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CAPÍTULO 1 ASPECTOS RELEVANTES DO SETOR

1.3 A pesca marítima no Brasil

O Brasil possui uma grande extensão de costa marítima com cerca de 8 mil Km, desde o cabo Orange, no Amapá, até o Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul (Matsuura, 1987: 67). A maior parte desta costa pertence às regiões tropical e subtropical, o que implica considerar que sua fauna e sua flora apresentam grande diversidade de espécies e baixa biomassa de cada estoque. Os recursos pesqueiros são multiespecíficos, e a captura direcionada para uma determinada espécie sempre acaba atuando sobre as demais. Com isso, torna-se bastante complexa a tarefa de manter o equilíbrio dos ecossistemas, o que permite deduzir, no seu conjunto, que não se pode esperar elevadas produções anuais de espécies oriundas da região costeira do Brasil (Conceição, 1987: 01-03).

A pesca no Brasil é classificada de acordo com as seguintes características (Diegues, 1983: 150-151).

ƒ Pesca de Subsistência - Exercida com o propósito único de obtenção de alimento, sustento, não tendo finalidade comercial.

ƒ Pesca Artesanal ou de Pequena Escala - Diz respeito à pesca com finalidade comercial. Tanto utiliza embarcações de médio porte, adquiridas em pequenos estaleiros, com propulsão motorizada ou não, como embarcações construídas pelos próprios pescadores, utilizando matérias-primas naturais. Também não existe nenhuma sofisticação nos apetrechos e insumos utilizados, geralmente comprados no comércio local. De um modo geral, utilizam equipamentos básicos de navegação, em embarcações geralmente de

madeira, com estrutura capaz de produzir pequenos ou médios volumes de pescado. Forma a maior porção da frota brasileira e acredita-se responder por aproximadamente 60% do volume das capturas nacionais.

ƒ Pesca Industrial Costeira - É realizada por embarcações de maior autonomia, capazes de operar em áreas mais distantes da costa, efetuando a exploração de recursos pesqueiros que se apresentam relativamente concentrados em nível geográfico. As embarcações apresentam mecanização a bordo para a operacionalização dos apetrechos de captura; propulsão motorizada, sempre com motores diesel, de potência mais elevada; equipamento eletrônico de navegação e detecção; o material do casco pode ser de aço ou madeira. O segmento da pesca industrial costeira, no Brasil está concentrado na captura dos principais recursos em volume ou valor da produção, com destaques para lagosta, piramutaba, sardinha, atum e afins, camarões e espécies demersais (cardumes de fundo), como corvina, pescada, pescadinha, castanha, etc. ƒ Pesca Industrial Oceânica - A modalidade oceânica da pesca industrial é

incipiente, no Brasil, e envolve as embarcações aptas a operarem em toda a Zona Econômica Exclusiva (ZEE)1, incluindo áreas oceânicas mais distantes, mesmo em outros países. É constituída de embarcações de grande autonomia, podendo, inclusive, industrializar o pescado a bordo, sendo dotada de sofisticados equipamentos de navegação e detecção de cardumes e com sistema de operação mecanizada.

ƒ Pesca Amadora - Praticada ao longo de todo o litoral brasileiro com a finalidade de turismo, lazer ou desporto. O produto da atividade não pode ser comercializado ou industrializado.

As regiões brasileiras e os diferentes tipos de pesca estão assim caracterizados, conforme descreve Matsuura (1987: 69-72):

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Zona Econômica Exclusiva (ZEE) – É o direito soberano que detém o país na exploração dos recursos marinhos na faixa das 200 milhas marítimas.

Região Norte – Possui alta produtividade primária, graças à influência do Rio

Amazonas, mas a topografia de fundo é muito irregular, o que dificulta a operação de arrasto. Apesar da estimativa da potencialidade pesqueira ser alta, apenas duas espécies são intensivamente exploradas: o camarão e a piramutaba.

Região Centro-Norte – Possui a maior extensão da costa, mas com baixa

produtividade. A região inclui as costas do Nordeste e parte das do Leste. A plataforma continental é estreita, de fundo irregular, constituído de corais e pedras calcárias. O substrato calcário, em 20% da área, dificulta o arrasto de redes de fundo, porém propicia a pesca por covos (armadilha) de lagostas. A produtividade é baixa por não possuir desembocaduras de grandes rios (exceto o São Francisco), e devido ao fato de toda a região ser banhada pela corrente tropical. A isso, soma-se a ausência do fenômeno conhecido como “ressurgência”, através do qual os nutrientes minerais e vegetais existentes no substrato do leito marinho sobem para a zona eufótica2 onde ocorre a fotossíntese.

Região Centro-Sul – Extensão que se prolonga do Cabo Frio (Rio de Janeiro) até o

sul da Ilha de Santa Catarina, possuindo grande área de plataforma continental coberta por areias, lamas e argilas, permitindo, com facilidade, arrasto de redes de fundo e de cerco. Graças às condições favoráveis, existe abundância de espécies demersais e pelágicos (cardumes de águas profundas e de meia-água, respectivamente), como pescadas, sardinhas, taínhas e anchovas (capturadas com rede de cerco).

Região Sul – Essa região possui também plataforma larga e plana, com facilidade

para arrasto com redes de fundo, propiciando a captura de cardumes de peixes do grupo das pescadas. As condições naturais da região, aliadas ao surgimento dos ciclos econômicos de alto desenvolvimento de forças produtivas, como a cultura do café e as indústrias, favoreceram a acumulação de capital no setor pesqueiro. Cerca de 80% das indústrias pesqueiras, situadas no litoral Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), detêm a concentração de barcos pesqueiros superiores a 20 toneladas. Igualmente concentra-se nessa parte do litoral

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Zona eufótica – É a camada superior de uma extensão de água na qual penetra luz suficientemente, para permitir o crescimento de plantas verdes (o substrato aquático submerso, procura e recebe luz abundante e suficiente, propiciando a fotossíntese)

brasileiro mais de 60% da mão-de-obra embarcada, enquanto que no litoral Norte e Nordeste vivem cerca de 70% dos chamados pequenos armadores e pescadores artesanais.