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A preocupação com o educador da escola do campo

No documento Dissertação de Rosa Maria da Silva (páginas 64-66)

CAPÍTULO I – OS CAMINHOS TRILHADOS NA PESQUISA

CAPÍTULO 2 – TEORIAS E CONCEPÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO DO CAMPO

2.2 A preocupação com o educador da escola do campo

A realização de vários eventos voltados a formações específicas para educadores das escolas do campo se deve a preocupação com uma educação voltada a essa realidade e a fixação do homem nesse meio. Essa perspectiva propõe um educador crítico e ativo, mais próximo do seu aluno e da sua comunidade. Visto que, para os idealizadores da proposta de educação do campo, o educador deve mediar o conhecimento, interagindo com os alunos a partir da sua história, sua cultura, do seu mundo real. Considerando o pensamento de autores como Paulo Freire, Molina e Caldart, podemos afirmar que, o papel fundamental do educador das escolas do campo deve ser o de formar um cidadão crítico, culturalmente preocupado com o desenvolvimento local, comprometido e ativo na busca de uma sociedade, economicamente sustentável, ecologicamente saudável e igualitária, que tenha como princípio básico e fundamental a valorização da vida. Diante desses preceitos, cabe a este educador, conhecer não apenas o aluno e a comunidade, mas também, a teoria que fundamenta a pedagogia libertadora, bem como as propostas apresentadas pelos movimentos sociais nas diretrizes para educação no campo.

Os movimentos defendem a formação geral, que abranja o conhecimento sistematizado e específico, envolvendo a realidade do campo, por isso, a parceria com as universidades é de fundamental importância na formação dos educadores do campo.

Os cursos são orientados com base na teoria da libertação de Freire e funcionam em regime de alternância. Além da demanda de professores leigos em acampamentos já existentes, os movimentos sociais do campo acreditam que a formação do educador da própria comunidade pode fortalecer a luta e a permanência do jovem no campo e, com base nesse pressuposto, hoje são oferecidos diferentes cursos para os filhos dos trabalhadores do campo e alguns assentamentos contam com técnicos, agrônomos, geógrafos, entre outros. Esses novos profissionais são filhos de assentados e atuam em suas comunidades. Observemos que essas

Ações são desenvolvidas por meio de parcerias entre órgãos governamentais, instituições públicas de ensino e instituições comunitárias de ensino sem fins lucrativos, movimentos sociais e sindicais de trabalhadores e trabalhadoras rurais e as comunidades assentadas, no intuito de estabelecer uma interação permanente entre sujeitos da educação continuada e da profissionalização no campo (BRASIL, 2004, p.16).

Partindo da discussão sobre a necessidade de educadores comprometidos e conscientes do seu papel e das formações específicas e gerais pelas quais deve passar para desenvolver um trabalho de qualidade no campo, Paulo Freire nos lembra da postura humilde do educador para o exercício consciente de sua ação interventiva no processo pedagógico. A educação centra-se na prática de liberdade, tomando a conscientização como mola propulsora da realidade social, do ato de ensinar-aprender, intercambiando os conhecimentos da vida e para a vida, uma vez que,

A conscientização implica, pois, que ultrapassemos a esfera espontânea de apreensão da realidade, para chegarmos a uma esfera crítica na qual a realidade se dá como objeto cognoscível e na qual o homem assume uma posição epistemológica. A conscientização é nesse sentido, um teste de realidade, quanto mais conscientização mais se desvela a realidade, mais se penetra na essência fenomênica do objeto, frente ao qual nos encontramos para alisá-lo. Por esta mesma razão, a conscientização não consiste em estar frente à realidade assumindo uma posição falsamente intelectual, a conscientização não pode existir fora da práxis, ou melhor, sem ação-reflexão. Esta unidade dialética constitui, de maneira permanente, o modo de ser ou transformar o mundo que caracteriza o homem (FREIRE, 1980, p. 26).

Esse pensamento de Freire é bastante difundido pelos movimentos sociais do campo, que acreditam ser a educação uma das molas propulsoras para a transformação da sociedade. Além de Caldart, outros educadores têm defendido a educação do campo numa perspectiva socialista que parte da realidade dos povos para o todo da sociedade. Nesse sentido, Molina (2006) procurando enfatizar o papel do educador, ressalta que

Não há, ainda, consenso sobre o perfil do profissional demandado pelas escolas do campo, um perfil coerente com a nova perspectiva de Educação do Campo que vem sendo construída. Tem-se a certeza, apenas de que, a formação destes deve assentar-se em princípios universais já consagrados no setor das ciências da educação, e que leve em conta que o campo é constituído de especificidades que não podem ser ignoradas nos processos educativos, mais que isso, essas especificidades somente estarão presentes se o professor tiver tido formação adequada (MOLINA, 2006, p. 24).

Adalgiza Inês Campolim ressalta sua preocupação com formação do educador. Igualmente, ressalta a importância do conhecimento que o educador deve ter em relação a realidade do educando. Esclarece que,

A formação dos professores e das professoras devia insistir na constituição do saber necessário e que me faz certo desta coisa óbvia, que é a importância inegável que tem sobre nós o contorno ecológico, social e econômico em que vivemos. E ao saber teórico desta influência teríamos que juntar o saber teórico-prático da realidade concreta em que os professores trabalham. Já sei, não há dúvida que as condições materiais em que e sob que vivem os educandos lhes condicionam a compreensão do próprio mundo, sua capacidade de aprender, de responder aos desafios. Preciso agora, saber ou abrir-me à realidade desses alunos com quem partilho a minha atividade pedagógica. Preciso tornar-me, se não absolutamente íntimo de sua forma de estar sendo, no mínimo, menos estranho e distante dela. E a diminuição de minha estranheza e minha distância da realidade hostil em que vivem meus alunos não é uma questão de pura geografia. Minha abertura a realidade negadora de seu projeto de gente é uma questão de real adesão de minha parte a eles e a elas, a seu direito de ser (AQUIDAUANA NEWS/MS, 16-11-2005).

Os educadores do MST, orientados por Roseli Caldart (2000), afirmam que os conteúdos ensinados nas escolas rurais, sem nenhuma adequação para o campo, contribuem para acelerar o êxodo rural.

No que diz respeito à formação do educador, Nóvoa (1991, p. 71) defende que a “formação não se faz antes da mudança, faz-se durante, produz nesse esforço de inovação e de procura aqui e agora dos melhores percursos para a transformação da escola”. Assim, há o entendimento de que a formação do educador deve ser contínua e dirigida pela escola.

Há uma amplitude das discussões referentes à educação do campo, além das questões específicas que se tratam da cultura, história e valores do homem do campo. Esses são temas voltados as questões socioambientais, econômicas e sustentáveis - apresentados na oferta de uma educação que valorize a realidade dessa gente.

Faz-se necessário, entender como as novas políticas têm encaminhado essas discussões. A meta 6 do Plano Nacional de Educação (PNE) indica que o plano do governo é transformar as escolas brasileiras em Escolas de Tempo Integral, ou, de Educação Integral. As discussões sobre essa meta serão discutidas na próxima seção.

No documento Dissertação de Rosa Maria da Silva (páginas 64-66)