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3. FATORES DA GESTÃO INSTITUCIONAL

3.1 A política institucional de ensino superior no Brasil

A primeira universidade brasileira, a URJ, foi instituída em 1920 como dito anteriormente, no entanto, o Estatuto das Universidades Brasileiras só foi implantado em 11 de Abril de 1931, no governo de Getúlio Vargas, pelo Decreto nº 19.851, cujo Art. 1º definia a finalidade maior do ensino universitário no país:

“[...]elevar o nível da cultura geral, estimular a investigação científica em quaisquer domínios dos conhecimentos humanos; habilitar ao exercício de atividades que requerem preparo técnico e científico superior; concorrer, enfim, pela educação do indivíduo e da coletividade, pela harmonia de objetivos entre professores e estudantes e pelo aproveitamento de todas as atividades universitárias, para a grandeza da Nação e para o aperfeiçoamento da Humanidade.”

Apesar de expor a importância da pesquisa científica no ensino superior, aparentemente a realidade da educação universitária brasileira, mesmo após a implantação do Estatuto, era de um quadro que não incentivava em larga escala a pesquisa científica de acordo com Alípio Castello Branco (MEC, 1984). No geral, assim como aconteceu na URJ, o esforço direcionado ao desenvolvimento dessa prática acontecia de forma individual pelo pesquisador e não pela instituição. Isso acontecia porque o contexto econômico do país era caracterizado por um processo acelerado de industrialização nas cidades e a universidade

128 funcionava como um meio de formar mão de obra devidamente capacitada para trabalhar nesse meio. Desse modo, a pesquisa científica era deixada em segundo plano, visto que era mais importante investir na capacitação profissional.

Historicamente, portanto, a persistência do caráter colonial e dependente do desenvolvimento prescindiu, ou mesmo impediu, a organização e a valorização social da pesquisa científica e tecnológica no País, restringindo o ensino superior à formação profissional e reforçando a função simbólica da titulação. [...] Só mais tarde, mediante a intensificação dos programas de pós-graduação, a introdução do regime de tempo integral nas Universidades e o apoio institucional e financeiro de órgãos como o CNPq e a FINEP, surgiram no País as condições para a atividade científica. (MEC, 1984, p.25)

O Estatuto organizava a formação administrativa da universidade em dois órgãos: Reitor e Conselho Universitário. O Reitor era o órgão executivo supremo da Universidade e sua nomeação ficava ao encargo do representante do governo federal ou estadual, dependendo de qual esfera era responsável pela sua manutenção. Por sua vez, o Conselho Universitário era o "órgão consultivo e deliberativo da Universidade" (Art. 22). A universidade dispunha ainda de uma Assembleia Universitária que não possuía poder deliberativo e era formada por todo o corpo docente da instituição (Art. 24).

A constituição do corpo docente deveria acontecer da seguinte forma: professores catedráticos, auxiliares de ensino e docentes livres. O professor catedrático era instituído a partir de concurso de títulos e prova. Ao assumir o cargo ele tinha o direito de exercer a cátedra por 10 anos, podendo, ao fim desse período realizar novo concurso, apenas de títulos, para recondução do cargo. Nesse caso, sendo aprovado, o professor adquiria os benefícios da vitaliciedade e inamovibilidade, dos quais só seria destituído em caso de abandono do cargo ou sentença judicial. Ao professor catedrático cabia o ministério de disciplina nos cursos normais, onde ele tinha autonomia para designar, dentre os auxiliares de ensino e docentes livres, seus colaboradores. Os auxiliares de ensino não apenas eram colaboradores dos catedráticos nos cursos normais, como também na "prática de pesquisas

129 originais, nos domínios de qualquer das disciplinas universitárias" (Art. 68). Por fim, o docente livre era designado à ministração dos cursos equiparados.

Didaticamente os institutos formadores da universidade poderiam oferecer os seguintes cursos:

a) cursos normais, nos quais será executado, pelo professor catedrático, o programa oficial da disciplina; b) cursos equiparados, que serão realizados pelos docentes livres, de acordo com o programa aprovado pelo Conselho técnico-administrativo de cada instituto, e que terão os efeitos legais dos cursos anteriores; c) cursos de aperfeiçoamento que se destinam a ampliar conhecimentos de qualquer disciplina ou de determinados domínios da mesma; d) cursos de especialização, destinados a aprofundar, em ensino intensivo e sistematizado, os conhecimentos necessários às finalidades profissionais ou científicas; e) cursos livres, que obedecerão a programa previamente aprovado pelo Conselho técnico- administrativo do instituto onde devem ser realizados, e que versarão assuntos de interesse geral ou relacionados com qualquer das disciplinas ensinadas no mesmo instituto; f) cursos de extensão universitária, destinados a prolongar, em benefício coletivo, a atividade técnica e científica dos institutos univesitários. (ESTATUTO

DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS, Art. 35)

Os cursos de aperfeiçoamento e de especialização poderiam ser ministrados tanto por um professor catedrático, quanto por um docente livre. Já os cursos livres estariam ao encargo de um professor da casa ou de um profissional que não estivesse enquadrado no corpo docente da instituição, mas que dominasse o assunto, podendo ser brasileiro ou estrangeiro. No caso da extensão universitária, os diversos institutos da universidade deveriam organizar cursos ou conferências em outros institutos ou em qualquer lugar que difundisse e compartilhasse o saber em massa.

Há ainda, nessa estrutura, outra categoria de docentes, os professores contratados, situação que ocorria de forma eventual, de acordo com as necessidades da instituição, para assumir por tempo determinado o ensino de qualquer disciplina, a cooperação com o professor catedrático, a realização de cursos de aperfeiçoamento e especialização ou a coordenação de pesquisas científicas.

130 Essa foi a primeira estrutura institucional definida para as universidades brasileiras, cuja situação organizacional estaria descrita em estatutos próprios, onde cada uma poderia fazer as devidas adaptações regionais, devendo ser, no entanto, aprovados pelo Ministro da Educação e Saúde Pública para ter validade.

As prerrogativas necessárias para que um aluno ingressasse em uma universidade brasileira não incluía nenhum processo seletivo. Era necessário apresentar certificado de curso secundário fundamental ou curso ginasial superior, os devidos documentos de identificação, ter a idade mínima exigida e ter recurso financeiro para o pagamento das taxas.

Em 1945, a Universidade do Brasil passou por uma reforma institucional por meio do Decreto-Lei nº 8.393 de 1945, que modificou a estrutura administrativa das universidades brasileiras, visto que a mesma foi implantada para ser seguida como modelo. Nessa reforma, os órgãos componentes da universidade passaram a incluir um novo ente além dos três que já existiam, o Conselho de Curadores:

Órgão da administração financeira da Universidade, presidido pelo Reitor, e composto por representantes do Conselho Universitário, da Assembléia Universitária, da Associação dos Antigos Alunos, do Ministério da Educação e Saúde, e de pessoas físicas e jurídicas que tenham feito doações à Universidade.16

Além disso, a reforma trouxe consigo a organização das Faculdades e Escolas em departamentos, onde cada um era dirigido por um chefe, nomeado dentre os professores catedráticos e todos eles eram submetidos à gerência do diretor do estabelecimento de ensino. No entanto, a realidade não aconteceu como fora estabelecido na legislação, visto que a estrutura das cátedras vitalícias continuou em vigência.

O novo estatuto prevê que as Faculdades e Escolas devem se organizar em departamentos, dirigidos por um chefe, escolhido entre os professores catedráticos que os compõem. Apesar disso, e durante os vinte anos seguintes, é o regime da cátedra vitalícia e não o de departamento, que organiza a vida didática e acadêmica da Universidade.

16 Informação retirada do site da UFRJ. Disponível em:

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Essa estrutura administrativa, com pequenas modificações, funciona durante todo o período da Constituição de 1946, ou seja, até o final da década de 1960. O crescimento da instituição ocorre, tão somente, em função de pressões da sociedade pelo aumento do número de vagas e pela multiplicação desordenada das unidades, muitas delas surgidas para resolver conflitos de interesses entre catedráticos no interior das já existentes.17 O modelo institucional do ensino universitário brasileiro objetivou, por meio de instrumento legal, a coesão entre as diferentes faculdades e escolas formadoras da instituição com a implantação do sistema de departamentos, no entanto, percebe-se que, na prática, o sistema de cátedras permaneceu dominante na instituição. Com o passar dos anos, surgiu a necessidade de novas discussões sobre a transformação do ensino superior brasileiro e a implantação de uma reforma mais eficaz, como será descrito no próximo item.