• Nenhum resultado encontrado

A PRESERVAÇÃO DOS BENS ISOLADOS (1938)

No documento Download/Open (páginas 90-94)

O decreto-lei nº 25/1937 trouxe para a Olinda a abertura do processo de tombamento e inscrição nos Livros do Tombo do SPHAN de onze bens históricos, nos anos de 1938 e 1939. Esses imóveis eram de caráter religioso, em sua maioria.

Conforme quadro 2, a inscrição do maior número deles ocorreu no livro de Belas Artes em detrimento do livro Histórico, pois eram preservadas a princípio não pelo seu valor histórico, mas pelo seu valor arquitetônico. A estratégia utilizada pelo SPHAN nessa primeira fase da preservação dos bens nacionais, como vimos no capítulo anterior, focava sua predileção pela obra de arte do estilo Barroco em arquitetura religiosa. (FONSECA, 2009)

Quadro 2 – Bens tombados em Olinda no ano de 1938

Número do Processo Bem Tombado Livro

50/1938 Igreja e Mosteiro de São

Bento

Histórico; Belas Artes 124/1938 Igreja da Misericórdia Belas Artes

131/1938 Igreja de Nossa Senhora

da Graça e Seminário de Olinda

Belas Artes

131/1938 Palácio Episcopal Belas Artes

142/1938 Igreja da Misericórdia Belas Artes 142/1938 Igreja de Santa Teresa Belas Artes

143/1938 Convento e Igreja de São

Francisco: capela, casa de oração e claustro dos Terceiros Franciscanos

Belas Artes

148/1938 Convento e Igreja de

Nossa Senhora do Carmo

Histórico; Belas Artes

170/1938 Igreja de Nossa Senhora

do Monte

Histórico; Belas Artes

191/1938 Casa com Muxarabi à

Praça João Alfredo (antigo Pátio de São Pedro)

Belas Artes

192/1938 Casa com Muxarabi à Rua

do Amparo, 28

Belas Artes

Dentre os bens artísticos tombados nessa fase, embora a maioria fosse o barroco da arquitetura religiosa, estavam também as casas com muxarabi situadas no SHO. Os muxarabis eram elementos de madeira em forma de treliça, criado no mundo árabe que permitia a ventilação, iluminação no ambiente e isolava a visão

externa dos cômodos interiores. Foi trazida pelos portugueses para o Brasil e bastante utilizada durante o período colonial. Na figura 9, vemos uma das casas inscritas no Livro do Tombo, com esse elemento da arquitetura em sua varanda. (Figura 12)

Os primeiros tombamentos de bens no Sítio Histórico de Olinda tiveram como principal objetivo o impedimento de seu desaparecimento frente às intempéries e mudanças projetadas pelo poder público municipal. Essa proteção foi limitada e não abrangia todos os problemas que o SHO enfrentava.

Figura 12 – Edifício com muxarabi à Praça João Alfredo, nº 7. FONTE: Acervo Digital IPHAN.

A questão da preservação durante a década de 1930 ainda não tinha chegado a sanar o perigo de deterioração dos imóveis devidos aos problemas envolvidos na área de entorno desses bens. O SHO continuava com a necessidade de novas intervenções com o intuito de preservar os imóveis, que vieram a ocorrer dessa vez na década de 1960, após longas discussões entre as instâncias municipal, estadual e federal.

A década de 1960, como vimos no capítulo anterior, foi marcada por um novo olhar sobre o patrimônio cultural no país, dedicado à preservação de bens em

conjunto das cidades históricas coloniais. Em Olinda, dessa vez, a intervenção foi incentivada a partir do segundo grande ciclo de crescimento populacional, por já servir como cidade dormitório, devido à industrialização, e por seu grande fluxo de pessoas no SHO, refúgio de intelectuais e artistas, que eram alvos de constante supervisão durante o governo militar.

Nos anos 1960, houve em Olinda a abertura de novos processos (quadro 3) para inscrições no Livro Histórico

Traço da nova forma de gestão demarcada por Renato Soeiro, vemos dois processos focando no valor histórico dos bens imóveis e não apenas estético.

Quadro 3 – Bens Tombados em Olinda na década de 1960

Número do Processo Bem Tombado Livro

638/1961 Capela de São Pedro

Advíncula

Histórico 638/1961 Edifício do Antigo Aljube,

na rua 13 de Maio (atual Museu de Arte Contemporânea) Histórico 674/1962 Acervo Arquitetônico e Urbanístico da cidade de Olinda Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico; Histórico; e Belas Artes.

A figura 12 apresenta a fachada do edifício do antigo Aljube5 da Diocese de Olinda. Projetado em 1722, foi utilizado para punição de pessoas acusadas de delitos contra a Igreja Católica. Como forma de permitir aos presos a participação nas missas religiosas foi construída à sua frente a Capela de São Pedro Advíncula, entre os anos de 1764 e 1766.

Desde sua fundação o Aljube sofreu modificações, como a ocorrida em 1874, quando deixou de ser um cárcere eclesiástico e passou a abrigar a Cadeia Pública da cidade de Olinda. Por estar intimamente ligado à história da Capela de São Pedro Advíncula, o tombamento de ambos os edifícios foi realizado no mesmo processo.

5

Figura 13 – Fachada da casa na Rua Treze de Maio, Aljube, 1951. Fonte: Acervo Digital IPHAN

Em seguida há a abertura do processo 674/1962 do tombamento do conjunto arquitetônico histórico da cidade de Olinda, que incluiria os bens isolados, mas viria a abranger o zoneamento de todo o casario urbano localizados nas principais ruas do SHO.

As intervenções realizadas pela DPHAN se apresentaram como forma de sanar problemas estruturais que o tombamento de bens isolados não estava dando conta de impedir e que se avizinhavam até mesmo em outros edifícios que estavam até então resistindo.

As Cartas Patrimoniais formuladas pela UNESCO, debatidas no capítulo inicial, foram de grande influência nas estratégias a serem tomadas em relação ao patrimônio pelo Conselho Consultivo da DPHAN.

Em Olinda, a relação UNESCO-DPHAN é muito clara nas duas fases do tombamento que tratamos até aqui. No I Congresso de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos, que gerou a Carta de Atenas (1931), foi incentivada a criação de órgãos e legislações específicas para salvaguarda e inventário dos bens patrimoniais. Nisso resultou a legislação do patrimônio do Brasil.

Os primeiros tombamentos dos bens em Olinda da década de 1930 são resultantes dessa orientação, posto que constituíam os edifícios de interesse

histórico e o patrimônio do país, uma vez que a cidade de Olinda foi palco do começo da colonização portuguesa e batalhas históricas no período colonial.

No segundo momento, já na década de 1960, as discussões dos arquitetos da DPHAN, junto com os arquitetos de outros Estados-membro através da UNESCO, levaram ao início do processo de tombamento, em Olinda, do conjunto urbanístico considerado de valor histórico.

As discussões em torno da preservação de conjuntos urbanos foram consolidadas no II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos, que gerou a Carta de Veneza (1964), que ampliava e igualava o conceito de monumento histórico tanto da criação isolada quanto de sítios urbanos ou rurais de significativo valor histórico e seu uso turístico.

Neste sentido vemos também que a preocupação internacional paira sobre o conceito de valor histórico dos bens o que ampliou as inscrições em Livro Histórico da DPHAN, antes priorizadas no Livro de Belas Artes, por seu valor estético. As discussões internacionais tiveram bastante impacto na formulação das políticas públicas do patrimônio nacional.

No documento Download/Open (páginas 90-94)