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CAPÍTULO 4: UM OLHAR SOBRE AS ORIENTAÇÕES DA ESCRITA: A

4.2 O contexto sociossubjetivo

4.2.3 A posição social do receptor

No Manual de Redação e Estilo O Globo, no Capítulo 5, na seção Questões Éticas, p. 119 e 120, encontramos direcionamentos que remetem à posição social do receptor.

Em princípio, a notícia não pode ofender o inocente – e, dentro dos limites do bom senso, deve-se levar em conta que a ofensa é definida por quem a recebe, não por quem a comete. Pode ser que só o morador do subúrbio sinta intenção depreciativa na palavra “suburbano” – e, nesse caso, embora a expressão seja literalmente correta, não custa evitá-la

Pelo mesmo critério, é correto respeitar as solicitações de grupos sobre a forma pela qual devem ser tratados. Estão nesse caso, por exemplo, as reivindicações de deficientes físicos, que repudiam expressões paternalistas ou que enfatizem excessivamente suas limitações, como os diminutivos (“o ceguinho”, por exemplo). É sempre errado falar de deficiência ou da doença como um dado da identidade da pessoa. Uma pessoa tem câncer, Aids, lepra; mas não é “a cancerosa”, “a aidética”, “a leprosa” etc.

Por todo o enunciado, encontramos direcionamentos que demonstram a preocupação que o jornalista (emissor do texto) deve ter com o receptor, ou melhor, com a posição social que o leitor do jornal ocupa. Através de exemplos, o autor demonstra como o emissor pode evitar, nos textos, determinadas palavras que venham a ofender o leitor. Desde a concepção de ofensa, a qual é apresentada como uma construção feita pelo receptor do texto, a partir do momento em que ele a receba como tal até o uso de palavras que, por mais corretas que sejam, possuem sentido depreciativo por quem as lê, como “suburbano” e “ceguinho”, temos preocupações explícitas no tocante à possível reação do leitor que receberá o texto.

Ao produzir o texto, é preciso que o emissor atente para esses cuidados e que perceba que as palavras possuem uma carga ideológica que vai além do significado presente nos dicionários. Numa reportagem que aborde o Movimento dos Sem Terra, o jornalista enfrenta

o dilema, por exemplo, de optar ou pela palavra “ocupação” ou “invasão”. Aparentemente, ambas teriam o mesmo objetivo na reportagem, entretanto, a primeira opção revela a forma como o emissor concebe a luta do movimento, ou seja, é uma palavra mais moderada, de caráter positivo. Já se optar pela segunda, teremos uma concepção negativa acerca da ação que, de certa forma, posicionará o emissor a favor do proprietário da fazenda. Todos esses cuidados estão intrinsecamente ligados à relevância da posição social assumida pelo receptor do texto e também à imagem que o enunciador (emissor) quer evidenciar sobre suas próprias concepções e representações do mundo social.

Em outro exemplo extraído do mesmo Manual de Redação e Estilo O Globo, no Capítulo 5, na seção Questões Éticas, p.120, encontramos direcionamentos que remetem à posição social do receptor.

É também preconceituoso tratar com condescendência a ignorância de quem não teve acesso à educação. Há notícia se o cientista político põe na boca de Montesquieu uma frase de Rousseau, ou se o diplomata faz uma gafe com o ministro estrangeiro – mas não se um trabalhador braçal não sabe falar direito ou se um analfabeto pensa que a Argentina fica em Buenos Aires.

Neste fragmento, encontramos uma ligação entre o respeito que o jornalista deve ter com o leitor, a partir da forma como os fatos devem ser escolhidos antes de serem noticiados, e a posição social ocupada pelo receptor do texto.

Muitas vezes, a mesma notícia, que serve de humor para uma boa parte dos leitores que possuem um maior grau de instrução, desrespeita uma parcela de pessoas que também leem aquele jornal e se sentem vítimas diante da situação noticiada. Mais importante do que a preocupação em abordar um determinado fato e transformá-lo em notícia, está a forma como o leitor compreenderá a matéria. A compreensão dessa também é determinada pela posição social que o emissor ocupa.

Comumente, os jornais veiculam charges que, por mais bem elaboradas que sejam, muitas vezes, emitem alguns juízos de valor que vão desde o preconceito linguístico até o social. Os gêneros humorísticos, normalmente, servem como exemplos dessas ocorrências, situações em que o papel social do receptor do texto constitui um aspecto irrelevante na produção textual.

No fragmento a seguir, extraído do LD Todos os textos, no capítulo que aborda o gênero Crítica, mais precisamente na página 111, temos, na seção Agora é a sua vez, as seguintes orientações que encaminham a produção textual:

- Reúna-se com seus colegas de grupo e escolham uma obra, de preferência recente, sobre a qual vocês vão produzir uma crítica. Pode ser filme, vídeo, DVD, CD, história em quadrinhos, peça teatral, show musical ou uma obra de outro tipo.

(...)

- Tenham claro o perfil do público: colegas de sua e de outras classes, professores e funcionários da sua escola, além de familiares e amigos que serão convidados para a mostra Jornal Cultural, que será produzida no capítulo Oficina de Redação desta unidade. Empreguem uma linguagem clara e objetiva, de acordo com a variedade padrão, mas adequada ao perfil dos leitores.

Neste último fragmento, além de termos, inicialmente, muitas opções de objetos a serem abordados nas produções, temos a presença explícita da posição social dos receptores do texto a ser produzido: a comunidade escolar. Além disso, há também uma orientação no tocante ao tipo de linguagem a ser escolhido pelo produtor de modo que seja adequada ao perfil dos leitores.

Essas considerações acerca dos enunciados acima ratificam os aspectos relacionados ao contexto sociossubjetivo, os quais consideram que: todo texto é produzido nos quadros de uma formação social (a escola) e que, nessa, há uma interação comunicativa (os alunos produzirão os textos e esses, ao final da unidade, serão reunidos e expostos numa mostra cultural para toda a comunidade escolar) que implica o mundo social (as normas, regras, tipo de linguagem que compõem a estrutura de um texto crítico) e o mundo subjetivo (as marcas pessoais presentes em cada texto produzido).

A seguir, abordaremos exemplos de orientações, presentes no corpus analisado, que enfocam outro parâmetro do contexto sociossubjetivo: o objetivo da interação.

4.2.4 O(s) objetivo(s) da interação

Em Redação para Concursos e Vestibulares, no Capítulo 5, na seção Funções da linguagem, p. 35, encontramos a seguinte afirmação.

Ao transmitirmos uma mensagem, sempre temos em mente um objetivo. E por meio da linguagem podemos realizar diferentes ações: transmitir informações, dar ordens, emitir opinião, assumir compromisso,