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2 DO SURGIMENTO DAS FAVELAS ATÉ A PRESENÇA E CONTROLE DO

4.6 A presença ou não do Estado nas vilas e favelas

O que se observa a partir das respostas é que não há um consenso entre todos os entrevistados, alguns dizem que não há políticas intersetoriais nas situações de urgências, enquanto outros dizem haver ações emergenciais que abrangem a intersetorialidade. Contudo, por mais que alguns entrevistados tenham afirmado que há políticas intersetoriais, vemos que eles apontam também a falta de ações mais estratégicas, interlocuções mais institucionais, ações mais contínuas, que não sejam sazonais, e sim sistêmicas. Evidenciando, desse modo, que é necessário que as políticas intersetoriais entre atores da segurança pública e das políticas habitacionais tenham maior atenção, planejamento e continuidade.

Por fim, frisa-se que é de extrema importância que ações do poder público diante desse problema, tenham cada vez maior atenção, planejamento e eficácia, visto que essa problemática por si só é muito invisibilizada por conta do medo dos moradores em denunciar, o que por sua vez limita a atuação do poder público.

Dessa forma, é preciso de maior sensibilidade, observação e ações estratégicas dos agentes públicos diante dos casos que já existem e que são relatados ou denunciados.

muitas das vezes se trata de ineficiência do poder público, o poder público está presente, mas existe uma dificuldade enorme de articulação.

O entrevistado 2 da URBEL, contudo já tem uma outra percepção e acredita, inclusive, que a omissão estatal esteja relacionada a ocorrência dessas expulsões.

Ele diz que

Uma das razões para esse cenário se dá por conta da piora das condições econômicas do país em geral. Há uma omissão estatal com a população de baixa renda do país, que leva a uma piora de condição econômica das pessoas e ai vemos pessoas que saem do mercado de trabalho podendo entrar no mercado paralelo. (Entrevistado 2 da URBEL, agosto de 2022).

Em consonância com a fala do entrevistado 2 da URBEL, vemos que o entrevistado 1 da SUINT também observa uma omissão estatal e de uma forma ainda mais ampla. Para ele, todo lugar em que existe uma exacerbação do crime, ou seja, onde o crime tem uma posição ostensiva nas comunidades, como nos casos das gangues, isso reflete uma omissão do Estado. Então, por mais que haja forças policiais nessas áreas, elas são apenas uma das diversas representações do Estado. “Então, por falha de outras áreas do Estado, esses lugares crescem de uma forma mais desordenada e a forma de compor a gestão dessa área acaba ficando a cargo de quem mora lá. Onde um não está o outro entra.” (Entrevistado 1 da SUINT, agosto de 2022). A partir da fala do entrevistado, compreende-se que a omissão estatal, nas suas diferentes esferas, pode abrir um caminho mais permissivo para que outras forças paralelas se façam presentes nos territórios, ainda mais se essa força paralela surge a partir de uma forma mais assistencialista, como já foi mencionado na pesquisa.

O servidor 2 da SUPEC já apresenta uma outra opinião, que envolve a omissão estatal, mas não apenas ela. Ele acredita que as expulsões ocorram por motivos multifatoriais, ou seja, o fato de existir um poder ativo é de fato porque não existe outra força que impede ele atuar dessa forma, mas o ato de expulsão diz respeito a uma dinâmica da própria organização do tráfico, visto que existem grupos que não agem assim. Portanto, ele não diria que seria um único fator, mas é um fator de risco não ter equipamentos públicos.

E ainda temos a fala do entrevistado do COP-BH que lembra um pouco a fala do entrevistado 1 da URBEL ao dizer que ele identifica a atuação dos equipamentos dentro dos territórios, como no Aglomerado da Serra.

Lá tem criança esperança, tem ONG, tem CRAS, tem escola, tem posto de saúde, tem ali uma companhia da polícia até próximo ao aglomerado.

Enfim, você tem uma presença forte ali das instituições. (Entrevistado do COP-BH, agosto de 2022).

Contudo, dentro da burocracia estatal, o servidor público age de acordo com o que a lei preconiza, ele depende, desse modo, de decisões judiciais e de uma série de variáveis.

A partir desse contexto, muitas vezes essa presença do tráfico ou de movimentos sociais, que querem ganhar esses espaços a qualquer custo usam desse discurso (omissão estatal) pra arrebanhar o apoio e a adesão das pessoas. O servidor relata que essas forças paralelas executam, por exemplo, uma invasão de terra e, se o poder público não conseguir reagir imediatamente ou não puder, em virtude de lei, reagir imediatamente, uma invasão de dois ou três “barraquinhos” de lona vai se expandir e pode em um mês virar uma vila.

Como exemplo, ele cita uma área no Aglomerado da Serra, em que as pessoas construíram “barracos” de alvenaria e colocaram seus pertences lá dentro, pois já sabiam que isso caracterizaria eventualmente a posse do lugar e, dessa forma, o poder público precisaria de uma decisão judicial pra retirá-las de lá. E, apesar de terem derrubado o “barraco” às dez horas da manhã, às cinco horas da tarde ele já estava reconstruído. Isso demonstra certa mobilização e certa permissão de quem controla aquela área, para reconstruir rapidamente e permitir que a família permaneça lá.

Sendo assim, o servidor do COP-BH diz que não é por abandono do poder público, mas às vezes as pessoas criam situações que dificultam a ação do poder público. Ele ainda frisa que onde há desordem se tem espaços mais favoráveis à presença da criminalidade, sobretudo do tráfico de drogas.

Identifica-se, então, que pode haver uma limitação do poder público na hora de agir, no que se refere às questões habitacionais, causando uma morosidade nos processos, contudo é algo que faz parte da burocracia. Ademais, nota-se que as vilas e favelas que não possuem a presença do Estado em toda a sua magnitude é um território propício à desordem e, portanto, mais permissivo a entrada de forças paralelas.

4.7 As perspectivas para as expulsões frente a atual dinâmica criminal da