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A participação pública no processo de planeamento municipal

A procura de métodos para alcançar um processo participado mais efetivo tem sido um desafio para o planeamento colaborativo; os tradicionais espaços de participação, como salas de reuniões públicas, parecem ser meios ineficazes e custosos, colocando desafios ao estado e aos cidadãos, e aumentando o mal-estar da população em geral. As tecnologias de informação e comunicação representam uma área ainda não suficientemente explorada, tendo-se criado uma grande expetativa à sua volta, esperando o aumento das relações entre os cidadãos e os governos (Kwan & Weber, 2003). No entanto, é essencial perceber, primeiramente, o potencial de participação pública existente no contexto nacional, de forma a equacionar as suas limitações, e, também, como devem ser gerenciadas as ferramentas TIC, de modo a apoiar este processo.

De facto, a intensificação do crescimento urbano, e a necessidade de resposta do território na diversificação das suas funcionalidades, tem vindo a colocar desafios ao planeamento do território. Os desafios são complexos, pois enquadram várias dimensões, com vários atores, sendo necessário, para o seu sucesso na gestão territorial, um elevado grau de colaboração. O envolvimento dos cidadãos, para além dos agentes de administração direta neste processo, é de extrema importância, pois o território é um recurso coletivo que deve ser da responsabilidade de todos. O fortalecimento do capital humano, institucional, cultural e económico, características relacionadas com um progresso inteligente, deve, desta forma, ser conduzido, através de um território mais planeado e governado. A participação e colaboração é de facto o tema mais abordado para a governança das cidades, e é essencial para o rigor de qualquer medida de desenvolvimento urbano a ser implementada. Tanto em Portugal como em outros países, o potencial de participação é reconhecido, mas, na prática, é ainda limitado e pouco expressivo, devendo-se os problemas principalmente à sua recente valorização como parte da cultura democrática, os quais, contudo, têm vindo a ser identificados e analisados com maior preocupação nos últimos anos, por parte do Programa Nacional da Política de

Ordenamento do Território (lei nº.58 /2007, 4 de Setembro). São, deste modo, identificados quatro problemas ao nível da cultura cívica, planeamento e gestão territorial:

Ausência de uma cultura cívica, que valorize o ordenamento do território, baseada num maior rigor e na participação dos cidadãos, para um maior entendimento dos problemas, e na capacitação técnica dos agentes e instituições diretamente envolvidos; Insuficiência das bases técnicas, referindo-se ao recurso a instrumentos de informação

georreferenciada para a análise territorial, cartografia certificada, informação cadastral e acesso em linha dos planos em vigor;

Dificuldade de coordenação, entre os vários responsáveis pelas políticas e intervenções territoriais (atores institucionais, públicos e privados);

Complexidade, rigidez, centralismo e opacidade da legislação e dos procedimentos de planeamento e gestão territorial, que afetam a eficiência das ações e dificultam a aceitação social.

A lei nº. 48/98, de 11 de Agosto da Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo (LBPOTU), recentemente atualizada para a Lei de bases da política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo (LBPPSOTU), através da Lei n.º 31/2014, de 30 de maio, consagra, na política do ordenamento do território e do urbanismo, o princípio da participação, no reforço da consciência cívica do cidadão, que pode ser realizada através do acesso à informação, e no direito à intervenção aquando da execução e revisão dos Instrumentos de Gestão Territorial (IGT). Este direito é consagrado no Decreto- Lei nº 316/2007, de 19 de Setembro (RJIGT), atualizado para Decreto -Lei n.º 80/2015 que considera, no artigo 6.º, que todos os cidadãos, bem como associações representativas dos interesses económicos, sociais, culturais e ambientais, têm o direito de participar na elaboração, alteração, revisão, execução e avaliação dos IGT. Este direito envolve as seguintes situações:

A possibilidade de formular sugestões e pedidos de esclarecimento ao longo da elaboração, alteração, revisão, execução e avaliação dos IGT;

A intervenção na fase da discussão pública, para que os IGT possam ser, posteriormente, aprovados.

As respetivas câmaras ao longo da elaboração dos Planos Municipais de Ordenamento do Território (PMOT) devem fornecer toda a informação relevante ao andamento dos trabalhos e evolução da tramitação dos procedimentos, para que os interessados possam acompanhar o processo e formular sugestões à autarquia (artigo 77.º do RJIGT). As fases consideradas, de acordo com a legislação para a participação pública, em relação aos PMOT, são as seguintes:

Na preparação do plano;

No acompanhamento da elaboração do plano; Na consertação;

Na discussão pública;

Na implementação do Plano.

Embora não se especifique, claramente, as propostas de participação que devem ser incluídas em cada fase, o que se encontram para além do que a legislação prevê, elas são de extrema importância para uma melhor eficiência dos planos. Além disso, a legislação garante a participação aos interessados na elaboração dos instrumentos de planeamento urbanístico, como a qualquer outro instrumento de planeamento físico do território (revisão constitucional de 1997, nº 5 do artigo 65.º da lei nº 1/97 de 20 de setembro), ou seja, a lei prevê a participação nos vários instrumentos legais que regulam a política do ordenamento do território e de urbanismo, que, contudo, apenas se restringem, na maioria dos casos, ao direito à informação e aos momentos de discussão pública, como é aqui apresentado. No entanto, a

integração dos resultados no processo participativo, quer sejam formais ou informais, favorece o encontro de soluções inovadoras para o planeamento e desenvolvimento urbano.

O feedback da população, em todo o processo, é fundamental para que os profissionais de planeamento possam proceder à elaboração de um diagnóstico territorial mais completo, com informações, diferentes perspetivas, pontos fracos, e potencialidades mais enriquecedoras do que as que apenas seriam permitidas pela perspetiva bibliográfica, ou pelos levantamentos do terreno (Vasconcelos et al, 2009). Pelo que, o debate acerca do planeamento atual prende-se, cada vez mais, com a representatividade do pensamento coletivo da população para a formulação e reformulação de espaços mais reais, adaptados às novas circunstâncias (Hanzl, 2007; Vasconcelos et al, 2009).