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A prestação de Cuidados de Saúde em Portugal

A actual organização dos serviços de saúde em Portugal advém dos princípios norteadores do Serviço Nacional de Saúde (SNS), no qual o Estado garante que "todos têm o direito à protecção da saúde e o dever de a defender e de a promover" e que "o direito à protecção da saúde é realizado pela criação de um serviço nacional de saúde universal, geral, equitativo e gratuito"14.

Com a criação do SNS em 1976, surgiu um sistema público de Hospitais, Centros de Saúde e outros serviços, que se pretendia articulado em rede, sob direcção unificada e gestão descentralizada; definindo uma política articulada de saúde pública implementável até ao nível local, através das entidades prestadoras de cuidados primários de saúde (os Centros de Saúde), de cuidados secundários (Hospitais) e de cuidados de reabilitação.

Contudo, apesar do compromisso pela equidade na cobertura de cuidados de saúde à população portuguesa, não existem estudos ou métodos utilizados para tal, principalmente ao nível dos Cuidados de Saúde Hospitalares (Oliveira e Bevan, 2003).

Adicionalmente, há um baixo nível de integração da prestação de cuidados de saúde, devido: a) a questões culturais de interrelacionamento institucional, e b) ao facto de muitos utentes entrarem para o SNS pelos cuidados de saúde secundários e não pelos cuidados de saúde primários. Numa tentativa de contornar esta situação e de procurar reduzir a ineficiência e a duplicação de actos, o Ministério da Saúde criou as Unidades Locais de Saúde (ULS), unidades que permitem a integração de Hospitais e Centros de Saúde numa única entidade pública empresarial (ACSS, 2009).

As ULS têm como objectivo prestar cuidados de saúde, diferenciados e continuados à população, permitindo uma melhor utilização da capacidade instalada, quer a nível de equipamentos quer a nível dos recursos humanos. Além disso, devem assegurar as actividades de saúde pública e os meios necessários ao exercício das competências da autoridade de saúde na área geográfica abrangida pelas ULS. Ao nível da articulação Hospital-Centro de Saúde, a ULS facilita a realização de consultas de especialidades hospitalares regulares nos Centros de Saúde, bem como a instalação de alguns meios complementares de diagnóstico e terapêutica nos cuidados de saúde primários. A criação das ULS pode, assim, significar a construção de uma via para melhorar a interligação dos Centros de Saúde com os Hospitais e com outras entidades ligadas à saúde regional ou local.

       

5.1.1.

O Hospital Fernando da Fonseca

O Hospital Fernando da Fonseca (HFF) é um Hospital distrital de nível 1 inserido na NUT III Grande Lisboa, cuja área de influência alberga os concelhos de Amadora e Sintra15.

A génese do Hospital Fernando Fonseca radica na necessidade de criação de um novo Hospital na zona ocidental de Lisboa que ajudasse a superar as carências regionais vividas na área de assistência hospitalar. No entanto, só no inicio da década de 90 o governo avançou com a sua construção e na sua abertura, a 1 de Janeiro de 1996, tornou-se o primeiro Hospital público português cuja gestão foi atribuída a uma entidade privada (HFF, 2009).

Os primeiros anos de vida do Hospital Fernando Fonseca foram atribulados. Em primeiro lugar, as expectativas relativamente à dinâmica demográfica da área de influência do Hospital, que se baseavam inicialmente no censo populacional de 1991, foram fortemente excedidas: se, em 1991, a população que integra a área de influência do Hospital aproximava-se dos 350.000 utentes, no final da década de 90 subia para 500.000. O efeito “dormitório” numa zona situada na periferia da grande cidade e a concentração imigrante de diversas origens (África, Leste, Oriente) - o que imprime uma grande diversidade étnica na população residente, a exigir compreensão para as suas idiossincrasias e atitudes abertas à multiculturalidade - ajudam a problematizar ainda mais a situação. Integrada na antigamente designada “cintura industrial de Lisboa”, esta área atravessou ainda um processo de alguma desindustrialização, o que provocou notórias perturbações sociais e psicológicas na população (HFF, 2009).

A 1 de Janeiro de 2009 o HFF deixou de ter uma gestão privada e foi reintegrado na esfera pública sob a forma de Hospital EPE, segundo o Decreto-Lei nº 203/2008, de 10 de Outubro. Para além desta alteração, o mesmo decreto indicia a criação da Unidade Local de Saúde da Amadora/Sintra (ULSAS). Como é referido no Business Plan 2009-2011 do HFF (2009:4), “numa área geográfica com uma dramática realidade socioeconómica marcada pela pobreza, pelo envelhecimento, pelo desajustamento urbanístico, pela violência e pela imigração, muita dela clandestina, a associação do aparelho público de prestação de cuidados de saúde em torno da ULSAS permitirá obter ganhos em saúde significativos e alcançar uma maior eficiência e efectividade na utilização dos recursos que actualmente são consumidos pelo conjunto de serviços que desta forma se integram”.

Adicionalmente, este mesmo decreto refere a construção de uma nova Unidade Hospitalar no concelho de Sintra, que “permitirá descongestionar o HFF, assoberbado por uma procura que não cessa de aumentar, por parte de uma população que, nos últimos anos, tem demonstrado uma dinâmica de crescimento e envelhecimento constantes, com os óbvios impactes sobre as necessidades em saúde. Não só o HFF necessita de ganhar espaço dentro dos seus actuais

       

limites para melhorar a qualidade da sua resposta e resolutividade como, também, a nova unidade permitirá aumentar a acessibilidade das populações mais distantes do actual Hospital e a diversidade da oferta de cuidados” (HFF, 2009:4). Esta nova unidade deverá ter um cariz essencialmente ambulatório, oferecendo, igualmente, cuidados em regime de internamento, mas com uma lotação relativamente reduzida.