CAPÍTULO I – OS CAMINHOS TRILHADOS NA PESQUISA
CAPÍTULO 2 – TEORIAS E CONCEPÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO DO CAMPO
2.2 A preocupação com o educador da escola do campo
A realização de vários eventos voltados a formações específicas para educadores das escolas do campo se deve a preocupação com uma educação voltada a essa realidade e a fixação do homem nesse meio. Essa perspectiva propõe um educador crítico e ativo, mais próximo do seu aluno e da sua comunidade. Visto que, para os idealizadores da proposta de educação do campo, o educador deve mediar o conhecimento, interagindo com os alunos a partir da sua história, sua cultura, do seu mundo real. Considerando o pensamento de autores como Paulo Freire, Molina e Caldart, podemos afirmar que, o papel fundamental do educador das escolas do campo deve ser o de formar um cidadão crítico, culturalmente preocupado com o desenvolvimento local, comprometido e ativo na busca de uma sociedade, economicamente sustentável, ecologicamente saudável e igualitária, que tenha como princípio básico e fundamental a valorização da vida. Diante desses preceitos, cabe a este educador, conhecer não apenas o aluno e a comunidade, mas também, a teoria que fundamenta a pedagogia libertadora, bem como as propostas apresentadas pelos movimentos sociais nas diretrizes para educação no campo.
Os movimentos defendem a formação geral, que abranja o conhecimento sistematizado e específico, envolvendo a realidade do campo, por isso, a parceria com as universidades é de fundamental importância na formação dos educadores do campo.
Os cursos são orientados com base na teoria da libertação de Freire e funcionam em regime de alternância. Além da demanda de professores leigos em acampamentos já existentes, os movimentos sociais do campo acreditam que a formação do educador da própria comunidade pode fortalecer a luta e a permanência do jovem no campo e, com base nesse pressuposto, hoje são oferecidos diferentes cursos para os filhos dos trabalhadores do campo e alguns assentamentos contam com técnicos, agrônomos, geógrafos, entre outros. Esses novos profissionais são filhos de assentados e atuam em suas comunidades. Observemos que essas
Ações são desenvolvidas por meio de parcerias entre órgãos governamentais, instituições públicas de ensino e instituições comunitárias de ensino sem fins lucrativos, movimentos sociais e sindicais de trabalhadores e trabalhadoras rurais e as comunidades assentadas, no intuito de estabelecer uma interação permanente entre sujeitos da educação continuada e da profissionalização no campo (BRASIL, 2004, p.16).
Partindo da discussão sobre a necessidade de educadores comprometidos e conscientes do seu papel e das formações específicas e gerais pelas quais deve passar para desenvolver um trabalho de qualidade no campo, Paulo Freire nos lembra da postura humilde do educador para o exercício consciente de sua ação interventiva no processo pedagógico. A educação centra-se na prática de liberdade, tomando a conscientização como mola propulsora da realidade social, do ato de ensinar-aprender, intercambiando os conhecimentos da vida e para a vida, uma vez que,
A conscientização implica, pois, que ultrapassemos a esfera espontânea de apreensão da realidade, para chegarmos a uma esfera crítica na qual a realidade se dá como objeto cognoscível e na qual o homem assume uma posição epistemológica. A conscientização é nesse sentido, um teste de realidade, quanto mais conscientização mais se desvela a realidade, mais se penetra na essência fenomênica do objeto, frente ao qual nos encontramos para alisá-lo. Por esta mesma razão, a conscientização não consiste em estar frente à realidade assumindo uma posição falsamente intelectual, a conscientização não pode existir fora da práxis, ou melhor, sem ação-reflexão. Esta unidade dialética constitui, de maneira permanente, o modo de ser ou transformar o mundo que caracteriza o homem (FREIRE, 1980, p. 26).
Esse pensamento de Freire é bastante difundido pelos movimentos sociais do campo, que acreditam ser a educação uma das molas propulsoras para a transformação da sociedade. Além de Caldart, outros educadores têm defendido a educação do campo numa perspectiva socialista que parte da realidade dos povos para o todo da sociedade. Nesse sentido, Molina (2006) procurando enfatizar o papel do educador, ressalta que
Não há, ainda, consenso sobre o perfil do profissional demandado pelas escolas do campo, um perfil coerente com a nova perspectiva de Educação do Campo que vem sendo construída. Tem-se a certeza, apenas de que, a formação destes deve assentar-se em princípios universais já consagrados no setor das ciências da educação, e que leve em conta que o campo é constituído de especificidades que não podem ser ignoradas nos processos educativos, mais que isso, essas especificidades somente estarão presentes se o professor tiver tido formação adequada (MOLINA, 2006, p. 24).
Adalgiza Inês Campolim ressalta sua preocupação com formação do educador. Igualmente, ressalta a importância do conhecimento que o educador deve ter em relação a realidade do educando. Esclarece que,
A formação dos professores e das professoras devia insistir na constituição do saber necessário e que me faz certo desta coisa óbvia, que é a importância inegável que tem sobre nós o contorno ecológico, social e econômico em que vivemos. E ao saber teórico desta influência teríamos que juntar o saber teórico-prático da realidade concreta em que os professores trabalham. Já sei, não há dúvida que as condições materiais em que e sob que vivem os educandos lhes condicionam a compreensão do próprio mundo, sua capacidade de aprender, de responder aos desafios. Preciso agora, saber ou abrir-me à realidade desses alunos com quem partilho a minha atividade pedagógica. Preciso tornar-me, se não absolutamente íntimo de sua forma de estar sendo, no mínimo, menos estranho e distante dela. E a diminuição de minha estranheza e minha distância da realidade hostil em que vivem meus alunos não é uma questão de pura geografia. Minha abertura a realidade negadora de seu projeto de gente é uma questão de real adesão de minha parte a eles e a elas, a seu direito de ser (AQUIDAUANA NEWS/MS, 16-11-2005).
Os educadores do MST, orientados por Roseli Caldart (2000), afirmam que os conteúdos ensinados nas escolas rurais, sem nenhuma adequação para o campo, contribuem para acelerar o êxodo rural.
No que diz respeito à formação do educador, Nóvoa (1991, p. 71) defende que a “formação não se faz antes da mudança, faz-se durante, produz nesse esforço de inovação e de procura aqui e agora dos melhores percursos para a transformação da escola”. Assim, há o entendimento de que a formação do educador deve ser contínua e dirigida pela escola.
Há uma amplitude das discussões referentes à educação do campo, além das questões específicas que se tratam da cultura, história e valores do homem do campo. Esses são temas voltados as questões socioambientais, econômicas e sustentáveis - apresentados na oferta de uma educação que valorize a realidade dessa gente.
Faz-se necessário, entender como as novas políticas têm encaminhado essas discussões. A meta 6 do Plano Nacional de Educação (PNE) indica que o plano do governo é transformar as escolas brasileiras em Escolas de Tempo Integral, ou, de Educação Integral. As discussões sobre essa meta serão discutidas na próxima seção.