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Chomsky (199520) retoma a proposta de Pollock (1989) e Belletti (1990) para analisar a configuração da camada flexional, à luz da ideia minimalista de menor esforço e da noção de Interpretação Plena, que exige que as representações sejam mínimas num certo sentido. Em sua análise, o autor assume o pressuposto do PM de que “as expressões linguísticas constituem as realizações ótimas das condições de

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O PM incorpora artigos escritos em 1991 e 1993. Portanto, embora nem sempre seja evidente, segue-se, nesta tesegue-se, uma ordem cronológica no que tange às propostas acerca da configuração da camada flexional.

AgrP NP Agr’

Gianni Agr(i,j) NegP

Agr Agr Adv Neg’

non parla (piu) Neg TP

ei T’

T VP

ej V ej

interface, em que a otimalidade seria determinada pelas condições de Economia da GU” (CHOMSKY, 1995, p.247).

Segundo Chomsky (1995), os princípios de Economia que regem as realizações ótimas das condições de interface permitiriam uma aproximação a uma teoria da linguagem que considera uma expressão linguística21 um mero objeto formal que satisfaz as condições de interface, em termos de noções pertencentes ao domínio da necessidade conceptual. Aliando essa noção de Economia à configuração da língua-I, pode-se representar a FL, de acordo com o PM, com o modelo ilustrado na figura 5.

Figura 5: FL conforme o PM

A figura 5 reflete a proposta de que uma língua é um procedimento gerador de derivações que está encaixado em sistemas de desempenho: o sistema articulatório-perceptual (A-P) e o sistema conceptual-intencional (C-I). Esses sistemas impõem restrições à Faculdade da Linguagem (FL), de modo que as instruções fornecidas por FL, através de seus componentes internos Forma Fonológica (Phonological Form – PF) e Forma Lógica (Logical Form – LF), satisfaçam a condições de legibilidade impostas

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Considere-se a distinção entre expressão linguística e realização morfológica, a despeito do comum uso ambíguo da terminologia “expressão linguística” com esse último sentido.

FL LÉXICO Sintaxe Visível PF LF Spell-Out A-P C-I

por A-P e C-I (CHOMSKY, 1995, p.308), satisfazendo à noção de Interpretação Plena22. Em outras palavras, o sistema computacional (CHL) seleciona os itens lexicais da numeração23, na formação de (), compondo um único objeto sintático. Sendo assim, considera-se que uma derivação, para ser convergente, deverá contar, inicialmente, com correspondência semântica-fonológica correta e compatível com as condições impostas por PF e LF (CHOMSKY, 1995, p.314).

Tendo em vista essa configuração da FL e as relações oracionais locais básicas minimalistas da teoria X’, em que a relação Spec-núcleo passa a configurar a única forma de determinar o Caso estrutural, Chomsky (1995) lança novo olhar sobre a camada flexional, tomando, inicialmente, a estrutura sintática básica como sendo composta por duas projeções de Agr: Agrs, responsável por determinar o Caso estrutural para a posição de sujeito e c-comandar TP, e Agro, que é responsável por determinar o Caso estrutural para a posição de objeto e c-comandado por TP. A figura 6 ilustra essa estrutura sintática oracional básica24.

Figura 6: Estrutura básica da oração, segundo Chomsky (1995)

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Segundo a noção de Interpretação Plena, somente os elementos corretamente licenciados podem aparecer numa representação.

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Numeração se refere ao processamento pré-sintático para fornecer ao sistema computacional itens

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Omitem-se, nesta estrutura básica, um possível especificador de TP, NEGP e outros tipos de marcadores, como o de afirmação.

CP Spec C’ C AgrsP Spec Agrs’ Agrs TP T AgroP Spec Agro’ Agro VP

Embora tanto a concordância como o Caso estrutural sejam considerados manifestações da relação Spec-núcleo (NP, Agr), as propriedades Casuais dependem de características de T e do núcleo V do VP. Pressupõe-se, então, que, na estrutura ilustrada pela figura 6, T se eleva para Agrs e V se eleva para Agro. Assim, formam-se complexos contendo os traços 25

de Agr e o traço Casual fornecido por T ou V.

Ressalta-se, porém, que, em PF e LF, os traços  aparecem apenas no NP que ocupa,

por exemplo, a posição sintática de sujeito e no verbo que concorda com o NP. Agr desempenha exclusivamente um papel mediador. Ao fim de suas funções, Agr desaparece. Do mesmo modo, os traços-V e traços-NP, após terminarem a verificação de traços, desaparecem.

Passa-se, assim, à proposta de Pollock sobre Agr “forte”, do francês, que obriga a elevação visível, e Agr “fraco”, do inglês, que bloqueia a elevação visível do verbo. Chomsky (1995) adota suas ideias a partir da seguinte reformulação: o francês dispõe de traços-V fortes, que são visíveis em PF, e o inglês dispõe de traços-V fracos, invisíveis em PF. Se V não é elevado para Agr, os traços-V sobrevivem em PF.

Como esses traços não são legítimos em PF, se um traço forte permanece depois do Spell-Out, a derivação fracassa. Daí, pode-se justificar a proibição de elevação visível do verbo em inglês com base no princípio Procrastinar, uma condição de Economia que prevê que um movimento coberto, postergado para ocorrer em LF, é menos custoso do que o movimento visível, na sintaxe aberta. Em línguas como o inglês, com Agr fraco, em que a elevação visível não é requisitada para a convergência da derivação, o movimento é proibido pelo princípio de Economia. No que tange aos auxiliares to be e to have, a elevação se tornaria necessária devido ao vazio semântico desses verbos, que são meros marcadores posicionais. Sem traços semânticos relevantes, esses elementos tornam-se invisíveis para LF. Logo, se não forem elevados visivelmente, a derivação fracassa, pois não podem ser elevados em LF (CHOMSKY, 1995, pp.280-281).

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Os traços  referem-se às informações relacionadas a gênero, número e pessoa. Chomsky (1995, p.473) assume que esses traços “são (opcionalmente) atribuídos aos itens lexicais quando estes são retirados do léxico”, sendo somente verificados em Agr.

Chomsky (1995), ao propor uma teoria da linguagem que satisfaça os princípios de Economia e Interpretação Plena, pondera o estatuto de Agr enquanto categoria funcional. Em comparação às outras categorias funcionais (T, C e D), Agr seria a única composta somente por traços formais [– Interpretáveis], ou seja, que não podem ser lidos pelas interfaces PF e LF. Como Agr só existiria nos casos em que abarca traços fortes, como no francês, ele seria uma mera indicação da posição a ser ocupada por DPs para elevação visível do sujeito e do objeto. Mas, sem Agr, nos casos de línguas com traços fracos, a elevação não visível teria que tomar T e V diretamente como alvo.

Portanto, a categoria funcional Agr só estaria presente na estrutura sintática oracional básica por motivos internos à teoria, já explicitados nesta seção. Propõe-se, assim, a eliminação do nódulo sintático Agr (CHOMSKY, 1995, p.477). Em substituição, a concordância seria realizada, no caso da elevação visível do objeto, por meio de um movimento do verbo para um Spec extra de IP (que pode ser tomado como TP).

Em seu resumo final, Chomsky (1995, p.503) reitera que as categorias funcionais e seus traços formais ocupam lugar central nos mecanismos do sistema computacional, considerando-se T, C e D as únicas categorias funcionais, por possuírem “traços que sobrevivem durante a derivação e aparecem nas interfaces, onde são interpretados”. E os refinamentos da teoria seriam uma consequência natural de pressupostos minimalistas, segundo os quais as proposições teóricas devem se limitar às operações sobre traços e às relações locais entre estes (apenas derivativamente entre categorias), tomando em consideração a distinção crucial entre traços interpretáveis e não interpretáveis.

Na presente seção, abordaram-se as perguntas que guiam o programa gerativista de pesquisa, tendo em vista a compreensão da configuração da GU e da língua-I, e o modo como esse programa influenciou o rumo das investigações linguísticas das últimas décadas. Expuseram-se, ainda, as propostas de representação estrutural da sentença e dos movimentos do verbo, apresentadas, gradualmente, por diversos pesquisadores, a fim de refletir os princípios básicos que regem a Faculdade da Linguagem e, ultimamente, o minimalismo sugerido pelo PM. Assim, foi possível explicitar em que contexto se inserem os princípios de Economia e Interpretação Plena

que regem a GU e, portanto, devem ser contempladas por qualquer proposta envolvendo as categorias sintáticas que componham a camada flexional. Tendo isso em vista, com o intuito de balizar a compreensão das propostas sobre a inserção das categorias de Tempo e Aspecto na estrutura sintática e posterior análise dos resultados da presente investigação, apresentam-se, no capítulo 2, as noções de tempo e aspecto em sua expressão linguística.

2 A NOÇÃO DE TEMPO E ASPECTO

As noções de tempo e aspecto são conceitos que podem ser expressos linguisticamente de diversas formas. Segundo Smith (1991, p.135), “localização temporal e aspecto são sistemas temporais complementares”. Nesta seção, propõe-se fornecer um melhor entendimento dessas formas de expressão linguística, a partir da apresentação de estudos, no âmbito da tipologia linguística e sistematização semântica, relacionados ao objeto de estudo desta tese: a representação mental de Tempo e Aspecto na configuração sintática sentencial. Além disso, apresenta-se a noção de composicionalidade aspectual, segundo a qual haveria tendências ou sistematizações sintáticas relacionadas às associações entre aspecto lexical e aspecto gramatical.

Há abrangente pesquisa tipológica nessa área, cujos resultados contribuem para a formação de uma teoria formal, especialmente diante da cooperação entre semanticistas formais e linguistas interessados nos fenômenos semânticos (VERKUYL, DE SWART & VAN HOUT, 2004, p.2). Nesta tese, apresentam-se os estudos de especialistas de diferentes áreas, como referencial teórico, a fim de enriquecer o debate sobre essas categorias. A fim de tornar a organização textual mais clara, este capítulo se divide em duas seções: na seção 2.1, intitulada “Tempo”, apresenta-se a noção de tempo, em sua expressão linguística, e, na seção 2.2, intitulada “Aspecto”, apresenta-se a noção de aspecto, em sua expressão linguística, tanto no âmbito lexical, na subseção 2.2.1, quanto no âmbito gramatical, na subseção 2.2.2. Na seção 2.2.3, intitulada “A composicionalidade aspectual”, apresentam-se as propostas de associação entre aspecto lexical e gramatical.