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4 PROCEDIMENTOS METOLÓGICOS

5.2 Funcionalidade e Visão: entendendo a ouvidoria de Lavras

5.2.3 A ouvidoria em ação: funcionalidade e visão frente à

Dentro da democracia alternativa, que tem na participação popular um mecanismo de emancipação social, busca-se, por meio da Ouvidoria, reafirmar a participação formal, que mesmo despida de conteúdo decisório pode levar a essa emancipação, principalmente considerando-se o conhecimento que o cidadão adquire quando faz uso consciente de seu direito de participar na gestão da coisa pública. Participar é exigir que o Estado cumpra sua função do bem estar social, é a razão da complementaridade entre democracia representativa e participativa. É buscar na demodiversidade formas de democracia e adaptá-las à comunidade política com primazia do público sobre o privado, fazendo nascer uma cultura cívica de participação em detrimento da cultura da apatia política e da falta de associalismo da sociedade brasileira.

Nessa busca incessante de aproximação entre democracia representativa e participativa para a efetivação dos direitos fundamentais e sociais faz-se dos experimentalismos democráticos um mecanismo de emancipação social, dentre os quais se destaca a Ouvidoria como instrumento precípuo de controle social e por sua vez, de participação popular frente à gestão pública.

É certo que participação popular e controle social não se confundem, apesar de estreitamente ligados dentro de um Estado Democrático de Direito. Assim, pelo controle fiscaliza-se a gestão durante todo o ciclo da política pública por meio da participação efetiva da população na gestão da coisa pública, mesmo que essa participação seja despida de conteúdo decisório, como é o caso das Ouvidorias públicas.

Portanto, a Ouvidoria, mesmo como instância administrativa e sem poder decisório, constitui-se em instrumento a representar o cidadão perante o Estado, propiciando o exercício do controle social sobre as atividades realizadas

por aquele aparato político e ente responsável pelo bem comum, dando oportunidades iguais a todos os seus cocidadãos.

Feitas essas considerações trabalha-se neste tópico a Ouvidoria como instrumento de controle social e de participação popular, tomando por base a pesquisa empírica realizada na Ouvidoria municipal de Lavras/MG, nos meses de março e abril de 2013.

A Ouvidoria municipal de Lavras/MG, apesar de preconizar uma atuação voltada para o cidadão, na prática ainda não se constitui em efetivo instrumento de controle social, falta-lhe requisitos básicos, especialmente uma lei própria que trace seus objetivos e diretrizes. Em verdade, tornou-se o caminho mais fácil - a porta de entrada - para o cidadão buscar seus objetivos e, para a administração, um instrumento avaliatório, um termômetro para detectar falhas nas prestações públicas. Como porta de entrada do cidadão na administração, sua missão – instrumento de cidadania (transformação do cotidiano das demandas individuais em coletivas) esmorece, transformando-se em tese em mais um órgão burocrático na estrutura do poder.

O agir e a existência da Ouvidoria municipal estão condicionados à vontade do gestor e, portanto, seu foco de atuação segue as diretrizes do atual governo que vê a Ouvidoria como um instrumento avaliatório eminentemente de controle interno, um mecanismo auxiliar da gestão pública, apesar de pretendê-la como instrumento de controle social. E na linha de controle interno/instrumento avaliatório caminha a visão dos secretários municipais.

Uma Ouvidoria não é uma instância decisória, mas uma instância, última instância para a solução administrativa de conflitos e torná-la uma porta de entrada do cidadão na administração é o mesmo que transformá-la em uma central de protocolo. E é assim que a ouvidoria de Lavras vem atuando.

Atuando como porta de entrada no Executivo municipal, a Ouvidoria de Lavras/MG não atinge o objetivo principal de uma Ouvidoria, de ser o

representante do cidadão perante a administração, trabalhando em prol da realização de direitos fundamentais e sociais.

De fato, os números de atendimentos da Ouvidoria municipal de Lavras/MG, desde sua criação em 2009, levam a supor que a participação popular e por consequência o controle social, ainda são ínfimos, mormente se comparados à população da cidade de Lavras.

Nessa ordem de ideias, a título exemplificativo e tomando por base os dados do IBGE, em 2010 Lavras contava com 92.200 (noventa e dois mil e duzentos) pessoas residentes, vindo em linha ascendente já que a população residente em 2007 era de 87.421 (oitenta e sete mil, quatrocentos e vinte e um) habitantes, conforme censos demográficos de 2007 e de 2010.

De acordo com os gráficos de produtividade, apresentados no tópico funcionalidade entre os anos de 2009 e 2012, a Ouvidoria de Lavras registrou 3.263 atendimentos. Considerando a população censitária de 2010 (92.200) verifica-se que somente 3,5 % da população se valeram da Ouvidoria. Ainda, restringindo a análise para 2010, ano dos dados do censo relativos à população, verifica-se que somente 1,004 % da população utilizaram os serviços da Ouvidoria.

Esses dados podem ser visualizados nos gráficos abaixo.

P opulação Lavras/2010 Atendimentos - 1,004%

Gráfico 4 População 2010 X Atendimento, 2010

População - 2010

Atendimentos 2009/2012 3,5%

Gráfico 5 População 2010 X Atendimento 2009/2012.

Fonte: dados da pesquisa, 2013, dados do IBGE, 2010.

Pelo retratado nos gráficos acima algumas conclusões podem ser inferidas: a) a população lavrense desconhece a Ouvidoria como instância de interrelação entre Estado e sociedade, com função precípua de defender os cidadãos perante o Estado; b) os cidadãos estariam satisfeitos com os serviços públicos prestados ou se estavam insatisfeitos, devido à alienação política e à falta de uma cultura participativa, o indivíduo não exerce o papel proativo de cidadão e se cala diante da negativa de seus direitos.

Por outro lado, mesmo considerando a participação popular por meio da Ouvidoria frente à população local, pode-se dizer que apesar do índice reduzido a participação efetiva pode ter sido qualitativa, trazendo resultados para toda a coletividade. Nesse ponto destacam-se as ocorrências de lotes sujos de propriedade particular, cujo recurso foi o de modificar a legislação, tornando-a mais rígida e com um procedimento mais célere na aplicação das penalidades, visando reduzir os problemas trazidos pelo descuido com a saúde pública.

Considerando os números destacados da participação popular e alteração legislativa, a presença da Ouvidoria municipal de Lavras/MG na estrutura administrativa já demonstra, mesmo que de forma tímida, a importância e a

necessidade de valorização dessa instância democrática que faz do cidadão um agente coprodutor do bem público.

A Ouvidoria municipal de Lavras/MG, tanto pela funcionalidade quanto pela visão dos gestores, ainda não se firmou como instrumento efetivo de controle social e, por conseguinte, de participação social. Ainda há um árduo percurso para torná-la um instrumento de efetivação dos direitos individuais e sociais e um caminho para a emancipação social.

Assim, pretendendo-se que a ouvidoria municipal de Lavras/MG se torne um instrumento de cidadania e de aprimoramento da gestão pública, propõe-se, no próximo tópico, elementos constitutivos de uma tipologia para que esse instrumento desempenhe sua missão com excelência.

5.3 A ouvidoria como instrumento de controle social: dos elementos para