• Nenhum resultado encontrado

A participação dos setores público e privado no desenvolvimento da

CAPÍTULO 2 O PADRÃO TECNOLÓGICO E A PESQUISA AGRÍCOLA

2.2 SETORES PÚBLICO E PRIVADO E FONTES DE INOVAÇÃO NO

2.2.1 A participação dos setores público e privado no desenvolvimento da

vem passando foi identificada no item anterior. Uma vez que há uma ruptura no padrão agrícola

moderno e, conseqüentemente, uma alteração no processo inovativo que o envolve, considera-se que novas relações, ou novas divisões de tarefas, sejam estabelecidas entre os setores públicos e privados que se encontram envolvidos com a P&D agrícola.18 Este subitem discute a participação destes setores no desenvolvimento da pesquisa agrícola.

A pesquisa agrícola mundial tem como característica em seu processo evolutivo a participação de diversos atores institucionais. Percebe-se tanto a participação efetiva do setor público como mantenedor de instituições de pesquisa ou de universidades, como as atividades de pesquisa desenvolvidas internamente em indústrias de insumos e máquinas agrícolas. Desde o princípio da organização institucional da pesquisa, observa-se a presença de atores privados, quando os próprios agricultores introduziam inovações em suas propriedades (ALBUQUERQUE & SALLES FILHO, 1992).

O aumento nas taxas de investimento de pesquisa agrícola por parte do Estado ocorreu mais fortemente a partir dos anos 50. O sucesso da Revolução Verde demonstrou o potencial da pesquisa agrícola em todo o mundo. A estratégia desse modelo consistia basicamente na busca de homogeneidade e produtividade, dado que a especificidade de diferentes contextos locais era vista como barreira à modernização (GUEZÁN, 1997). A resposta imediata do aumento da produção agrícola em 1970 e a percepção de retornos aos investimentos realizados na pesquisa, sustentaram, durante este período, as mais altas taxas de investimento público na pesquisa (BYERLEE, 1998).

Os valores absolutos investidos pelo setor público em P&D agrícola, em diversas regiões do mundo, podem ser observados no Gráfico 2.1. Nos países industrializados, entre 1971-81, os valores investidos foram, respectivamente, US$ 4,3 e US$ 5,9 bilhões. Na América Latina, US$3 milhões em 1971 e US$9 milhões em 1981.

Destarte, na década de 90, os montantes de investimento público apresentaram reduções. BYERLEE (1998) aponta como as principais causas, a escassez de recursos públicos, o aumento

18 Entretanto o objetivo deste item não é discutir a divisão de tarefas entre os setores público e privado. Compreende- se que existe complexidade que envolve esta discussão e este não é o objetivo deste trabalho. A interpretação adotada como referencial de análise encontra-se no seguinte argumento: “a clássica distinção entre bens públicos e bens privados vem servindo, há mais de quarenta anos, para justificar uma genérica divisão de tarefas entre instituições públicas e privadas. A evolução dos fatos, que afrontava esse princípio, engendrou conceitos intermediários, como bens semi-públicos. Mas quando se fala em formação de rede, consórcios, sistemas etc., a divisão de tarefas não pode se pautar (e de fato não se pauta) por uma divisão entre aqueles que desenvolvem bens públicos e os que desenvolvem bens privados” (SALLES FILHO et al., 2000: 82-83).

de competição por recursos entre setores do governo, os ajustes estruturais e as reformas políticas. 0,000 1,000 2,000 3,000 4,000 5,000 6,000 7,000 8,000 Pa íse s Industrializados Ásia Oeste Ásia/Norte África África América Latina Ano Milhões 1971 1981 1991

Gráfico 2.1 - Gastos em pesquisa pública por regiões, 1971, 1981 e 1991, em milhões de US$

Fonte: BYERLEE (1998: 33)

Concomitantemente à emergência da crise de financiamento público para a pesquisa agrícola, ocorre um aumento nos investimentos do setor privado em P&D. Pode-se constatar que a partir dos anos 80, vários países passaram pela experiência da participação dos setores público e privado na P&D agrícola (Gráfico 2.2), com maior destaque para o Japão e a França e menos nos E.U.A..

Ainda com relação a alguns países latinos americanos em desenvolvimento, pode-se citar que o percentual médio de participação do setor privado atingiu 6,75% do total investido em P&D agrícola no ano de 1993 (Tabela 2.1).19

Gráfico 2.2 – Participação dos investimentos em pesquisa agrícola entre os setores público e privado, para países selecionados, nos anos de 1981 e 1993

Fonte: Dados obtidos a partir de BYERLEE (1998)

Tabela 2.1 – Percentual de investimento privado em P&D agrícola em países em desenvolvimento selecionados

Brasil 8

Colômbia 8

Argentina 6

Peru 5

Média 6,75

Fonte: Dados obtidos a partir de BYERLEE (1998)

O indicativo de aumento da participação de instituições privadas na P&D agrícola pode estar ligada, segundo AVILA (1997), à nova legislação sobre propriedade intelectual de proteção de cultivares. O setor privado vem aumentando gradativamente o interesse para o desenvolvimento de pesquisas agrícolas. As determinações legais entre a troca e venda de tecnologias, produtos e processos de instituições de Ciência & Tecnologia (C&T), mudaram profundamente durante os últimos anos. As leis que antes eram restritas a atividades industriais, como direitos autorais, propriedade intelectual, registro de marcas e patentes, royalties, entre outras, estão sendo estabelecidas também no setor agrícola.

Neste contexto, a participação de instituições privadas, como fundações, organizações não governamentais, cooperativas de agricultores, entre outras, ganha mais destaque na pesquisa agrícola. As inovações legais acima especificadas afetam diretamente as relações de parceria entre as instituições públicas e privadas. Esse processo pode ser facilmente percebido em

% Anos/Países 0 20 40 60 80 100 1981 1993 1981 1993 1981 1993

E.U.A. Japão França

Setor Público Setor Privado

algumas instituições da América Latina. O Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA), na Argentina, o Instituto de Pesquisas Agropecuárias (INIA), no Chile e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), no Brasil, vêm desenvolvendo vários acordos com o setor privado.

De uma forma geral, as parcerias tecnológicas passam a ser estabelecidas entre indústrias, universidades, instituições públicas de pesquisa e grandes grupos, que nesse processo tentam tirar proveito das diversidades regionais (internacionais) para criar ou aumentar sua capacitação em C&T.

ALBUQUERQUE & SALLES FILHO (1992) discutem o dinamismo na divisão de pesquisa entre os setores público e privado e interpretam que a geração de inovações no setor agrícola resulta de condicionantes externos e internos à própria atividade agrícola. Apontam também que o grau em que ocorrem essas divisões entre os setores público e privado pode variar de acordo com a estabilidade ou a instabilidade do ambiente institucional, da base técnica e da estrutura de mercado experimentado em momentos específicos.

Assim sendo, a nova relação estabelecida entre os setores público e privado considera a importância de novas formas de apropriabilidade e de concorrência, bem como novas formas de gestão, o que permite às organizações um melhor posicionamento diante da dinâmica capitalista atual. Esse novo contexto, marcado pela formação de redes, consórcios e outras formas de parcerias, reflete uma divisão de tarefas, que não é um princípio, como compreendido na clássica distinção entre bens públicos e bens privados, mas sim uma busca, na qual as organizações procuram explorar da melhor forma possível suas competências e as relações com os demais atores da rede (SALLES FILHO et al., 2000).20

Desta forma, considerando-se a existência de um ambiente no qual vários atores participam do processo inovativo, ou seja, que várias fontes geradoras de inovação mantêm inter- relações de conhecimento, entre outros fatores, destaca-se a importância de conhecer quais são os agentes inovadores na agricultura. As descrições das diversas fontes de inovação na agricultura serão relatadas no subitem a seguir.