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nos acontecimentos do século XVI, juntamente com sua extensa obra literária, a qual a doutrina da predestinação esteve em evidência em nossos apontamentos hermenêuticos. Certamente, Calvino foi pai de uma geração entendida como reformados ou calvinistas. Resta-nos perguntar: como as religiões de herança calvinista se comportaram após nos séculos ulteriores a Calvino? A verdade é que a predestinação serviu como um estímulo psicológico na vida desses religiosos; quer contemporâneos ao reformador de Genebra - no caso de John Knox -, quer posteriores a ele. Quando tratamos de ramificação do Calvinismo, referimo-nos principalmente aos seguintes grupos religiosos, a saber, puritanos e presbiterianos.

A reforma religiosa, como veremos a seguir, surge dentro do bojo protestante como foi o caso da Grã-Bretanha. Para o historiador Gonzalez (1989, vl. 6, p. 121), “a Grã-Bretanha esteve dividida em dois reinos: o da Inglaterra, sob o regime dos Tudor e o da Escócia, cujos soberanos pertenciam a dinastia dos Stuart”, sendo assim, o caminho reformador desses dois lugares foram distintos entre si, tendo no aspecto político-religioso sua base. Segundo esse mesmo historiador, a Escócia era aliada da França, e a Inglaterra; da Espanha, sendo internos os intensos conflitos políticos entre esses dois países. Nisso, com estratégias políticas, Henrique VII arranja um casamento para seu filho Artur com a filha dos reis católicos, Fernando e Isabel, de nome Catarina de Aragão. Gonzalez (vl. 6, 1989) nos conta que a tentativa do monarca era fortalecer a aliança com a Espanha Católica. Todavia, o jovem Artur morre e a jovem Catarina ficara viúva. Para manter a aliança matrimonial e política, o sogro do defunto, no caso Fernando, propõe que sua filha Catarina se case com seu cunhado Henrique VIII (1509-1547). É nesse ponto que a reforma na Inglaterra começa a ter seu início. Isso porque havia dúvidas se esse casamento, com Henrique VIII, pudesse ser validado ou não, ou seja, sempre existia a dependência do Estado inglês à Igreja Católica. Mais tarde, o próprio rei considera nulo seu casamento.

80 Casados, Henrique VIII e Catarina de Aragão tiveram seis filhos, mas somente uma menina, de nome Maria Tudor, sobreviveu. Esta ficou conhecida na história como a “sanguinária”. Dreher (2006) nos conta que o motivo pelo qual o rei procurou se divorciar de sua esposa foi o fato dele precisar de um herdeiro e, para isso, de um casamento legítimo. Ora, como Catarina não mais podia dar-lhe um filho, então, Henrique VIII casa-se com Ana Bolena a quem lhe deu uma filha de nome Isabel I. De fato, muitas foram às idas e vindas do rei Henrique e seus diversos casamentos na procura de um filho que pudesse lhe suceder. Somente mais adiante é que o rei teve um filho com uma terceira mulher, Joana Seymour cujo nome foi dado Eduardo VI.

O mapeamento histórico que serve de base para o Calvinismo tem o seguinte trajeto: Maria Tudor e Isabel I são consideradas bastardas e Eduardo VI é o filho “legítimo” de Henrique VIII. Já em função dos desencontros com a Igreja Católica, no caso de seu casamento com Catarina de Aragão, o monarca resolveu se nomear o soberano para deliberar os assuntos políticos e religiosos e, para tal, unificando o Estado a uma nova forma de religião que fez surgir, a saber, o Protestantismo anglicano cujo nome principal nos assuntos religiosos foi Cranmer. De acordo dom Dreher (2006, p. 107) “Henrique VIII fundou em 1534, por meio de um ato de supremacia, a Igreja Anglicana. Estava consumada a separação de Roma. Com a designação de Thomas Cranmer (1489-1536) para as funções de arcebispo de Cantuária [...]” (p. 107). Esse líder religioso publicou o Livro da Oração Comum e os Trinta e Nove Artigos considerados símbolos de fé dessa nova ordem religiosa.

Por conseguinte, Eduardo VI (1547 -1553) sucedeu a seu pai e acelera o processo de reforma na Inglaterra introduzindo em seu bojo as ideias dos reformadores Zuínglio e Calvino. É nesse período que Cranmer redige o Livro da Oração Comum e os 39 Artigos. Segundo Alderi Matos (2011)73, tanto Eduardo como Cranmer mantiveram correspondência com o reformador João Calvino. No entanto, conforme as informações de Gonzalez (1989, vl. 6), Eduardo VI era muito enfermo o que culminou em sua morte em um curto período de seu reinado. Na Sucessão monárquica, Maria Tudor (1553-1558), lembrada como a “sanguinária”, sobe ao poder.

Após sua morte, Isabel I (1558-1603) assume seu lugar. Ao contrário da sua meia irmã, por ser protestante, ela reafirma o Anglicanismo como religião oficial dando força a essa nova forma protestante de ser, restabelecendo “o anglicanismo com a Lei dos 39 Artigos

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MATOS, Alderi. História do Movimento Reformado: a Fé Reformada na Inglaterra. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/7016.html>. Acesso em: Acesso em 27 de junho de 2016 às 01h e 11 min.

81 (1563) de inspiração calvinista74 e o Livro da Oração Comum, usado até os dias de hoje sem grandes modificações” (MENDONÇA, 2008, p.57). Ora, a inquisição também foi evidente nesse período, conforme a afirmação de Gonzalez (1989, vl. 6, p. 135) “o número de católicos justiçados durante o reinado de Isabel foi tão alto quanto o de protestantes que morreram debaixo de ‘Maria, a Sanguinária’”.

Nem todos os protestantes estavam satisfeitos com essa nova forma de Protestantismo proposto pela rainha Isabel I, pois criam que este não era tão puro por trazer em seu bojo traços de Catolicismo. Esse grupo, que surge dentro do anglicanismo, com convicções marcantes de Calvinismo ortodoxo, foi conhecido como puritanos75 e por ser um movimento religioso importante a esta pesquisa - em função da doutrina da predestinação e a emigração destes a América do Norte - é relevante tratá-los aqui.

O Puritanismo foi um movimento de reforma dentro do Protestantismo anglicano que teve seu início no século XVI se estendendo até o século XVII. Seu ponto de partida foi à Inglaterra, mas se estenderam até a América do Norte onde construíram uma doutrinal cuja teologia da predestinação teve seu espaço. O conceito de nação eleita e modelo para o mundo foi um dos ideais desse grupo religioso podendo inferir esse fato a partir do conceito que tinham de predestinação. Para McKim apud Matos (2011, p. 01)76, “o movimento foi calvinista quanto à teologia e presbiteriano ou congregacional quanto ao governo eclesiástico”

Mendonça (2008) informa que esse grupo religioso eram os partidários de uma reforma mais rigorosa dentro da Igreja Anglicana, identificando-o com os exilados que fugiram no período de Maria Tudor os quais foram, principalmente para Genebra, e entraram em contato com outros grupos protestantes ali. Quando voltaram à Inglaterra, no período de Isabel I, buscaram “purificar” a igreja. Os pontos principais da reforma buscada por esse grupo, segundo esse mesmo autor, inclui uma disciplina rigorosa aos clérigos e leigos e uma ética acentuada como resultado dessa mesma disciplina. Como bons calvinistas, o estudo da teologia bíblica era um fato vivido por eles.

Com a morte de Isabel I, quem assume seu lugar é o rei Jaime I (1603-1625), filho de Maria Stuart, rainha da Escócia. Tal rei tinha uma visão política absolutista. Sendo ele rei da

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Martin Dreher (p. 112) nos diz que, além da eucaristia, a doutrina da predestinação fora acrescentada nessa reforma da rainha Isabel I.

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O termo encontra-se no plural, pois não se tratava de um só grupo religioso. Nisso, diz Gonzalez (2001, vl 08): “Estes protestantes radicais não estavam organizados em um só grupo e, portanto, é difícil descrevê-los com exatidão” (p. 51).

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MATOS, Alderi. Movimento Reformado: Puritano e Assembleia de Westminster. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/7058.html>. Acesso em: Acesso em 27 de junho de 2016 às 01h e 58 min.

82 Inglaterra e da Escócia, pretendia unificar os reinos. Para fundamentar sua visão política absolutista, o rei recorre à teoria do Direito Divino dos Reis.

No campo religioso, sua política se aproximava do anglicanismo e alguns puritanos descontentes dirigiram-se para a América do Norte fundando neste lugar as Treze Colônias. No entanto, a maioria do Parlamento era calvinista: puritanos e presbiterianos. Quando o rei precisou de custos financeiros para fortalecer o exército e a coroa, reuniu o Parlamento. Sua ideia era aumentar os impostos. Mas quem pagaria a conta? Certamente, o grupo mais fraco economicamente, ou melhor, os pobres. Ora, o Parlamento não concordando - tendo em vista as políticas absolutistas e religiosas de Jaime I - é dissolvido. Dessa forma, nos relata o historiador Gonzalez:

Assim, houve milhares de católicos encarcerados. Através dos conflitos dos seus primeiros anos de reinado, James tratou de governar sem o Parlamento. Mas somente essa assembleia tinha direito de determinar novos impostos e, por fim, em 1614, o Rei viu-se obrigado a convocá-la novamente, pois sua situação financeira era desesperadora (GONZALEZ, 2001, vl 8, p. 56).

Com a política de anular o Parlamento sempre que podia, pois este tinha a maioria calvinista e era quem detinha nas decisões econômicas; ao invés de enfraquecê-lo, o rei só o fortalecia. Qual então foi a “saída” de Jaime I? Gonzalez informa que o monarca impôs ainda mais taxas as quais tinha direito, aumentando-as e pedindo sempre o apoio e financiamento dos nobres e bispos. Todavia, em 1625, Jaime I morre e seu filho Carlos I assume o seu lugar.

Carlos I (1625-1649) manteve a mesma política de seu pai, ou seja, visão absolutista, perseguição religiosas aos puritanos, pesados impostos sobre os lombos do povo pobre e por diversas vezes extinguiu o Parlamento. Neste sentido, escreve o historiador Hill (1955):

Os interesses defendidos pela monarquia do rei Carlos não eram, de modo algum, os do povo em geral. Representava os nobres proprietários de terra, e a sua política era influenciada por um clique de Corte comporta de escroques da aristocracia comercial e dos seus parasitas, que chupavam o sangue do povo usando de métodos de exploração econômica [...] (HILL, 1955, p. 17). Quais foram esses interesses defendidos pelo rei e a quê consequência isso levou? Descrever tais acontecimentos nos tornaria prolixos e fora de nosso interesse, como nosso foco são os acontecimentos religiosos e, sobretudo, dissecar a doutrina da predestinação, não há porque se estender nos aspectos históricos do problema, mas se calhar uma síntese do contexto histórico se faz necessário para uma melhor compreensão da nossa questão.

83 Mantendo-se firme na política de invalidações77 ao Parlamento, o rei Carlos I, a partir de 1629, reinou por onze anos sem essa Assembleia política. Isso fez com que a elite se fortalecesse ainda mais, por consequência mais opressão a classe pobre. No entanto, como os puritanos não aceitavam tal situação, esse grupo religioso se fortalecia entre o povo. Além dos descontentamentos com os puritanos do Parlamento inglês, Carlos I também entra em conflito com os presbiterianos escoceses. Como esses grupos religiosos tinham em comum o ideal calvinista, certamente se uniram contra o rei para assim iniciar a Guerra Civil.

O ingresso do puritano Oliver Cromwell (1599-1658), na Revolução Puritana78 de 1640, traz dois destaques relevantes para a nossa análise, primeiro, Cromwell lidera o conflito, introduzindo sua estratégia de guerra ao modelo da cavalaria real. Além de suas estratégias militares, o mais relevante ressaltar é seu zelo religioso. Ao adotar o Puritanismo, Gonzalez (2001, vol 8, p. 67) diz que ele era um assíduo estudioso da bíblia. “Para ele, toda a decisão, tanto política como pessoal, devia ser tomada indagando-se seriamente qual a vontade de Deus”. Relatamos que o tema da vontade de Deus está relacionado à teologia calvinista.

Nos relatos de Hill (1988), percebe-se que Cromwell abraça o Puritanismo na mesma medida que vai se envolver com ele, ou seja, ele vai amadurecendo como um bom puritano e se fortalecendo nos ideais calvinistas. A exemplo, Hill nos conta que uma das maiores influências sobre a vida de Cromwell foi seu mestre e amigo Thomas Beard. Este havia introduzido o líder da Revolução Puritana em uma educação puritana. Beard era um jovem ministro e gostava de escrever peças, pelo que Hill conta que Cromwell se envolvia com elas. Lendo-as e assistindo-as, além dos sermões e livros. Um desses livros famosos de Beard, escrito em 1597, cujo título era: “o teatro dos julgamentos de Deus79”, onde retrata a existência como uma luta entre Deus e o poderes das trevas, na qual os eleitos combatem por Deus e estão seguros da vitória, na medida em que obedeceram às leis divinas.

Os estudos de Gonzalez (2001, vl 8, p. 70) relatam que os soldados de Cromwell “se inflamaram com o zelo de seu chefe”, porque para eles tratava-se de uma “guerra santa”. Continua os escritos de Gonzalez: “antes de marchar para o combate, liam as escrituras e

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Gonzalez (2001) informa que essa tinha sido a terceira vez que Carlos I dissolvia o Parlamento. Tal estratégia política era tão marcante em seu governo que, em 1640, Carlos I precisou reunir o Parlamento, pois só este tinha o poder de liberar fundos, mas logo depois o rei dissolve, ficando conhecido, assim, como “Parlamento Curto”. Mas em 1641, o novo Parlamento aprova uma lei que não podia ser dissolvido pelo rei.

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Também conhecida como Revolução Inglesa ou Revolução Civil.

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Quando Tillich (2015) expõe a predestinação em Calvino, partindo da temática do mal, perpassando para o tema da vontade e da glória de Deus, ele nos diz que o mundo para Calvino é “o teatro da glória de Deus” (p. 262).

84 depois oravam e depois cantavam salmos em meio à luta” (GONZALEZ, p. 70). É exatamente nesse calor que vencem a batalha, derrubam a monarquia e estabelece o Parlamento como a força política da Inglaterra. Carlos I era vencido e decapitado em 30 de janeiro de 1649, nas mãos e liderança do “eleito de Deus”, já que é exatamente esse o título do livro de Christopher Hill. Temos dito que nosso percurso investigativo pretende identificar a força que uma doutrina religiosa pode exercer na vida de um sujeito, mudando sua maneira de pensar e agir. Certamente, a ideia de predestinação motivou Cromwell e o fortaleceu em meio à luta que travou contra a realeza. Foi sua força maior, sua motivação na batalha como na encenação da peça de Beard. Hill registra exatamente sobre isso no capítulo IX de seu livro, “A Providência e Oliver Cromwell” afirmando que foi a doutrina da predestinação a maior motivação deste revolucionário. Importa dizer aqui que esta doutrina é sempre de ação e impulsiona o eleito para frente, pois se encontra motivado psicologicamente para agir no mundo: “Samuel Butler escrevia do ponto de vista do inimigo e após o acontecimento, mas ele também estava afirmando que o puritano confere elã revolucionário, que seus efeitos são internos e psicológicos” (HILL, 1988, p. 201).

Corroborando com Hill, afirma Shaull:

O Calvinismo forneceu uma enorme atração sobre os “inconformados” da Inglaterra, desarraigados e profundamente contrariados com a sociedade a que pertenciam; aqueles que o adotaram acharam uma nova promessa para a vida e para o mundo, o que deu sentido aos seus esforços. Sua participação mancomunada os levou à luta revolucionária e os animou a ela. O Calvinismo reafirmou - numa época de desorganização social e ansiedade pessoal – a soberania em um Deus benevolente (Richard Shaull, apud Calvani, 1994, p. 72).

Alguns fatores podem ser destacados durante este período. A convocação da Assembleia na cidade de Westminster em 1643 com a presença de 121 ministros. O que se destaca aqui é a teologia calvinista que unia a diversidade de religiosos reformados. No início, a forma de governo preferida foi à presbiteriana, mas como Cromwell era congregacionalista prevaleceram suas decisões. Gomes (2003, p. 85) afirma que “a influência de Cromwell e dos independentes impediu que o Presbiterianismo prevalecesse na Inglaterra”. Tais acontecimentos nos apontam que; embora os puritanos concordassem quanto à teologia, não acordavam quanto à forma de governo. O principal fruto das decisões teológicas em Westminster foi à produção de uma Constituição de Fé que se tornou a base teológica para as

85 igrejas reformadas como a Presbiteriana. Sabe-se que essa teologia repousava no pensamento de Calvino via teologia do pacto.

Segundo Mendonça (2008 p. 64), a teologia do pacto surgiu com base nos textos de Calvino e ganhou força nos escritos de Heinrich Bullinger80 (1563). Essa teologia “foi desenvolvida e detalhada por uma sucessão de teólogos do Reno e dos Países Baixos”. Mas no que consistia essa teologia e qual a relação com nosso objeto de análise? Ahlstrom (1975) apud Mendonça, diz o seguinte:

O coração da Teologia do Pacto reside na insistência em que os decretos predestinantes de Deus não são pare de vasto esquema impessoal e mecânico, mas que, sob a dispensação do Evangelho, Deus estabeleceu um pacto de graça com a semente de Abraão. Isto deve ser apropriado pela fé, e por essa razão, é irredutivelmente pessoal (MENDONÇA, 2008, p.65). Esse conceito nos faz lembrar a noção de eleição de Israel com base em um pacto divino, conforme vimos em Fingerman (2005), no primeiro capítulo, e que é efeito da predestinação em Calvino. É daqui que aparecem as concepções mais radicais da doutrina da predestinação conforme entendiam seus discípulos como foi o caso de Theodore Beza (1519- 1605) e William Perkins (1558-1602) os quais, segundo Calvani (1994), foram bastante influentes na redação da Confissão de Fé de Westminster. Sendo assim, Calvani faz uma separação entre o pensamento de Calvino e as transformações que se seguiram nos anos posteriores quanto a sua teologia. Para este autor, houve deturpações ao pensamento de Calvino na figura de seus discípulos, cujo período mais tardio ele chama de ortodoxia protestante. Quanto a essas discursões, veremos mais para frente quando falarmos do Sínodo de Dordrecht.Por hora, fiquemos com a observação de Calvani:

O preconceito que se tem atualmente contra Calvino é consequência das deturpações do seu pensamento, empreendidas no período da ortodoxia protestante. É um grande erro identificar precipitadamente qualquer teologia que defenda a predestinação com o pensamento do reformador franco-suíço (CALVANI, 1994, p. 72).

A Confissão de Westminster é um dos símbolos de fé da Igreja Presbiteriana do Brasil e será retomada no tópico A Predestinação na IPB. Ela é fruto da Assembleia em Westminster e reuniu “as várias tendências teológicas calvinistas [convergindo] para a

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86 Teologia do Pacto [...]” (MENDONÇA, 2008, p. 65). Quando Weber81 fez sua análise não deixou de citá-la sendo ela parte da história do povo americano conforme o conceito de nação predestinada82. Nisso, lembra Mendonça: “A Teologia do Pacto, talvez pela sua quase universalidade entre as igrejas de origem calvinista, via Confissão de Westminster, e por estar na origem da própria história do povo americano, parece ser a raiz da ideologia do Destino Manifesto” (MENDONÇA, 2008, p. 66).

Quando nos referimos à reforma na Grã-Bretanha falávamos de dois reinos: a Inglaterra e a Escócia. No primeiro momento, foi dada prioridade ao contexto inglês, ficando, dessa forma, os relatos da reforma escocesa para este espaço. Essa reforma aparece na presente pesquisa, pois foi dela que surge o termo presbiteriano e/ou Presbiterianismo83 o qual é parte do nosso objeto.

Segundo Gonzalez (vl.6, 1989) as ideias dos lolardos e husitas84 já haviam criado uma base para uma reforma na Escócia. Porém, Matos (2011)85 aponta dois nomes pioneiros que introduziram o Protestantismo na Escócia: Patrick Hamilton e George Wishart. Este queimado na fogueira em 1546 e aquele, também queimado na fogueira, em 1528. Após esses nomes, em 1560, surge o reformador John Knox.

Com as perseguições vindas da mencionada Maria Tudor, a “sanguinária”, John Knox foge “para a Suíça, onde pôde passar algum tempo com Calvino, em Genebra e em Zurich, com Bullinger, o sucessor de Zwínglio [...]” (GONZALEZ, 1989, vl 06, p.138). Mas, em 1559 volta para a Escócia, quando Isabel I estava no poder, recebendo desta o apoio, já que ela era protestante, e em 1560, a fim de cumprir sua ardente e famosa oração: “Ó Deus,

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Referimo-nos a obre A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo

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Essa ideia de nação escolhida foi vista no primeiro capítulo e parece estar presente nos lugares onde a doutrina da predestinação é enfatizada como a Eleição em Israel, a Genebra de Calvino, a Inglaterra do Anglicanos e Nova Inglaterra dos Puritanos e a Escócia de John Knox. Sendo assim, é possível inferir que onde a doutrina da predestinação esteve presente como doutrina religiosa causou esse sentimento de pertencimento; de estar no “Centro do Mundo” conforme as observações já citadas de Finguerman (2005) a partir de Mircea Eliade.

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O historiador Alderi Matos (2011) no artigo Movimento Reformado: Presbiterianismo, informa que o termo presbiterianismo foi adotado como forma de governo eclesiástico, além da Escócia, pela Inglaterra e Irlanda. Maiores detalhes sobre a preferência e surgimento do nome para a religião protestante presbiteriano será desenvolvido no tópico mais a frente. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/7061.html>. Acesso em 28 de