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A predominância da agricultura convencional

Capítulo I – A expansão da produção do alimento alternativo ao convencional no ES

1.1 Décadas de 1960 e 1970: A semente da produção alternativa no Espirito Santo

1.3.1 A predominância da agricultura convencional

Apesar de apresentar a consolidação da agricultura alternativa e as experiências incipientes de comercialização, vale ressaltar que tal movimento se dava paralelo à comercialização de alimentos convencionais. O que se chama hoje de abastecimento urbano de alimento, na época, se dava a partir do pequeno comércio e trocas, levando em consideração que, nessa época, o estado tinha maioria (mais de 70%) dos habitantes residindo em áreas rurais.

Um importante estudo sobre produção de alimentos convencionais intitulado A geografia dos alimentos no Espirito Santo foi realizado por Lucci

(2013), em sua dissertação de mestrado20. O trabalho apresenta dados

essenciais para compreender o cenário da produção de alimentos no estado. O autor mostra que a primeira Central de Abastecimento do Espírito Santo (CEASA) é criado em 1977, em Cariacica, denotando “um marco para a organização da distribuição dos alimentos no espaço urbano da região Metropolitana” (LUCCI, 2013, p. 128), passando a ser o principal ponto de distribuição de alimentos no ES.

Não é intenção deste trabalho travar uma discussão do alimento a partir do binômio convencional/orgânico, porém cabe o destaque da rede de distribuição e consumo de alimentos convencionais por ser o meio principal de abastecimento, principalmente a partir do fim dos anos 197021.

No estado, segundo o autor, a produção de frutas e hortaliças é hoje praticamente autossuficiente e destinada ao abastecimento das cidades, de modo que a agricultura familiar possui um papel importante no cenário de produção de alimentos, sendo que, no abastecimento urbano “a região Serrana atua como um verdadeiro ‘cinturão verde’ dos alimentos in natura para a metrópole capixaba” (LUCCI, 2013, p. 162).

Mapa 2- Origem dos alimentos convencionais que abastecem a Central de abastecimento do Espírito Santo (CEASA), Cariacica

20O autor contribui para o debate sobre a importância da alimentação como objeto de análise

da Geografia. Lucci realiza sua análise sob as perspectivas de Josué de Castro entendendo a relação intrínseca da natureza e do homem através do alimento, e de Paul Claval que traz a importância da função orgânica da alimentação, apontando para o processo de evolução humana e das relações entre natureza e cultura, tendo como pressuposto o domínio da técnica

para transformar os alimentos e tornar muitos deles, próprios para o consumo. O autor divide os estudos geográficos da população e da alimentação com referência em Beaujeu-Garnier e na Geografia política de Porto Gonçalves.

21 De fato, na própria pesquisa foi encontrado, donos de uma produção orgânica (sítio

Quitanda Natural) com mais de 100 hectares que distribui alimentos para 3 feiras orgânicas no Rio de Janeiro, que não caracteriza produção da agricultura familiar, por exemplo. Ou ainda, o caso de feiras convencionais que possuem barracas de alimentos cultivados sem veneno, porém sem certificado, outras barracas com certificados, mas que não quiseram aderir a uma associação de agricultores. O caso do restaurante Sol da Terra (já exposto aqui) que é também uma marca de produção orgânica certificado pelo MAPA, também é um bom exemplo da diversidade atuações na malha de alimentos orgânicos. Ou seja, situações como essas tornam a temática mais complexa, e não redutíveis ao binômio que pode aparentar existir, definitivamente não é a intenção sustentar isso aqui.

Destaca-se o mapa e gráfico abaixo, elaborados pelo autor, para especificar a geografia da produção de alimentos no ES onde aparecem os

principais municípios de referência e as Centrais de Abastecimentos do estado (CEASA).

A pesquisa elaborada por Lucci (2013) proporciona subsídios para compreender, comparar e fazer possíveis relações com o percurso que faz o alimento orgânico. O autor chama atenção para o CEASA como principal ponto fixo de distribuição dos alimentos convencionais. Os municípios com destaque no envio de alimentos para a CEASA-ES, são Santa Maria de Jetibá, Domingos Martins e Santa Leopoldina, sendo seus principais fornecedores.

Segundo dados de 2016 da CEASA-ES, o município de destaque na comercialização dos produtos foi Santa Maria De Jetibá com 27%, seguido de Domingos Martins com 12,35%. No ano de 2016, circularam na unidade de Cariacica das Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (CEASA/ES), 392 milhões de quilos de produtos hortigranjeiros. A média por mês foi de 32,6 milhões de quilos22.

Atualmente, são produzidas em média três mil toneladas de alimentos por mês no Espírito Santo. A produção de outras 10 mil toneladas é realizada por agricultores em fase de transição para a produção orgânica. Pelo menos 40 municípios no Estado produzem agricultura de forma agroecológica; atualmente, de acordo com o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO), estão certificados 22 municípios dos 78 existentes23.

Diferente do estudo realizado por Lucci (2013), Alfredo Chaves, Venda Nova do Imigrantes, Itaipava e Afonso Cláudio não constam no CNPO do MAPA como produtores certificados de alimentos orgânicos.

O município de Cariacica é o segundo maior produtor de alimentos orgânicos e agroecológicos conforme registro no CNPO do MAPA. O município possui 18,3% do total de agricultores cadastrados pelo MAPA no

22Dados disponíveis no site da CEASA-ES:

<https://ceasa.es.gov.br/balan%C3%A7ohortigranjeiro>. Acesso em 20 de mai. de 2017.

23 MDA divulga informações sobre o crescimento da produção orgânica no ES em janeiro de

2017. Disponível em: <http://www.mda.gov.br/sitemda/noticias/produtores-em-fase-de- certifica%C3%A7%C3%A3o-j%C3%A1-comercializam-org%C3%A2nicos-no-es>. Acesso em 13 de mar. de 2017.

ES, estando atrás apenas de Santa Maria de Jetibá, o município de maior produção de alimentos do estado, inclusive, de alimentos orgânicos, com 22,7% do total de produtores. Cariacica possui um alto número de produtores certificados por OCS e por auditoria externa, assim como apresentado no Capítulo I. Já o município de Santa Maria de Jetibá tem predominância de agricultores certificados por auditoria.

Santa Leopoldina é o terceiro município de maior número de agricultores cadastrados, contendo 9,9% do total, com predominância de certificados por OCS, assim como Mantenópolis, município do Norte do ES ganha destaque com 9,5% do total de produtores, produção oriunda de certificação por OCS.

Mapa 3- Agricultores orgânicos cadastrados pelo MAPA no ES

O trabalho de Lucci (2013) contribui para nossa discussão a partir do momento em que sugerem questões sobre os fluxos dos alimentos. Os alimentos orgânicos seguem o mesmo trajeto da produção convencional? Envolve quais atores, circula em quais espaços? Estas questões iniciais nos levam a investir na construção da malha dos atores da produção orgânica e agroecológica no Espirito Santo que serão apresentadas no Capítulo II.

Contribui também com a solidez de informações sobre a intensa comercialização de alimentos convencionais, que são, ainda, predominantes no abastecimento urbano.