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O memorial descritivo é o documento oficial que representa o limite territorial de uma UC e deve ser de fácil reprodução e interpretação para que seu polígono seja projetado no espaço geográfico e se relacione de modo coerente com os demais elementos do território, cujas características possam ser aferidas no local. Por isso é importante que seja bem elaborado sob o ponto de vista técnico, semântico e sintático. No capítulo IV do SNUC, no seu artigo 22,

65 parágrafo 2°, que trata das etapas de criação, implantação e gestão de UCs, a questão territorial destas áreas é requisito importante no cumprimento da conservação para a qual a UC foi criada:

“§ 2o A criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos

técnicos e de consulta pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade, conforme se dispuser em regulamento.”

O texto do memorial descritivo traz em seu arranjo as principais informações de uma UC, dentre elas o seu limite cartográfico descrito por meio de elementos espaciais, uma exigência do Decreto 4.340 de 22 de agosto de 2002 que regulamenta o SNUC. A descrição do limite contida no MD deve permitir que se reproduza um dado espacial perfeito, em que os elementos vetoriais se interconectam a pontos de coordenadas espaciais passíveis de aferição em campo. Os trechos podem ser representados por elementos naturais ou antrópicos como rios, limites políticos, estradas, curvas de nível, massa d'água e outros representados nas cartas oficiais ou calculados matematicamente, como azimutes e distancias, por exemplo, anexo 2 (VIEIRA, et al, 2016).

Linhas retas de azimutes e distancias e outros elementos de perímetro que requerem mapeamentos específicos como Linha de Preamar Média – LPM, linhas de costa e divisores de água são representados por dados matemáticos e por meio de projeções subjetivas. Atualmente não se recomenda o uso destes tipos de feições na composição dos limites de UCs pela dificuldade reprodução espacial do polígono e materialização em campo, grau de subjetividade e falta de referências no terreno. Historicamente, além do Decreto de criação, existem outros tipos de instrumentos legais de oficialização de UCs, porem os tipos de normas não indicados pelo SNUC e de hierarquia inferior ao decreto vêm sendo substituídos por instrumento legal definido oficialmente (VIEIRA, et. al 2016; ROSENFELDT & LOCH; 2012).

As informações traduzidas do MD de uma UC podem ser mais bem visualizadas e interpretadas em mapas temáticos, onde é possível avaliar os dados em um contexto relacional, juntamente com outros elementos espaciais. Os mapas são importantes instrumentos para tomada de decisão, avaliação e gestão do território, por isso é essencial haver qualidade da informação espacial dos elementos componentes do perímetro das áreas protegidas para que sua representação seja coerente. A reprodução da poligonal de uma UC deve trazer na íntegra o conteúdo do MD no que se refere ao seu limite, admitindo-se margens de erro cartográfico que são normatizadas, quadro 03 (SANTOS, 2002; GIRARDI, 2000).

66 2.3 – Os procedimentos para elaboração do memorial descritivo e os desdobramentos técnicos

No que tange aos limites, a construção de uma poligonal de UC, nos estudos de criação, ocorre com o apoio de geotecnologias espaciais e uso de bases de dados remotas. A montagem do perímetro é feita a partir de dados vetoriais e matriciais referenciados em estudos técnicos e oficializados em ato normativo. Neste processo há pouca ou nenhuma verificação em campo para coleta de dados precisos de limites e aferição de informações dos elementos da poligonal. Por isso, antes do planejamento do desenho de uma UC, é importante avaliação das características das fontes cartográficas utilizadas e o controle de técnicas para definição do limite e abrangência da área, que são estruturas territoriais básicas das áreas protegidas.

As peças técnicas, referentes à definição de limite e anexas ao processo de criação constituem fonte valiosa de informação de uma UC, podendo ser utilizadas para elucidar questões de divergências de entendimento acerca de uma poligonal em momentos futuros. Nos documentos do processo de criação constam detalhes que nortearam e justificam a composição do perímetro, sendo subsídios para tomada de decisão em relação a real abrangência da área e a construção de diagnósticos acerca de uma dúvida sobre erros de limite.

A precisão temporal e a defasagem de fatores técnicos entre produções espaciais que servem de fontes primárias e as dinâmicas sofridas pelo território protegido no momento do planejamento do perímetro geram desatualizações e inconsistências na concepção dos limites das UCs em momentos atuais e podem criar situações prejudiciais à sua implementação. A dificuldade ou impossibilidade de conversão do MD oficial em dado espacial perfeito por divergência com o cenário geográfico presente, por ausência de elementos técnicos do perímetro ou por dificuldade de interpretação, pode gerar problemas para a gestão e conservação destas áreas e atrasos na execução de instrumentos de gestão.

O procedimento para criação de uma UC possui um rito processual e técnico custoso para o governo e sociedade, com necessidade de estudos e ações diversas acerca da área pretendida. Problema de limite que demandam analise e manifestação oficial em momentos posteriores a sua criação requer contextualização temporal com os aspectos técnicos envolvidos no processo de criação da área protegida, de modo a justificar e elucidar, quando for possível, os referidos

67 problemas e tentar sanar dúvidas acerca da informação efetiva.

Demandas de verificação de limite em época diversa do período de criação de uma UC ocorrem por diversos motivos, dentre eles a falta de coerência do perímetro descrito no MD com a realidade da paisagem geográfica atual e divergência de pretensões ambientais apresentadas no processo de criação. Pode também ter origem em equívocos técnicos quando da elaboração do memorial descritivo que prejudicam a interpretação e a espacialização da sua poligonal. A falta de determinação de um padrão institucional para elaboração de MDs pode ser uma das causas das dissonâncias presentes nesses documentos e as dificuldades disso decorrentes.

A incerteza da abrangência de uma UC causa, principalmente, insegurança nas ações de aplicação da lei de proteção e fiscalização em seu território e enfraquece as atuações administrativas e políticas do Estado em prol da conservação ambiental. A imprecisão ou precariedade da informação espacial do limite com reflexo no seu reconhecimento local pode favorecer pressões externas, aumentando a vulnerabilidade da área protegida. Problemas de delimitações físicas podem interferir na efetividade de gestão, mesmo que a conservação seja um processo imbuído de outros fatores e influências além de delimitação física (VIEIRA, et. al 2016; BARBOSA, 2013).