CAPÍTULO II LAMENTAR O ESQUECIMENTO OU INTERVIR PARA
2.5 A pesquisa-ação, o pesquisador-professor e os alunos-sujeitos
Realizando pesquisa com enfoque metodológico híbrido, também foi
oportuno a utilização da pesquisa-ação, pois, a partir dos objetivos específicos da
intervenção: produção de documentos orais, organização de acervo digital e
criação de centro de documentação, não teve como abrir mão das estratégias
deste método. A análise se deu a partir da referência francesa de pesquisa-ação,
segundo seu principal representante, Barbier, que na obra Pesquisa-ação e
instituição educativa (1985) define o método como “atividade de compreensão e
explicação da práxis dos grupos sociais por eles mesmos, com ou sem
especialistas das ciências humanas e sociais práticas, com o fim de melhorar
essas práxis” (1985, p. 156-157). É importante destacar que a pesquisa-ação
francesa foi a que se desenvolveu no Brasil, onde também é conhecida como
pesquisa participante, predominantemente utilizada na pesquisa em educação.
Mas, conforme Gajardo (1987), o método da pesquisa-ação provém das ciências
sociais “o conceito de investigação-ação, utilizado a partir dos anos 70 para
caracterizar os estilos mais participacionistas de pesquisa, provém de uma
vertente mais sociológica do que educacional” (1987, p. 23).
Então, por se tratar de uma pesquisa realizada no interior de instituições
de ensino e por propor a intervenção em favor da comunidade ligada à mesma, o
desenvolvimento dos procedimentos teve por obrigação envolver o processo de
ensino-aprendizagem. Assim, pesquisador-professor e alunos-sujeitos,
trabalharam juntos, sendo que todos os segmentos foram envolvidos, mas os
estudantes (agentes) foram envolvidos diretamente pelo professor-pesquisador
em todas as fases do processo de produção de conhecimento e se tornaram os
sujeitos da produção. Neste aspecto, esse método, que se distancia dos mais
tradicionais e conservadores, se tornou um instrumento fundamental de trabalho,
principalmente pela posição do pesquisador, se inserindo na ação com função
reduzida, apoiando-se na utilização das técnicas e ferramentas necessárias. A
atuação do professor-pesquisador ocorreu no sentido de garantir que os agentes
da ação assumissem a direção do projeto de intervenção. Portanto, trata-se de
um método constituído de ação educativa e que, segundo Oliveira e Oliveira
(1981), promove “o conhecimento da consciência e também a capacidade de
iniciativa transformadora dos grupos com quem se trabalha” (1981, p. 19).
Apesar de a pesquisa-ação ser um método quase desconhecido entre
historiadores, o que pode ser percebido pela ausência de obras e artigos
científicos escritos por pesquisadores da história e, mais especificamente da
história da educação. A justificativa para sua utilização reside na desilusão para
com métodos tradicionais aplicados principalmente na pesquisa em educação.
Conforme Thiollent (1988), esses instrumentos mais convencionais, mesmo
demonstrando maior confiabilidade nos resultados apurados, se encontram
afastados dos problemas verificados nas investigações atuais; “Por mais
necessárias que sejam, revelam-se insuficientes muitas das pesquisas que se
limitam a uma simples descrição da situação [...]” (1988, p. 74). Portanto, ao
trazer a proposta de inserir a pesquisa-ação na pesquisa no campo da história da
educação, se buscou o reconhecimento da abertura a novas abordagens para os
trabalhos produzidos nas perspectivas da História e também, considerando todas
as conquistas neste sentido, do movimento da Nova História a Nova História
Cultural.
Com essa perspectiva de trabalho, a proposta de definir as estratégias da
pesquisa-ação no estudo de caso, a intervenção na Escola Capilé foi direcionada
ao tema da preservação do patrimônio escolar. Assim, a ação foi definida pelo
planejamento da pesquisa-ação em paralelo com a história oral, obviamente na
tarefa de atingir as metas estipuladas. Pesquisador-professor e sujeitos-alunos
se prepararam e se organizaram para aplicação dos procedimentos planejados,
um depoimento gravado de representante de cada segmento/grupo da
comunidade escolar. Mesmo com uma meta de seis depoimentos, considerada
pequena, a pesquisa-ação deve ser encarada como um passo importante que
não se encerra na gravação e na constituição do centro de documentação
escolar, mas na permanente preservação e acréscimos no acervo. Assim, se
deve registrar que já nas primeiras atividades como elaboração e aplicação de
questionário para mapear os possíveis depoentes, se obteve o envolvimento de
muitos indivíduos, variados grupos e boa parte da comunidade.
A contribuição da pesquisa-ação também pode ser facilmente percebida
quando concluída a parte da seleção dos depoentes, pois, durante a preparação
dos entrevistadores, que foram os próprios alunos envolvidos na ação, estes
passaram a ter melhores condições de refletir sobre a participação e
conscientização do valor da memória da comunidade escolar. Posteriormente, na
realização das entrevistas, essas foram realizadas no próprio ambiente escolar,
acreditando na maior força de intervenção, pois ficou visível a movimentação e
ação dos sujeitos da pesquisa.
CAPÍTULO III – AS INSTITUIÇÕES ESCOLARES
COMO LUGARES DE MEMÓRIA
Ao privilegiar o cotidiano de instituições escolares como lugar de
memória, ou ainda, como um espaço/tempo em que experiências são divididas,
lugar de lembranças significativas dos sujeitos que por lá passam, seja como
estudante, como profissional da educação ou colaboradores (pais, mães,
vizinhos e parceiros), se estará reforçando o valor da memória social. Segundo
Nora (1993), historiador francês da conhecida Nova História, os lugares de
memória como as instituições escolares não fazem lembrar espontaneamente, é
preciso investir em suporte para recordar e para rememorar;
Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não existe memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter os aniversários, organizar as celebrações, pronunciar
as honras fúnebres, estabelecer contratos, porque estas operações não são naturais (...). Se vivêssemos verdadeiramente as lembranças que eles envolvem, eles seriam inúteis. E se em compensação, a história não se apoderasse deles para deformá-los, transformá-los, sová-los e petrificá-los eles não se tornariam lugares de memória. (NORA, 1993, p. 13).