As questões relacionadas à inclusão tem sido pauta de muitas discussões
entre os envolvidos neste processo devido à necessidade de repensar o modo de
funcionamento institucional, as mudanças e as reformulações pedagógicas
necessárias para enfrentar o desafio da inclusão. Tanto os profissionais quanto os
pais dos alunos veem a política de inclusão como uma forma de trabalhar com
difíceis questões, como o preconceito e a segregação, constante e presente ao
longo do tempo em relação aos portadores de necessidades especiais no nosso
país. Podemos constatar no depoimento de uma das mães entrevistadas quando
interrogada sobre a política de inclusão esta preocupação:
Eu tenho duas opiniões de um lado eu acho interessante meu filho está
freqüentando uma escola normal, por causa do preconceito porque parece
assim que se você coloca numa escola especial é separá-lo do restante da
sociedade mas uma escola especial também é interessante porque oferece
mais cuidados, tem profissionais especializados para atender as dificuldades das crianças. Poderia ter nas escolas regulares mais pessoas
especializadas para ajudar o professor. Acho que é importante que as
crianças como o meu filho, estejam em contato com as outras crianças
porque como que a gente vai querer que a sociedade os aceite se não
damos oportunidade deles estarem juntos. Existem muitos pais de crianças
especiais que preferem que os filhos fiquem em casa ou em escolas especiais. Como que a gente vai querer que a sociedade não seja
preconceituosa desse jeito. Se eu não saio com o meu filho e não coloco ele
junto com os normais eu nunca vou conseguir que ele seja respeitado. (Entrevistada 11)
É clara a preocupação de alguns entrevistados em como proporcionar o
conhecimento para todas as crianças no espaço e no tempo escolar,
independentemente de suas condições e como fazer com que a política de inclusão
se efetive de forma a trazer eqüidade e qualidade a todos os envolvidos,
A escola vem então se revendo em todos os sentidos, num movimento
evidente de assumir seu papel social sem prejuízo da qualidade de ensino.
Esta revisão provoca sofrimento e desgaste em diferentes níveis e em
diferentes momentos. Penso que o fato de sermos uma equipe com compromisso de pensar e assumir juntos os encaminhamentos possíveis
nos fortalece nesse caminhar e permite ousadias necessárias para a
construção de uma nova escola.( Fonoaudióloga)
Metodologicamente, o estudo realizou-se por intermédio de entrevistas
abertas, semi-direcionadas. Propus aos entrevistados que faríamos a entrevista e
que após a transcrição, realizada por mim, procuraria resguardar ao máximo a
liberdade de expressão de cada participante sobre o tema discutido, sendo que cada
entrevistado receberia uma cópia desta para que fosse analisada e modificada se
necessário. Não aconteceram modificações quanto ao conteúdo das entrevistas,
somente pequenas modificações foram realizadas quanto à estruturação, à
gramática e à ortografia do texto com a preocupação de não intervir na
espontaneidade das entrevistas.
As entrevistas foram realizadas com 11 agentes. Dentre os escolhidos estão
profissionais da escola envolvidos diretamente na efetivação desta política pública,
sendo 4 professoras de sala regular que tem crianças com necessidades
educacionais especiais; a professora da sala de recursos que acompanha quase todos os alunos com necessidades educacionais especiais matriculados nesta unidade; duas profissionais da equipe técnica que orientam a unidade nos
procedimentos a serem tomados, a coordenadora pedagógica e a diretora da escola.
Foram entrevistadas, também, duas mães de crianças com necessidades
educacionais especiais matriculadas nesta escola. Em relação às mães a princípio
não tinha intenção de entrevistá-las, uma vez que meu foco maior era analisar
principalmente a percepção dos profissionais da educação com relação à política de
inclusão. Todavia no decorrer das entrevistas a preocupação com a inclusão de
determinadas crianças na escola foi destacado por quase todos os entrevistados o
que me levou a procurar as mães de duas destas crianças. O objetivo, então, foi
apreender suas percepções com relação à inclusão de seus filhos na rede regular.
Duas entrevistas de meu interesse para o estudo não foram realizadas. A
primeira com a professora da sala integrada, mas esta não se dispôs a dar a
entrevista alegando não estar preparada para falar do trabalho realizado nesta sala,
uma vez que tem pouca experiência com turmas de sala integrada e disse estar
muito atarefada naquele momento com a elaboração de fichas e atividades
específicas para seus alunos. A outra com a mãe de uma das crianças da sala
integrada que, por problemas de saúde, quase não freqüentou as aulas este ano. A
pessoais, sendo que apesar proposto em outro momento não houve disponibilidade
em fazê-lo.
As entrevistas com os profissionais de ensino da escola foram iniciadas com o relato da trajetória social de cada um, no qual destacaram os fatos que marcaram
sua trajetória, e o que os levou a estarem envolvidos com a política de inclusão. Nas
entrevistas foram expostas também as experiências que cada um vem tendo com a
inclusão, a percepção que estes têm de todo o processo e o que entendem por
inclusão.
As entrevistas com os profissionais da educação que trabalham na escola,
professoras, coordenadora e diretora, foram combinadas e realizadas no ambiente da escola mesmo, com descontração e disposição por parte dos entrevistados,
discutir a política de inclusão já tem sido uma constante na escola já que esta
unidade está há alguns anos recebendo matrículas de crianças com necessidades
educacionais especiais.
Com a equipe técnica que orienta os profissionais da escola foi diferente, em
conversa com elas em uma de suas visitas a escola falamos sobre a pesquisa pretendida convidando-as a participar dando seus depoimentos, além da sugestão
de uma entrevista aberta foi sugerido que poderíamos estar realizando a entrevista
via e-mails, já que o contato com estas é mais restrito, estas atendem a diferentes
unidades escolares o que dificulta disponibilizar um tempo para a realização da
entrevista aberta. A segunda sugestão agradou a equipe técnica, combinamos que
se fosse necessário, conversaríamos sobre as questões a serem abordadas na
entrevista.
Um pequeno roteiro de perguntas que abordavam as mesmas questões
oferecidas aos entrevistados durante a entrevista aberta foi entregue as duas profissionais da equipe técnica para que elas respondessem e me enviassem o que
aconteceu aproximadamente uns 15 dias após tudo combinado.
As entrevistas com as mães também se iniciaram com o relato da trajetória da
mãe e posteriormente, da relação dela com o (a) filho (a) e a sua “deficiência” bem
como o processo de inclusão. Estas entrevistas foram as mais difíceis de fazer
porque ambas as mães se emocionaram muito ao relembrar os fatos que marcaram
suas trajetórias e as dos filhos. Tais crianças apresentam graves
comprometimentos, cognitivos e motores que requerem cuidados especiais constituindo motivos de preocupação e reflexão no ambiente da unidade escolar.