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A presença dos conceitos históricos como elementos da Didática da

CAPÍTULO 3 A RELAÇÃO ENTRE A TEORIA DA HISTÓRIA E OS

3.2. OS CONCEITOS HISTÓRICOS E A DIDÁTICA DA HISTÓRIA NOS

3.2.2. A presença dos conceitos históricos como elementos da Didática da

A partir de Rüsen (2007b) e Lee (2005), aponta-se para a importância dos conceitos históricos como elementos cognitivos e linguísticos da explicação histórica, que se dá de forma narrativa. Mais que isso, entende-se que os conceitos históricos são elementos fundamentais do pensamento histórico.

Partindo deste pressuposto, neste momento objetiva-se observar se nos três manuais de Didática da História analisados os conceitos históricos aparecem como elementos desta Didática específica. Para isso, em um primeiro momento buscou-se a presença dos conceitos nos três manuais de forma geral, para depois, especificamente, partirmos para a análise dos capítulos dedicados a esta temática.

Como resultado desta leitura, observou-se que o manual Didática e

Prática de Ensino de História, de Fonseca (2005), não trata dos conceitos

históricos como elementos fundamentais da Didática da História, não tendo nem um capítulo específico para a temática, nem mesmo teorizações a respeito. Porém, na entrevista realizada na cidade de Uberlândia no dia 5 de novembro de 2009, Fonseca afirmou que:

[...] a minha opção foi por trabalhar os conceitos de uma forma transversal. Então, por exemplo, o conceito de política, cidadania, eu trabalho dentro de alguns temas aqui. Por exemplo, o conceito de política eu trabalho bastante dentro de temas de análise política. Eu fiz opção por não trabalhar um capítulo só sobre os conceitos, mas deixar que os conceitos fossem trabalhados na medida em que os temas fossem aparecendo. (FONSECA, 2009).

Desta forma, a autora aponta o trabalho com conceitos, porém não com conceitos históricos no sentido de que estes dão qualidade temporal ao estado de coisas numa relação de sentido e significado entre passado, presente e futuro, como afirma Rüsen (2007).

Por outro lado, tanto o manual Ensinar História, de Maria Auxiliadora Schmidt e Marlene Cainelli, como o manual Ensino de História: fundamentos e

métodos, de Circe Bittencourt, apresentam os conceitos históricos como

temática privilegiada, entendendo a importância destes como elementos da Didática da História.

No manual de Schmidt e Cainelli (2004), observou-se a existência de um capítulo específico sobre a temática conceitos históricos. O capítulo é intitulado

A construção de conceitos históricos. Neste capítulo, as autoras afirmam que

os conceitos históricos são “possibilidades cognitivas” e que duas questões devem ser levadas em conta no trabalho com eles. A primeira é o respeito aos conhecimentos prévios dos alunos, ou seja, aos conceitos como representações previamente construídas. Esse deve ser o ponto de partida, porém a manutenção destes conceitos não deve ser encarada como suficiente, objetivando a ampliação deles no sentido de uma melhor compreensão da realidade. A segunda questão, intrínseca à primeira, diz respeito às representações prévias dos alunos como base para que eles efetivem as suas próprias ideias sobre os “objetos do mundo social”. Partindo desta concepção de que os conhecimentos prévios são representações, as autoras tomam da Psicologia social o conceito de representação, entendida como uma:

[...] forma de conhecimento do senso comum, situada na interface do psicológico e do social, do individual e do coletivo, é uma construção ao mesmo tempo produto e processo de uma atividade de apropriação da realidade (GUYON; MOUSSEAU; TUTIAX-GUILLON apud SCHMIDT; CAINELLI, 2004. p. 62).

relação ao entendimento do que seria representação. Neste sentido ainda, as autoras apontam para a importância dos conceitos como elementos organizadores dos conteúdos aprendidos em sala de aula.

Por sua vez, no manual de Bittencourt (2004), os conceitos históricos fazem parte do capítulo Aprendizagens em História. Neste capítulo, a autora afirma que a aprendizagem em História não é meramente o saber “nomes e fatos”, mas sim o relacionar fatos, temas e sujeitos, buscando uma explicação. Para isso, o aprender história “passa pela mediação de conceitos”. (BITTENCOURT, 2004. p. 183). Já no subtítulo A formação de conceitos:

confrontos entre Piaget e Vygotsky, a autora discute a querela construtivista

entre os conceitos espontâneos e científicos. Desta forma, Bittencourt (2004) demonstra que, para Piaget, a estrutura cognitiva depende da maturidade biológica, e que os conceitos espontâneos não possuem validade nem para servirem como ponto de partida. Bittencourt (2004) afirma ainda que Piaget privilegia o biológico em detrimento do social. Ao contrário dele, segundo a autora, Vygostky privilegia o social ao invés do biológico, apontando para a importância dos conceitos espontâneos como ponto de partida para o processo de ensino e aprendizagem. Assim, Bittencourt (2004) toma como perspectiva de aprendizagem a concepção de Vygotsky, entendendo que:

No que se refere ao conhecimento histórico, essa posição torna-se ainda mais relevante, levando em conta as experiências históricas vividas pelos alunos e as apreensões da história apresentada pela mídia – cinema e televisão, em particular – por parte das crianças e dos jovens, em seu cotidiano (BITTENCOURT, 2004. p. 189).

Bittencourt (2004) apresenta, portanto, uma primeira aproximação com a Psicologia a partir da discussão dos conceitos espontâneos e científicos, e com isso, da aceitação de uma perspectiva de aprendizagem da Psicologia construtivista, mais especificamente de Vygotsky. Partindo desta discussão, a autora aponta também para a importância dos conceitos prévios dos alunos, citando Freire, ao afirmar que é fundamental para o ensino a “leitura do mundo” de cada sujeito.

Neste sentido, Bittencourt (2004) afirma ainda que existam, segundo os historiadores, “as noções históricas singulares” como renascimento, mercantilismo, descobrimento da América e conceitos criados pelos

historiadores que “tornaram-se verdadeiras entidades a designar povos, grupos sociais, sociedades, nações: “povos bárbaros”, bandeirantes, colonato, donatários das capitanias, patriciado romano, democracia ateniense, mercadores”. (BITTENCOURT, 2004. p. 192). A história escolar se apropria destas noções e conceitos históricos no trabalho com os conteúdos. Porém, além destas noções e conceitos propriamente históricos, existem os conceitos externos à própria ciência que auxiliam na leitura do objeto histórico, o que ocasiona um maior risco com relação à perda do sentido histórico e a utilização atemporal, recaindo no anacronismo. Para que isso não ocorra, Bittencourt (2004) toma do teórico da História Reinhart Koselleck, a ideia da necessidade de que “os procedimentos metodológicos forneçam o contexto do conceito”. (BITTENCOURT, 2004. p. 194). Nesta passagem, observa-se a aproximação com a Teoria da História a partir do entendimento de que os conceitos, como elementos da epistemologia da História, devem ser entendidos na sua historicidade.

Observou-se, que tanto Schmidt e Cainelli (2004), como Bittencourt (2004), partilham da concepção da importância dos conceitos históricos como elementos da Didática da História. Porém, ao mesmo tempo observou-se um diálogo frequente entre a Psicologia cognitiva, ou seja, dos saberes pedagógicos, e a Teoria da História, no entendimento do que seriam estes conceitos.

3.2.3. As orientações para o uso dos conceitos históricos em sala de aula