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Grande parte da literatura a respeito da cidade-região se concentra no fortalecimento dessa escala socioespacial no cenário global, e enfatiza suas relações externas, assim como os fatores que influenciam na inserção bem-sucedida de determinadas cidades-região em detrimento de outras neste palco contemporâneo da economia globalizada, assim como os aspectos institucionais e escalares da ação do Estado neste contexto. Deixa-se assim um pouco de lado a dinâmica interna da cidade-região e os processos socioespaciais que estão por trás de sua própria formação. Quanto a esta dinâmica interna, ao longo de todo este estudo, parte-se do pressuposto, muito baseado em Lefebvre (1999, 2006b), que vem ocorrendo um transbordamento do tecido urbano para além das cidades propriamente ditas. Esta expansão do urbano se dá a partir do que Lefebvre chama de implosão-explosão da cidade, ou seja, uma enorme concentração e aumento da densidade nos núcleos concomitante ao espraiamento de determinados elementos anteriormente exclusivos das cidades ao longo do território. Diversos são estes elementos (ou “atributos” socioespaciais), que vão desde aspectos culturais e ligados à práxis cotidiana até processos relacionados à esfera da economia, seja no que diz respeito à infra-estrutura ou aos serviços.

Outra característica da literatura recente acerca da cidade-região (como em Scott et al, 2001; e Storper, 1997) é seu olhar advindo da economia política da urbanização e quase exclusivamente voltado para a geografia econômica e suas contribuições possíveis ao planejamento urbano e regional, deixando de lado a questão da política impregnada nos processos socioespaciais, principalmente no que tange a transformação dos lugares. Tentaremos nas próximas páginas realizar esta passagem para as questões que se situam além da economia política, dando menor ênfase ao ponto de vista econômico-espacial prevalecente em outras partes do estudo e procurando abordar as transformações socioespaciais sob a ótica da produção social do espaço e de seus aspectos sócio-políticos, aproximando a abordagem da perspectiva do cotidiano (embora sem entrar de forma mais verticalizada nesta discussão) e de sua importância para o entendimento do espaço social e sua reprodução.

5.1: A produção do espaço: alguns elementos teóricos para uma mudança de perspectiva

Um pressuposto básico da perspectiva da produção do espaço é que a própria economia deve ser vista como uma expressão de relações socioespaciais (e da reprodução destas), não constituindo um ente autônomo e inatingível a partir de manifestações, organizações e reivindicações que visem a transformação socioespacial e que tenham a cidade ou o espaço como elementos centrais na motivação das ações políticas e cidadãs. De antemão, vale ressaltar que a concepção lefebvriana de produção, ao se referir à produção do espaço, é marcada por uma ampliação radical desta idéia (que contrasta com uma concepção economicista que reduz a produção ao âmbito produtivista das mercadorias e dos objetos), permitindo que se discorra acerca da produção do cotidiano, das temporalidades ou (sintetizando) do espaço. As idéias de produção social do espaço e de espaço social são apresentadas por Henri Lefebvre no livro “A Produção do Espaço” (1991), cuja introdução é brevemente explorada a seguir.

Lefebvre afirma que antigamente a palavra espaço tinha uma conotação puramente geométrica/euclidiana/matemática (falar de espaço social soaria estranho). O autor procura demonstrar como é fundamental para a compreensão das sociedades contemporâneas (e sua reprodução) o entendimento do espaço para além do ambiente construído e do espaço físico, banal. Todo período histórico teve sua própria lógica da produção do espaço que o sustentava, e no capitalismo não é diferente.

Hoje em dia poucas pessoas recusariam admitir “a influência” de capitais e do capitalismo nas questões práticas concernentes ao espaço, da construção de imóveis à repartição de investimentos e à divisão do trabalho no planeta inteiro. Porém, o que entendem por “capitalismo” e por “influência”? Para uns, representam “o dinheiro” e suas capacidades de intervenção, ou a troca comercial, a mercadoria e sua generalidade, posto que “tudo” se compra e se vende. Para outros, representam mais nitidamente os atores dos dramas: “sociedades” nacionais e multinacionais, bancos, promotores, autoridades. Cada agente suscetível de intervir teria sua “influência”.

Alguns esquecem facilmente que o capitalismo tem ainda um outro aspecto, ligado, decerto, ao funcionamento do dinheiro, dos diversos mercados, das relações sociais de produção, mas distinto porque dominante: a hegemonia de uma classe. O conceito de hegemonia, introduzido por Gramsci para prever o papel da classe operária na construção de uma outra sociedade, ainda permite analisar a ação da burguesia, em particular no que concerne ao espaço. O conceito de hegemonia refina este, um pouco pesado e brutal, de “ditadura” do proletariado após a da burguesia. Ele designa muito mais que uma influência e que o emprego perpétuo da violência repressiva. A hegemonia se exerce sobre a sociedade inteira, cultura e saber incluídos, o mais freqüente por pessoas interpostas: os políticos,

personalidades e partidos, mas também por muitos intelectuais, cientistas. Ela se exerce, portanto, pelas instituições e pelas representações. (LEFEBVRE, 2007)

Deste modo, a partir da introdução da idéia de hegemonia enquanto elemento central na produção do espaço, chega-se à idéia de que “o espaço (social) é um produto (social), (...) o espaço produzido de determinada maneira serve como uma ferramenta de pensamento e ação (...), além de ser um meio de produção ele é também um meio de controle, e portanto de dominação/poder, ainda que, enquanto tal, ele escapa parcialmente àqueles que o usariam”. Lefebvre afirma que toda sociedade – e portanto, todo modo de produção – produz um espaço, seu próprio espaço: “Qualquer ‘existência social’ aspirando ou se declarando real, mas não produzindo seu próprio espaço, seria uma entidade estranha, um tipo muito peculiar de abstração incapaz de escapar da esfera ideológica ou mesmo cultural”, e “‘Mudar a vida! Mudar a sociedade!’ Estas idéias perdem totalmente seu significado sem produzir um espaço apropriado. Uma lição a ser aprendida dos construtivistas soviéticos dos anos de 1920-30, e de seu fracasso, é que novas relações sociais pedem um novo espaço, e vice-versa.” (LEFEBVRE, 1991).

Em seguida, o autor apresenta um espectro (ou um contínuo, resumido a seguir) de definições acerca da natureza dos diversos espaços socialmente produzidos ao longo da história, que culminaria no espaço diferencial (para o autor ainda na virtualidade, em gestação), que superaria enfim a produção do espaço abstrato imposto pela generalização do capital para outras esferas que não a da produção restrita:

• Espaço absoluto – são espacialidades pontualmente presentes que representam o sagrado e o divino, seja na forma de monumentos ou de santuários. Em sociedades tradicionais está muito freqüentemente incluído em elementos da natureza (grutas, picos, rios), algumas vezes com monumentos inseridos nestas localidades.

• Espaço histórico – produto da evolução do espaço absoluto com maior conteúdo político e/ou de organizações religiosas, produzindo um ambiente construído (e logo uma centralidade) mais significativo(a).

• Espaço político – o espaço do núcleo da cidade-estado, e a cidade renascentista como uma cidade política (LEFEBVRE, 1999; 2006b), onde começa a penetrar o mercado e posteriormente a lógica da acumulação, “onde as forças da história acabam com a natureza de uma vez por todas, e sobre suas ruínas estabelece o espaço da

acumulação”, que passa a dominar a lógica da própria cidade e (da produção) do

espaço.

• Espaço abstrato – a partir do momento em que a atividade produtiva (trabalho) se desliga do processo de reprodução que perpetuava a vida social, “o trabalho se torna presa da abstração, daí o trabalho social abstrato – e o espaço abstrato”; trata-se da espacialidade constituída pela gênese do capitalismo industrial como trabalhado por Karl Marx. Este espaço (coisificado: representando uma coisificação das relações sociais) se tornaria a principal ferramenta da produção hegemônica do espaço, utilizada tanto pelo urbanismo insensível ao lugar e ao espaço social (por exemplo, na restruturação da cidade de Nova York realizada por Robert Moses93) quanto pela própria produção capitalista do ambiente construído por parte de frações do capital. • Espaço repressivo – é o autoritarismo político-burocrático que Lefebvre considera

como central ao próprio Estado moderno (que constitui uma das bases da chamada sociedade burocrática de consumo dirigido); trata-se de uma condição derivada do próprio espaço abstrato produzido pelo Estado capitalista, e de uma conseqüência de seu avanço por sobre o espaço social da cidade.

• Espaço diferencial – seria um novo tipo de espaço que superasse o espaço abstrato dominante (que carrega consigo as sementes deste novo espaço), resultando da superação da reprodução das relações sociais de produção que estão na base da própria reprodução do espaço abstrato, constituindo novas relações sociais de produção, com uma lógica diferente daquelas do espaço abstrato:

A partir de um ponto vista menos pessimista, podemos demonstrar que o espaço abstrato contém contradições específicas. Estas contradições espaciais derivam em parte das antigas contradições levadas a cabo pelo tempo histórico. Portanto, elas passaram por modificações: algumas se agravaram, algumas se atenuaram. Dentre estas, surgiram novas contradições completamente novas, que podem vir a precipitar a queda do espaço abstrato. A reprodução das relações sociais de produção neste espaço inevitavelmente obedece a duas tendências: a dissolução de velhas relações por um lado e a geração de novas relações por outro. Assim, apesar – ou talvez por causa – de sua negatividade, o espaço abstrato carrega consigo as sementes de um novo tipo de espaço. Chamo este espaço de espaço diferencial, pois, assim como o espaço abstrato tende à homogeneidade, à eliminação de diferenças ou peculiaridades existentes, um novo espaço não pode nascer (ser produzido) a não ser que ele acentue as diferenças. Ele também fará renascer a unidade que o espaço abstrato destruiu nas funções, elementos e momentos da prática social. Ele também irá restaurar a unidade naquilo que o espaço abstrato rompe – às funções, elementos e momentos da prática social (LEFEBVRE, 1991, p. 52).

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Acerca do espaço abstrato, podemos encontrar manifestações significativas de sua generalização a partir de outros olhares, distintos da perspectiva lefebvriana. Em primeiro lugar, os não-lugares, entendidos como espacialidades transitórias e “deslocalizadas”, sem nenhuma relação com o lugar onde se encontram, e que são idênticas embora situadas em lugares radicalmente diferentes (aeroportos, restaurantes de redes de fast food etc.94), são também manifestações do espaço abstrato em intensa difusão nas cidades de todo o mundo. A este respeito, recentemente vem ocorrendo uma acelerada inserção nas economias locais de empresas voltadas ao comércio e aos serviços (ao consumidor final) vinculadas a grandes corporações transnacionais organizadas em rede, nos mais diversos ramos de atividade (desde grandes supermercados até redes de livrarias ou de pequenas lanchonetes, onde a presença da marca e a exploração de sua imagem de forma repetitiva e exagerada é um elemento fundamental). Voltando brevemente ao ponto de vista econômico-espacial, podemos distinguir estes novos atores econômicos do pequeno negócio mais diretamente vinculado ao lugar (ligado aos seus sujeitos e portanto às suas particularidades) nas relações externas que os dois tipos estabelecem. O pequeno estabelecimento tende a manter suas redes de subcontratação, de fornecimento e de compras nas escalas local e regional, buscando fornecedores e contratando técnicos de computação, anúncios em pequenos jornais e revistas, contadores, consultores etc., também estabelecidos local ou regionalmente. Por sua vez, os fornecedores e prestadores de serviços (de publicidade, de contabilidade, de assistência técnica etc.) das grandes redes de atuação global tendem a se organizar também na escala mais ampla (estabelecendo relações contratuais de larga escala, permitindo inclusive maiores reduções nos custos individuais dos serviços prestados ou bens fornecidos, devido às economias de escala). Deste ponto de vista econômico mais estreito em si, trata-se de um problema para a localidade, no sentido de que os efeitos multiplicadores escapam para localidades distantes95. Além disso, estas grandes redes aumentam a quantidade de lucros obtidos no nível local e enviados para localidades distantes (geralmente para sua posterior

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Augé (1994) trabalha com a idéia de não-lugar a partir de sua oposição ao conceito antropológico de lugar, como um elemento em disseminação no contexto que denomina de “supermodernidade”: "se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não-lugar", e "a supermodernidade é produtora de não- lugares, isto é, de espaços que não são em si lugares antropológicos e que, contrariamente à modernidade baudeleriana, não integram os lugares antigos: estes, (...) promovidos a 'lugares de memória', ocupam aí um lugar circunscrito e específico" (AUGÉ, 1994, p.73)

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O processo de concentração de capitais através das fusões e aquisições faz com que o circuito dos estabelecimentos vinculados às redes cresça de forma exponencial, inclusive através da incorporação de pequenas e médias empresas anteriormente controladas por setores locais/regionais.

distribuição na forma de dividendos), aumentando o problema da sucção de renda gerada na economia local e canalizada na direção dos centros de comando e controle destes grandes negócios. De forma semelhante à organização da rede urbana descrita por Corrêa (1994), trata-se de uma reprodução da heteronomia do lugar, aumentando sua sujeição a centros decisórios externos. A agroindústria também é uma forma de extensão do espaço abstrato (por sobre o meio rural), por impregnar a atividade (e logo o cotidiano e o espaço vivido da) agropecuária com uma lógica taylorista, buscando ganhos de eficiência nos processos produtivos através de técnicas próprias da indústria (no limite, buscando anular os processos naturais, aos quais o meio rural se sujeita quase completamente, que influenciem negativamente esta busca pela produtividade)96.

Voltando aos diversos espaços lefebvrianos, há ainda um elemento adicional que aquele autor não inclui na seqüência inicialmente apresentada e resumida acima, dedicando posteriormente todo um capítulo a seu respeito. Trata-se do espaço social, que podemos interpretar como um espaço coletiva e socialmente produzido no sentido amplo do termo, de forma espontânea e orgânica, de baixo para cima97. Lefebvre entende a própria cidade como resultado de uma produção orgânica do espaço ao longo do tempo e a partir de ações diversas por parte de determinados grupos, o que a torna mais próxima de uma obra (semelhante às obras da natureza, não se tratando desta forma de uma obra de arte, justamente por não ter sido anteriormente planejada e concebida mentalmente por um autor determinado) do que de um produto. Da mesma forma, o espaço social lefebvriano seria um espaço coletiva e espontaneamente construído e cristalizado ao longo do tempo, sobre o qual o espaço abstrato (do urbanismo ortodoxo – representando o espaço abstrato produzido pelo Estado – e da acumulação, por reproduzir o trabalho abstrato e a atividade produtiva como uma abstração) tende a avançar. Seria portanto o espaço que faria emergir o embate contra o avanço do espaço abstrato, revelando e denunciando suas contradições (que segundo Lefebvre lhe são inerentes) a partir do encontro das diversas resistências das alteridades e da luta pelo lugar com o embate travado pelo trabalho contra sua redução ao labor98. Poderia ser visto também

96 A abstração também decorre do fato de que os capitais buscam se valorizar independentemente das atividades econômicas que utilizam como suporte para tal, pouco importando (para os acionistas em busca de maiores dividendos, cuja satisfação se torna o objetivo estruturante das grandes corporações) a natureza desta atividade.

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Deve-se tomar o devido cuidado para que o espaço social não se confunda com a idéia mais ampla do espaço socialmente produzido: todas as categorias citadas anteriormente são socialmente produzidas.

98 A distinção entre “o labor dos nossos corpos e o trabalho de nossas mãos”, entre o animal laborans e o homo

como o espaço da re-afirmação da cidade (e do direito à cidade) em contraposição ao espaço da metropolização (como expressão do espaço abstrato) enquanto desmantelamento da cidade através de sua implosão-explosão.

A re-afirmação da centralidade da produção do espaço para a reprodução das relações sociais de produção está por trás da longa trajetória teórica de Lefebvre n’A Produção do Espaço. Esta idéia da reprodução das relações é apresentada no livro anterior, “La Survie Du

Capitalisme”, como um ataque ao estruturalismo que insistia no conceito de modo de

produção capitalista, e na sua manutenção no centro das preocupações teóricas. Para Lefebvre, a mudança de enfoque do modo de produção para a reprodução das relações sociais permite enriquecer a análise, que passa a enfocar inúmeras dinâmicas, ou as diversas formas através das quais esta reprodução das relações de produção é realizada. A produção do espaço estaria no centro destas inúmeras dinâmicas, ultrapassando o nível instrumental e tornando-se uma finalidade em si – o que permite entender melhor a idéia também colocada por Lefebvre, que a finalidade não declarada da industrialização seria a urbanização (LEFEBVRE, 2006b). Segundo Lefebvre,

a problemática do espaço, que subsume os problemas da esfera urbana (a cidade e suas extensões) e da vida cotidiana (o consumo programado), deslocou a problemática da industrialização. Entretanto, ela não destruiu aquele conjunto anterior de problemas: as relações sociais que prevaleciam anteriormente ainda prevalecem; o novo problema é, precisamente, o problema de sua reprodução. (LEFEBVRE, 1991, p. 89. Grifo do original.)

Ao produzir o espaço, o capitalismo reproduz as relações sociais de produção, e se torna capaz não somente de criar novas necessidades por mercadorias que se tornam automática e rapidamente obsoletas (como o automóvel), mas também de fazer transbordar a lógica da mercadoria e da industrialização para outros domínios anteriormente distantes de sua influência, apreendendo desde a moradia e o espaço urbano em si até chegar à própria natureza. Esta é uma visão construída a partir de uma nova forma de leitura da totalidade (que supera o economicismo do estruturalismo, mas não abandona a perspectiva holística e dialética), possibilitada por esta virada espacial, que coloca o espaço no fundamento da dinâmica socioespacial, não como simples receptáculo, mas como agente ativo desta. Lefebvre busca constantemente com sua análise acerca da produção do espaço

labor como a atividade próxima dos processos biológicos e da satisfação das necessidades básicas, e o trabalho como o ato transformador do mundo, ligado ao processo de criação.

...uma abordagem que analisaria não as coisas no espaço, mas o espaço em si, com uma visão que procure revelar as relações sociais nele contidas. A tendência dominante fragmenta o espaço e o recorta em pedaços. Enumera as coisas, os vários objetos, que o espaço contém. As especializações dividem o espaço por dentre elas e atuam por sobre suas partes truncadas, configurando barreiras mentais e fronteiras prático-sociais. (LEFEBVRE, 1991, p. 89.)

Edward Soja (1996) propõe que Lefebvre, n’A Produção do Espaço, procura em várias passagens superar diversas oposições binárias (substitui-se o determinismo do ou isso ou

aquilo – capital X trabalho, burguesia X proletariado, lucros X salários, sujeito X objeto, local

X global, centro X periferia, agência X estrutura – pela contemplação de diversas tríades) com a idéia de que “há sempre o outro”. Apresentam-se assim tríades conceituais que culminam na idéia do espaço socialmente produzido como uma terceira interpretação do espaço, depois do espaço físico e do espaço mental, categorias que são apresentadas também como espaço

percebido, espaço concebido (ou representações do espaço), e espaço vivido (ou espaços de

representação). O espaço percebido seria o ambiente construído, o espaço banal, chamado por Soja de primeiro espaço. O espaço concebido é a representação do espaço, as abstrações do espaço na forma de mapas e planos (o espaço do urbanismo), ou imagens na forma de pinturas, fotografias etc. (o espaço da/na arte, e mais recentemente da publicidade). O espaço de representação seria um terceiro espaço, marcado pelas apropriações diversas, pelo simbolismo inerente ao espaço, pelos sentidos que são dados a determinado espaço. Para Lefebvre, a fonte dos espaços de representação é a história de determinado grupo, e de forma semelhante às analogias acima, poderíamos propor que se trata do espaço da antropologia, da etnologia ou da psicanálise, mesmo que estes discursos o ignorem (LEFEBVRE, 1991, p.41).

O espaço da representação está vivo: ele fala. Ele tem um centro ou núcleo: ego, cama, quarto, lar, casa; ou: praça, igreja, cemitério. Ele inclui os loci da paixão, da ação e das situações vividas, e deste modo imediatamente inclui o tempo. Conseqüentemente ele pode ser qualificado de diversas formas: ele pode ser direcional, situacional ou relacional, pois ele é essencialmente qualitativo, fluido e dinâmico. (LEFEBVRE, 1991, p. 42).

Citando Lefebvre em La Présence et l’absence: Contribution à la théorie des

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