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A produção de biocombustiveis líquidos em Portugal Continental

Índice de quadros

1.4 A produção de biocombustiveis líquidos em Portugal Continental

Portugal possui algumas limitações na competição com outros países no sector de produção de ésteres metílicos (biodiesel), devido sobretudo a factores edafo-climáticos, que estão na origem das baixas produtividades médias de girassol, milho, trigo e de colza.

Por outro lado, constituem igualmente fortes limitações à nossa competitividade neste sector, as necessidades alimentares da população e as limitações impostas pelo acordo entre os Estados Unidos e a União Europeia na utilização de áreas de pousio para a produção de culturas oleaginosas destinadas a usos industriais.

A utilização de grande parte das áreas de regadio para culturas energéticas, como previsto no projecto de implementação de uma unidade para produção de 176 000 toneladas de biodiesel em Alqueva, a partir da produção de 220 000 toneladas de girassol e 220 000 toneladas de colza em 110 000 hectares de regadio, pode contribuir para viabilizar de forma competitiva a produção de biodiesel e evitar o abandono de grande parte destas áreas.

Por outro lado a empresa petrolífera GalpEnergia encontra-se actualmente a equacionar a possibilidade de instalar nos seus complexos industriais de Sines e Porto, unidades de produção de biodiesel (unidades Galp de hidrogenação) cuja produção (faseada) está prevista chegar às 500 000 t/ano. Para este objectivo a GalpEnergia estabeleceu uma parceria com a petrolífera brasileira Petrobrás para a produção de 300 000 toneladas de óleos vegetais a processar nas refinarias da Galpenergia e 300 mil toneladas a processar na Petrobrás (Brasil) para produção de biodiesel a exportar para Portugal e outros países europeus.

Actualmente a capacidade de produção de biodiesel instalada em Portugal é cerca de 30 000 t /ano numa empresa situada no norte do país (Santa Maria da Feira) e 310 000 t/ano em empresas do centro e sul (Torres Novas, Alhandra, Almada e Setúbal). Embora a capacidade de produção de biodiesel instalada (a curto prazo) em Portugal, possa vir a ser superior às necessidades, a nossa dependência das matérias primas para a sua produção, constituí um dos principais constrangimentos que pode traduzir-se num futuro próximo em custos económicos e sociais elevados.

A incorporação actual de 2% de biodiesel no gasóleo comercial e as previsões para aumentar essa percentagem para 5% durante o ano de 2007 ou inicio de 2008, representa desde já um passo importante no sentido da redução da nossa dependência energética e das emissões de gases com efeito de estufa.

No que se refere ao etanol como aditivo das gasolinas, esta possibilidade tem sido algumas vezes questionada pelas petrolíferas pelo facto de se tratar de um produto higroscópio e exigir armazenagem e transporte de modo segregado (novos investimentos), todavia outros países europeus encontraram soluções para ultrapassar estas (aparentes) dificuldades e Portugal não pode deixar de utilizar todos os seus recursos no sentido de uma redução cada vez mais efectiva da sua dependência energética.

Entre os recursos existentes, as culturas energéticas de trigo, sorgo sacarino, milho e cana- de-açúcar geneticamente modificadas podem considerar-se alternativas de futuro destinadas à produção de biocombustiveis líquidos, todavia um dos maiores e mais importantes recursos de que dispomos é a biomassa florestal e agrícola.

Portugal com cerca de 38% da sua superfície coberta por floresta e 5040 milhares de hectares de terras para fins agrícolas é um dos países da União Europeia com maior potencial para competir no mercado dos biocombustiveis líquidos e gasosos. Este facto faz-nos acreditar que a utilização de boas práticas florestais e agrícolas, apoiadas pelas entidades governamentais e pela sociedade civil, permitirão obter recursos que uma vez valorizados através de processos tecnológicos adequados podem dar um importante contributo para a redução da nossa dependência energética.

Embora conscientes que a produção de etanol a partir de resíduos florestais, de forma competitiva, é um processo tecnológico complexo, caro e ainda em desenvolvimento, devido á complexidade técnica associada aos processos de hidrólise química e enzimática quando aplicados a misturas de materiais lenhocelulósicos, experiências realizadas no Canadá e nos Estados Unidos, indicam que nos países com significativos recursos florestais e agrícolas estes processos, podem tornar-se economicamente viáveis.

O desenvolvimento de um projecto desta natureza coloca-nos, desde logo, perante o desafio de evidenciar a disponibilidade de resíduos florestais e agrícolas, em quantidade e qualidade para garantir o funcionamento em contínuo de uma unidade industrial.

De acordo com os dados disponíveis em (www.energiasrenovaveis. com), Portugal possuí um potencial disponível de biomassa florestal de 2,2 milhões de toneladas por ano, sendo 1,2 milhões constituídos por ramos e bicadas, 0,2 milhões resultantes da industria transformadora de madeira e o restante (1 milhão de toneladas) de matos e biomassa proveniente de áreas ardidas. Oliveira, J. (2005), refere como expectável a disponibilidade de cerca de 25 milhões de toneladas de resíduos e desperdícios da floresta por ano, dos quais cerca de 10 milhões de toneladas são resíduos e desperdícios de pinheiro bravo, cerca de 5 milhões de toneladas de eucalipto e os restantes (10 milhões) com origem nas principais espécies que constituem a floresta portuguesa.

A qualidade, isto é, a composição química dos resíduos florestais, é outra das variáveis importantes do projecto que está associada à origem e tipo de resíduo considerado. Neste sentido, para se obterem conclusões definitivas sobre o assunto, será necessário dirigir e incentivar a investigação para esta área.

Neste trabalho serão indicadas algumas das técnicas analíticas mais utilizadas na caracterização físico-química dos materiais lenhocelulósicos mais representativos dos resíduos florestais e agrícolas disponíveis no País (madeiras de pinheiro e eucalipto) e será efectuado o estudo da viabilidade económica de um dos processos químicos (hidrólise química), quando aplicado à produção de substratos para produção de bioetanol (álcool etílico) por fermentação alcoólica.

Pensamos todavia que, para utilizar a “riqueza” da nossa floresta e a nossa produção agrícola, é fundamental conhecermos igualmente um pouco da sua história. Nesse sentido todo o trabalho será desenvolvido tendo como base o conhecimento das potencialidades da nossa floresta e agricultura, das matérias-primas disponíveis e dos principais processos aplicáveis à sua transformação em produtos energéticamente mais valiosos.