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SEÇÃO 3: OS TRAÇADOS METODOLÓGICOS DA

3.1 A pesquisa qualitativa e seus aportes teóricos ,

Ludk; André (2015) colocam que a palavra pesquisa ganhou popularidade, que por vezes chega a comprometer seu verdadeiro sentindo. Os autores citando Bogdan e Biklen (1982) discutem o conceito de pesquisa, apresentando cinco características básicas que configuram esse tipo de estudo, tais como:

1-A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; 2- os dados gerados são predominantemente descritivos; 3- a preocupação com o processo é maior que com o produto; 4- o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida é foco de atenção especial pelo pesquisador e 5- a análise de dados tende a ser indutiva (LUKDE; ANDRÉ, 2015, p. 12 - 14).

Para Ludk; André (Idem) é preciso promover o confronto entre os dados, as evidências e as informações coletadas sobre um determinado objeto que desperta o interesse do pesquisador e ao mesmo tempo limita sua atividade de pesquisa a determinada porção do

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saber que se propõe a construir naquele momento. Na mesma linha Godoy (1995) coloca que a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados, envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo (GODOY, 1995, p.58).

Nessa perspectiva, se identifica que a pesquisa em Licenciatura em Educação do Campo, percorre o caminho pressuposto pela pesquisa qualitativa uma vez que considera um estudo contextualizado, envolvendo o processo da ação educacional dos sujeitos a partir de suas formações no curso LEdoC. Para isso, foi considerada a narrativa de vida dos sujeitos, desde sua origem até suas atuações como docente em escolas do campo. A proposta é trazer através da narrativa a vivência pessoal e profissional dos mesmos.

Neste sentido, Minayo (1995) coloca:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificada, ou seja, ela trabalha o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 1995, p. 21).

Para este autor, a metodologia de pesquisa é o caminho do pensamento a ser seguido e trata-se basicamente do conjunto de técnicas a ser adotada para construir uma realidade. Sendo a pesquisa a atividade básica da ciência na sua construção da realidade.

Historicamente é possível identificar diferentes paradigmas epistemológicos que sustentam o pensamento de uma época e contribuíram para a construção de certeza, as quais de acordo com o tipo de crença tentavam ser incontestáveis e estabelecer leis universais e atemporais. Nesta vertente, pode-se apontar a teoria heliocêntrica de Corpénico, as leis de Kleper das órbitas dos planetas, leis de Galileu sobre a queda dos corpos, ordem cósmica de Newton e consciência filosófica de Bacon e Descarte.

Estas bases epistemológicas admitem uma única forma de conhecimento verdadeiro embasado na experimentação e nas ideias puras. Trata-se do conhecimento científico concebido como verdade absoluta. E o conhecimento que não se ajustavam a estes

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conhecimentos dominantes na modernidade é considerado não científico, apontado como irracional, perturbador, ou seja, um intruso no mundo da metodicidade e objetividade.

Logo, pode-se alegar com veracidade, que o conhecimento, em qualquer espaço temporal, consiste de um esforço do homem para compreender a realidade natural, social como também, uma busca de compreender a si mesmo. No entanto, Esteban (2003) nos coloca que não há fundamentos seguros ao caminho da pesquisa, ou seja, a dúvida e a relatividade são inevitáveis e mesmo diante das certezas não será possível eliminar o problema da incerteza. Por outro lado, continua o autor, o reconhecimento da incerteza ao mesmo tempo em que revela dúvida, também possibilita a investigação e a reflexão e, por que não, a invenção de uma nova organização epistemológica que se refere à questão da verdade científica.

No entanto, no interior dessa ampla discussão no âmbito metodológico, a práxis da pesquisa por sua vez nos traz algumas pistas, coloca Esteban:

{...} na questão das diferentes opções, dos múltiplos caminhos, das várias possibilidades, que podem ser vistos como movimentos que deixam o/a pesquisador/a “perdidos (a)”, não procedem, uma vez que os sujeitos em interação configuram uma história de interações recorrentes de condutas que se estabelecem nas relações sociais (ESTEBAN, 2003, p.131).

Para o autor supracitado as relações individual/coletiva, singular/plural, determinação/opção, caminhos/desvios adquirem novos contornos flexíveis e dinâmicos que remetem a complexidade dos contextos onde o pesquisador faz escolhas em consonância com as relações nas quais interage que o ajudam a promover a organização do processo da pesquisa em relação ao contexto encontrado, ao ressaltar determinados acontecimentos entrelaçados a tantos outros que permanecem ignorados na dinâmica da pesquisa. Portanto, na ação de relacionar seus dados, organizá-los e interpretá-los.

Para Esteban, a seleção, entre tantos caminhos possíveis, não é arbitrária, do mesmo modo que a interpretação dialoga com as possibilidades que vão sendo construídas na história de interações recorrentes dos/as pesquisadores/as. Salienta:

O caminho metodológico usado para a organização da produção de conhecimento vai sendo mais bem compreendida em contextos complexos; caminhos que não negam a complexidade e nem tentam simplifica-la, mas também não se deixa imobilizar por ela {...} que os caminhos traçados para a pesquisa participativa frequentemente apresentam riscos, o que é compreensível ao considerar que nossas ideias não são reflexos do real, mas tradução dele e toda tradução comporta risco e

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erro. Na tradução se entretecem negociação e negação; se originando na diferença. A tradução é instável, liminar, opera sempre com a possibilidade de ser transformada

(ESTEBAM, 2003, p. 72).

O autor nos traz que a incerteza que caracteriza o pensar do investigador é portadora, porém, de outras indagações: se não há uma verdade, como identificar o erro no processo da pesquisa e na formulação de seus resultados? Sendo erro e verdade relativos e fios que tramam a pesquisa, há procedimentos metodológicos que possam resguardar o pesquisador do relativismo e de sua face desmobilizadora? Para responder, vamos trazer de volta o enunciado de Esteban ao colocar que risco é inerente uma vez que todos os sujeitos estão implicados na pesquisa e, portanto, traçando caminhos segundo as interações estabelecidas, com riscos e estímulos. Logo, em sua compreensão o paradigma epistemológico se constitui nas contradições histórico-sociais e na aceitação de diversas lógicas, o que, ao certo, desencadeia novas contradições, as quais são condições inerentes à produção do conhecimento.

Com isso, os conhecimentos científicos colaboram para que os homens produzam suas histórias, criando condições mais adequadas para uma sociedade melhor. Para Esteban, este processo é contínuo, cada conhecimento produzido representa um novo nível, de significação esclarecedora, contudo, parcial, à medida que se torna fonte de novos problemas de investigação.

No mesmo pensar Weigel (2014) coloca que, discutir sobre os desafios da pesquisa se torna recorrente na área acadêmica e a própria ideia de desafio emerge como um conjunto de dificuldades contextuais, de diferentes naturezas, identificadas como obstáculos á continuidade ou desenvolvimento de um determinado processo. O que para autora significa dizer que os desafios são elementos históricos, produzidos num tempo e num espaço definidos. Ou seja, os desafios são colocados a um processo que não são sempre os mesmos, uma vez que se transformam no tempo e são diversificados nos diferentes espaços.

Considerando a ideia da autora, observo aproximações sobre as afirmações acima no que se refere à pesquisa em foco, considerando que muito embora tenhamos outras turmas de Licenciaturas em Educação do Campo no estado do Pará e, dentro do próprio Instituto Federal do Pará – IFPA (a exemplo o PARFOR), não significa dizer que os resultados encontrados nesta pesquisa possam ser considerados aos outros estudos e contextos destas Licenciaturas no Instituto, uma vez que as mesmas estão contextualizadas em tempos e espaços diferentes.

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A pesquisa qualitativa é, sem dúvida, uma abordagem que possibilita ao pesquisador gerar suas ideias para o projeto e definir métodos a fim de interpretar a realidade. E sendo este estudo ancorado nos pressupostos da pesquisa qualitativa faz uso de um de seus principais instrumentos que é a narrativa dos sujeitos, o diálogo na construção de dados. É a narrativa dos educadores que trarão os dados para análise, que de alguma forma, irão configurar uma verdade sobre determinados aspectos da vida dos narradores inscritos em um determinado contexto - o Curso de Licenciatura em Educação do Campo do IFPA campus Bragança.

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