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A primeira intervenção da última configuração

2. Procedimentos Metodológicos

2.1 A (re)qualificação do espaço: da Praia de Atalaia à Orla de Atalaia

2.3.1 A primeira intervenção da última configuração

A primeira grande intervenção que começa a configurar a orla ao que se tem atualmente, dar-se a partir de 1993, durante a primeira gestão do então Governador João Alves Filho, desta época o único documento adquirido foi o memorial descrito. Considerando ser este sucinto, consistindo em apenas uma página, poucas foram às informações sobre a primeira intervenção que altera completamente a paisagem da Orla Marítima. Qualquer outro documento, seja projeto, licitações, ou informações sobre a execução da obra, não estão disponíveis em nenhum órgão estadual contatado ou com o próprio projetista.

15Parte componente do projeto arquitetônico, cujo conteúdo busca elucidar a concepção teórico-ideológica do autor do projeto. 16Entrevista concedida em 16/04/2010

Várias tentativas foram feitas no sentido de compreender as fases do processo de construção da Orla, além de visitas a órgãos da administração pública, houve a tentativa de construir uma cronologia a partir das placas inaugurais de alguns espaços da Orla, mas estas foram substituídas por placas de inaugurações de reformas, portanto não permitindo tal reconstrução.

Há muitos relatos sobre esse período, que não se pode dar o caráter fidedigno, sendo impossível mensurar a validade da informação, como por exemplo, o fato do então governador não ter feito o devido processo licitatório, convidando 4 empresas distintas para a execução da obra, sendo estabelecido um acordo entre as partes, nenhum nome dessas empresas foi localizado, entre outras informações. Apenas o relato jornalístico, que segue, faz menção ao período:

O Projeto Orla foi concebido no início da década de 90 pelo então governador João Alves cuja primeira etapa foi inaugurada no fim do mandato dele, em agosto de 1994. As barracas sem nenhuma padronização dispostas ao longo da calçada deram lugar a coqueiros transplantados, quadras esportivas, calçadões, uma iluminação voltada para o mar e o famoso portal de entrada da orla, conhecido como Arcos da Atalaia.(www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=20180, 30/11/2008).

Assim, todo o material coletado refere-se ao processo de intervenção do segundo mandato governamental de João Alves filho, em 2001.

O nome apresentado no RAS18 – Relatório Ambiental Simplificado é “Projeto Orla”, o mesmo utilizado pela União, não sendo possível fazer nenhuma referência a isto por não ter acessado a este projeto.

O RAS (2003) relata ser este “um importante passo para o desenvolvimento turístico sustentável da Cidade de Aracaju, visando atender o turismo interno e o externo, [o que] passa pela imprescindível revitalização e expansão da Orla de Atalaia”.

O texto informa ainda que o governo acompanhava e interessava-se pelas pesquisas relacionadas ao desenvolvimento turístico e reconhecia o aumento do número de turistas que procuram áreas naturais, principalmente as praias, o que garantiria o sucesso dos investimentos e colocaria Sergipe diante da “crescente indústria do turismo, uma das maiores atividades econômicas do mundo” (RAS, 200).

O relatório expõe uma foto antes das intervenções na Orla de Atalaia e justifica a intervenção pela necessidade de criação de novos empregos e de transformá-la em um dos principais atrativos turísticos de Sergipe.

Ressalta ainda que a Orla não é uma área de proteção ambiental, embora justifique a obra como de relevância para proteção e preservação do meio ecológico, sustenta a ênfase no pleno desenvolvimento econômico do estado pautado em um “turismo sustentável explorando os recursos naturais com a intenção formal não só de preservá-lo, como também de melhorar continuamente as condições ambientais, [além de] permitir à população usufruir desse excepcional atrativo turístico de forma segura e salutar” (RAS, 2003).

O aspecto do caráter sustentável do empreendimento é demonstrado em entrevistas e relatórios relacionados a construções e reformas da Orla. Utilizam-se do conceito de ecodesenvolvimento19 para expor o respeito aos parâmetros legais da legislação de zonas

costeiras e ambiental. Assim, a obra teria respeitado todos os limites ambientais, inclusive proporcionando melhorias ao ambiente com o saneamento da região.

19Visão moderna do desenvolvimento consorciado com o manejo dos ecossistemas, procurando utilizar os conhecimentos já

existentes na região, no âmbito cultural, biológico, ambiental, social e político, evitando-se assim a agressão ao meio ambiente. (RAS, 2003)

Figura 68: Orla Marítima de Aracaju, inicio da Urbanização dos bairros Coroa do Meio e Atalaia, antes da intervenção urbanista. Foto: Autor desconhecido. Fonte: RSA

Seguindo às obras, que se justificam pelos objetivos, ou de atividades como prefere o texto, que podem estar associados ao projeto, são elencadas de forma a englobar todo o sistema de serviço público voltado ao “sucesso” do empreendimento, sendo eles:

- Meios de hospedagem: hotéis, pousadas, hospedarias, ...;

- Entretenimento: clubes, parques de diversões, quadras esportivas, feiras de artesanato, praças, jardins, forródramos, boates, discotecas, ...; - Alimentação: restaurantes, cafés, bares, lanchonetes, sorveterias, cervejarias, ...;

- Serviços: operadoras turísticas, agências de viagem, bancos 24 horas, centros comerciais, centros de informações turísticas,...;

- Sistemas de transporte;

- Unidades de segurança: móveis e fixas (proteção à população e aos turistas). (RAS, 2003)

O primeiro espaço a ser construído foram os Arcos da Orla. Este espaço, segundo Carlomagno, tinha a priori três objetivos. Inicialmente demarcar um momento de mudança, de uma nova orla, seria um marco entre o passado e o presente. Segundo, constituir-se em um símbolo para a cidade, algo que entendia não haver, ainda, na cidade de Aracaju. E, por último, a propositura de ser este um

espaço democrático, “algo simbólico que significaria a democratização do espaço público [...] seria uma espécie de púlpito, onde as pessoas, sindicalistas, artistas... um espaço popular que qualquer um teria acesso” (CARLOMAGNO, 2010).

Os Arcos seriam um marco para o desenvolvimento da cidade, os Arcos simbolizariam a Orla, e esta por sua vez, seria simbolicamente o marco do desenvolvimento de Aracaju, e como acredita seu idealizador técnico:

A Orla mudou o costume das pessoas, mudaram os hábitos, a cidade ficou mais cosmopolita, a auto-estima do sergipano melhorou muito com essa Orla. Ele começou a admirar mais a sua cidade, se sentir mais importante perante outras cidades com essa orla, não foi só a mudança do espaço físico, a mudança do espaço físico provocou uma mudança psicológica no sergipano. Era algo muito feio (a Orla), teve que se fazer uma maquiagem ali, teve que criar um cenário que apagasse a cor marrom do mar. Eu utilizo ali muito azul, e o azul meio que confunde o mar, o primeiro plano, aqueles

Figura 69: Arcos da Orla. Foto: Autor desconhecido. Fonte:www.orladeatalaia.com.br.

azuis todos confunde com o mar, dá uma sensação de amplidão e até de mudança de cor do mar, essa foi a intenção (CARLOMAGNO, 2010).

A partir de então o Projeto Orla começa a ser executado, iniciando do atual prédio do corpo de bombeiros (Ver destaque vermelho - figura 16) da Atalaia até o hotel Celi, obra que compreende também os arcos. Posterior a esta obra, o projeto foi dividido em quatro partes, considerando que o então governador, João Alves, afastar-se-ia em outubro deste mesmo ano, para concorrer às eleições. Assim, a partir dos Arcos da Orla, inicia-se o processo de construção do que viria a ser a Orla de Atalaia. É construído o calçadão e uma grande estrutura de paisagismo.