas envolvendo a tem‡tica dos negros e seus descendentes e educa•‹o.

estabelecimento de instru•‹o, sob a denomina•‹o de Instituto Benjamin Constant, como tambŽm criou mais dois cursos: um para praticantes de obras Publicas e outro comercial, que deveriam funcionar no referido Instituto.

Segundo o Inspetor geral da instru•‹o pœblica, Felippe de Fiqueir™a Faria Sobrinho (1892), a fus‹o GDVGXDVFDVDVGHLQVWUXomR³de modo algum altera o fim

a que ellas se propunham e antes, com as modifica•›es porque v‹o passar, melhor ferem o escopo que visam, n‹o s— sob o ponto de vista moral, mais ainda SHGDJyJLFR´ (p. 105).

O inspetor em seu relat—rio referente ao ano de 1892, dirige algumas palavras ao governador do Estado, Dr. Alexandre JosŽ Barbosa Lima, informando que ap—s ele ter dado publicidade a reforma, e antes mesmo, alguns ilustres

escritores, levados pela m‡ vontade que nutriam contra o governo, lan•aram algumas criticas sobre a reforma (RIP, 1892, p. 105).

Alguns criticaram o fato de n‹o ter sido aproveitado a ocasi‹o da reforma para tra•ar uma linha divis—ria entre o ensino adapt‡vel a educa•‹o da mulher e o

ensino que parecia mais consent‰neos com o homem. O inspetor porŽm n‹o era

GH DFRUGR FRP HVWD SRVLomR DILUPDQGR VREUH R DVVXQWR TXH ³n‹o h‡ distinguir VH[RV SRUTXH D FDGD XP G¶HOOHV HQWHQGR LPSOLFD D PHVPD LOOXVWUDomR ID]-se mister a mesma somma de conhecimentos´ 5,3S106).

O inspetor, refor•ando sua posi•‹o, arrimado na autora do <Livro das

1RLYDV! SRU HOH GHVWDFDGR FRPR VHQGR XP ³bello tratado sobre educa•‹o´ SRU

meio das palavras da citada autora, que demonstram a necessidade de amplos conhecimentos para que uma professora possa se posicionar a respeito das inœmeras dœvidas apresentadas pelos seus alunos em sala de aula:

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(...) A nossa educa•‹o superficial, essencialmente decorativa n‹o nos permitte certamente responder a todas as perguntas curiosas dos pequeninos a quem temos o dever indeclin‡vel de guiar. Ahi a nossa desgra•a! Se elles nos perguntarem pelos phenomenos da natureza os primeiros a altrahirem a sua atten•‹o que resposta lhe damos? El es querem saber o que Ž o calor, o vento, a chuva, o frio, se a lua est‡ pregada no cŽo, de que Ž feita a sua luz, como e porque lampejam as estrellas, porque se une no horisonte a terra ‡s nuvens; e o que Ž a terra, a pedra, o sol, o som, a vagamos envergonhadas, humilhadas, com um desgosto profundo de n—s mesmas. Ent‹o Ž que nos vem a mente o desprezo pela instruc•‹o ornamental, apparatosa com que conquistamos nas salas o prestigio e o renome! (RIP, 1892, p. 107).

'LDQWH GR TXH UHODWRX D DXWRUD ³uma senhora quem fala ± Ž uma alma IHPLQLQD´, como definiu Felippe Sobrinho, o inspetor, justificou-se assim a idŽia de defesa da educa•‹o igualit‡ria para mulheres e homens:

(...) que manifesta-se capaz dos mesmos commettimentos scientificos que o homem, e que se diz desgra•ada por lhe erguer este barreiras na trilha das letras, s— porque dispondo de mais musculatura, supp›e-se melhor provido de for•as intellectivas (RIP, 1892, p. 109).

Para que a mulher, professora143, superasse os desafios do ensino, seria necess‡rio: s— a instruc•‹o; mas n‹o a instruc•‹o que infundamente supp›e-se

adapt‡vel a uma mulher, limitadamente decorativa, ornamental´ S (PVXDV

palavras o inspetor n‹o via mal algum nas disposi•›es da reforma do ensino

secund‡rio, sobre o mesmo ensino a ser dado a ambos os sexos: Assim, entendo,

que procedestes acertadamente n‹o fazendo sele•‹o de estudos para cada um GRVVH[RVTXHWrPGHIUHTHQWDURFXUVRQRUPDOGR,QVWLWXWR%HQMDPQLQ&RQVWDQW (p. 110). 143 6REUHD³IHPLQL]DomRGRPDJLVWpULR´FRQVXOWDU$UD~MR$PDGRH/RSHV pdfMachine

A Repœblica influencia a mudan•a da denomina•‹o do Gin‡sio Pernambucano para Instituto Benjamin Constant, que foi um dos grandes defensores do novo sistema de governo:

E exclusivamente pelo accidental facto do pranteado e valoroso general Benjamin Constant, n‹o ter tido por ber•o esta terra que amamos de cora•‹o, Ž isso sufficiente a determinar uma censura a applica•‹o do seu glorioso nome a um estabelecimento de instruc•‹o, a um desses estabelecimentos a que elle dedicou a melhor parte de sua preciosa exist•ncia e para cujo progresso e renome t‹o sincera e incansavelmente se empenhara? (RIP, 1892, p. 115).

Como ato de ingratid‹o, viu o inspetor por parte daqueles que impugnava a

DWLWXGH GR JRYHUQDGRU 'HIHQGR TXH HOH ³quis tributar um preito o mais sincero e digno a mem—ria do grande cidad‹o´ Em face disso entendo que Ž para exulta•›es e applausos a denomina•‹o que destes ao Instituto de Benjamin Constant (RIP, 1892, p. 115).

O conhecimento da inœmeras manifesta•›es ocorridas em todo o pa’s e, no

exterior, ao General Benjamin Constant, fez com que o inspetor defendesse ainda mais a mudan•a da denomina•‹o do gin‡sio:

(...) Os mineiros n‹o perderam um ceitil do seu valor hist—rico dando a uma bella cidade o nome de Benjamin Constant e nem outro tanto succedeo ao glorioso estado do Cear‡ do mesmo modo revelando o respeito e o reconhecimento que voWD D PHPyULD G¶DTXHOOH regenerador da p‡tria brazileira. O Amazonas e o Par‡ tambŽm ahi est‹o prestando t‹o significativos e edificantes exemplos de gratid‹o dando a denomina•‹o de Benjamin Constant ˆ institui•›es da natureza da que ora me occupo. (...) em toda a parte do globo terrestre os grandes homens, os cidad‹os consp’cuos tem monumentos erigidos a sua mem—ria, sem essas cogita•›es fœteis e sem import‰ncia do seu ber•o. Em toda parte do mundo os seus nomems s‹o cobertos de b•n•‹os e glorificados sem distinc•›es de ra•as, de classes e de cores pol’ticas. Porque havemos n—s fazer taes selec•›es;porque, pois, taes censuras ‡ reforma de 22 de Dezembro ainda pelo justificado facto da substitui•‹o do nome de Gymnasio Pernambucano pelo de Instituto Benjamin Constant?! (RIP, 1892, 116).

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Vigorou atŽ o ano de 1899 a denomina•‹o de Instituto Benjamin Constant,

quando neste ano volta a denomina•‹o de Gin‡sio Pernambucano (PARAHYM,

1975, p. 13).

A consagra•‹o da dualidade de sistemas educacionais Ž interpretada por Ota’za Romanelli (2002): (...) Era uma oficializa•‹o da dist‰ncia que se mostrava

na pr‡tica, entre a educa•‹o da classe dominante (escolas secund‡rias acad•micas e escolas superiores) e a educa•‹o do povo (escola prim‡ria e escola profissional). Um dos exemplos que demonstramos foi a situa•‹o das escolas municipaIs:

Como sabeis, desde principios do anno passado e fins do atrazado, por effeito do art. 2o † ÒQLFR GDV 'LVSRVLo}HV WUDQVLWRULDV GD

Constitui•‹o do Estado e 11 da lei 52, as diversas circunscrip•›es municipaes foram entrando na posse de sua vida autonoma, ficando-lhes subordinadas as respectivas escolas primarias.

[...] Sem iniciativa propria, acostumados, viciados mesmo, ao parasitismo e a obdiencia passiva que lhes impunha a centralisa•‹o o Estado e o Municipio, libertos das cadeias que os jungiam ‡ um poder uno e discricionario, soffrem ora as consequencias fataes dessa brusca mudan•a, eguaes a que experimenta ao contacto da OX] TXHP SRU ORQJR WHPSR HVWHYH DR DEULJR G¶HOOD 5,3144,

15/02/1894, p.302).

O cen‡rio da m‡ organiza•‹o social do Brasil nos primeiros anos da Repœblica levou a popula•‹o ao sentimento de estagna•‹o e abandono pelos poderes pœblicos. O Inspetor Geral da Instru•‹o Pœblica em relat—rio encaminhado ao Exm. Sr. Governador do Estado, em 1891, expressou seu sentimento acerca da

responsabilidade pœblica com a educa•‹o com as seguintes palavras:

(...)Para inaugurarmos um regimen francamente democratico, sem despertar velleidades de repara•‹o, temos necessidades de

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Apresentado pelo Inspector Geral, Felippe de Figuer™a Faria Sobrinho, ao Exm. Sr. Governador do Estado Dr. Alexandre JosŽ Barbosa Lima.

organizar a escola. (...) Temos continuidade de solo, unidade de l’ngua, mas falta-nos communidade de tradic•›es ± Ž preciso nacionalisar a educa•‹o. (...) Entendo por educa•‹o nacional a que sai do pr—prio seio da educa•‹o. Assim a pedagogia vem a ser uma quest‹o de sociologia pratica. A quest‹o da nacionalisa•‹o do ensino se prende intimamente a da organiza•‹o do magistŽrio. (...)Invocar as escolas nas m‹os da administra•‹o central e n‹o os conselhos municipaes. Em segundo lugar, sem hierarchia, sem perspectiva de avan•o, n‹o h‡ corpo docente, n‹o h‡ zelo. Em terceiro lugar, a instruc•‹o publica Ž um dos principaes elementos de articula•‹o e organiza•‹o dos Estados. (...) O ensino publico Ž quest‹o de interesse geral e n‹o local. ƒ uma das mais altas func•›es da vida nacional (PCR, ARTHUR ORLANDO DA SILVA, Relat—rio de 1891, p.106).

Constatava-se uma vasta produ•‹o de legisla•‹o educacional em todo o pa’s145. Mas na pr‡tica as pol’ticas pouco influenciaram na elimina•‹o dos altos

’ndices de analfabetismo. Verifica-se que o problema n‹o pode ser solucionado, j‡

que em nœmeros absolutos houve um crescente aumento entre os anos de 1890,

1900 e 1920 como se v• na tabela com os ’ndices de analfabetismo da popula•‹o

brasileira para pessoas de todas as idades.

TABELA 2 ±ËQGLFHGHDQDOIDEHWLVPRGDSRSXODomREUDVLOHLUDGHD

Especifica•‹o 1890 1900 1920

Total 14.333.915 17.388.434 30.635.605 Sabem ler e escrever 2.120.559 4.448.681 7.493.357

N‹o sabem ler e escrever 12.213.356 12.939.753 23.142.248

% de analfabetos 85 75 75

Fonte: Instituto Nacional de Estat’stica, Anu‡rio Estat’stico do Brasil, 1936 apud RIBEIRO, 1998.

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Reforma Benjamin Constant (1890), C—digo Epit‡cio Pessoa (1901), Reforma Rivad‡via (1911) e Reforma Carlos Maximiliano (1915). A sŽrie de reformas pelas quais passa a organiza•‹o escolar revela uma oscila•‹o entre a influencia humanista cl‡ssica e a realista ou cient’fica. . Para um estudo da organiza•‹o do ensino no Brasil, ver Ribeiro (1998), Faria Filho & Vidal (2000), Menezes et al (1999), entre outros.

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No per’odo republicano o problema do analfabetismo IRLFRQVLGHUDGR³D

YHUJRQKDQDFLRQDO´FRPRDILUPDP*DOYmRH6RDUHV  

O censo de 1890 mostrava que mais de 80% da popula•‹o brasileira como analfabeta o que gerou, entre os intelectuais EUDVLOHLURV XP VHQWLPHQWR GH ³YHUJRQKD´ GLDQWH GRV SDtVHV adiantados. Isso significava que de cada 10 brasileiros s— dois conseguiam ler uma carta, um documento, um jornal ou um livro. Os demais dependiam de alguŽm para decifrar o que estava escrito em qualquer texto ao redor (p. 37).

A presen•a do analfabetismo persistiu no decorrer das primeiras dŽcada da

5HS~EOLFD VHQGR IUHTHQWHPHQWH DOYR GH FULticas por representantes da intelectualidade Pernambucana.

O Brasil conta presentemente com 15% de meio letrados; 5% de EDFKDUpLV H X¶D PXOWLGmR GH DQDOSKDEHWRV FRPSXWDGRV HP  da popula•‹o. (...) fica, essa multid‹o de letrados por ahi fora, fazendo avenida, parasitando. Apenas um remŽdio. Removermos o analphabetismo inconsciente e o bacharelismo parasit‡rio147

(REVISTA MENSAL DE LITTERATURA E ARTES DA ESCOLA NORMAL OFFICIAL, agos., 1921, p. 6-7).

A Constitui•‹o nega-lhes, aos analphabetos, peremptoriamente, o GLUHLWRGHYRWR,VWRpDSXMDQoDG¶XPSDL]HVWiQDUD]mRGLUHWDGR gr‹o de instruc•‹o dos seus habitantes. (...) O caracter nativo do brasileiro fundindo-se com caracteres estranhos (ra•as n‹o civilisadas) n‹o conseguem impor o seu caracter ‡s ra•as mais civilisados, superiores. (...) Esses que jazem hoje na ignor‰ncia, aprender‹o a amar a p‡tria, a ser brazileiros como n—s; arranquemos das trevas do ignorantissimo, do obscurantismo os 80% de analphabetos (REVISTA MENSAL DE LITTERATURA E ARTES DA ESCOLA NORMAL OFFICIAL, out., 1921, p. 8). Quando as luzes, que se irradiam das lettras do alphabeto... ent‹o poder-se-‡ dizer que a semente do progresso foi lan•ada no seio dessas classes obscurecidas pela ignor‰ncia (REVISTA MENSAL DE LITTERATURA E ARTES DA ESCOLA NORMAL OFFICIAL, nov.., 1921, p.3).

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Sobre o tema consultar Beisiegel (2003), Freire (1989), Haddad & Di Pierro (2000), entre outros.

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O texto n‹o foi assinado. Encontra-se publicado na Revista Mensal de Litteratura e Artes da Escola Normal Official. Anno I. Recife. Agosto de 1921, Num. 3.

S‹o muitas as posi•›es criticas as condi•›es de instru•‹o da camada popular148 do pa’s. Mas qual era a estrutura das escolas nos primeiros anos da Repœblica?

Durante o anno de 1891 matricularam-se nas escolas publicas e particulares do Estado 28.792 alumnos, o que mostra a necessidade de um numero de estabelecimentos primarios que satisfa•a as justas exigencias da popula•‹o, nos pa’zes organisados segundo o systema verdadeiramente republicano, devem ser generosos e mesmo prodimos em materia de instruc•‹o, base de todo o engrandecimento nacional (RIP149

, 1892, p. 4).

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