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Para se analisar as condições de vida e de trabalho dos pescadores artesanais, bem como seus saberes e percepções sobre a pesca no rio Vacacaí, optou-se pela documentação direta e indireta. A documentação indireta se fez pelas pesquisas bibliográficas e pelas informações obtidas em conversas com alguns pescadores antes da elaboração e aplicação das entrevistas. Na documentação direta a técnica utilizada foi a entrevista com aplicação de questionários (Apêndice A) aos representantes de pescadores de Santa Maria, Colônia Borges (Restinga Seca), Restinga Seca (cidade), Passo do Rocha (Vila Nova do Sul) e São Gabriel. Além disso, na documentação direta com os pescadores foi utilizada a cartografia

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participativa, onde os mesmos puderam cartografar seus territórios de pesca, moradia, etc.

Dentre as diversas técnicas utilizadas para se pesquisar as falas dos informantes, algumas mais fechadas, outras mais abertas às opiniões e ideias dos sujeitos da pesquisa, o questionário é a técnica mais fechada aos dados “êmicos” (referentes ao saber local), já que geralmente é construído pelo pesquisador antes de ir a campo. Nesse sentido, o desenvolvimento do questionário em gabinete, antes de conhecer a realidade local, acaba dando prioridade aos dados “éticos” (referentes ao saber científico), ideias, hipóteses, e categorias do mundo do pesquisador (SILVA, 2007).

Uma saída para se minimizar esses efeitos e contrapor a utilização única do questionário seria a utilização da técnica da observação participante, onde o pesquisador entra na rotina de trabalho dos pesquisados, participando das atividades dos mesmos, com essa técnica, “os nós de incompreensão percebidos pelo pesquisador pouco a pouco vão se dissolvendo por um complexo processo de „aprender fazendo‟” (VIERTLER, 2002, p. 16). No entanto, devido à extensão da área de estudos, o que significa que os pesquisados encontram-se relativamente distantes uns dos outros, a falta de delimitação de dias certos para a atividade pesqueira e a dificuldade de acompanhá-los, por possuírem embarcações pequenas, não foi possível durante o período da pesquisa, desenvolver atividades onde se pudesse aplicar a observação participativa.

Na impossibilidade de se desenvolver a técnica da observação participativa, o que se fez, em primeiro lugar, foram contatos com os pescadores durante as expedições de campo pelo leito do rio. Nesses contatos, após conversas longas, geralmente nas margens do rio, pode se ter algumas noções sobre o panorama da pesca e dos pescadores do Vacacaí, além de se obter os respectivos endereços para posteriores entrevistas com os mesmos. Isso foi de grande relevância para a elaboração do questionário, que acabou sendo formulado de forma semiestruturada, com tópicos fechados (invariáveis) e outros abertos onde se buscou direcionar para as questões visadas nos objetivos da pesquisa. Outros contatos foram feitos primeiramente por telefone, obtidos através de entrevista com o representante do Ministério da Pesca e Aquicultura em Santa Maria. Posteriormente, foram feitas as entrevistas com pescadores das colônias Z 35 de Santa Maria, Colônia de

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Pescadores de São Gabriel e Colônia Z 38, também de São Gabriel. Ao todo foram realizadas quatorze entrevistas com pescadores artesanais destas três colônias de pescadores, seis delas com pescadores da Colônia Z 35 de Santa Maria, onde três deles são residentes no município de Restinga Seca, dois residentes na Colônia Borges, distrito de Restinga Seca e um residente em Santa Maria. Na Colônia de Pescadores de São Gabriel foram entrevistados três pescadores e outros quatro foram entrevistados na Colônia Z 38. Cabe ressaltar que esse número de entrevistas realizadas foi definido exclusivamente pelo número de pescadores afiliados às colônias que aceitaram participar da pesquisa. Além disso, foi realizada uma entrevista com um pescador ribeirinho residente no Passo da Barca, distrito de Vila Nova do Sul, o mesmo optou por não se afiliar a nenhuma colônia de pescadores e também não possui Registro de Pescador e realiza apenas a comercialização de algum pescado em forma de moeda de troca, por mais que não possua a carteira de pescador, por morar a poucos metros da margem do rio, a pesca é sua atividade rotineira ha mais de vinte anos.

Para que ocorresse entendimento no diálogo com os pescadores durante as entrevistas, algumas diretrizes foram estipuladas:

a) Contato inicial: como todos os entrevistados já tinham sido contatados previamente, pessoalmente ou por telefone, primeiramente se teve uma conversa informal buscando explicar os objetivos da pesquisa, sua relevância e a importância da colaboração dos mesmos, e também para obter algumas informações prévias sobre o entrevistado.

b) Aplicação dos questionários: algumas perguntas foram elaboradas de forma fechada, numa busca de uma caracterização socioeconômica e outras de forma aberta ou flexível, onde o entrevistado pode responder com liberdade, explicitando suas opiniões, bem como, questões de múltipla escolha onde se buscou medir a intensidade de alguns elementos, numa escala de 0 a 10.

c) Registros das respostas: as respostas foram registradas apenas em anotações, optou-se por não se utilizar instrumentos como gravadores de áudio ou vídeo para evitar o constrangimento dos entrevistados, permitindo-lhes que se pronunciassem com mais tranquilidade.

d) Construção do mapa colaborativo: os mosaicos de imagens do Google Earth com escala aproximada de 1:50.000 e impressos em folha tamanho A0 (119

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cm X 87 cm), na maior parte das situações foram recebidos com curiosidade pelos entrevistados. Após uma explicação sobre os objetivos das bases cartográficas e a identificação dos lugares de referência pelos entrevistados, os mesmos foram instigados a identificar e marcar, desenhando sobre a base cartográfica, símbolos que fizessem referência aos seus locais de pesca no rio e demais objetos que desejassem marcar (moradias, igrejas, etc.).

e) Término da entrevista: encerrando a entrevista sempre em clima de cordialidade, o devido agradecimento ao entrevistado pela participação na pesquisa, levando pra casa na maioria das vezes um convite de retorno.